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sábado, 15 de abril de 2023

Pablo Picasso


50 anos sem Picasso: os períodos e as cores de suas obras

O pintor Pablo Picasso, grande influência do século 20, foi um dos fundadores do cubismo, e pioneiro na arte de colagem. Espanhol, nascido em Málaga, ele revolucionou a forma de fazer arte, tornando-se um dos expoentes do modernismo.

Quando morreu em 8 de abril de 1973, aos 91 anos, o artista tinha um portfólio de mais de 13 mil telas, 100 mil gravuras, 34 mil ilustrações e 300 esculturas. Suas obras passaram por diversos períodos e estilos ao longo dos 78 anos de carreira artística.

Um dos mais marcantes foi o período azul, que durou de 1901 a 1904. Picasso enfrentava uma crise emocional na época, e utilizou tons azuis, esverdeados e escuros para enfatizar os temas sombrios retratados nas pinturas. Já no período rosa, que durou de 1904 a 1907, as temáticas boêmias e circenses receberam cores mais leves, como tons rosados, alaranjados e azul-claro.


A partir de 1907, durante o período africano as paletas ganharam cores secas e monocromáticas. Essas tonalidades ressaltavam as formas mais geométricas e abstratas, que tiveram seu auge a partir de 1909, com o cubismo analítico. No momento seguinte, a partir de 1912, no cubismo sintético, a tonalidade ganhou saturação e as formas tornaram-se menos abstratas.

 


As cores saturadas também foram bastante utilizadas durante os períodos neoclassicista e surrealista, que ocorreram nas décadas de 1920 e 1930. Uma das obras mais importantes desse momento é Guernica, que retrata um bombardeio nazista na Espanha e se tornou um símbolo do antimilitarismo.

 


A mudança para tons mais sombrios ocorreu nos anos seguintes, durante o período da guerra e pós-guerra. No último período de sua carreira artística, a partir dos anos 1950, Picasso produziu mais de 400 obras retratando sua segunda esposa, Jacqueline Roque. O erotismo também foi um elemento significativo nessa fase.

 


Fonte: Nexo | Nos Eixos


(JA, Abr23)

 

 


domingo, 27 de fevereiro de 2022

Volpi no Masp - o pintor foi de operário a astro modernista


O artista proletário se tornou um mestre do movimento artístico, sem querer ser de vanguarda — e deixou um legado que vai muito além das bandeirinhas

 

Mistério no Mar - A cativante cena litorânea: figura enigmática que é meio sereia, meio Iemanjá 


Um século atrás, a elite paulistana assistia aturdida às ousadias da Semana de 22 — mas o jovem Alfredo Volpi (1896-1988) não estava nem aí para esse trem que seria conhecido como modernismo. Ele tinha, de fato, mais que fazer: italiano pobre, que viera ainda criança de Lucca, na Toscana, trabalhava na construção civil para garantir o sustento.

Àquela altura, Tarsila do Amaral estudava na Europa com luminares como Fernand Léger; Oswald e Mário de Andrade, bem como Cândido Portinari, frequentavam os salões endinheirados da Pauliceia.

Volpi, em contraste, estudara só até o ginásio. Mais um rosto em meio à massa de imigrantes da metrópole, foi encanador, marceneiro e, finalmente, pintor de paredes. É uma ironia pensar que um dos artistas plásticos mais reconhecíveis e valorizados hoje no país, com suas incontornáveis bandeirinhas, atuasse então como mero preparador das superfícies, nas quais outros pintores decorativos fariam seus trabalhos. Como ele foi de operário dos pincéis, a nome central da arte moderna brasileira, é uma pergunta respondida com louvor pela mostra Volpi Popular — que acaba de estrear no Masp, em São Paulo.


