sábado, 30 de março de 2019

Ernesto Neto tenta contato com mundo espiritual em exposição na Pinacoteca




Famoso por obras que ativam os cinco sentidos, ele apresentará quatro ações-rituais na mostra


Instalação 'Cura Bra Cura Té', criada especialmente para a retrospectiva Pinacoteca



Uma árvore de crochê domina todo o pátio central do prédio da Pinacoteca, no centro paulistano. Da copa, tingida em tons de verde e amarelo, pende uma flor vermelha, também de crochê.

O tronco de madeira, apoiado no chão, abriga punhados dos principais produtos de exportação da economia brasileira ao longo dos séculos —açúcar, café, ouro, soja.

Inédita, a obra monumental integra a retrospectiva de Ernesto Neto no museu, que começa neste fim de semana, às vésperas da avalanche de artes plásticas que toma a cidade em torno da feira SP-Arte. É sob a fronde dessa planta que acontecerão quatro ações de cura e meditação do artista.


Inst. 'Velejando entre Nós, 2013-2013

Organizada pelo diretor da instituição, Jochen Volz, e a curadora-chefe, Valéria Piccoli, a retrospectiva reúne cerca de 60 obras do artista carioca pinçadas de sua produção das últimas três décadas.

Neto afirma que as ações pensadas para o espaço terão representantes dos movimentos negro e indígena. Este último, cada vez mais presente em sua produção a partir de uma viagem à tribo dos huni kuin, no Acre, há seis anos.

‘Sempre acreditei na alegria. E, de repente, cheguei a uma terra onde tudo era sagrado, e a alegria era a cura’, ele diz.



Inst. de crochê 'TomBorTom', com instrumento musical, 2012

Desde então, sua obra plástica, conhecida pelas instalações e esculturas imersivas —que, construídas em materiais têxteis, como poliamida e o próprio crochê, evocam formas orgânicas, vivas— tem ganhado um caráter mais e mais ritualístico.

Mas a preocupação com o corpo coletivo, social, vem desde o começo de sua trajetória, na década de 1980.


Inst. de 1989, 'Copulônia', formada por meias de poliamida e esferas de chumbo


'Copulônia’ (1989), remontada para a exposição, é considerada seminal nesse sentido. A instalação, formada por meias femininas recheadas com chumbo de caça (o elemento masculino do trabalho), apresenta uma espécie de colônia de seres disformes que pendem do teto e se espalham pelo chão.

Ela marca o momento em que o trabalho do artista, até então voltado para questões do universo da escultura, como equilíbrio, resistência e natureza dos materiais, passam a se alastrar pelo ambiente.

A colonização do espaço, desta vez pelo cheiro, continua com as esculturas ‘Piff, Poff, Puff, Paff…’, de 1997, que deixam vazar temperos como cúrcuma e cravo pelo chão.


Vista de 'Enquanto nada Acontece', 2010-2019, Pinacoteca, na Luz

Na exposição, o elemento aparece em obras como ‘Enquanto Nada Acontece’ (2008), espécie de gigantesco cogumelo pendurado. De seu chapéu caem meias com porções de açafrão-da-terra, cravo, cominho.

‘Quando o cheiro se esgota, basta balançar que ele se liberta de novo’, explica Neto. 'Esse trabalho tem essa questão da transpiração, do que exalamos de dentro de nós mesmos’.

O maior passo em direção à construção de um obra gregária, que discute a convivência com o outro a partir dos cinco sentidos, vem, no entanto, com as suas ‘Naves’, dos anos 1990.

Como jiboias etéreas, as estruturas suspensas, construídas com o mesmo tecido de meia-calça, mudam de forma de acordo com quem —ou o quê— as adentra.
‘As naves são um local-corpo uterino, maternal’, diz Neto. ‘Trabalha-se o estado de estar’.

Se há quem associe a série com o trabalho dos neoconcretistas Lygia Clark e Hélio Oiticica, Valéria Piccoli considera redutor falar do trabalho de Neto nesses termos.
‘Ele obviamente tem uma relação inicial com o movimento mas, com o tempo, extrapola essa herança, ao se distanciar do indivíduo para pensar a humanidade de modo mais geral’, afirma.

