As obras do famoso pintor holandês
chegam no Brasil em 2025
Van Gogh-^- ‘A Noite Estrelada’
Uma mostra especial com obras
do pintor Vincent Van Gogh deve ganhar temporada no MASP – Museu de
Arte de São Paulo, em 2025. Revolucionário no meio artístico, o holandês é
conhecido pelo uso de cores e pinceladas expressivas em seus quadros, sendo
considerado um grande mestre da pintura moderna.
O museu, que trabalha com
cinco anos de antecedência em sua programação, informou estar viabilizando o
empréstimo e transporte dos quadros para o Brasil. As informações sobre a
mostra foram confirmadas pela assessoria de imprensa oficial do MASP.
Vincent Willem Van Gogh, 1853-1890, é
considerado uma das figuras mais significativas para a história da arte
ocidental. Criador de mais de 2.000 obras em pouco mais de uma década, o artista conta
com acervo de 860 pinturas a óleo, em sua maioria paisagens,
naturezas-mortas, retratos e autorretratos de cores dramáticas e vibrantes.
Ele criou mais de dois mil
trabalhos em pouco mais de uma década, incluindo por volta de 860 pinturas a
óleo, a maioria dos quais durante seus dois últimos anos de vida.
Van Gogh- Autorretrato
Em 2025, o museu
vai ter sua programação norteada pelo ciclo ‘Histórias da Loucura’, assim como
neste ano o tema das exposições em cartaz foram voltados para ‘Histórias das
mulheres, histórias feministas’.
E quem melhor para
representar Histórias da Loucura que Van Gogh? O pintor holandês, conhecido por
sua biografia perturbada e por obras como ‘O Escolar’, 1888, que faz parte
da coleção do MASP.
‘O Escolar’, de Van Gogh, é uma das obras da coleção do MASP
Viu só? Faz muito bem o MASP trazer Van
Gogh para brilhar no coração da Avenida Paulista!
Ah… e toda essa antecedência
na definição do nome do artista é porque a solicitação do empréstimo de obras é
bem burocrático.
Segundo o diretor artístico
do MASP, Adriano Pedrosa, isso acontece com alguns poucos artistas e Van Gogh
é um deles.
Agora só nos resta esperar e
contar os dias para conferir essa exposição que, com certeza, vai ser INCRÍVEL!
Em outubro de 1947, SP ganhava
um espaço que provou ser um marco na disseminação da arte, o Museu de Arte de
São Paulo. Dono do mais importante acervo de arte europeia do Hemisfério Sul, o
MASP reúne cerca de 10 mil obras, entre pinturas, esculturas, objetos,
fotografias, vídeos e vestuário de diversos períodos da história.
Fundado em 1947 por Assis
Chateaubriand, 1892-1968, o MASP é um museu privado sem fins lucrativos, tornando-se o
primeiro museu moderno no país. Chateaubriand convidou o crítico e marchand
italiano Pietro Maria Bardi, 1900-1999, para dirigir o MASP, e Lina Bo Bardi, 1914-1992, para desenvolver o projeto arquitetônico e
expográfico.
Em exibição no Centro Cultural Fiesp a
mostra reúne obras de Alphonse Mucha, ícone da Belle Époque, com entrada
gratuita
A exposição ‘Alphonse Mucha:
o legado da Art Nouveau’, que homenageia o ícone máximo desse movimento e está
em cartaz no centro Cultural Fiesp (Avenida Paulista, 1313) é uma das
atrações culturais em São Paulo neste fim de ano. Com entrada gratuita, a
mostra que traz a maior coletânea do artista tcheco já exibida no Brasil, pode
ser conferida de terça-feira a sábado, das 10h às 22h e aos domingos, das 10h às 20h. O endereço
permanecerá fechado nos dias 24/12,
25/12, 31/12 e 01/01.
