segunda-feira, 30 de dezembro de 2019

Exposição de Vincent Van Gogh chega ao MASP




As obras do famoso pintor holandês chegam no Brasil em 2025

Van Gogh  -^-  ‘A Noite Estrelada’

Uma mostra especial com obras do pintor Vincent Van Gogh deve ganhar temporada no MASP – Museu de Arte de São Paulo, em 2025. Revolucionário no meio artístico, o holandês é conhecido pelo uso de cores e pinceladas expressivas em seus quadros, sendo considerado um grande mestre da pintura moderna.

O museu, que trabalha com cinco anos de antecedência em sua programação, informou estar viabilizando o empréstimo e transporte dos quadros para o Brasil. As informações sobre a mostra foram confirmadas pela assessoria de imprensa oficial do MASP.

Vincent Willem Van Gogh, 1853-1890, é considerado uma das figuras mais significativas para a história da arte ocidental. Criador de mais de 2.000 obras em pouco mais de uma década, o artista conta com acervo de 860 pinturas a óleo, em sua maioria paisagens, naturezas-mortas, retratos e autorretratos de cores dramáticas e vibrantes.

Ele criou mais de dois mil trabalhos em pouco mais de uma década, incluindo por volta de 860 pinturas a óleo, a maioria dos quais durante seus dois últimos anos de vida.


Van Gogh  - Autorretrato

Em 2025, o museu vai ter sua programação norteada pelo ciclo ‘Histórias da Loucura’, assim como neste ano o tema das exposições em cartaz foram voltados para ‘Histórias das mulheres, histórias feministas’.

E quem melhor para representar Histórias da Loucura que Van Gogh? O pintor holandês, conhecido por sua biografia perturbada e por obras como ‘O Escolar’, 1888, que faz parte da coleção do MASP.


‘O Escolar’, de Van Gogh, é uma das obras da coleção do MASP

Viu só? Faz muito bem o MASP trazer Van Gogh para brilhar no coração da Avenida Paulista!

Ah… e toda essa antecedência na definição do nome do artista é porque a solicitação do empréstimo de obras é bem burocrático.

Segundo o diretor artístico do MASP, Adriano Pedrosa, isso acontece com alguns poucos artistas e Van Gogh é um deles.

Agora só nos resta esperar e contar os dias para conferir essa exposição que, com certeza, vai ser INCRÍVEL!



Em outubro de 1947, SP ganhava um espaço que provou ser um marco na disseminação da arte, o Museu de Arte de São Paulo. Dono do mais importante acervo de arte europeia do Hemisfério Sul, o MASP reúne cerca de 10 mil obras, entre pinturas, esculturas, objetos, fotografias, vídeos e vestuário de diversos períodos da história.

Fundado em 1947 por Assis Chateaubriand, 1892-1968, o MASP é um museu privado sem fins lucrativos, tornando-se o primeiro museu moderno no país. Chateaubriand convidou o crítico e marchand italiano Pietro Maria Bardi, 1900-1999, para dirigir o MASP, e Lina Bo Bardi, 1914-1992, para desenvolver o projeto arquitetônico e expográfico.






Fonte – Catraca Livre



(JA, Dez19) 


terça-feira, 24 de dezembro de 2019

O legado da Art Nouveau – Exposição é atração em SP neste fim de ano



Em exibição no Centro Cultural Fiesp a mostra reúne obras de Alphonse Mucha, ícone da Belle Époque, com entrada gratuita




A exposição ‘Alphonse Mucha: o legado da Art Nouveau’, que homenageia o ícone máximo desse movimento e está em cartaz no centro Cultural Fiesp (Avenida Paulista, 1313) é uma das atrações culturais em São Paulo neste fim de ano. Com entrada gratuita, a mostra que traz a maior coletânea do artista tcheco já exibida no Brasil, pode ser conferida de terça-feira a sábado, das 10h às 22h e aos domingos, das 10h às 20h. O endereço permanecerá fechado nos dias 24/12, 25/12, 31/12 e 01/01.


Poster for Gismonda
Ao longo de quatro ambientes, a mostra exibe 100 obras cedidas pela Fundação Mucha. As peças estão divididas em seções. Em Mulheres: Ícones & Musas o público confere o ponto alto da trajetória do artista. O espaço reúne pôsteres dos memoráveis espetáculos de Sarah Bernhardt no Teatro Renaissance, anúncios de marcas de cerveja, cigarros, lança-perfumes, e outras dezenas de artigos igualmente referendados pelo toque de Mucha – como caixas de biscoito, embalagens de perfume e capas de livro.