Marca Registrada - As inconfundíveis fachadas e adereços juninos: simplicidade

Volpi nunca se identificou com as vanguardas modernistas, e era avesso a divagações teóricas: homem prático, burilou sua pintura a partir da labuta diária como artesão. ‘Ele era um mestre autodidata e intuitivo. Em vez de se associar a movimentos, preferia trabalhar tranquilo em seu ateliê no bairro do Cambuci, fumando um cigarrinho de palha’, diz o curador-­chefe do Masp, Tomás Toledo.

Por trás da humildade inquebrantável, porém, havia um artista bem-informado sobre as questões da arte de seu tempo. Ainda que seu reconhecimento tenha sido tardio: até os anos 1950, alguns estudiosos esnobavam o caráter supostamente naïf (ou ingênuo) de sua obra. Um dos responsáveis por quebrar esse preconceito, o crítico Mário Pedrosa, notou que Volpi ‘passou, naturalmente, por todas as fases da pintura moderna, do impressionismo ao expressionismo, do fauvismo ao cubismo, até o abstracionismo’. 


Volpi: poucas palavras e muitos cigarrinhos de palha no ateliê


Absorção E Intimismo Em Volpi

A verdade é que Volpi foi muito além da soma desses ‘ismos’: assim como Tarsila e Portinari, ele alcançou a condição rara de artista não apenas inovador, mas popular.

A mostra do Masp, com cerca de 100 itens, investiga a ligação entre a vida do pintor, e um universo temático, que vai da arquitetura do casario simples, às festas e costumes sociais. Inspirações que não extraía das ruas agitadas de São Paulo, mas da mansidão do interior — são constantes em seus quadros cenas de Mogi das Cruzes, cidade paulista onde tinha uma chácara, e Itanhaém, no Litoral Sul do estado.

Volpi viveu alguns anos à beira-mar por recomendação médica: sua esposa, Judite, padecia de uma doença sobre a qual não se sabem detalhes.


Os anjos pintores

Sua união com Judite, aliás, aprofundou a conexão de Volpi com as raízes brasileiras. Entre filhos de sangue, e adotivos, o italiano criou dezenove crianças junto com a esposa negra.

Ele imortalizou Judite em uma tela na qual ela surge nua, de braços abertos. A admiração pelos afrodescendentes o levou a povoar muitas de suas obras com personagens de pele escura — o que configurava uma avançada piscadela para a diversidade no Brasil da primeira metade do século 20. Às vezes, Volpi não tinha pudor em afrontar o tradicionalismo católico: pintou um lindo anjinho, e até uma Madona com Menino Jesus, negros. 


Cores e Formas - Mais uma entre as muitas obras sem título do pintor: a beleza na diluição radical dos objetos


Volpi – Coleção Espaços da Arte Brasileira

Uma das virtudes da retrospectiva do Masp é expor esse Volpi, que vai além das bandeirinhas. Logo na entrada, o espectador é apresentado à sua vasta produção de imagens religiosas. Durante um período da vida, ele produziu gravuras de santos para sobreviver. Não considerava a atividade parte de sua obra.

Mas a linha que dividia o Volpi artesão, do Volpi artista, era tênue: ao mesmo tempo, fez estupendas pinturas do gênero. Ele se devotou também a outras formas de misticismo pop: uma tela em tons de verde e azul exibe uma graciosa figura feminina que é meio sereia, meio — possivelmente — Iemanjá. 


Ousadia - O quadro que mostra a Madona e o Menino Jesus negros: uma avançada piscadela para a diversidade


A dúvida sobre os tipos que povoam sua obra decorre de um dado peculiar: Volpi era um homem de poucas palavras, e não deu nome à muitos quadros, alimentando o mistério sobre seu universo.

Não se sabe ao certo, inclusive, como ele descobriu sua marca maior, as bandeirinhas. Reza uma teoria que, certo dia, teria se encantado ao ver Mogi das Cruzes toda decorada para as festas juninas. Outra vertente sustenta que elas teriam surgido de sua diluição obsessiva das formas arquitetônicas. Impossível elucidar se uma das versões procede — mas é fato que Volpi foi radicalizando o expediente com o tempo. ‘Mais que as paisagens, pessoas e objetos, ele se interessava pela simplificação das formas, e pela exploração das cores e texturas’, diz o curador Toledo.