De fato, a partir dos anos 2000, a produção de Neto parece querer envolver mais e mais pessoas por meio de trabalhos monumentais


Escultura 'ObichoSuspensoNaPaisagen'

Datam do período as megainstalações ‘Bicho!’, apresentada na 49ª Bienal de Veneza, em 2001; ‘Leviathan Thot’, no Panteão de Paris, em 2006 ; e ‘Anthropodino’, no Park Avenue Armory, Nova York, em 2009.

O crochê, que ele aprendeu a tecer com a tia-avó em 1994, ajudou nesse movimento. É com essa técnica que ele fez a grande árvore da mostra atual, assim como uma espécie de mãe dela, ‘Gaia Mother Tree’, apresentada no ano passado numa estação de trem de Zurique, ou ‘O Bicho SusPenso na PaisaGen’, exposta no Faena Arts Center, em Buenos Aires, há oito anos.

Visão, tato, olfato. O aspecto sinestésico da obra de Neto se completa com o som. Mas este, em peças como ‘Circleprototemple…!’ (2010), uma cabana no formato de um coração com um tambor no centro, fica muitas vezes a cargo do público.

O som também aparece nos rituais recentes do artista, sob a forma de canto e música. E terá lugar durante as ações no pátio central da Pinacoteca.

Nela, a cada ritual, o tronco da árvore terá um de seus segmentos subtraído, alegoricamente abocanhado pela flor vermelha de crochê. Esta representa a energia feminina da terra que, para Neto, está dotada de poder de cura.

‘Essa planta está curando o trauma que é a estrutura social brasileira hoje. Precisamos trazer o feminino para a nossa sociedade’, diz o artista.

A primeira ação acontece já no dia da abertura, e inclui meditação, banho e música.
‘A gente é branco, europeu, mas também é índio e africano. Um tambor, um maracá toca dentro da gente’, diz Neto. ‘As duas heranças são negadas, silenciadas, mas elas têm uma sabedoria profunda’.




Calendário das ações-rituais  
Ciclo 1: 13/4
Ciclo 2: 04/5
Ciclo 3: 01/6
Ciclo 4: 13/7


Ernesto Neto: Sopro
Pinacoteca, pça. da Luz, 2, São Paulo
Seg. e qua. a dom., das 10h às 17h30
Abertura sáb (30), às 11h
Ingr.: R$ 10,00. menores de 10 anos e maiores de 60 anos: grátis. 




Fonte: Clara Balbi   |   FSP

(JA, Mar19)

sexta-feira, 29 de março de 2019

Mostra ‘Consciência cibernética’ debate o avanço da inteligência artificial



Entre os dias 27 de março e 19 de maio de 2019, o Itaú Cultural apresenta uma mostra onde o público pode vivenciar um tempo futuro, em que a inteligência humana se mescla à artificial e à computação quântica, em convivência natural.

É o que indica ‘Consciência Cibernética [?] Horizonte Quântico’, composta de nove obras assinadas por oito artistas internacionais e do Brasil: o austríaco Thomas Feurstein, a brasileira Rejane Cantoni, o britânico Robin Baumgarten, a francesa Justine Emard, os norte-americanos David Bowen e Lynn Hershman Leeson, os suíços André e Michel Décosterd, que formam a dupla Cod.Act, e o turco Memo Akten.
A programação da mostra conta ainda com um seminário nos dias 28 e 29 de março de 2019 e um curso a ser realizado em maio. A entrada é livre e gratuita.


Co(AI)xistence (2017, 12 mins), de Justine Emard, França


Com conceito elaborado pelo gerente do Núcleo de Inovação do Itaú Cultural, Marcos Cuzziol, pesquisa de Rejane Cantoni e projeto expográfico de Maria Stella Tedesco, em coautoria com Renata Fernandes, a mostra ocupa os três andares do espaço expositivo do instituto em uma demonstração artística digna de ficção científica.

Passeando por estes pisos, o público tanto pode interagir com uma agente da web, artificialmente inteligente, quanto observar uma espécie de cobra píton gigante fechada em si mesma, que se contorce e emite sons. Ele tem a possibilidade, ainda, de mergulhar no mundo interior de uma rede neural artificial, que capta o mundo dos humanos, ou apreciar o concerto de um piano sem pianista, que executa uma partitura a partir da passagem das nuvens naquele exato momento.