Poster for Gismonda
Ao longo de quatro ambientes,
a mostra exibe 100 obras cedidas pela Fundação Mucha. As peças estão
divididas em seções. Em Mulheres: Ícones & Musas o público confere o ponto alto
da trajetória do artista. O espaço reúne pôsteres dos memoráveis espetáculos de
Sarah Bernhardt no Teatro Renaissance, anúncios de marcas de cerveja, cigarros,
lança-perfumes, e outras dezenas de artigos igualmente referendados pelo toque
de Mucha – como caixas de biscoito, embalagens de perfume e capas de livro.
Os núcleos O Estilo Mucha –
Uma Linguagem Visual e Beleza – O Poder da Inspiração revelam um pouco das
mensagens ocultas em sua obra. Criado em uma nação que lutava pela
independência – na época, a República Tcheca vivia sob o domínio do Império
Austro-Húngaro –, o artista, desde jovem, cultivou o desejo da libertação do
povo eslavo. Analisando os seus desenhos, é possível observar a presença
constante de elementos dessa cultura, como figurinos e artigos decorativos do
folclore eslavo, formas geométricas, curvas, adereços e a quase ausência de
profundidade que remetem à arte bizantina. Era evidente a intensão do artista
em aproveitar a reputação conquistada no então centro cultural do mundo para
divulgar a força da civilização eslava.
Essas gravuras são também um
ensaio daquilo que geraria a obra-prima de Mucha: A Epopeia Eslava, série de 20 quadros
gigantes produzida ao longo de quase duas décadas e que representam o ponto
máximo dessa missão. Como essas obras são muito frágeis para viajar, são
exibidas por meio de uma instalação digital na exposição. Instaladas em um
palácio localizado próximo à cidade natal do artista, esses quadros não
integram o catálogo da exposição.
Por fim, a seção O Legado do
Estilo Mucha reúne alguns dos nomes representativos da influência do artista.
Do Japão, destaques para Nanase Ohkawa, Mokona, Tsubaki Nekoi e Satsuki
Igarashi, fundadoras do grupo CLAMP e autoras de títulos conhecidos
mundialmente, como Cardcaptor Sakura e as Guerreiras Mágicas de Rayearth. Da
Coreia do Sul, a mostra traz desenhos de Ko Yasung, ilustrador das HQs Stigmata
e The Innocent; Rhim Ju-yeon, conhecido pelos títulos President Dad e Ciel: The
Last Autumn Story, e de outros ilustradores contemporâneos.
Sarah Bernhardt as La Princesse Lointaine
Sucesso mundial
As obras da exposição
Alphonse Mucha: o legado da Art Nouveau pertencem à Fundação Mucha,
administrada pelos herdeiros do artista e localizada em Praga, na República
Tcheca. Ao longo dos últimos anos, essas obras foram temas de mais de 40 exibições
pelo mundo, atraindo mais de 4 milhões de visitantes.
Em 2018, sete
cidades receberam a retrospectiva, incluindo Copenhague, Nova Iorque, Madrid e
Paris. Na capital francesa, foi registrado o recorde de público em toda a sua
história: mais de 340 mil pessoas foram ao Museu de Luxemburgo contemplar
as obras de Mucha. A mostra também tem colhido sucesso da crítica por onde
passa.
O Artista
Nascido em Ivančice, atual
República Tcheca, Alphonse Mucha (1860-1939) teve uma carreira de muitas façanhas. Pioneiro na
arte publicitária, consagrou na Paris da Belle Époque um estilo marcado pela
sutileza e pelo perfeccionismo que se tornaria símbolo da era de ouro da
cultura francesa. Hoje, passados 80 anos de sua morte, continua a influenciar artistas no
mundo todo e mantém sua herança viva em ilustrações contemporâneas, como
observada no universo dos HQs e dos Mangás.
