50 anos sem Picasso: os períodos e as cores de suas obras
O pintor Pablo Picasso,
grande influência do século 20, foi um dos fundadores do cubismo, e pioneiro na arte
de colagem. Espanhol, nascido em Málaga, ele revolucionou a forma de fazer
arte, tornando-se um dos expoentes do modernismo.
Quando morreu em 8 de abril de 1973, aos 91 anos, o
artista tinha um portfólio de mais de 13 mil telas, 100 mil gravuras, 34 mil ilustrações e 300 esculturas. Suas obras passaram por diversos períodos
e estilos ao longo dos 78 anos de carreira artística.
Um dos mais marcantes foi o período azul, que durou de 1901 a 1904. Picasso
enfrentava uma crise emocional na época, e utilizou tons azuis, esverdeados e
escuros para enfatizar os temas sombrios retratados nas pinturas. Já no período rosa, que durou de 1904 a 1907, as
temáticas boêmias e circenses receberam cores mais leves, como tons rosados,
alaranjados e azul-claro.
A partir de 1907, durante o
período africano as paletas ganharam cores secas e monocromáticas. Essas
tonalidades ressaltavam as formas mais geométricas e abstratas, que tiveram seu
auge a partir de 1909, com o cubismo analítico. No momento seguinte, a
partir de 1912, no cubismo sintético, a tonalidade ganhou saturação
e as formas tornaram-se menos abstratas.
As cores saturadas também
foram bastante utilizadas durante os períodos neoclassicista e surrealista, que
ocorreram nas décadas de 1920 e 1930. Uma das obras mais importantes desse momento é
Guernica, que retrata um bombardeio nazista na Espanha e se tornou um símbolo
do antimilitarismo.
A mudança para tons mais
sombrios ocorreu nos anos seguintes, durante o período da guerra e pós-guerra.
No último período de sua carreira artística, a partir dos anos 1950, Picasso
produziu mais de 400 obras retratando sua segunda esposa, Jacqueline
Roque. O erotismo também foi um elemento significativo nessa fase.
O artista proletário se tornou um mestre do
movimento artístico, sem querer ser de vanguarda — e deixou um legado que vai
muito além das bandeirinhas
Mistério no Mar - A cativante cena litorânea: figura enigmática que é meio sereia, meio Iemanjá
Um século atrás, a elite paulistana assistia aturdida às
ousadias da Semana de 22 — mas o jovem Alfredo Volpi (1896-1988) não estava nem aí para esse trem que
seria conhecido como modernismo. Ele tinha, de fato, mais que fazer: italiano
pobre, que viera ainda criança de Lucca, na Toscana, trabalhava na construção
civil para garantir o sustento.
Àquela altura, Tarsila do Amaral estudava na Europa com luminares
como Fernand Léger; Oswald e Mário de Andrade, bem como Cândido Portinari,
frequentavam os salões endinheirados da Pauliceia.
Marca Registrada - As inconfundíveis fachadas e adereços juninos: simplicidade
Volpi nunca se identificou com as vanguardas modernistas, e
era avesso a divagações teóricas: homem prático, burilou sua pintura a partir
da labuta diária como artesão. ‘Ele era um mestre autodidata e intuitivo. Em
vez de se associar a movimentos, preferia trabalhar tranquilo em seu ateliê no
bairro do Cambuci, fumando um cigarrinho de palha’, diz o curador-chefe do
Masp, Tomás Toledo.
Por trás da humildade inquebrantável, porém, havia um artista
bem-informado sobre as questões da arte de seu tempo. Ainda que seu
reconhecimento tenha sido tardio: até os anos 1950, alguns estudiosos esnobavam o caráter supostamente naïf (ou ingênuo) de sua obra. Um dos responsáveis por
quebrar esse preconceito, o crítico Mário Pedrosa, notou que Volpi ‘passou,
naturalmente, por todas as fases da pintura moderna, do impressionismo ao
expressionismo, do fauvismo ao cubismo, até o abstracionismo’.
Volpi: poucas palavras e muitos cigarrinhos de palha no ateliê
Absorção E Intimismo Em Volpi
A verdade é que Volpi foi muito além da soma desses ‘ismos’:
assim como Tarsila e Portinari, ele alcançou a condição rara de artista não
apenas inovador, mas popular.