O visitante também encontra um vídeo performance em que uma robô-mulher aprende a dançar com um homem humano, uma instalação cibernética que simula comportamentos, além de duas criaturas, na forma de lâmpadas cirúrgicas, que observam e debatem este mundo, muitas vezes horrorizadas, e um jogo que apresenta simulações quânticas animadas.

‘A inteligência artificial e a computação quântica são duas linhas de tecnologias que se desenvolvem rapidamente’, observa Cuzziol. ‘Elas vão além da mera ampliação de capacidades humanas, pois uma nos leva a questionar o que é de fato a inteligência, a consciência, e a outra questiona nossa própria realidade’, continua. ‘Parece inevitável que essas duas tecnologias se encontrem em um futuro próximo, o que torna urgente uma reflexão sobre elas’, completa.

Para dar corpo a esta reflexão, nos dias 28 e 29 (quinta-feira e sexta-feira), o instituto promove na Sala Itaú Cultural o ‘Seminário Consciência Cibernética [?] Horizonte Quântico 2019’. Em quatro mesas – duas por dia –, ele reúne especialistas, pesquisadores e artistas brasileiros e internacionais ligados à arte sob o ponto de vista da inteligência artificial, da computação quântica e da poética.

A mostra e o seminário se inserem na linha propositiva das bienais Emoção Art.Ficial e das exposições de arte e tecnologia apresentadas pelo Itaú Cultural desde 1997. Em 2017, o instituto apresentou ‘Consciência Cibernética [?]’, que teve como mote o debate a respeito da evolução das máquinas e de seus avanços em relação ao cérebro humano.

Um passo adiante da última exposição, ‘Consciência Cibernética [?] Horizonte Quântico’ propõe um olhar artístico para esse dilema, trazendo obras que, em diferentes aspectos, exploram características não muito conhecidas do processamento de dados, digital ou não. São sistemas que aprendem, se auto estabilizam, desenvolvem soluções não imaginadas por seus criadores, conversam em linguagem natural e fazem escolhas estéticas. Nenhuma das obras apresentadas no instituto têm consciência, mas cada uma delas demonstra características importantes que, em um futuro próximo, podem fazer parte de máquinas cibernéticas conscientes.


Cloud Piano (2014), de David Bowen, Estados Unidos


A mostra

Cinco obras dividem o piso 1:

Agent Ruby, da norte-americana Lynn Hershman Leeson, é dotada de inteligência artificial, tem rosto de mulher, expressões variadas e faz parte, simultaneamente, dos mundos real e virtual em interação com o público.

Outra delas é Deep Meditations: A brief history of almost everything in 60 minutes, do turco Memo Akten. Esta obra é um convite para uma meditação e reflexão sobre a vida e a experiência humana subjetiva. Ela abre caminho para o observador explorar o mundo interior de uma rede neural artificial treinada, que capta o mundo real em suas nuances artísticas, a vida, o amor, os rituais de fé.

A obra Learning to see: Gloomy Sunday também é de Akten. Este trabalho explora uma possível interação homem-máquina em colaboração criativa. Trata-se de uma rede neural artificial que olha o mundo real por meio das câmeras e procura dar sentido ao que vê, inspirada pelo córtex visual humano. Ao observar um emaranhado de fios, por exemplo, ela é capaz de transformar o que vê em cenas bucólicas da natureza, reproduzindo cenas oníricas e poéticas.

Ainda neste andar encontra-se a obra Borgy & Bes, do austríaco Thomas Feuerstein. Nela, duas lâmpadas cirúrgicas transformadas em criaturas cibernéticas robóticas se movem, falam, sussurram, discutem entre si. Borgy (de Cyborg) e Bes (de Os Demônios, de F. M. Dostoiévski) discutem dados on-line de redes sociais e feeds de notícias e os executam na linguagem do escritor russo. Elas não interagem com as pessoas, porém questionam e interpretam informações e notícias para ter uma ideia do que é este mundo. A obra, foi produzida pelo laboratório Art&Science de Moscou, Rússia, e tem como parceiro o Kaspersky Lab.