Os núcleos O Estilo Mucha – Uma Linguagem Visual e Beleza – O Poder da Inspiração revelam um pouco das mensagens ocultas em sua obra. Criado em uma nação que lutava pela independência – na época, a República Tcheca vivia sob o domínio do Império Austro-Húngaro –, o artista, desde jovem, cultivou o desejo da libertação do povo eslavo. Analisando os seus desenhos, é possível observar a presença constante de elementos dessa cultura, como figurinos e artigos decorativos do folclore eslavo, formas geométricas, curvas, adereços e a quase ausência de profundidade que remetem à arte bizantina. Era evidente a intensão do artista em aproveitar a reputação conquistada no então centro cultural do mundo para divulgar a força da civilização eslava.

Essas gravuras são também um ensaio daquilo que geraria a obra-prima de Mucha: A Epopeia Eslava, série de 20 quadros gigantes produzida ao longo de quase duas décadas e que representam o ponto máximo dessa missão. Como essas obras são muito frágeis para viajar, são exibidas por meio de uma instalação digital na exposição. Instaladas em um palácio localizado próximo à cidade natal do artista, esses quadros não integram o catálogo da exposição.




Por fim, a seção O Legado do Estilo Mucha reúne alguns dos nomes representativos da influência do artista. Do Japão, destaques para Nanase Ohkawa, Mokona, Tsubaki Nekoi e Satsuki Igarashi, fundadoras do grupo CLAMP e autoras de títulos conhecidos mundialmente, como Cardcaptor Sakura e as Guerreiras Mágicas de Rayearth. Da Coreia do Sul, a mostra traz desenhos de Ko Yasung, ilustrador das HQs Stigmata e The Innocent; Rhim Ju-yeon, conhecido pelos títulos President Dad e Ciel: The Last Autumn Story, e de outros ilustradores contemporâneos.



Sarah Bernhardt as La Princesse Lointaine



Sucesso mundial

As obras da exposição Alphonse Mucha: o legado da Art Nouveau pertencem à Fundação Mucha, administrada pelos herdeiros do artista e localizada em Praga, na República Tcheca. Ao longo dos últimos anos, essas obras foram temas de mais de 40 exibições pelo mundo, atraindo mais de 4 milhões de visitantes.

Em 2018, sete cidades receberam a retrospectiva, incluindo Copenhague, Nova Iorque, Madrid e Paris. Na capital francesa, foi registrado o recorde de público em toda a sua história: mais de 340 mil pessoas foram ao Museu de Luxemburgo contemplar as obras de Mucha. A mostra também tem colhido sucesso da crítica por onde passa.


O Artista




Nascido em Ivančice, atual República Tcheca, Alphonse Mucha (1860-1939) teve uma carreira de muitas façanhas. Pioneiro na arte publicitária, consagrou na Paris da Belle Époque um estilo marcado pela sutileza e pelo perfeccionismo que se tornaria símbolo da era de ouro da cultura francesa. Hoje, passados 80 anos de sua morte, continua a influenciar artistas no mundo todo e mantém sua herança viva em ilustrações contemporâneas, como observada no universo dos HQs e dos Mangás.


Alphonse Mucha: o legado da Art Nouveau
Quando: de 18 de setembro a 26 de janeiro de 2020
Horários: de terça a sábado, das 10h às 22h e domingos, 10h às 20h
Local: Galeria de Arte do Centro Cultural Fiesp
Endereço: Avenida Paulista, 1313 – Cerqueira César (em frente à estação Trianon-Masp do Metrô)
Agendamentos escolares e de grupos: ccfagendamentos@sesisp.org.br
Entrada gratuita.
Mais informações em www.centroculturalfiesp.com.br



Fonte:  Guia Indicas




(JA, Dez19)




terça-feira, 17 de dezembro de 2019

Exposição explora pela primeira vez o tema dos hotéis em Edward Hopper




Organizadores recriaram um quarto retratado pelo americano em 'Western Motel' (1957)


‘Western Motel’, 1957


No fim do mês passado, por algumas horas, senti que minha vida estava assumindo as cores e climas de um quadro de Edward Hopper. Era algo que já tinha me acontecido —nos minutos fantasmagóricos posteriores à minha chegada a quartos de hotéis desconhecidos, em cidades desconhecidas.