Eis o feito de Volpi: em uma única e singela bandeirinha, ele sintetiza um imenso legado modernista.




Fonte: Marcelo Marthe | Veja Ed. 2778

 

(JA, Fev22)

 


sexta-feira, 13 de novembro de 2020

Tarsila reforça escalada no mercado de arte com esboços beirando o R$ 1 milhão

 Enquanto seus desenhos custam a partir de R$ 40 mil, tela de sua fase áurea foi posta à venda por R$ 38 milhões em feira

 

Autorretrato de Tarsila do Amaral de 1923, também conhecido como 'Manteau Rouge'
 

Havaianas, imãs de geladeira, cadernos e até filme para crianças. Tarsila do Amaral está em todas. Pop e a preços cada vez mais estratosféricos, desde que o MoMA de Nova York comprou sua tela ‘A Lua’ por uma cifra próxima dos US$ 20 milhões, no ano passado.

‘Idílio’, pintura com as cores fortes e os traços curvos característicos da modernista brasileira, foi posta à venda por US$ 7 milhões, ou cerca de R$ 38 milhões, na edição nova-iorquina da tradicional feira de arte Tefaf, realizada na semana passada.

 

‘A Negra’, 1923
 

Neste sábado (14), em um museu de Itu, no interior de São Paulo, será inaugurada uma exposição com 200 de seus desenhos, cada um podendo valer de R$ 40 mil a R$ 1 milhão, caso de um estudo de ‘A Negra’, obra de 1923, a primeira no processo de seu reconhecimento internacional.

A coleção reúne desenhos com estudos e anotações para suas futuras obras, feitos entre os anos 1910 e 1940. Inclui, portanto, seu período áureo, de 1923 a 1933, quando, além de ‘A Negra’, pintou ‘Abaporu’, ‘A Lua’, ambas de 1928, e ‘Operários’, de 1933. Foi recém-adquirida pelo artista plástico, empresário e colecionador Marcos Amaro, 36, que investiu mais de R$ 200 milhões, incluindo essa coleção, no museu Fama (Fábrica de Artes Marcos Amaro), em que acontecerá a exposição.

Os desenhos haviam sido vendidos por um marchand em 1970 ao empresário Oscar Fakhoury, que os manteve guardados, sem acesso ao público e a pesquisadores. Com a sua morte, sua viúva negociou a venda a Amaro, através da galeria Almeida & Dale, segundo o colecionador. ‘Eu já havia flertado com várias obras da Tarsila, mas as negociações não avançaram. Quando soube desses desenhos, fiquei apaixonado pela ideia de adquirir um conjunto tão representativo do percurso da artista’, diz Amaro.

Após a compra, o colecionador achou que seria preciso um complemento na trajetória da modernista. Por meio de um marchand, adquiriu mais dois desenhos da fase antropofágica de Tarsila —a mais conhecida do público, marcada por ‘Abaporu’—, e outro galerista o levou a um exemplar do período no qual a pintora esteve na União Soviética, quando se casou com o psiquiatra, crítico de arte e comunista Osório César e desenvolveu suas obras de viés político, cujo grande exemplar é ‘Operários’.

 

Operários
 

Amaro, apesar de não falar sobre o valor que pagou por esses três desenhos e pela coleção, dá parâmetros: ‘No mercado, os desenhos menos representativos da Tarsila valem entre R$ 40 mil e R$ 50 mil. E um estudo de ‘A Negra’ [como o que faz parte da coleção] foi vendido por quase R$ 1 milhão. Apesar disso, eu não comprei com o interesse comercial, especulativo, quero que a coleção faça parte do acervo do Fama para ser vista pelo público e para basear estudos e pesquisas’, afirma o colecionador.