A mostra do Masp, com cerca de 100 itens, investiga a ligação entre a vida do pintor, e
um universo temático, que vai da arquitetura do casario simples, às festas e
costumes sociais. Inspirações que não extraía das ruas agitadas de São Paulo,
mas da mansidão do interior — são constantes em seus quadros cenas de Mogi das
Cruzes, cidade paulista onde tinha uma chácara, e Itanhaém, no Litoral Sul do
estado.
Volpi viveu alguns anos à beira-mar por recomendação médica:
sua esposa, Judite, padecia de uma doença sobre a qual não se sabem detalhes.
Os anjos pintores
Sua união com Judite, aliás, aprofundou a conexão de Volpi
com as raízes brasileiras. Entre filhos de sangue, e adotivos, o italiano criou
dezenove crianças junto com a esposa negra.
Ele imortalizou Judite em uma tela na qual ela surge nua, de
braços abertos. A admiração pelos afrodescendentes o levou a povoar muitas de
suas obras com personagens de pele escura — o que configurava uma avançada piscadela
para a diversidade no Brasil da primeira metade do século 20. Às vezes, Volpi não tinha pudor em afrontar o
tradicionalismo católico: pintou um lindo anjinho, e até uma Madona com Menino
Jesus, negros.
Cores e Formas - Mais uma entre as muitas obras sem título do pintor: a beleza na diluição radical dos objetos
Volpi – Coleção Espaços da Arte Brasileira
Uma das virtudes da retrospectiva do Masp é expor esse Volpi,
que vai além das bandeirinhas. Logo na entrada, o espectador é apresentado à
sua vasta produção de imagens religiosas. Durante um período da vida, ele
produziu gravuras de santos para sobreviver. Não considerava a atividade parte
de sua obra.
Mas a linha que dividia o Volpi artesão, do Volpi artista,
era tênue: ao mesmo tempo, fez estupendas pinturas do gênero. Ele se devotou
também a outras formas de misticismo pop: uma tela em tons de verde e azul
exibe uma graciosa figura feminina que é meio sereia, meio — possivelmente —
Iemanjá.
Ousadia - O quadro que mostra a Madona e o Menino Jesus negros: uma avançada piscadela para a diversidade
A dúvida sobre os tipos que povoam sua
obra decorre de um dado peculiar: Volpi era um homem de poucas palavras, e não
deu nome à muitos quadros, alimentando o mistério sobre seu universo.
Não se sabe ao certo, inclusive, como
ele descobriu sua marca maior, as bandeirinhas. Reza uma teoria que, certo dia,
teria se encantado ao ver Mogi das Cruzes toda decorada para as festas juninas.
Outra vertente sustenta que elas teriam surgido de sua diluição obsessiva das
formas arquitetônicas. Impossível elucidar se uma das versões procede — mas é
fato que Volpi foi radicalizando o expediente com o tempo. ‘Mais que as
paisagens, pessoas e objetos, ele se interessava pela simplificação das formas,
e pela exploração das cores e texturas’, diz o curador Toledo.
Eis o feito de Volpi: em uma única e singela
bandeirinha, ele sintetiza um imenso legado modernista.
Enquanto seus desenhos
custam a partir de R$ 40 mil, tela de sua fase áurea foi posta à venda por R$ 38 milhões em feira
Autorretrato de Tarsila do Amaral de 1923, também conhecido como 'Manteau Rouge'
Havaianas, imãs de geladeira,
cadernos e até filme para crianças. Tarsila do Amaral está em todas. Pop e a
preços cada vez mais estratosféricos, desde que o MoMA de Nova York comprou sua tela ‘A Lua’
por uma cifra próxima dos US$ 20 milhões, no ano
passado.
‘Idílio’, pintura com as cores fortes
e os traços curvos característicos da modernista brasileira, foi posta à venda
por US$ 7 milhões, ou cerca de R$ 38 milhões, na edição nova-iorquina da tradicional feira de
arte Tefaf, realizada na semana passada.
‘A Negra’, 1923
Neste sábado (14), em um museu de Itu, no interior de São Paulo, será
inaugurada uma exposição com 200 de seus
desenhos, cada um podendo valer de R$ 40 mil
a R$ 1 milhão, caso de um estudo de ‘A
Negra’, obra de 1923, a primeira no processo de seu
reconhecimento internacional.