Em Cloud Piano, uma instalação do também norte-americano David Bowen, a música literalmente dá o tom. Há um piano de cauda, mas não há pianista. Em seu lugar, há uma câmera apontada para o céu, que captura em vídeo a imagem das nuvens, e um software personalizado, que usa estas imagens registradas em tempo real, articulado com um dispositivo robótico que pressiona as teclas no piano. É como se as nuvens tocassem essas teclas à medida que se deslocam no céu e mudam de forma para emitir o som.


Learning to see: Gloomy Sunday (2017), de Memo Akten


Descendo, estão a πTon/2 (Pyton), da dupla de suíços Cod.Act (André e Michel Décosterd), Co(AI)xistence, da francesa Justine Emard, e Quantum Garden, do britânico Robin Baumgarten.

A primeira, que tem apoio de Faulhaber Drive Systems, é uma instalação sonora de 20min, com intervalos para manutenção. Ela é composta de um anel flexível fechado em si mesmo e acionado por motores de torção localizados dentro de seu corpo. Torcendo-se e virando para si mesmo, πTon se movimenta de maneira natural e imprevisível emitindo um som cuja origem é de clarinete baixo. Como uma cobra, ela se move devagar, suas contrações e dilatações produzem sons sensuais. Quando os movimentos se tornam rápidos, nervosos e brutais, emite um som ácido e agudo.

No vídeo performance Co(AI)xistence, a robô Alter é governada por redes neurais e interage com o artista japonês de dança Mirai Moriyama. Por meio de sons e movimentos, ela aprende a expressão corporal dele e tenta reproduzi-la. A partir do dialogo estabelecido com Alter, o artista realiza uma performance de dança e a provoca. Toda a interação entre os dois foi captada pela autora da obra Justine Emard no vídeo em exibição na mostra.

Quantum Garden é um jogo, uma instalação gráfica de luz interativa, que o artista britânico de jogos Robin Baumgarten desenvolveu em colaboração com uma equipe de físicos quânticos da Universidade de Turku e as escolas de Ciências e de Artes, Design e Arquitetura da Universidade Aalto, ambas da Finlândia, e patrocínio do Centro de Engenharia Quântica (CQE).

Todo o andar -2 é ocupado por QUANTUM, obra da brasileira Rejane Cantoni, uma instalação imersiva e interativa desenvolvida com pesquisa de Marcos Cuzziol, produção da equipe Itaú Cultural, desenvolvimento de software de Kenzo Okamura e Tuany Pinheiro, também integrantes do Núcleo de Inovação do instituto, e design do espaço ST Arquitetura.

Ela é composta de um dispositivo ótico; computadores; software customizado, sensores e sistema de áudio. Tem uma grande estrutura feita de 15 módulos de madeira, alinhados e conectados entre si formando uma armação tubular elipsoidal de 4,15 metros largura x 2,27 metros de altura x 15,24 metros de comprimento.

QUANTUM funciona como um simulador de comportamentos, que permite, dentro de certos limites, uma experiência imersiva e interativa na realidade quântica. Em seu interior, o teto, o piso e uma lateral são espelhados; a outra lateral funciona como tela de projeção, que exibe imagens geradas por computadores. Os espelhos refletem as imagens computacionais e as interações dos usuários. Por meio de sensores infravermelhos, a presença do público gera silhuetas digitais ao ativar mudanças no estado do sistema, nas suas telas de projeção e na dimensão sonora.

Curso

Em maio, o instituto promove um curso com noções de física quântica e sobre os conceitos da mostra. De 7 a 10 daquele mês, o curso ‘Consciência Cibernética [?] Horizonte Quântico’ parte de questões como a forma que a exposição afeta os visitantes e como o tema explorado pode atravessar o cotidiano das pessoas.

São dois módulos de discussão. Um é ministrado pelo doutor em física, pelo Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas, Gabriel Guerrer, no qual aborda os limites da física quântica. O outro, se foca nos conceitos da exposição e tem como ministrantes Rejane Cantoni e Marcos Cuzziol. São 70 vagas para as aulas que vão das 19h às 22h, por meio de inscrições, que serão abertas de 15 a 29 de abril.