Para Amaro, Tarsila,1886-1973, ‘teve uma defasagem’ na valorização mercadológica, o que mudou desde que o MoMA adquiriu ‘A Lua’. ‘Um movimento como esse cria uma legitimidade da artista para o mercado, é um endosso para um resgate histórico’.

 

‘Tarsila Popular’, MASP, 2019
 

Ele menciona também a exposição ‘Tarsila Popular’, realizada pelo Masp no ano passado, que bateu o recorde histórico do museu, com mais de 402 mil visitantes fazendo filas e tirando selfies em frente às obras, destronando uma lista formada por Monet, Picasso e Salvador Dalí. ‘Isso a popularizou muito. Ela acaba virando um ícone pop, como Frida Kahlo,1907-1954. A vantagem da Frida em relação à Tarsila, em relação a essa popularização, é a proximidade do México com os Estados Unidos’, analisa.

Uma das maiores especialistas em Tarsila, com quem teve contato, a crítica de arte Aracy Amaral, 90, diz que esse movimento em relação à artista está diretamente relacionado ao crescimento do mercado da arte.

Na década de 1960, Aracy realizou pesquisa na casa de Tarsila, na rua Albuquerque Lins, em São Paulo, onde catalogou os 200 desenhos que agora chegam à exposição do Fama, da qual é curadora. Em 1969, organizou ‘Tarsila – 50 Anos de Pintura’, no Museu de Arte Moderna do Rio, mostra relevante na construção do reconhecimento da modernista. À época, lembra Aracy, Tarsila vendeu algumas de suas obras. ‘Era um dinheiro suficiente para cuidar da sua casa e viver bem. Mas não tinha a noção da valorização das suas obras’, lembra Aracy.

 

‘A Lua’
 

Se a evolução do mercado de arte ajudou Tarsila a se consolidar no país, o marco de sua valorização internacional foi a aquisição de ‘A Lua’ pelo MoMA, afirma Paulo Kuczynski, 72, que intermediou a venda. ‘Com isso, ela passou do patamar do modernismo brasileiro para o do modernismo internacional’, avalia o galerista, que diz saber de outras instituições interessadas em adicionar Tarsila a seus acervos.

É um sinal de que a escalada de preços não deve arrefecer nos próximos anos. Até porque, diz Kuczynski, a última grande venda sempre inaugura uma nova faixa de valores, mesmo que a obra em negociação não seja tão aclamada quanto ‘A Lua’.

À frente das negociações de ‘Idílio’ iniciadas na Tefaf, o galerista Thiago Gomide, 42, afirma que o quadro, de uma fase em que a artista retratou a vida interiorana brasileira, já atraiu o interesse de colecionadores dos EUA, da Inglaterra e da China.

 

'Idílio', 1929, pintura de Tarsila do Amaral exibida pela galeria Bergamin e Gomide na feira online Tefaf, Nova York, 2020 

Ele torce para que a pintura de traços arredondados, que mostra um casal de namorados em uma fazenda, seja adquirida por um museu internacional. Segundo Gomide, Tarsila foi muito beneficiada por uma tendência recente dessas instituições de revisar as suas coleções de modo a incluir mais trabalhos de mulheres, negros, latinos. ‘A venda para o MoMA criou um precedente muito importante, em que instituições passaram a se sentir confortáveis para pagar valores altos em um quadro como esse’, diz.

Esse fato, aliado à raridade de telas da fase mais valorizada de Tarsila —menos de 50—, deve continuar a projetá-la. ‘E a valorização ainda crescerá porque esse movimento de igualdade de gênero está só começando. A Tarsila acabou se tornando um ícone que todos conhecem, crianças, trabalhadores de todas as classes. Criou uma identidade brasileira, é a cara do Brasil, da mesma forma que a Frida é a do México’, diz Gomide.