A coleção reúne desenhos com estudos
e anotações para suas futuras obras, feitos entre os anos 1910 e 1940. Inclui,
portanto, seu período áureo, de 1923 a
1933, quando, além de ‘A Negra’, pintou ‘Abaporu’,
‘A Lua’, ambas de 1928, e ‘Operários’, de 1933. Foi recém-adquirida pelo artista plástico,
empresário e colecionador Marcos Amaro, 36,
que investiu mais de R$ 200 milhões, incluindo essa coleção, no
museu Fama (Fábrica de
Artes Marcos Amaro), em
que acontecerá a exposição.
Os desenhos haviam sido vendidos por
um marchand em 1970 ao empresário Oscar Fakhoury, que os
manteve guardados, sem acesso ao público e a pesquisadores. Com a sua morte,
sua viúva negociou a venda a Amaro, através da galeria Almeida & Dale, segundo o colecionador. ‘Eu já havia flertado
com várias obras da Tarsila, mas as negociações não avançaram. Quando soube
desses desenhos, fiquei apaixonado pela ideia de adquirir um conjunto tão
representativo do percurso da artista’, diz Amaro.
Após a compra, o colecionador achou
que seria preciso um complemento na trajetória da modernista. Por meio de um
marchand, adquiriu mais dois desenhos da fase antropofágica de Tarsila —a mais
conhecida do público, marcada por ‘Abaporu’—, e outro galerista o levou a um
exemplar do período no qual a pintora esteve na União Soviética, quando se
casou com o psiquiatra, crítico de arte e comunista Osório César e desenvolveu
suas obras de viés político, cujo grande exemplar é ‘Operários’.
Operários
Amaro, apesar de não falar sobre o
valor que pagou por esses três desenhos e pela coleção, dá parâmetros: ‘No
mercado, os desenhos menos representativos da Tarsila valem entre R$ 40 mil e R$ 50 mil. E um
estudo de ‘A Negra’ [como
o que faz parte da coleção] foi vendido por quase R$ 1
milhão. Apesar disso, eu não comprei com o interesse comercial, especulativo,
quero que a coleção faça parte do acervo do Fama para ser vista pelo público e
para basear estudos e pesquisas’, afirma o colecionador.
Para Amaro, Tarsila,1886-1973, ‘teve uma defasagem’ na valorização
mercadológica, o que mudou desde que o MoMA adquiriu ‘A Lua’. ‘Um movimento como esse cria uma
legitimidade da artista para o mercado, é um endosso para um resgate histórico’.
‘Tarsila Popular’, MASP, 2019
Ele menciona também a exposição ‘Tarsila
Popular’, realizada pelo Masp no ano passado, que bateu o recorde histórico do
museu, com mais de 402 mil visitantes fazendo filas e
tirando selfies em frente às obras, destronando uma lista formada por Monet,
Picasso e Salvador Dalí. ‘Isso a popularizou muito. Ela acaba virando um ícone
pop, como Frida Kahlo,1907-1954. A vantagem da Frida em relação à
Tarsila, em relação a essa popularização, é a proximidade do México com os
Estados Unidos’, analisa.
Uma das maiores especialistas em
Tarsila, com quem teve contato, a crítica de arte Aracy Amaral, 90, diz que esse movimento em relação à artista está
diretamente relacionado ao crescimento do mercado da arte.
Na década de 1960, Aracy realizou pesquisa na casa de Tarsila, na rua
Albuquerque Lins, em São Paulo, onde catalogou os 200 desenhos que agora chegam à exposição do Fama, da
qual é curadora. Em 1969, organizou ‘Tarsila – 50 Anos de Pintura’, no Museu de Arte Moderna do Rio, mostra
relevante na construção do reconhecimento da modernista. À época, lembra Aracy,
Tarsila vendeu algumas de suas obras. ‘Era um dinheiro suficiente para cuidar
da sua casa e viver bem. Mas não tinha a noção da valorização das suas obras’,
lembra Aracy.
‘A Lua’
Se a evolução do mercado de arte
ajudou Tarsila a se consolidar no país, o marco de sua valorização
internacional foi a aquisição de ‘A Lua’ pelo MoMA, afirma Paulo Kuczynski, 72, que intermediou a venda. ‘Com isso, ela passou do patamar
do modernismo brasileiro para o do modernismo internacional’, avalia o
galerista, que diz saber de outras instituições interessadas em adicionar
Tarsila a seus acervos.