O que tornou a experiência estranha foi que eu estava a caminho do Museu de Belas Artes da Virgínia para ver a magnífica exposição ‘Edward Hopper e o Hotel Americano’ (em cartaz até 23/2).

Cheguei ao local logo depois da abertura e caminhei na direção da mostra sentindo tanto alívio quanto uma sensação estranha de familiaridade.

O escritor V.S. Naipaul, que viajava muito, sabia o que o agradava nos hotéis: ‘A transitoriedade, os serviços mercenários, a ausência de responsabilidade, o anonimato, o escopo para a queixa’. Mas, a maioria das pessoas que costumam se hospedar regularmente em hotéis, os veem, acredito, sob uma luz mais ambivalente.

Edward Hopper certamente o fazia, e é difícil superestimar a influência que sua visão distintiva sobre os hotéis teve sobre a imaginação cultural dos Estados Unidos, não apenas nas artes visuais, mas também nos contos, romances, filmes e televisão.

A exposição de Richmond foi organizada por Leo Mazow e Sarah Powers, e é a primeira a tomar por tema um assunto que, percebe-se instintivamente, tinha importância central para a carreira e a sensibilidade desse grande pintor americano do século 20.


‘Morning Sun’

Ela inclui mais de uma dúzia de quadros importantes de Hopper, emprestados por diversas instituições, uma excelente coleção de desenhos e aquarelas e obras de outros artistas relacionadas a Hopper.

O pintor passou alguns anos na década de 1920 fazendo ilustrações para as capas de duas revistas do setor de hotelaria americano. Ele e sua mulher, Jo, também viajavam muito.

Muita coisa nos quadros de Hopper indica as mudanças no setor hoteleiro americano.

Como Anton Tchekhov, Hopper era tanto realista quanto um editor impiedoso. Do mesmo modo que nos contos de Tchekhov, por sob o lustro do realismo, há uma simplicidade bíblica e sucinta, os interiores de Hopper são desprovidos de detalhes.

Como parte da exposição, os organizadores recriaram um quarto retratado por Hopper em ‘Western Motel’, (motel no oeste, de 1957). Os visitantes podem se hospedar no quarto, mas não consigo imaginar qualquer coisa menos atraente do que acordar em um quarto como aquele.

Registrar o artifício da arte límpida de Hopper pode nos libertar para que vejamos a conexão entre os quartos de hotel e a pintura. Os dois magnetizam o desejo e o anseio por escapar. Os dois também incorporam certa medida de desapontamento —um quarto de hotel jamais é um lar, e mesmo o mais belo dos quadros termina sendo, em última análise, apenas um quadro.

Talvez isso fosse o que mais agradasse Hopper nos quartos dos hotéis —o fato de que são lugares nos quais a narrativa se rompe, onde as histórias vão a lugar nenhum, e onde a vida fica no limbo.


‘Room in New York’, 1932

Minha obra favorita na exposição é ‘Room in New York’ (quarto em Nova York, de 1932). Uma mulher de vestido vermelho mexe nas teclas de um piano, enquanto seu companheiro lê. O corpo dela parece estar se contorcendo com a antecipação do prazer físico e, ao mesmo tempo, arder com o abandono.

Essa é minha projeção, claro —mas como posso ter certeza? No entanto, não existe dúvida de que Hopper estava atento ao sabor da ambivalência em todas as promessas feitas pelos hotéis. Sexo é a mais óbvia, mas também um fervor físico e mental, que parece derrapar à beira da estagnação.

As pinturas de Hopper não funcionam tão bem quando tentam tornar as duas coisas, o sexo e a estagnação, explícitas na mesma imagem (‘Room in New York’ é uma rara exceção).

Parte do problema é a dificuldade aparente de Hopper em lidar com a representação do corpo feminino. O problema mais profundo é que esses corpos parecem lascivos e gratuitos, enquanto, ao mesmo tempo, o tratamento rígido de Hopper lhes confere uma certa pudicícia ianque.

Mas eu amo Hopper e consigo perdoar seus quadros fracos, porque mesmo eles transpiram um amor franco pela vida comum e vulnerável.

Não vejo Hopper como um pintor religioso, mas poucos artistas aproveitaram melhor o potencial poético de raios diagonais de luz colorida.

O que resta a dizer? Comovido, atônito, e esperando alguma mensagem, deixei o museu e tomei a rodovia interestadual 95, a caminho de casa.