Doutora em estética e história da arte pela USP, Regina Teixeira de Barros, 54, curadora da exposição dos desenhos no Fama e que já organizou mostras da artista na Pinacoteca e no Malba, na Argentina, onde está o ‘Abaporu’, também acredita que esse discurso de gênero ajude a fazer de Tarsila uma artista expoente. Características de sua obra, como as formas reduzidas e o colorido, têm apelo com o público, trazem uma facilidade de acesso. ‘É muito fácil gostar da Tarsila’, diz a historiadora.

Kuczynski concorda: ‘Ela é tão Brasil, tão caipira, suas cores, suas formas... É tudo muito sedutor. Tem a dimensão de sonho com a qual as crianças se identificam’.

 



É na identificação com o público infantil a aposta o filme de animação ‘Tarsilinha’, da PinGuim Content, criadora dos desenhos animados ‘Peixonauta’ e ‘O Show da Luna!’.




No longa-metragem, em fase de finalização, a garota Tarsilinha envolve-se em uma aventura em um mundo repleto de figuras, personagens e cenários das obras de Tarsila. Entraria em cartaz nos cinemas neste ano, o que foi adiado em razão da pandemia. A produtora lança nesta sexta-feira (13) um clipe do filme, com música de Zeca Baleiro, que canta no refrão: ‘Tarsilinha não tem medo, leva na mochila coragem sem fim’.

É um perfil ideal para protagonistas femininas dos novos tempos, inclusive as princesas da Disney. E que tem tudo a ver com a heroína da vida real que a inspirou. 



Fonte: Laura Mattos e Clara Balbi   |   FSP

 

(JA, 13-Nov20) 


 

quinta-feira, 5 de março de 2020

Exposição revela como Rino Levi fez São Paulo se transmutar em metrópole


Mostra no Itaú Cultural dedicada ao arquiteto, pioneiro do modernismo, tem 200 objetos e até realidade virtual




Cinemas monumentais, com mais de 3000 lugares. Apartamentos de quase 400 metros quadrados e janelas do chão ao teto. Fachadas com afrescos de Di Cavalcanti e painéis de Burle Marx.

A São Paulo idealizada pelo arquiteto Rino Levi na primeira metade do século 20 era bem diferente daquela erguida hoje, em que poucas janelas permitem ver o horizonte —e emolduram algo que não o muro do prédio vizinho.

Ainda assim, suas criações ajudaram a formar a cidade que conhecemos. É o que mostra a ‘Ocupação Rino Levi’, que acaba de entrar em cartaz no Itaú Cultural.
Com cerca de 200 itens, entre fotografias, plantas, croquis e anotações, a maioria do acervo da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, a FAU, ela ilustra o papel do arquiteto na transformação de São Paulo em metrópole.

Ou melhor, os papéis. Levi não só pensou edifícios para atender serviços e formas de lazer nascentes na época, como criou prédios emblemáticos, que ainda hoje hipnotizam os pedestres nas calçadas —um deles, hoje sede do Itaú, fica a dez quadras da mostra.

A maioria dessas criações foi produzida sob encomenda para a iniciativa privada.


Arquiteto Rino Levi



Um dos organizadores da exposição, a professora Joana Mello, da FAU, explica que isso, aliado ao fato de que Levi não era de esquerda, como a maioria dos arquitetos modernos, levou seu nome a ser esquecido na ditadura militar. O resgate de sua obra só aconteceu na redemocratização, a partir da década de 1980.

A despeito das divergências políticas, Levi tem muitas semelhanças com seus contemporâneos, uma lista que engloba Gregori Warchavchik, Lina Bo Bardi e Vilanova Artigas.

Como eles, o arquiteto prefere linhas que se integram à paisagem. Seus trabalhos usam elementos que filtram a luz e facilitam a circulação de ar, como cobogós e brise-soleils. E, tal qual seus pares, ele acredita no que Mello chama de ‘síntese das artes’, a fusão da arquitetura com o paisagismo e as artes visuais.