É um sinal de que a escalada de
preços não deve arrefecer nos próximos anos. Até porque, diz Kuczynski, a
última grande venda sempre inaugura uma nova faixa de valores, mesmo que a obra
em negociação não seja tão aclamada quanto ‘A Lua’.
À frente das negociações de ‘Idílio’
iniciadas na Tefaf, o galerista Thiago Gomide, 42, afirma que o quadro, de uma fase em que a artista retratou a vida
interiorana brasileira, já atraiu o interesse de colecionadores dos EUA, da Inglaterra e da China.
'Idílio', 1929, pintura de Tarsila do Amaral exibida pela galeria Bergamin e Gomide na feira online Tefaf, Nova York, 2020
Ele torce para que a pintura de
traços arredondados, que mostra um casal de namorados em uma fazenda, seja
adquirida por um museu internacional. Segundo Gomide, Tarsila foi muito
beneficiada por uma tendência recente dessas instituições de revisar as suas
coleções de modo a incluir mais trabalhos de mulheres, negros, latinos. ‘A
venda para o MoMA
criou um precedente muito importante, em que instituições passaram a se sentir
confortáveis para pagar valores altos em um quadro como esse’, diz.
Esse fato, aliado à raridade de telas
da fase mais valorizada de Tarsila —menos de 50—, deve continuar a projetá-la. ‘E a valorização ainda crescerá porque
esse movimento de igualdade de gênero está só começando. A Tarsila acabou se
tornando um ícone que todos conhecem, crianças, trabalhadores de todas as
classes. Criou uma identidade brasileira, é a cara do Brasil, da mesma forma
que a Frida é a do México’, diz Gomide.
Doutora em estética e história da
arte pela USP, Regina Teixeira de Barros, 54, curadora da exposição dos desenhos no Fama e que já
organizou mostras da artista na Pinacoteca e no Malba, na Argentina, onde está
o ‘Abaporu’, também acredita que esse discurso de gênero ajude a fazer de
Tarsila uma artista expoente. Características de sua obra, como as formas
reduzidas e o colorido, têm apelo com o público, trazem uma facilidade de
acesso. ‘É muito fácil gostar da Tarsila’, diz a historiadora.
Kuczynski concorda: ‘Ela é tão
Brasil, tão caipira, suas cores, suas formas... É tudo muito sedutor. Tem a
dimensão de sonho com a qual as crianças se identificam’.
É na identificação com o público infantil a aposta o filme de animação ‘Tarsilinha’, da PinGuim Content, criadora dos desenhos animados ‘Peixonauta’ e ‘O Show da Luna!’.
No longa-metragem, em fase de
finalização, a garota Tarsilinha envolve-se em uma aventura em um mundo repleto
de figuras, personagens e cenários das obras de Tarsila. Entraria em cartaz nos
cinemas neste ano, o que foi adiado em razão da pandemia. A produtora lança
nesta sexta-feira (13) um clipe do filme, com música de
Zeca Baleiro, que canta no refrão: ‘Tarsilinha não tem medo, leva na mochila
coragem sem fim’.
É um perfil ideal para protagonistas
femininas dos novos tempos, inclusive as princesas da Disney. E que tem tudo a
ver com a heroína da vida real que a inspirou.
Mostra no Itaú Cultural
dedicada ao arquiteto, pioneiro do modernismo, tem 200 objetos e até
realidade virtual
Cinemas monumentais, com mais de 3000 lugares. Apartamentos de quase 400 metros quadrados e janelas do chão ao teto. Fachadas
com afrescos de Di Cavalcanti e painéis de Burle Marx.
A São Paulo idealizada pelo arquiteto
Rino Levi na primeira metade do século 20 era
bem diferente daquela erguida hoje, em que poucas janelas permitem ver o
horizonte —e emolduram algo que não o muro do prédio vizinho.
Ainda assim, suas criações ajudaram a
formar a cidade que conhecemos. É o que mostra a ‘Ocupação Rino Levi’, que
acaba de entrar em cartaz no Itaú Cultural.
Com cerca de 200 itens, entre fotografias, plantas, croquis e
anotações, a maioria do acervo da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da
Universidade de São Paulo, a FAU, ela ilustra o
papel do arquiteto na transformação de São Paulo em metrópole.