Alphonse
Mucha: o legado da Art Nouveau
Quando: de 18 de setembro a 26 de janeiro de 2020
Horários: de terça a sábado, das 10h às 22h e
domingos, 10h às 20h
Local: Galeria de Arte do Centro Cultural Fiesp
Endereço: Avenida Paulista, 1313 – Cerqueira César (em
frente à estação Trianon-Masp do Metrô)
Agendamentos escolares e de grupos:
ccfagendamentos@sesisp.org.br
Organizadores recriaram um quarto
retratado pelo americano em 'Western Motel' (1957)
‘Western Motel’, 1957
No fim do mês passado, por
algumas horas, senti que minha vida estava assumindo as cores e climas de um
quadro de Edward Hopper. Era algo que já tinha me acontecido —nos minutos
fantasmagóricos posteriores à minha chegada a quartos de hotéis desconhecidos, em
cidades desconhecidas.
O que tornou a experiência
estranha foi que eu estava a caminho do Museu de Belas Artes da Virgínia para
ver a magnífica exposição ‘Edward Hopper e o Hotel Americano’ (em cartaz até 23/2).
Cheguei ao local logo depois
da abertura e caminhei na direção da mostra sentindo tanto alívio quanto uma
sensação estranha de familiaridade.
O escritor V.S. Naipaul, que
viajava muito, sabia o que o agradava nos hotéis: ‘A transitoriedade, os
serviços mercenários, a ausência de responsabilidade, o anonimato, o escopo
para a queixa’. Mas, a maioria das pessoas que costumam se hospedar
regularmente em hotéis, os veem, acredito, sob uma luz mais ambivalente.
Edward Hopper certamente o
fazia, e é difícil superestimar a influência que sua visão distintiva sobre os
hotéis teve sobre a imaginação cultural dos Estados Unidos, não apenas nas
artes visuais, mas também nos contos, romances, filmes e televisão.
A exposição de Richmond foi
organizada por Leo Mazow e Sarah Powers, e é a primeira a tomar por tema um
assunto que, percebe-se instintivamente, tinha importância central para a
carreira e a sensibilidade desse grande pintor americano do século 20.
‘Morning Sun’
Ela inclui mais de uma dúzia
de quadros importantes de Hopper, emprestados por diversas instituições, uma
excelente coleção de desenhos e aquarelas e obras de outros artistas
relacionadas a Hopper.
O pintor passou alguns anos
na década de 1920 fazendo ilustrações para as capas de duas revistas do
setor de hotelaria americano. Ele e sua mulher, Jo, também viajavam muito.
Muita coisa nos quadros de
Hopper indica as mudanças no setor hoteleiro americano.
Como Anton Tchekhov, Hopper
era tanto realista quanto um editor impiedoso. Do mesmo modo que nos contos de Tchekhov,
por sob o lustro do realismo, há uma simplicidade bíblica e sucinta, os
interiores de Hopper são desprovidos de detalhes.
Como parte da exposição, os
organizadores recriaram um quarto retratado por Hopper em ‘Western Motel’,
(motel no oeste, de 1957). Os visitantes podem se hospedar no quarto, mas não
consigo imaginar qualquer coisa menos atraente do que acordar em um quarto como
aquele.
Registrar o artifício da arte
límpida de Hopper pode nos libertar para que vejamos a conexão entre os quartos
de hotel e a pintura. Os dois magnetizam o desejo e o anseio por escapar. Os
dois também incorporam certa medida de desapontamento —um quarto de hotel
jamais é um lar, e mesmo o mais belo dos quadros termina sendo, em última
análise, apenas um quadro.
Talvez isso fosse o que mais
agradasse Hopper nos quartos dos hotéis —o fato de que são lugares nos quais a
narrativa se rompe, onde as histórias vão a lugar nenhum, e onde a vida fica no
limbo.
‘Room in New York’, 1932
Minha obra favorita na
exposição é ‘Room in New York’ (quarto em Nova
York, de 1932). Uma mulher de vestido vermelho mexe nas teclas de
um piano, enquanto seu companheiro lê. O corpo dela parece estar se contorcendo
com a antecipação do prazer físico e, ao mesmo tempo, arder com o abandono.
Essa é minha projeção, claro
—mas como posso ter certeza? No entanto, não existe dúvida de que Hopper estava
atento ao sabor da ambivalência em todas as promessas feitas pelos hotéis. Sexo
é a mais óbvia, mas também um fervor físico e mental, que parece derrapar à
beira da estagnação.