A funcionalidade é outro princípio que ele partilha com os demais modernos. Os hospitais que criou, como o Antônio Camargo, do Instituto Central do Câncer, e a maternidade do hospital da USP, são estruturados para dificultar a disseminação de doenças. Suas cozinhas têm janelas sobre a pia e acima dos armários, para aproveitar a luz natural e ventilar o espaço.

Até os painéis que decoravam o interior do UFA Palácio, cinema na avenida São João depois rebatizado Art Palácio, tinham fins acústicos, conta Mello. A solução foi tão bem-sucedida que Levi emendou projetos de outros três cinemas, o Piratininga, o Ipiranga e o Universo. O último pode ser visitado numa experiência em realidade virtual.


Interior do cinema Ufa Palácio, na avenida São João, é retratado em fotografia exibida na Ocupação Rino Levi, no Itaú Cultural


Talvez mais do que seus pares, porém, Levi elevava a natureza a protagonista das suas obras. Nas residências de Castor Delgado Perez, hoje a galeria de arte Luciana Brito, e de Olivo Gomes, em São José dos Campos, no interior paulista, grandes vidraças trazem para dentro o verde dos arredores.

Afinal, a convivência com as plantas ‘dignifica e eleva espiritualmente o homem’, escreveu o arquiteto. Talvez por isso, uma de suas parcerias mais duradouras foi com o paisagista Burle Marx. Era comum que ele acompanhasse o amigo em expedições botânicas pelo país. Foi numa dessas viagens, à procura de bromélias, que ele morreu, aos 63 anos, em 1965.



Centro Cívico de Santo André


A exposição termina com o projeto de Levi para o Plano Piloto de Brasília. Em sua visão, em vez das construções baixas do vencedor Lucio Costa, estariam prédios exíguos de 300 metros de altura —a mesma medida da torre Eiffel. Cada um deles abrigaria corredores com lojas e serviços.

‘Levi estava preocupado em desenhar uma cidade, e o Lucio, uma capital’, diz Mello.


Ocupação Rino Levi
Itaú Cultural, Av. Paulista, 149, São Paulo-SP
Ter. a Sex., das 90h às 20h. Sab. E dom., das 11h às 20h
Até 12/04
Livre
Grátis




Fonte:  Clara Balbi  |  FSP



(JA, Mar20)



quarta-feira, 4 de março de 2020

Exposição reúne a arte plural de Ivan Serpa



‘A Expressão do Concreto’ será aberta no Rio, com mais de 200 obras


Retrospectiva de Ivan Serpa começa na quarta, no CCBB do Rio, onde fica até maio e depois segue para São Paulo



Expoente do modernismo brasileiro, Ivan Serpa terá finalmente uma grande retrospectiva de sua obra exibida ao público carioca - e, até o fim do ano, para o de outras três capitais do País, incluindo São Paulo. A exposição Ivan Serpa – ‘A Expressão do Concreto’ foi aberta ao público na última quarta-feira, 4, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), no Rio. Será a chance de conhecer mais de 200 obras do artista que ao longo da carreira variou conceitos e que para alguns é considerado o ‘Picasso brasileiro’.

Com curadoria do jornalista Marcus de Lontra Costa e do professor e historiador de arte Hélio Márcio Dias Ferreira, a exposição reúne peças de importantes coleções particulares, de galerias e da família do artista, morto em 1973 aos 50 anos. ‘Reunimos um conjunto expressivo de obras do Ivan, que começou a produzir intensamente a partir dos anos 1950 até a data de seu falecimento, em 1973’, explica Costa. ‘Nesses cerca de 20 anos temos uma produção impressionante, com variações formais, conceituais, estéticas, que reproduzem de certa maneira todo o clima, todas as tensões, as diferenças que aconteceram nesse período'.

A exposição ocupa todo o 1.º andar do CCBB. ‘Temos pinturas, desenhos, gravuras e algumas obras inéditas. Há, por exemplo, um álbum de fotografias. O Ivan participou como membro do Comitê da França Livre, e trabalhou nesse álbum de retratos ainda na juventude’, conta Ferreira. ‘É de propriedade da família e nunca foi mostrado’. Entre as obras está um caderno de desenhos com os últimos traços pintados por Serpa. ‘Ele foi feito três dias antes de sua morte’, destaca o professor.