Quantum Garden (2018), Robin Baumgarten, Reino Unido


Serviço

Exposição: ‘Consciência Cibernética [?] Horizonte Quântico’, mostra coletiva.
Local: Itaú Cultural (pisos 1M, 1S e 2S) | Avenida Paulista, 149 - São Paulo (próximo à estação Brigadeiro do Metrô).
Datas e horários: abertura dia 27 de março, quarta-feira, às 20h. Em cartaz até 19 de maio de 2019. De terça a sexta-feira, das 9h às 20h (permanência até as 20h30); sábado, domingo e feriado, das 11h às 20h.
Entrada livre e gratuita.








Fonte: INFOARTsp



(JA, Mar19)









quinta-feira, 28 de março de 2019

Edvard Munch e as suas 11 telas célebres


Um dos representantes máximos do Expressionismo, Edvard Munch nasceu na Noruega, em 1863. Teve uma história pessoal bastante conturbada, mas acabou por conseguir vencer as dificuldades mundanas para se inscrever no hall dos maiores pintores do cânone ocidental.

Descubra agora as onze pinturas de tirar o fôlego desse gênio expressionista. Por uma questão didática, adotamos a exibição das telas a partir de uma ordem cronológica.


1.     A criança doente (1885-1886)


Pintada entre 1885 e 1886, a tela A criança doente carrega muito da infância do próprio pintor. Ainda jovem, Munch perdeu a mãe e a irmã Sophie para a tuberculose. Apesar do pai do pintor ter sido médico, nada conseguiu fazer para impedir o falecimento da esposa e da filha. O próprio artista teve uma infância marcada pela doença. O cenário marcou tanto Munch que essa mesma imagem foi pintada e repintada ao longo de 40 anos (a primeira versão foi realizada em 1885 e a última em 1927).


2.      Melancolia (1892)


No primeiro plano observa-se um homem sozinho em meio a uma paisagem praiana. A tela faz parte de uma série de pinturas feitas com tons escuros e com o mesmo protagonista angustiado. Dizem que trata-se de Jappe Nilssen, amigo próximo de Munch, que passava por um período infeliz na sua vida amorosa. A paisagem é a de Åsgårdstrand, litoral da Noruega. O quadro original está na National Gallery Munch, em Oslo.


3.      O grito (1893)



Pintada em 1893, O grito foi a obra que consagrou definitivamente o pintor norueguês. Com apenas 83 cm por 66 cm, a tela tem como protagonista um homem em profundo desespero e ansiedade. Ao fundo da imagem, é possível também observar dois outros homens distantes. O céu pintado por Munch é perturbador. O artista fez quatro versões desta mesma imagem, a primeira delas em 1893, realizada a óleo, e as outras três com técnicas distintas. Destas quatro versões, três estão em museus e uma foi adquirida por um empresário americano que desembolsou cerca de 119 milhões de dólares para levar a obra prima para casa.


4.      A tempestade (1893)


Pintada em 1893, no mesmo ano de O grito, a tela, assim como a precursora, exibe personagens que tampam os próprios ouvidos. A tempestade retrata a paisagem de Åsgårdstrand, uma vila costeira norueguesa onde o pintor costumava passar seus verões. O quadro possui 94 cm por 131 cm e pertence ao acervo do MOMA (Nova Iorque).


5.     Amor e dor (1894)


O quadro originalmente chamado Amor e dor, também ficou conhecido como O vampiro e foi exibido pela primeira vez em Berlim no ano de 1902. A tela escandalizou a sociedade por representar uma mulher ao mesmo tempo mordendo e abraçando um homem. O quadro foi bastante criticado pelo público e pela crítica especializada e uma semana depois da exibição a mostra foi encerrada.


6.     Ansiedade (1894)


Pintado em 1984, o quadro é uma mostra exemplar do movimento expressionista. Partilhando muitas semelhanças com o famoso O grito, a tela exibe o mesmo céu assustador pintado em tons vermelho-alaranjados. 

As feições dos personagens são esverdeadas e desesperadas, com os olhos arregalados. Todos vestem trajes negros e os homens usam cartolas. A obra possui 94 cm por 73 cm e atualmente pertence ao acervo do Museu Munch.