Fonte: Sebastian Smee  |  TWP, FSP



(JA, Dez19) 


quarta-feira, 11 de dezembro de 2019

‘Ode à Alegria’






O diretor artístico da Osesp narra o desafio de traduzir a obra clássica de Beethoven para comemoração dos 250 anos de nascimento do compositor. E fala sobre a importância duradoura dos ideais que a obra carrega
Traduzir a ‘Ode à Alegria’? Parece loucura. E seria, mesmo, não fossem as circunstâncias.

Em meados de 2018, o Carnegie Hall, celebrada casa de espetáculos de Nova York, começou a planejar um projeto internacional, em parceria com Marin Alsop, regente titular da Osesp (Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo).

Ao longo de 2020, quando se comemoram os 250 anos de nascimento de Beethoven (1770-1827), Marin vai reger a Nona Sinfonia pelos cinco continentes; começando, na verdade, agora em dezembro, em São Paulo, passando depois por EUA, África do Sul, China, Áustria, Nova Zelândia, Austrália e Inglaterra, para terminar no próprio Carnegie Hall. Em cada lugar, a Nona será ouvida em diálogo com a cultura do respectivo país e tendo a ‘Ode à Alegria’ — cantada por solistas e coro no quarto movimento — recriada na língua local.

Batizado de ‘All Together: A Global Ode to Joy’ (‘Todos Juntos: Uma Ode Global à Alegria’), o projeto quer tornar a Nona Sinfonia acessível ao maior número possível de pessoas, sem alterar a partitura, mas criando contextos novos para a audição.

Nenhuma obra do repertório clássico é mais conhecida que ela. Paradoxalmente, não serão mais que uma parcela das dezenas de milhões de ouvintes os que de fato podem acompanhar em alemão o poema de Schiller (1759-1805), crucial para o entendimento da Nona.

Beethoven mudou a noção da história da música que, depois dele – principalmente por causa dele – passa a se organizar como um cânone de grandes autores do passado.

Um desafio duplo, portanto. Antes de mais nada, definir o que, de outras músicas, faria sentido entremeado à sinfonia. A primeira versão da ‘Ode’ é de 1795. Em conjunto com a música de Beethoven (de 1824), leva ao limite ideais iluministas de liberdade, igualdade e fraternidade, que inspiram o mundo democrático moderno. Não era esse o mundo em que eles viviam. Tampouco o mundo por aqui, marcado pela tráfico de escravos — o Brasil foi a última nação das Américas a abolir a escravidão, em 1888. Situar a Nona em contexto brasileiro significa, portanto, encarar a questão, elegendo fragmentos capazes de compor outro horizonte.

Nossa Nona vai começar com um canto de capoeira baiano, ‘Navio Negreiro’, cantado pelo coro. Entre o primeiro e o segundo movimento, virão trechos de ‘Cabinda: Nós Somos Pretos’, peça sinfônica encomendada há quatro anos ao compositor baiano Paulo Costa Lima. Já para o intervalo entre o segundo e o terceiro, Clarice Assad compôs um adágio inspirado em temas de ‘Alegria, Alegria’ (1967), de outro compositor baiano, Caetano Veloso — antológica canção de reação ao arbítrio, em plena ditadura militar.

A mesma canção também é motivo de duas alusões na ‘Ode à Alegria’ em português, em minha tradução, feita na esteira de várias versões para canções de Schubert e Schumann, mas em outra escala e num espírito um tanto diferente. Dois exemplos devem bastar para dar uma ideia do que entra em jogo.

A ‘Ode’ de Schiller começa com esses versos famosos: ‘Freude, schöner Götterfunken,/ Tochter aus Elysium’. Em tradução literal: ‘Alegria, bela fagulha divina,/ Filha do Elísio’.

Para além das questões de métrica e rima, que permeiam todo o poema, um exemplo desses deixa evidente o risco de se fazer uma tradução ao pé da letra, que poderia soar não só anacrônica, mas francamente ridícula. A tentação, por outro lado, de imitar um autor romântico, como o Castro Alves de ‘Navio Negreiro’ (1869), por exemplo — poema que a seu modo conversa com a ‘Ode’ de Schiller, e que teria tudo a ver com esta Nona brasileira —, também tinha de ser deixada de lado, sob o mesmo risco.

A tradução precisa seguir minuciosamente os contornos da melodia. Sempre lembrando, também, o desejo de falar com uma plateia do nosso tempo, o resultado reforça a vertente mais moderna do pensamento do próprio Beethoven: ‘Alegria, alegria/ Filha do divino em nós’. Diferente nos termos, próximo na forma, fiel ao espírito – mais fiel até, quem sabe, que o próprio original, para um leitor nos dias de hoje. E boa de cantar.