Ou melhor, os papéis. Levi não só
pensou edifícios para atender serviços e formas de lazer nascentes na época,
como criou prédios emblemáticos, que ainda hoje hipnotizam os pedestres nas
calçadas —um deles, hoje sede do Itaú, fica a dez quadras da mostra.
A maioria dessas criações foi
produzida sob encomenda para a iniciativa privada.
Arquiteto Rino Levi
Um dos organizadores da exposição, a
professora Joana Mello, da FAU, explica que isso, aliado ao fato de que Levi
não era de esquerda, como a maioria dos arquitetos modernos, levou seu nome a
ser esquecido na ditadura militar. O resgate de sua obra só aconteceu na
redemocratização, a partir da década de 1980.
A despeito das divergências
políticas, Levi tem muitas semelhanças com seus contemporâneos, uma lista que
engloba Gregori Warchavchik, Lina Bo Bardi e Vilanova Artigas.
Como eles, o arquiteto prefere linhas
que se integram à paisagem. Seus trabalhos usam elementos que filtram a luz e
facilitam a circulação de ar, como cobogós e brise-soleils. E, tal qual seus
pares, ele acredita no que Mello chama de ‘síntese das artes’, a fusão da
arquitetura com o paisagismo e as artes visuais.
A funcionalidade é outro princípio
que ele partilha com os demais modernos. Os hospitais que criou, como o Antônio
Camargo, do Instituto Central do Câncer, e a maternidade do hospital da USP,
são estruturados para dificultar a disseminação de doenças. Suas cozinhas têm
janelas sobre a pia e acima dos armários, para aproveitar a luz natural e
ventilar o espaço.
Até os painéis que decoravam o
interior do UFA Palácio, cinema na avenida São João
depois rebatizado Art Palácio, tinham fins acústicos, conta Mello. A solução
foi tão bem-sucedida que Levi emendou projetos de outros três cinemas, o
Piratininga, o Ipiranga e o Universo. O último pode ser visitado numa
experiência em realidade virtual.
Interior do cinema Ufa Palácio, na avenida São João, é retratado em fotografia exibida na Ocupação Rino Levi, no Itaú Cultural
Talvez mais do que seus pares, porém,
Levi elevava a natureza a protagonista das suas obras. Nas residências de
Castor Delgado Perez, hoje a galeria de arte Luciana Brito, e de Olivo Gomes,
em São José dos Campos, no interior paulista, grandes vidraças trazem para
dentro o verde dos arredores.
Afinal, a convivência com as plantas ‘dignifica
e eleva espiritualmente o homem’, escreveu o arquiteto. Talvez por isso, uma de
suas parcerias mais duradouras foi com o paisagista Burle Marx. Era comum que
ele acompanhasse o amigo em expedições botânicas pelo país. Foi numa dessas
viagens, à procura de bromélias, que ele morreu, aos 63 anos, em 1965.
Centro Cívico de Santo André
A exposição termina com o projeto de
Levi para o Plano Piloto de Brasília. Em sua visão, em vez das construções
baixas do vencedor Lucio Costa, estariam prédios exíguos de 300 metros de altura —a mesma medida da torre Eiffel.
Cada um deles abrigaria corredores com lojas e serviços.
‘Levi estava preocupado em desenhar
uma cidade, e o Lucio, uma capital’, diz Mello.
Ocupação
Rino Levi
Itaú
Cultural, Av. Paulista, 149, São Paulo-SP
Ter.
a Sex., das 90h às 20h. Sab. E dom., das 11h às 20h
‘A Expressão do
Concreto’ será aberta no Rio, com mais de 200 obras
Retrospectiva de Ivan Serpa começa na quarta, no CCBB do Rio, onde fica até maio e depois segue para São Paulo
Expoente do modernismo brasileiro,
Ivan Serpa terá finalmente uma grande retrospectiva de sua obra exibida ao
público carioca - e, até o fim do ano, para o de outras três capitais do País,
incluindo São Paulo. A exposição Ivan Serpa – ‘A Expressão do Concreto’ foi
aberta ao público na última quarta-feira, 4, no
Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB),
no Rio. Será a chance de conhecer mais de 200
obras do artista que ao longo da carreira variou conceitos e que para alguns é
considerado o ‘Picasso brasileiro’.