7.     Madonna (1894-1895)


Pintada entre 1894 e 1895, a polêmica tela Madonna supostamente retrata Maria, a mãe de Jesus, a partir de uma perspectiva um tanto quanto inusitada. A Maria de Munch aparece como uma mulher nua e a vontade, e não como uma senhora recatada e casta como habitualmente costumava ser vista. Trata-se de um óleo sobre tela com 90 cm por 68 cm. Em 2004 a imagem foi roubada do Museu Munch. Dois anos depois o trabalho foi recuperado com um pequeno orifício considerado irreparável.


8.     A dança da vida (1899)


A tela A dança da vida, pintada em 1899, tem como cenário um baile realizado ao luar. Nota-se ao fundo da imagem uma lua refletida no mar, enquanto os personagens dançam aos pares. É de se ressaltar a presença de duas mulheres solitárias, uma em cada ponta da pintura. A paisagem exposta é a de Åsgårdstrand, uma vila costeira norueguesa. O quadro faz parte do acervo do Museu Munch, em Oslo.


9.     A fumaça do trem (1900)


Pintada em 1900, a tela é uma pintura a óleo com 84 cm por 109 cm. Fez parte de uma série de paisagens pintadas pelo artista no princípio do século interligando a natureza e produtos da intervenção humana. A fumaça libertada e a posição do trem fazem com que o espectador tenha a impressão de que a composição se encontra, de fato, em movimento. A tela pertence ao acervo do Museu Munch, em Oslo.


10. Costa com a casa vermelha (1904)



Pintada em 1904, a tela traz novamente como tema a vila costeira norueguesa de Åsgårdstrand, onde o artista passava os meses quentes do ano. Feita a tinta óleo, a pintura tem 69 cm por 109 cm de dimensão. A imagem não possui nenhuma figura humana, apenas retrata a paisagem da costa. A pintura encontra-se atualmente no Museu Munch, em Oslo.


11. Trabalhadores a caminho de casa (1913-1914)


Pintada entre 1913 e 1914, a tela é enorme, tem 222 cm por 201 cm e representa os trabalhadores após o final do expediente, voltando para a casa. O quadro retrata a rua repleta, uma massa de gente com ar cansado, todos com trajes muito semelhantes e chapéus. O trabalho faz parte atualmente do acervo do Museu Munch.


O  pintor Edvard Munch

Nasceu no dia 12 de dezembro de 1863 em Loten, Noruega. Edvard era o segundo filho de um médico militar (Christian Munch) e de uma dona de casa (Cathrine). Viveu no seio de uma grande família: teve três irmãos e uma irmã.

Os infortúnios do pintor começaram logo cedo, quando Munch tinha cinco anos a mãe morreu de tuberculose. A tia, irmã da mãe, Karen Bjolstad, ajudou a amparar a família. Em 1877, Sophie, irmã de Munch, também morreu de tuberculose.

Em 1879, Edvard ingressou no Technical College para tornar-se engenheiro, no entanto, no ano seguinte, abandonou o ensino formal para se dedicar a carreira de pintor. Em 1881, entrou no Royal  School of Art and Design para aprofundar seus talentos. Como artista trabalhou com pintura, litogravura e xilogravura.


Edvard Munch em 1926


Conseguiu alugar, em 1882, seu primeiro estúdio de pintura. A localização escolhida foi Oslo. No ano seguinte foi convidado para participar da Exposição de Outono de Oslo, onde ganhou maior visibilidade.

Apesar de ter nascido na Noruega, passou boa parte da vida na Alemanha. Também foi influenciado pela arte francesa (em especial por Paul Gauguin). Em 1885 viajou para Paris.

Foi um dos grandes nomes do expressionismo alemão e europeu. Teve uma história de vida desassossegada: uma infância trágica, problemas com o alcoolismo, casos amorosos conturbados.

Sua obra reflete, de certo modo, os dramas do próprio artista e também seus engajamentos políticos e sociais.

‘Queremos mais do que uma mera fotografia da natureza. Não queremos pintar quadros bonitos que sejam pendurados nas paredes dos salões. Queremos criar, ou pelo menos estabelecer as bases de uma arte que dê algo à humanidade. Um arte que prenda e envolva. Uma arte criada do coração mais íntimo de alguém’.