Outro exemplo, sem sair da primeira estrofe. ‘Alle Menschen werden Brüder’, diz Schiller: ‘odos os homens se tornam irmãos’. A questão que pega é a incômoda sinonímia entre ‘homens’ e ‘humanidade’’, impossível de repetir sem mais nem menos, numa versão que busca aproximar a Nona de uma plateia atual. 
Ficaram assim os quatro últimos versos da estrofe: ‘Teu apelo vê reunido/ O que era dividido em vão,/ Homens e mulheres, juntos,/ São agora irmã e irmão’. Não seria isso o que diriam Schiller e Beethoven, hoje, defensores por excelência da liberdade e da igualdade?

A partir de agora e ao longo de todo o ano que vem, aqui como ao redor do mundo, a obra de Beethoven será ouvida nas mais variadas circunstâncias.

Nunca será demais escutar as sinfonias, os concertos, as sonatas, os quartetos de cordas, as obras corais, a ópera ‘Fidelio’. Beethoven mudou a noção da história da música, que depois dele — principalmente por causa dele — passa a se organizar como um cânone de grandes autores do passado. Mudou a ideia do que pode ou deve ser um concerto, experiência comparável à leitura de textos críticos ou filosóficos. Mudou, de maneira crucial, a própria ideia da composição, definindo o caminho da modernidade.

Pensando ainda nos ideais carregados por essa Sinfonia, não surpreende que tenha sido usada em tantos momentos críticos da história — durante a Segunda Guerra Mundial e na Queda do Muro de Berlim, para ficar nesses dois exemplos. Também não poderia ser outro o Hino da Europa, senão a ‘Ode à Alegria’.

Vivemos tempos estranhos. Para nós, também, a Nona pode ser uma inspiração e um alento. É a música da humanidade livre e justa, capaz, a despeito de tudo, de inventar a alegria.














Fonte: Arthur Nestrovski é diretor artístico da Osesp. Autor de “Tudo tem a ver – literatura e música”, entre outros livros.   |   =Nexo



(JA, Dez19)



sábado, 7 de dezembro de 2019

Para os pequenos fãs de arte! Exposição em cartaz no Farol Santander






Um passeio para apresentar, de maneira lúdica, as obras de uma de nossas maiores artistas! O “Farol Santander” recebe a partir do dia 26 de novembro a mostra Tarsila para Crianças. A exposição é totalmente imersiva e a garotada vai poder se sentir dentro dos quadros! A atração fica por lá até 2 de fevereiro de 2020 e os ingressos custam R$25 e a entrada é grátis para crianças até 2 anos e 11 meses.

A mostra é toda instagramável e utiliza de recursos cenográficos como almofadas e lustres, em um espaço de cerca de 490 metros quadrados. São sete estações temáticas, divididas entre os andares 19 e 20 do prédio.


Confira as estações



1.      Vila dos Sentidos – a exposição começa com um cenário bucólico que remete à infância de Tarsila na fazenda São Bernardo, onde cresceu brincando com seus mais de 40 gatos e fazendo bonecos de mato. Uma mini vila caipira será formada por quatro casinhas tridimensionais, rodeadas por cestos de frutas, com inspiração no quadro A Feira. Cada casinha apresentará uma característica marcante relacionada à infância da pintora, como o quarto com sua caixinha de música e bonecas de mato, a sala de estar com piano, foto de família e seus gatos de estimação, e até seu perfume e sabonete preferido.

2.      Toca da Cuca – Inspirado no quadro A Cuca, o público encontrará um espaço com uma projeção com os bichos divertidos inspirados nos seres imaginários presentes na obra de Tarsila do Amaral, que passarão em uma espécie de tapete imersivo, projetado dentro da Toca da Cuca cenográfica, com acesso pelo túnel da lagarta.

3.     Universo Tarsila – Tendo como referência a obra Cartão Postal, os visitantes poderão colorir diferentes elementos encontrados em sua obra e os animais imaginários que habitam o extraordinário e colorido universo de Tarsila, que ganham vida em uma parede interativa instalada no andar.