Com curadoria do jornalista Marcus de
Lontra Costa e do professor e historiador de arte Hélio Márcio Dias Ferreira, a
exposição reúne peças de importantes coleções particulares, de galerias e da
família do artista, morto em 1973 aos 50 anos. ‘Reunimos um conjunto expressivo de obras do Ivan, que
começou a produzir intensamente a partir dos anos 1950 até a data de seu falecimento, em 1973’, explica Costa. ‘Nesses cerca de 20 anos temos uma produção impressionante, com variações
formais, conceituais, estéticas, que reproduzem de certa maneira todo o clima,
todas as tensões, as diferenças que aconteceram nesse período'.
A exposição ocupa todo o 1.º andar do CCBB. ‘Temos
pinturas, desenhos, gravuras e algumas obras inéditas. Há, por exemplo, um
álbum de fotografias. O Ivan participou como membro do Comitê da França Livre,
e trabalhou nesse álbum de retratos ainda na juventude’, conta Ferreira. ‘É de
propriedade da família e nunca foi mostrado’. Entre as obras está um caderno de
desenhos com os últimos traços pintados por Serpa. ‘Ele foi feito três dias
antes de sua morte’, destaca o professor.
Nas duas décadas em que produziu com
intensidade, Ivan Serpa passou por diversas fases - todas elas retratadas nos
diferentes ambientes da exposição. ‘Ivan tinha hábito de fazer intervenções
sobre convites. Ele fazia intervenções com séries de bichos e de mulheres. Teve
também uma fase chamada Antiletra, em que trabalhava sobre papel impresso,
criando uma nova caligrafia. No fim dos anos 1960, início dos 70, ele fez um conjunto de móveis
trabalhados por dentro’, diz Ferreira.
A exposição ocupa todo o 1.º andar do CCBB com pinturas, desenhos, gravuras e algumas obras inéditas.
Ambientes mais claros, com luzes
vermelhas ou com aspecto mais soturno ajudam o público a se inserir ainda mais
na exposição. E essas mudanças vistas a cada novo ambiente também são uma forma
de fazer o visitante se surpreender.
‘Quando visitamos uma exposição, a
tendência natural é buscarmos uma coerência facilmente perceptível. Aqui ela
não é’, afirma Marcus Costa. ‘A proposta que fazemos ao público é que primeiro
se deixe encantar por esse universo criativo do Serpa, que nunca se preocupou
em fazer parte de uma escola, de uma vertente artística’.
Serpa tinha grande paixão pela França
e chegou a morar um período por lá, o que influenciou sua formação, mas não
anulou a preocupação com suas raízes. ‘A geometria da fase final de sua vida
retrata toda a experiência de um homem sofisticado, de cultura francesa, mas ao
mesmo tempo de um homem que jamais abandonou seus compromissos, sua família,
seu país, sua gente’, explica Costa. ‘Ele passou boa parte da vida no Méier, um
bairro característico da zona norte do Rio, de grande história e potencial
criativo’.
‘Ivan nunca abandonou suas raízes.
Foi um brasileiro interessado na construção de um país que tivesse uma estética
particular, uma linguagem específica. Foi também um carioca, um torcedor do
Flamengo e da Mangueira’, pontua.
Para Dias Ferreira, a retrospectiva
sobre Serpa também serve para refletir sobre o momento no País. ‘O Brasil
atravessa uma série de questões de esquecimento, de abandono, e essa é a
possibilidade de ver aquele que foi principalmente um professor de arte, aquele
que pode fomentar a arte’, diz, antes de resumir o que o público vai ver no CCBB. ‘Costumo chamar o Serpa de Picasso brasileiro, e
acho que é isso que as pessoas podem esperar da exposição. Elas vão encontrar
as obras de um dos maiores gênios da arte brasileira’.
A mostra fica no Rio até maio.
Depois, será levada a São Paulo, Brasília e Belo Horizonte.
Um passeio para apresentar,
de maneira lúdica, as obras de uma de nossas maiores artistas! O “Farol
Santander” recebe a partir do dia 26 de novembro a mostra Tarsila para
Crianças. A exposição é totalmente imersiva e a garotada vai poder se sentir
dentro dos quadros! A atração fica por lá até 2 de fevereiro de 2020 e os
ingressos custam R$25 e a entrada é grátis para crianças até 2 anos e 11 meses.