Nas duas décadas em que produziu com intensidade, Ivan Serpa passou por diversas fases - todas elas retratadas nos diferentes ambientes da exposição. ‘Ivan tinha hábito de fazer intervenções sobre convites. Ele fazia intervenções com séries de bichos e de mulheres. Teve também uma fase chamada Antiletra, em que trabalhava sobre papel impresso, criando uma nova caligrafia. No fim dos anos 1960, início dos 70, ele fez um conjunto de móveis trabalhados por dentro’, diz Ferreira.


 A exposição ocupa todo o 1.º andar do CCBB com pinturas, desenhos, gravuras e algumas obras inéditas.


Ambientes mais claros, com luzes vermelhas ou com aspecto mais soturno ajudam o público a se inserir ainda mais na exposição. E essas mudanças vistas a cada novo ambiente também são uma forma de fazer o visitante se surpreender.

‘Quando visitamos uma exposição, a tendência natural é buscarmos uma coerência facilmente perceptível. Aqui ela não é’, afirma Marcus Costa. ‘A proposta que fazemos ao público é que primeiro se deixe encantar por esse universo criativo do Serpa, que nunca se preocupou em fazer parte de uma escola, de uma vertente artística’.

Serpa tinha grande paixão pela França e chegou a morar um período por lá, o que influenciou sua formação, mas não anulou a preocupação com suas raízes. ‘A geometria da fase final de sua vida retrata toda a experiência de um homem sofisticado, de cultura francesa, mas ao mesmo tempo de um homem que jamais abandonou seus compromissos, sua família, seu país, sua gente’, explica Costa. ‘Ele passou boa parte da vida no Méier, um bairro característico da zona norte do Rio, de grande história e potencial criativo’.






‘Ivan nunca abandonou suas raízes. Foi um brasileiro interessado na construção de um país que tivesse uma estética particular, uma linguagem específica. Foi também um carioca, um torcedor do Flamengo e da Mangueira’, pontua.

Para Dias Ferreira, a retrospectiva sobre Serpa também serve para refletir sobre o momento no País. ‘O Brasil atravessa uma série de questões de esquecimento, de abandono, e essa é a possibilidade de ver aquele que foi principalmente um professor de arte, aquele que pode fomentar a arte’, diz, antes de resumir o que o público vai ver no CCBB. ‘Costumo chamar o Serpa de Picasso brasileiro, e acho que é isso que as pessoas podem esperar da exposição. Elas vão encontrar as obras de um dos maiores gênios da arte brasileira’.

A mostra fica no Rio até maio. Depois, será levada a São Paulo, Brasília e Belo Horizonte.  






Fonte: Marcio Dolzan, OESP




(JA, Mar20)


sábado, 7 de dezembro de 2019

Para os pequenos fãs de arte! Exposição em cartaz no Farol Santander






Um passeio para apresentar, de maneira lúdica, as obras de uma de nossas maiores artistas! O “Farol Santander” recebe a partir do dia 26 de novembro a mostra Tarsila para Crianças. A exposição é totalmente imersiva e a garotada vai poder se sentir dentro dos quadros! A atração fica por lá até 2 de fevereiro de 2020 e os ingressos custam R$25 e a entrada é grátis para crianças até 2 anos e 11 meses.

A mostra é toda instagramável e utiliza de recursos cenográficos como almofadas e lustres, em um espaço de cerca de 490 metros quadrados. São sete estações temáticas, divididas entre os andares 19 e 20 do prédio.