4.     Floresta Negra – Com uma cenografia e ambientação sonora do que seria a floresta onírica do quadro Floresta, o público poderá se aconchegar no ninho de almofadas que simulam os famosos ovos rosa arroxeados de sua pintura. No mesmo local, baseado na obra Urutu, será possível encontrar um ovo onde os visitantes despertam a curiosidade, observando através de buraquinhos as possíveis criaturas que habitam dentro do ovo. A floresta ainda esconde um guardião, o touro preto (O Touro), que protege com seu mugido quem pensar em fazer mal à natureza. Os visitantes poderão tirar fotos no instapoint do touro. Uma reprodução tátil do quadro Floresta foi criada especialmente para que deficientes visuais conheçam a obra de Tarsila do Amaral.

5.     Jardim Afetivo – Os visitantes serão convidados a embarcar em uma viagem sensorial, com animações e sons, como por exemplo, os ruídos da estação de ferro, da caixinha de música, o coaxar do sapo, os grilos, que remetem diretamente a 4 quadros de Tarsila.

6.      As Cores de Tarsila – Neste ambiente estarão expostos reproduções de diversos quadros impressos e as principais cores da paleta de Tarsila (Cores Caipiras: azul puríssimo, rosa violáceo, amarelo vivo e verde cantante) para a pintura brasileira e internacional. Ao centro, duas redes coloridas penduradas do teto até quase o chão, representando pinceis. Os visitantes serão convidados a se posicionar nas redes-pinceis, e percebem que no chão há uma projeção que repercute o movimento de cada pincel e vai misturando as cores e dando origem a uma infinidade de pinturas digitais aleatórias.




7.      Papo com o Abaporu – A mais famosa obra de Tarsila,  Abaporu, divide espaço com as obras Sol Poente e A Lua, em uma sala repleta de cactos cenográficos e flores holográficas. O cenário do Sol Poente é pensado para boas fotografias, com diversos pufes espalhados em frente a uma série de círculos laranjas. Nessa sala também há o espaço Papo Com Abaporu, com dois totens touchscreen com perguntas que poderão ser respondidas pelo enigmático personagem via inteligência artificial, através da plataforma Watson.


A exposição é assinado pela YDreams Global, que foi responsável pela em exposição inspirada em Van Gogh, que ficou em cartaz no shopping Pátio Higienópolis. A curadoria é de Patrícia Engel Secco, Karina Israel e da sobrinha-neta da artista, Tarsilinha.


Tarsila para Crianças
Recomendado: Todas as idades
Quando: de 26/11 a 02/02 nas terças, quartas, quintas, sextas, sábados e domingos. Horários: das 9h às 20h
Preços: Adultos: R$ 25 Crianças: R$ 12,50  Meia: R$ 12,50
Onde: Farol Santander – Rua João Brícola, 24, Centro - São Paulo
Informações: (11) 3553-5627              Site: ter.li/farolsantander              


Fonte: São Paulo para Crianças



(JA, Dez19)




domingo, 1 de dezembro de 2019

Anita Malfatti





A Estudante, 1915-1916


Anita Catarina Malfatti (São Paulo, 2 de dezembro de 1889 — São Paulo, 6 de novembro de 1964) foi uma pintora, desenhista, gravadora, ilustradora e professora ítalo-brasileira. 

Filha do engenheiro italiano Samuele Malfatti e de mãe norte-americana Eleonora Elizabeth ‘Betty’ Krug, Anita Malfatti nasceu na cidade de São Paulo, em 2 de dezembro de 1889. Segunda filha do casal, nasceu com atrofia no braço e na mão direita.

Aos três anos de idade foi levada pelos pais à cidade de Lucca, na Itália, na esperança de corrigir o defeito congênito. Os resultados do tratamento médico não foram animadores e Anita teve que carregar essa deficiência pelo resto da vida.

Voltando ao Brasil, teve à sua disposição Miss Browne, que a ajudou no desenvolvimento do uso da escrita e no aprendizado do desenho com a mão esquerda. Essa Miss Browne deve ter sido a educadora norte-americana Márcia P. Browne que assessorou Caetano de Campos na reforma que empreendeu no ensino primário e normal em São Paulo, nos primórdios da República. Miss Browne organizou e foi a primeira diretora da Escola Modelo anexa à Escola Normal.

Iniciou seus estudos em 1897 no Externato São José de freiras católicas, hoje não mais existente, outrora localizado na Rua da Glória, onde foi alfabetizada. Logo depois passou a estudar em escolas protestantes: na Escola Americana, em 1903 e, pouco depois, no Mackenzie College onde, em 1906, recebe o diploma de normalista.