A mostra é toda instagramável
e utiliza de recursos cenográficos como almofadas e lustres, em um espaço de
cerca de 490 metros quadrados. São sete estações temáticas, divididas entre os
andares 19 e 20 do prédio.
Confira as estações
1.Vila dos Sentidos – a exposição começa com um cenário bucólico que
remete à infância de Tarsila na fazenda São Bernardo, onde cresceu brincando
com seus mais de 40 gatos e fazendo bonecos de mato. Uma mini vila caipira será
formada por quatro casinhas tridimensionais, rodeadas por cestos de frutas, com
inspiração no quadro A Feira. Cada casinha apresentará uma característica
marcante relacionada à infância da pintora, como o quarto com sua caixinha de
música e bonecas de mato, a sala de estar com piano, foto de família e seus
gatos de estimação, e até seu perfume e sabonete preferido.
2.Toca da Cuca – Inspirado no quadro A Cuca, o público encontrará um
espaço com uma projeção com os bichos divertidos inspirados nos seres
imaginários presentes na obra de Tarsila do Amaral, que passarão em uma espécie
de tapete imersivo, projetado dentro da Toca da Cuca cenográfica, com acesso
pelo túnel da lagarta.
3.Universo Tarsila – Tendo como referência a obra Cartão Postal, os
visitantes poderão colorir diferentes elementos encontrados em sua obra e os
animais imaginários que habitam o extraordinário e colorido universo de
Tarsila, que ganham vida em uma parede interativa instalada no andar.
4.Floresta Negra – Com uma cenografia e ambientação sonora do que seria a
floresta onírica do quadro Floresta, o público poderá se aconchegar no ninho de
almofadas que simulam os famosos ovos rosa arroxeados de sua pintura. No mesmo
local, baseado na obra Urutu, será possível encontrar um ovo onde os visitantes
despertam a curiosidade, observando através de buraquinhos as possíveis
criaturas que habitam dentro do ovo. A floresta ainda esconde um guardião, o
touro preto (O Touro), que protege com seu mugido quem pensar em fazer mal à
natureza. Os visitantes poderão tirar fotos no instapoint do touro. Uma
reprodução tátil do quadro Floresta foi criada especialmente para que
deficientes visuais conheçam a obra de Tarsila do Amaral.
5.Jardim Afetivo – Os visitantes serão convidados a embarcar em uma
viagem sensorial, com animações e sons, como por exemplo, os ruídos da estação
de ferro, da caixinha de música, o coaxar do sapo, os grilos, que remetem
diretamente a 4 quadros de Tarsila.
6.As Cores de Tarsila – Neste ambiente estarão expostos reproduções de
diversos quadros impressos e as principais cores da paleta de Tarsila (Cores
Caipiras: azul puríssimo, rosa violáceo, amarelo vivo e verde cantante) para a
pintura brasileira e internacional. Ao centro, duas redes coloridas penduradas
do teto até quase o chão, representando pinceis. Os visitantes serão convidados
a se posicionar nas redes-pinceis, e percebem que no chão há uma projeção que
repercute o movimento de cada pincel e vai misturando as cores e dando origem a
uma infinidade de pinturas digitais aleatórias.
7.Papo com o Abaporu – A mais famosa obra de Tarsila,Abaporu, divide espaço com as obras Sol
Poente e A Lua, em uma sala repleta de cactos cenográficos e flores
holográficas. O cenário do Sol Poente é pensado para boas fotografias, com
diversos pufes espalhados em frente a uma série de círculos laranjas. Nessa
sala também há o espaço Papo Com Abaporu, com dois totens touchscreen com
perguntas que poderão ser respondidas pelo enigmático personagem via
inteligência artificial, através da plataforma Watson.
A exposição é assinado pela
YDreams Global, que foi responsável pela em exposição inspirada em Van Gogh,
que ficou em cartaz no shopping Pátio Higienópolis. A curadoria é de Patrícia
Engel Secco, Karina Israel e da sobrinha-neta da artista, Tarsilinha.
Tarsila
para Crianças
Recomendado: Todas as idades
Quando: de 26/11 a 02/02 nas terças, quartas, quintas,
sextas, sábados e domingos. Horários: das 9h às 20h