Edvard Munch

Em 1892, alcançou especial fama graças ao fechamento da exposição Verein Berliner Künstler, uma semana depois da abertura. Lá tinha exibido a sua tela Vampiro, que causou forte crítica tanto do público quanto da crítica. No ano seguinte, em 1893, pintou o seu quadro mais famoso: O grito
.
Foi, de certa forma, vítima do nazismo. Entre o final dos anos 1930 e princípio dos anos 1940 teve suas obras retiradas dos museus da Alemanha por ordem de Hitler, que argumentava que as peças não valorizavam a cultura alemã
.
Munch não sofreu apenas com a perseguição política, desenvolveu também problemas de vista que mais tarde o impediram de pintar. Morreu aos oitenta e um anos de idade, no dia 23 de janeiro de 1944, na Noruega.


O Museu Munch

Também conhecido como Munchmuseet, muitas das obras do pintor norueguês estão abrigadas no museu em Oslo que carrega o seu nome. A instituição foi inaugurada em 1963, precisamente cem anos após o nascimento de Edvard Munch.

As pinturas deixadas para o museu foram encaminhadas graças ao testamento do pintor, que doou cerca de 1100 pinturas, 15500 impressões, 6 esculturas e 4700 esboços além de diversos objetos pessoais (livros, móveis, fotografias).

Em 2004, o museu sofreu duas grandes baixas, as telas O grito e Madonna foram roubadas. Ambas foram recuperadas posteriormente.






Fonte: Rebeca Fuks, doutora em estudos da cultura   |    Cultura Genial



(JA, Mar19)

Esculturas de Artur Lescher se equilibram entre a beleza e o perigo







A Pinacoteca de São Paulo, museu da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Governo do Estado de São Paulo, apresenta, de 23 de março a 24 de junho de 2019, a exposição Artur Lescher: Suspensão, que ocupa o 4º andar da Pina Estação. Com curadoria de Camila Bechelany, a retrospectiva pontua os momentos mais importantes da trajetória do artista reunindo um conjunto de cerca de 120 trabalhos, incluindo instalações, esculturas, maquetes e cadernos de desenho. A mostra propõe evidenciar como, desde o início da carreira, Lescher tem testado a aplicação das noções de gravidade, a partir da engenharia e da matemática, na construção de uma poética particular.

A obra escultórica de Artur Lescher (São Paulo, 1962) começou a chamar a atenção da crítica após sua participação na 19ª Bienal de São Paulo, em 1987. Desde então, o artista tem explorado a relação com o espaço expositivo em que se apresenta, 
caracterizando-se por intervir de maneira sutil nesse ambiente, de modo a fornecer ao observador alguma memória daquele lugar. Nesse sentido, seus interesses vão desde o modelismo até a astrologia, passando pela matemática, pela arquitetura e pela mitologia. 

Para a exposição na Pinacoteca, seus mais de 30 anos de pesquisa foram divididos em três eixos/salas: (1) Narrativas líquidas, que trata das potencialidades e dos desafios dos materiais; (2) Suspensão, sobre a verticalidade na escultura; e (3) Engenharia da memória, que apresenta a investigação do artista em direção à uma reescrita e construção imaginária  da cidade.

No eixo Narrativas líquidas, constam esculturas que oferecem um contraponto à imagem orgânica da natureza. As obras da série Rios (2004-2019), por exemplo, assemelham-se a cachoeiras e cursos de rios, e, mesmo tendo sido construídas com materiais sólidos ou brutos como feltro, papel, madeira, aço e pedra, ainda assim evocam transparência e fluidez. ‘O material não é utilizado como suporte, ele desafia a forma e explora a realidade espacial, seja pelo equilíbrio, seja pela massa que carrega ou ainda pela sua resistência’, define a curadora.

Para conceber suas obras, o artista parte sempre do desenho à mão livre ou de uma maquete, para, em seguida, escolher o material. Posteriormente, este é trabalhado por meio de procedimentos semi-industriais – como solda, polimento e galvanização – para finalmente suspender a obra, arrematando assim as tensões do trabalho. Os projetos que utilizam a gravidade para experimentar o volume no espaço e os pêndulos estão reunidos no eixo Suspensão. ‘Ali podemos ver o desafio do peso, a resistência do material e a relação com o espaço público e a posição do espectador, questões caras ao artista’, resume Bechelany.