Surge a pintora

Nesse meio tempo morreu Samuele Malfatti, esteio moral e financeiro da família. Sem recursos para o sustento dos filhos, Betty passou a dar aulas particulares de idiomas, e também de desenho e pintura. Chegou a pedir orientações do pintor Carlo de Servi para ela com mais segurança ensinar suas discípulas. Anita acompanhava as aulas que tomavam a maior parte de seu tempo - foi portanto sua própria mãe quem lhe ensinou os rudimentos das artes plásticas.

Na Alemanha

Anita Malfatti, aos 22 anos, 1912

Anita pretendia estudar em Paris, mas sem a ajuda do pai parecia impossível, tendo em vista que sua avó vivia entrevada numa cama, e sua mãe passava o dia dando aulas de pintura e de idiomas.

Anita tinha umas amigas, as irmãs Shalders, que estavam prestes a viajar à Europa para estudar música. Assim surgiu a ideia de acompanhá-las à Alemanha e seu tio e padrinho, o engenheiro Jorge Krug, aceitou financiar a viagem.

Anita e as Shalders chegaram a Berlim em 1910, ano marcante na história da Arte Moderna alemã. Berlim era então o grande centro musical da Europa. Acompanhando suas amigas às aulas no centro musical, ali recebeu a sugestão para estudar no ateliê do artista pintor Fritz Burger.

Fritz Burger era um retratista que dominava a técnica pontilhista ou divisionista. Foi o primeiro mestre alemão de Anita. Nessa época ela ingressou na Academia de Belas Artes de Berlim.

Durante as férias de verão, Anita e as amigas foram às montanhas de Harz, em Treseburg, região frequentada por pintores. Continuando sua viagem, visitou a 4° Sonderbund, uma exposição que aconteceu em Colônia na Alemanha, na qual conheceu trabalhos de pintores modernos e famosos, incluindo-se Van Gogh.

Teve aulas também com Lovis Corinth, nome mais conhecido do que seu primeiro mestre. Alguns anos antes Corinth sofrera um acidente vascular cerebral (AVC) que, como sequela, tal como a aluna, lhe deixara alguma dificuldade motora na mão direita. Anita estava cada vez mais interessada pela pintura expressionista. Desejava aprender seu conceito e sua técnica.

Em 1913, inicia aulas com o professor Ernst Bischoff-Culm da mesma escola de Corinth. Com a instabilidade política e social causada por uma guerra que se mostrava iminente, Anita Malfatti resolve deixar Berlim e passando rapidamente por Paris, retorna ao Brasil.

Primeira exposição individual – 1914

Em 1914, Anita tinha 24 anos e, depois de quatro anos de estudo na Europa, voltava para o seio familiar. Anita ainda tinha o desejo de partir mais uma vez em viagem de estudos. Sem condições financeiras, tentou pleitear uma bolsa junto ao Pensionato Artístico do Estado de São Paulo. Por essa razão, montou no dia 23 de maio de 1914, uma exposição com obras de sua autoria, exposição essa que ficou aberta até meados de junho..

O senador José de Freitas Valle foi visitar a exposição. Dependia dele a concessão da bolsa. Mas o influente político não gostou das obras de Anita, chegando a criticá-las publicamente.

Entretanto, independentemente da opinião do senador, a bolsa não seria concedida. Notícias do iminente início da guerra na Europa fizeram com que o Pensionato as cancelasse. Foi aí que, mais uma vez, financiada pelo tio, o engenheiro e arquiteto Jorge Krug, Anita embarca para os Estados Unidos.

Nos Estados Unidos

No início de 1915, Anita Malfatti já se encontrava em Nova Iorque e matriculada na tradicional Art Student's League. Nessa escola, Anita ia de um professor a outro na tentativa de encontrar o caminho que sonhava para seus trabalhos.

Após três meses de estudos, desistiu de qualquer curso de pintura ou desenho nessa instituição, reservando-a apenas para os estudos de gravura. Anita ficou sabendo de um professor que deixava os alunos pintarem à vontade - ele lecionava na Independent School of Art e se chamava Homer Boss.


O Farol


Nas férias de verão, Homer Boss levou os alunos para pintar na costa do Maine, na ilha de Monhegan. Esse Estado litorâneo mais ao nordeste, fronteira com o Canadá, tornara-se há muito o refúgio dos artistas. Foi nessa ilha que Anita pintou, entre outras, a paisagem intitulada O farol. Passado o verão, Anita voltou à Independent School of Art. Em meados de 1916, preparava-se para voltar ao Brasil.

