A Pinacoteca de São Paulo,
museu da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Governo do Estado de São
Paulo, apresenta, de 23 de março a 24 de junho de 2019, a exposição Artur
Lescher: Suspensão, que ocupa o 4º andar da Pina Estação. Com curadoria de Camila
Bechelany, a retrospectiva pontua os momentos mais importantes da trajetória do
artista reunindo um conjunto de cerca de 120 trabalhos, incluindo instalações,
esculturas, maquetes e cadernos de desenho. A mostra propõe evidenciar como,
desde o início da carreira, Lescher tem testado a aplicação das noções de
gravidade, a partir da engenharia e da matemática, na construção de uma poética
particular.
A obra escultórica de Artur
Lescher (São Paulo, 1962) começou a chamar a atenção da crítica após sua
participação na 19ª Bienal de São Paulo, em 1987. Desde então, o artista tem
explorado a relação com o espaço expositivo em que se apresenta,
caracterizando-se
por intervir de maneira sutil nesse ambiente, de modo a fornecer ao observador
alguma memória daquele lugar. Nesse sentido, seus interesses vão desde o
modelismo até a astrologia, passando pela matemática, pela arquitetura e pela
mitologia.
Para a exposição na Pinacoteca, seus mais de 30 anos de pesquisa
foram divididos em três eixos/salas: (1) Narrativas líquidas, que trata das
potencialidades e dos desafios dos materiais; (2) Suspensão, sobre a
verticalidade na escultura; e (3) Engenharia da memória, que apresenta a
investigação do artista em direção à uma reescrita e construção imaginária da cidade.
No eixo Narrativas líquidas,
constam esculturas que oferecem um contraponto à imagem orgânica da natureza.
As obras da série Rios (2004-2019), por exemplo, assemelham-se a cachoeiras e
cursos de rios, e, mesmo tendo sido construídas com materiais sólidos ou brutos
como feltro, papel, madeira, aço e pedra, ainda assim evocam transparência e
fluidez. ‘O material não é utilizado como suporte, ele desafia a forma e
explora a realidade espacial, seja pelo equilíbrio, seja pela massa que carrega
ou ainda pela sua resistência’, define a curadora.
Para conceber suas obras, o
artista parte sempre do desenho à mão livre ou de uma maquete, para, em
seguida, escolher o material. Posteriormente, este é trabalhado por meio de
procedimentos semi-industriais – como solda, polimento e galvanização – para
finalmente suspender a obra, arrematando assim as tensões do trabalho. Os
projetos que utilizam a gravidade para experimentar o volume no espaço e os
pêndulos estão reunidos no eixo Suspensão. ‘Ali podemos ver o desafio do peso,
a resistência do material e a relação com o espaço público e a posição do
espectador, questões caras ao artista’, resume Bechelany.
‘A verticalidade das peças
sugere a tentativa de atingir outro mundo, de escapar, de viajar. Os pêndulos
também se relacionam a um imaginário cosmogônico ou um interesse pela leitura
do céu. Cada obra é como um ponto de referência e o conjunto de pêndulos atua
como um mapa imaginário do céu sobre nossas cabeças’, explica a curadora.
A elegância do desenho e a
perfeição executiva de Lescher, que explora, sobretudo, a dualidade
peso-leveza, apontam para um fértil diálogo com tradições da escultura
brasileira, notadamente com a obra de Waltercio Caldas. ‘Em Lescher são o
empirismo e a percepção que comandam e justificam as proporções e as escalas
nas quais as obras são desenhadas e desenham o espaço’, completa ela.
Para o escritor Juliano
Garcia Pessanha, que assina texto para o catálogo da mostra, ‘adentrar o
silêncio das paisagens incomuns de Lescher é expor-se a um chamado de elevação,
pois as formas e as geometrias criadas por ele remetem ao alto e a um jogo de
conexões com o que está em cima. Sua coragem está em reivindicar o acima quando
todos parecem disputar a raiz e o embaixo’.
Por fim, a última sala,
dedicada à construção de realidades imaginadas e a relação com o espaço urbano
sob o eixo Engenharia da memória traz, como preâmbulo, cerca de 50 maquetes e
cadernos de estudos. Estes são exibidos pela primeira vez ao público e visam
constituir uma leitura aprofundada e inédita do processo de trabalho de
Lescher.
Ainda no mesmo espaço, é exibida a instalação Nostalgia do engenheiro
(2014), uma homenagem a Giorgio De Chirico formada por 16 objetos em metal e
madeira sobre uma base que se refere aos espaços metafísicos imaginados pelo
artista italiano em suas pinturas.
CATÁLOGO
Artur Lescher: Suspensão é
complementada com um catálogo que inclui uma entrevista conduzida por Lilian
Tone, na qual o artista revisa a própria carreira. A edição conta com imagens
de obras da mostra, além de outras obras de referência documental. Apresentadas
nesta exposição pela primeira vez ao público, as maquetes e os cadernos de
estudos que ilustram o método de trabalho do artista, também compõem o livro,
que possui textos de Camila Bechelany, curadora da mostra, e Juliano Pessanha.
AÇÃO EDUCATIVA
O Núcleo de Ação Educativa
(NAE) da Pinacoteca oferece formação e material especial para professores, além
de um recurso educativo à disposição dos visitantes na entrada da exposição.
Sábados, domingos e feriados, das 10h30 e 14h30, na Pina Estação. Grupo de até
20 pessoas. Não é necessária inscrição, apenas apresentar-se na recepção do
museu. As visitas educativas durante os dias de semana acontecem de 30 de março
a 24 de junho, e podem ser agendadas pelos números (11) 3324-0943 e (11)
3324-0944.
SOBRE ARTUR LESCHER
Artur Lescher nasceu em São
Paulo, Brasil, em 1962, onde vive e trabalha. Participou das 19ª e 25ª edições
da Bienal Internacional de Arte de São Paulo, São Paulo/SP, Brasil (1987 e
2002), e da 5ª Bienal do Mercosul, Porto Alegre/RS, Brasil (2005). Expôs em
diversas coletivas na América Latina, na Europa e nos Estados Unidos, além de
duas mostras individuais, a primeira no Instituto Tomie Ohtake (ITO), São
Paulo/ SP, Brasil (2006), e a segunda no Palais d’Iéna, Paris, França (2017).
SERVIÇO
Artur Lescher: Suspensão
Pina Estação: Largo General Osório, 66 – Tel.: (11)
33241000, pinacoteca.org.br
Visitação: 23 de março a 24 de junho de 2019. De
quarta a segunda, das 10h às 17h30 – com permanência até as 18h
A Pina Estação é gratuita todos os dias.
Estacionamento conveniado.
Acessível para cadeirantes.
Wifi aberto ao público.
(JA, Mar19)
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