Mostrando postagens com marcador MUSEU LASAR SEGALL. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador MUSEU LASAR SEGALL. Mostrar todas as postagens

sexta-feira, 14 de junho de 2019

Lasar Segall: O Eterno Caminhante




Eternos Caminhantes, 1919


Lasar Segall, 1891-1957, foi um artista que, como poucos, soube olhar com sensibilidade e empatia para o mundo a seu redor, conservando ‘ os olhos muito abertos’, como uma vez declarou.

Nascido em 1889 em Vilnius, atual capital da Lituânia, então sob domínio da Rússia czarista, era o sexto dos oitos filhos de Abel Guirchovitch Segall e Esther Godes Glaser Wulfovna.

Aos 16 anos deixou sua cidade natal para dar continuidade aos estudos artísticos, estabelecendo-se em Berlim, onde estudou na Königliche Kaiserliche Akademische Hochschule für Bildende Kunst.

O jovem artista ainda se matriculou na Hochschule für Bildende Künste Dresden, onde finalizou sua formação. Todo esse treino lhe forneceu notável proficiência técnica, equipando-o de um virtuosismo invejável. Como ele disse: ‘Sem técnica, sem conhecimento do método, o artista não fala – gagueja’.

Emigraria definitivamente para o Brasil em 1923, dez anos depois de sua primeira passagem pelo país, quando expôs seus trabalhos em São Paulo e Campinas, naturalizando-se brasileiro em 1927.

Com exceção dos quatro anos em que se radicou em Paris, de 1928 a 1932, Segall aqui viveu até sua morte em 1957. No entanto, o ambiente de sua cidade natal, com suas múltiplas fés, línguas e tipos humanos, bem como o drama da emigração, o marcaria por toda a vida, dedicando parte de suas obras a temas como a experiência judaica, a noção de identidade, o exílio e a condição suspensa dos que são obrigados a deixar seus países.

Nos trabalhos aqui reunidos podemos ver o engajamento com essas temáticas, bem como a identificação do artista com os emigrantes que, assim como ele, atravessaram o Atlântico em busca de melhores condições de vida na primeira metade do século XX.


Lasar Segall: O Eterno Caminhante
Museu Lasar Segall,, Rua Berta, 111, Vila Mariana, São Paulo-SP
Abertura da exposição, Sábado – 29 de junho – 15h00
Visita guiada com o diretor do Museu Lasar Segall Giancarlo Hannud – 17h00
Feira de publicações promocionais do Museu – 11h00 às 19h00


Imagem

‘Eternos Caminhantes’, pintura pertencente ao expressionismo de Segall, com suas figuras deformadas, faz parte de uma das obras que foi adquirida durante a I Guerra Mundial em 1920, para fazer parte do acervo do Museu da Cidade de Dresden, então dirigido pelo historiador de arte Paul Ferdinand Schmidt. Com Hitler  no comando do Governo Nacional-Socialista ,  quando subiu ao poder na Alemanha, essa obra foi retirada desse acervo em 1933.

‘Eternos Caminhantes’ e mais quatro outras pinturas estiveram em uma exposição que foi exibida em Munique em 1937, na célebre mostra intitulada como Arte Degenerada, que pretendia desqualificar a arte moderna. Durante a Segunda Guerra, esta tela, um dos melhores exemplos do expressionismo construtivo de Segall, permaneceu, com milhares de outras obras dos expressionistas alemães, confinada nos depósitos oficiais.

Quando terminou a guerra, essa pintura foi localizada, em uma coleção particular na Europa, pelo marchand Emeric Hahn. A pedido da viúva do artista, Jenny Klabin Segall, que soube da sua existência, a pintura foi recuperada, voltou para o Brasil, e passou a incorporar definitivamente o acervo do Museu Lasar Segall.





Fonte: Arte e Artistas,  Museu Lagar Segall



(JA, Jun19)


sábado, 20 de outubro de 2018

O desenho de Lasar Segall

 'Estudo para Album Bubu', ~1921


 “É no desenho que o pintor apresenta um reflexo mais profundo de sua sensibilidade.”  (Lasar Segall)

Ao expor um acervo que por suas qualidades intrínsecas – um desenho terá quase sempre dimensões reduzidas, e será, por isso mesmo, armazenado de forma mais velada – permanece na maior parte do tempo guardado nas gavetas das mapotecas, acessível aos olhos de poucos, a presente mostra busca oferecer um panorama das atividades empreendidas por Lasar Segall (1891-1957) sobre o papel.


O desenho, e aqui entendemos o desenho de modo bastante livre, constitui um momento ímpar da produção segalliana. Resultado dúplice da periferia e do centro, Segall preocupou-se, ao longo de toda a sua vida, da infância em Vilna às duas últimas décadas vividas no Brasil, passando pelos estudos realizados nas academias alemãs e sua associação a movimentos europeus de vanguarda, com os problemas formais e expressivos da produção artística: o papel constituindo o espaço por excelência dessas pesquisas. Podemos entrever, nos mais de 2400 desenhos que integram o acervo do Museu Lasar Segall, sua constante batalha e ‘obstinação realizadora’, à guisa da luta de Jacó com o anjo, na procura de um caminho visual próprio, conservando para tanto, como ele mesmo disse, ‘muito abertos os olhos’.

Organizada a partir de uma cronologia flexível, a exposição apresenta lado a lado e de maneira não-hierárquica uma seleção de trabalhos, alguns assinados, outros estudos, exercícios acadêmicos e anotações visuais, todos pertencentes ao acervo do Museu, no intuito de evidenciar as diversas formas e estratégias de apropriação do espaço cândido do papel empreendidas pelo artista. Todos eles, da mais singela anotação ao mais acabado desenho, nos revelam suas inesgotáveis possibilidades expressivas e seu extraordinário virtuosismo técnico.


Poderíamos dizer que a exposição O desenho de Lasar Segall constitui um roteiro abstrato de sua biografia criativa, em que angústias e preocupações estéticas encontram-se sobrepostas aos acontecimentos e narrativas de sua vida.
É importante dizer que as balizas dessa biografia criativa estão aqui representadas por obras raras vezes escolhidas para exemplificá-las. No entanto, ao organizarmos a mostra com base no desenho, forma de definição transitória, como diria Mário de Andrade, direta e por isso mesmo dotada de risco, esperamos revelar não somente o grande artista que foi Lasar Segall, mas também um pouco da realidade de suas aspirações. Como o poeta e filósofo da antiguidade clássica Lucrécio escreveu em De rerum natura [Da natureza das coisas]:
“É mais útil observar um homem em momentos de perigo, e julgá-lo na adversidade; pois é então que do peito rompem-lhe as verdades e tomba sua máscara, deixando às claras a realidade.”

‘O Desenho de Lasar Segall’
Museu Lasar Segal – Rua Berta, 111, Vila Mariana, São Paulo –SP
De 20 de Outubro de 2018 a 17 de junho de 2019
De qua. a seg., das 11h às 19h


Fonte: Giancarlo Hannud, Curador e Diretor do Museu Lasar Segall

(JA, Out18)