Confira as estações



1.      Vila dos Sentidos – a exposição começa com um cenário bucólico que remete à infância de Tarsila na fazenda São Bernardo, onde cresceu brincando com seus mais de 40 gatos e fazendo bonecos de mato. Uma mini vila caipira será formada por quatro casinhas tridimensionais, rodeadas por cestos de frutas, com inspiração no quadro A Feira. Cada casinha apresentará uma característica marcante relacionada à infância da pintora, como o quarto com sua caixinha de música e bonecas de mato, a sala de estar com piano, foto de família e seus gatos de estimação, e até seu perfume e sabonete preferido.

2.      Toca da Cuca – Inspirado no quadro A Cuca, o público encontrará um espaço com uma projeção com os bichos divertidos inspirados nos seres imaginários presentes na obra de Tarsila do Amaral, que passarão em uma espécie de tapete imersivo, projetado dentro da Toca da Cuca cenográfica, com acesso pelo túnel da lagarta.

3.     Universo Tarsila – Tendo como referência a obra Cartão Postal, os visitantes poderão colorir diferentes elementos encontrados em sua obra e os animais imaginários que habitam o extraordinário e colorido universo de Tarsila, que ganham vida em uma parede interativa instalada no andar.



4.     Floresta Negra – Com uma cenografia e ambientação sonora do que seria a floresta onírica do quadro Floresta, o público poderá se aconchegar no ninho de almofadas que simulam os famosos ovos rosa arroxeados de sua pintura. No mesmo local, baseado na obra Urutu, será possível encontrar um ovo onde os visitantes despertam a curiosidade, observando através de buraquinhos as possíveis criaturas que habitam dentro do ovo. A floresta ainda esconde um guardião, o touro preto (O Touro), que protege com seu mugido quem pensar em fazer mal à natureza. Os visitantes poderão tirar fotos no instapoint do touro. Uma reprodução tátil do quadro Floresta foi criada especialmente para que deficientes visuais conheçam a obra de Tarsila do Amaral.

5.     Jardim Afetivo – Os visitantes serão convidados a embarcar em uma viagem sensorial, com animações e sons, como por exemplo, os ruídos da estação de ferro, da caixinha de música, o coaxar do sapo, os grilos, que remetem diretamente a 4 quadros de Tarsila.

6.      As Cores de Tarsila – Neste ambiente estarão expostos reproduções de diversos quadros impressos e as principais cores da paleta de Tarsila (Cores Caipiras: azul puríssimo, rosa violáceo, amarelo vivo e verde cantante) para a pintura brasileira e internacional. Ao centro, duas redes coloridas penduradas do teto até quase o chão, representando pinceis. Os visitantes serão convidados a se posicionar nas redes-pinceis, e percebem que no chão há uma projeção que repercute o movimento de cada pincel e vai misturando as cores e dando origem a uma infinidade de pinturas digitais aleatórias.




7.      Papo com o Abaporu – A mais famosa obra de Tarsila,  Abaporu, divide espaço com as obras Sol Poente e A Lua, em uma sala repleta de cactos cenográficos e flores holográficas. O cenário do Sol Poente é pensado para boas fotografias, com diversos pufes espalhados em frente a uma série de círculos laranjas. Nessa sala também há o espaço Papo Com Abaporu, com dois totens touchscreen com perguntas que poderão ser respondidas pelo enigmático personagem via inteligência artificial, através da plataforma Watson.


A exposição é assinado pela YDreams Global, que foi responsável pela em exposição inspirada em Van Gogh, que ficou em cartaz no shopping Pátio Higienópolis. A curadoria é de Patrícia Engel Secco, Karina Israel e da sobrinha-neta da artista, Tarsilinha.


Tarsila para Crianças
Recomendado: Todas as idades
Quando: de 26/11 a 02/02 nas terças, quartas, quintas, sextas, sábados e domingos. Horários: das 9h às 20h
Preços: Adultos: R$ 25 Crianças: R$ 12,50  Meia: R$ 12,50
Onde: Farol Santander – Rua João Brícola, 24, Centro - São Paulo
Informações: (11) 3553-5627              Site: ter.li/farolsantander              


Fonte: São Paulo para Crianças



(JA, Dez19)