‘A verticalidade das peças sugere a tentativa de atingir outro mundo, de escapar, de viajar. Os pêndulos também se relacionam a um imaginário cosmogônico ou um interesse pela leitura do céu. Cada obra é como um ponto de referência e o conjunto de pêndulos atua como um mapa imaginário do céu sobre nossas cabeças’, explica a curadora.

A elegância do desenho e a perfeição executiva de Lescher, que explora, sobretudo, a dualidade peso-leveza, apontam para um fértil diálogo com tradições da escultura brasileira, notadamente com a obra de Waltercio Caldas. ‘Em Lescher são o empirismo e a percepção que comandam e justificam as proporções e as escalas nas quais as obras são desenhadas e desenham o espaço’, completa ela.

Para o escritor Juliano Garcia Pessanha, que assina texto para o catálogo da mostra, ‘adentrar o silêncio das paisagens incomuns de Lescher é expor-se a um chamado de elevação, pois as formas e as geometrias criadas por ele remetem ao alto e a um jogo de conexões com o que está em cima. Sua coragem está em reivindicar o acima quando todos parecem disputar a raiz e o embaixo’.

Por fim, a última sala, dedicada à construção de realidades imaginadas e a relação com o espaço urbano sob o eixo Engenharia da memória traz, como preâmbulo, cerca de 50 maquetes e cadernos de estudos. Estes são exibidos pela primeira vez ao público e visam constituir uma leitura aprofundada e inédita do processo de trabalho de Lescher.

Ainda no mesmo espaço, é exibida a instalação Nostalgia do engenheiro (2014), uma homenagem a Giorgio De Chirico formada por 16 objetos em metal e madeira sobre uma base que se refere aos espaços metafísicos imaginados pelo artista italiano em suas pinturas.

CATÁLOGO

Artur Lescher: Suspensão é complementada com um catálogo que inclui uma entrevista conduzida por Lilian Tone, na qual o artista revisa a própria carreira. A edição conta com imagens de obras da mostra, além de outras obras de referência documental. Apresentadas nesta exposição pela primeira vez ao público, as maquetes e os cadernos de estudos que ilustram o método de trabalho do artista, também compõem o livro, que possui textos de Camila Bechelany, curadora da mostra, e Juliano Pessanha.

AÇÃO EDUCATIVA

O Núcleo de Ação Educativa (NAE) da Pinacoteca oferece formação e material especial para professores, além de um recurso educativo à disposição dos visitantes na entrada da exposição. Sábados, domingos e feriados, das 10h30 e 14h30, na Pina Estação. Grupo de até 20 pessoas. Não é necessária inscrição, apenas apresentar-se na recepção do museu. As visitas educativas durante os dias de semana acontecem de 30 de março a 24 de junho, e podem ser agendadas pelos números (11) 3324-0943 e (11) 3324-0944.

SOBRE ARTUR LESCHER

Artur Lescher nasceu em São Paulo, Brasil, em 1962, onde vive e trabalha. Participou das 19ª e 25ª edições da Bienal Internacional de Arte de São Paulo, São Paulo/SP, Brasil (1987 e 2002), e da 5ª Bienal do Mercosul, Porto Alegre/RS, Brasil (2005). Expôs em diversas coletivas na América Latina, na Europa e nos Estados Unidos, além de duas mostras individuais, a primeira no Instituto Tomie Ohtake (ITO), São Paulo/ SP, Brasil (2006), e a segunda no Palais d’Iéna, Paris, França (2017).

SERVIÇO

Artur Lescher: Suspensão
Pina Estação: Largo General Osório, 66 – Tel.: (11) 33241000, pinacoteca.org.br
Visitação: 23 de março a 24 de junho de 2019. De quarta a segunda, das 10h às 17h30 – com permanência até as 18h
A Pina Estação é gratuita todos os dias.
Estacionamento conveniado.
Acessível para cadeirantes.
Wifi aberto ao público.








(JA, Mar19)