De volta ao Brasil e segunda exposição individual - 1917

Em 1917, Anita resolveu promover sua segunda exposição.

Após a crítica de Lobato, publicada em O Estado de S. Paulo, edição da tarde, em 20 de dezembro de 1917, com o título de ‘A propósito da exposição Malfatti’, as telas vendidas foram devolvidas, algumas quase foram destruídas a bengaladas.

Nem as palavras mas afáveis, ou menos agressivas, despejadas ao final do artigo, nem os elogios ao seu talento, colocados no início, poderiam desfazer tamanho estrago sobre a personalidade tímida e irresoluta de Anita, que caiu em forte depressão, vivendo um período de desorientação total e de descrença, um sentimento que carregou pelo resto da vida.

Anita foi tomar aulas de natureza-morta com o mestre pintor acadêmico Pedro Alexandrino. 1856-1942,  no ano de 1919, e também com o alemão George Fischer Elpons, um pouco mais avançado do que o velho mestre das naturezas mortas. Foi nessa ocasião que conheceu Tarsila do Amaral que tinha aulas com os mesmos professores, dando início a uma longa e proveitosa amizade.

Apesar da mágoa, mais tarde, Anita ilustrou livros de Monteiro Lobato e, na década de 40, participou de um programa na Rádio Cultura chamado ‘Desafiando os Catedráticos’, juntamente com Menotti Del Picchia e Monteiro Lobato. Os ouvintes telefonavam fazendo perguntas para que o trio respondesse.

Depois do pai, o tio Jorge Krug, que a havia ajudado tanto, também faleceu, e Anita precisou buscar caminhos para vender suas obras. Pedro Alexandrino já era um pintor de renome e vendia com facilidade seus trabalhos.

A Semana de Arte Moderna de 1922


Mário de Andrade (sentado), Anita Malfatti (sentada, ao centro) e Zina Aita (à esquerda de Anita), em 1922

Após o período de recesso, a Semana de Arte Moderna, mais uma vez, movimentou a vida artística insípida de São Paulo. Anita participou dela com 22 trabalhos. Uma vez que o círculo modernista vinha ao encontro de suas aspirações artísticas, ela entraria também para o grupo dos cinco.

A Europa nos loucos anos 20

Anita embarcava mais uma vez, em viagem de estudos para Paris. Seriam cinco anos de estudos pela bolsa do Pensionato. Este seria o último e o seu mais longo período fora do Brasil. Em agosto de 1922, ela tinha 33 anos e embarcava no vapor Mosella rumo à França.

Mário de Andrade que não conseguiu chegar a tempo da partida de Anita e enviou-lhe um telegrama de desculpas. Apesar das muitas dúvidas que ainda tinha em relação a que caminho seguir na sua arte, não deixou de produzir.

Brasil, 1928

No final de setembro de 1928, Anita já se encontrava no Brasil. O ambiente artístico encontrado por Anita na volta era diferente do que deixara em 1923; o grupo inicial evoluíra, surgiam novos adeptos e novos movimentos. O número de artistas plásticos também crescera. Na chegada, Mário de Andrade noticiou imediatamente sua chegada, relembrando quem ela era.

Em 1929 abria em São Paulo sua quarta individual.


Anita Malfatti, ~  1930



Depois de fechar sua exposição, até 1932, Anita dedicou-se ao ensino escolar. Retomou suas aulas na Escola Normal Americana e foi trabalhar também na Escola Normal do Mackenzie College.

Em 1933, muda-se para a Rua Ceará, no bairro de Higienópolis, onde instala seu ateliê e dá aulas, inclusive para Oswald de Andrade Filho, onde permanece até 1952, com a venda da casa, em razão da morte de sua mãe.

Considerada por Pietro Maria Bardi como a maior pintora brasileira, ela jamais se recuperou do golpe sofrido. Como diria mais tarde Mário de Andrade: Ela fraquejou, sua mão, indecisa, se perdeu.

Já com idade madura, Anita mudou-se, com sua irmã Georgina, para uma chácara em Diadema-SP), onde morreu em 6 de novembro de 1964, alienada do mundo, cuidando do jardim e vivendo seus próprios devaneios.  Está sepultada no Cemitério dos Protestantes, na Rua Sergipe, número 117, bairro da Consolação, São Paulo.







Fonte:  WP,  Escritório de Arte, Dvs




(JA, Dez19)