As pinturas de Hopper não
funcionam tão bem quando tentam tornar as duas coisas, o sexo e a estagnação,
explícitas na mesma imagem (‘Room in New York’
é uma rara exceção).
Parte do problema é a
dificuldade aparente de Hopper em lidar com a representação do corpo feminino.
O problema mais profundo é que esses corpos parecem lascivos e gratuitos,
enquanto, ao mesmo tempo, o tratamento rígido de Hopper lhes confere uma certa
pudicícia ianque.
Mas eu amo Hopper e consigo
perdoar seus quadros fracos, porque mesmo eles transpiram um amor franco pela
vida comum e vulnerável.
Não vejo Hopper como um
pintor religioso, mas poucos artistas aproveitaram melhor o potencial poético
de raios diagonais de luz colorida.
O que resta a dizer?
Comovido, atônito, e esperando alguma mensagem, deixei o museu e tomei a
rodovia interestadual 95, a caminho de casa.
O diretor artístico da Osesp
narra o desafio de traduzir a obra clássica de Beethoven para comemoração dos
250 anos de nascimento do compositor. E fala sobre a importância duradoura dos
ideais que a obra carrega
Traduzir a ‘Ode à Alegria’?
Parece loucura. E seria, mesmo, não fossem as circunstâncias.
Em meados de 2018, o Carnegie
Hall, celebrada casa de espetáculos de Nova York, começou a planejar um projeto
internacional, em parceria com Marin Alsop, regente titular da Osesp (Orquestra
Sinfônica do Estado de São Paulo).
Ao longo de 2020, quando se
comemoram os 250 anos de nascimento de Beethoven (1770-1827), Marin vai reger a
Nona Sinfonia pelos cinco continentes; começando, na verdade, agora em
dezembro, em São Paulo, passando depois por EUA, África do Sul, China, Áustria,
Nova Zelândia, Austrália e Inglaterra, para terminar no próprio Carnegie Hall.
Em cada lugar, a Nona será ouvida em diálogo com a cultura do respectivo país e
tendo a ‘Ode à Alegria’ — cantada por solistas e coro no quarto movimento — recriada
na língua local.
Batizado de ‘All Together: A
Global Ode to Joy’ (‘Todos Juntos: Uma Ode Global à Alegria’), o projeto quer
tornar a Nona Sinfonia acessível ao maior número possível de pessoas, sem
alterar a partitura, mas criando contextos novos para a audição.
Nenhuma obra do repertório
clássico é mais conhecida que ela. Paradoxalmente, não serão mais que uma
parcela das dezenas de milhões de ouvintes os que de fato podem acompanhar em
alemão o poema de Schiller (1759-1805), crucial para o entendimento da Nona.
Beethoven
mudou a noção da história da música que, depois dele – principalmente por causa
dele – passa a se organizar como um cânone de grandes autores do passado.
Um desafio duplo, portanto.
Antes de mais nada, definir o que, de outras músicas, faria sentido entremeado
à sinfonia. A primeira versão da ‘Ode’ é de 1795. Em conjunto com a música de
Beethoven (de 1824), leva ao limite ideais iluministas de liberdade, igualdade
e fraternidade, que inspiram o mundo democrático moderno. Não era esse o mundo
em que eles viviam. Tampouco o mundo por aqui, marcado pela tráfico de escravos
— o Brasil foi a última nação das Américas a abolir a escravidão, em 1888.
Situar a Nona em contexto brasileiro significa, portanto, encarar a questão,
elegendo fragmentos capazes de compor outro horizonte.
Nossa Nona vai começar com um
canto de capoeira baiano, ‘Navio Negreiro’, cantado pelo coro. Entre o primeiro
e o segundo movimento, virão trechos de ‘Cabinda: Nós Somos Pretos’, peça
sinfônica encomendada há quatro anos ao compositor baiano Paulo Costa Lima. Já
para o intervalo entre o segundo e o terceiro, Clarice Assad compôs um adágio
inspirado em temas de ‘Alegria, Alegria’ (1967), de outro compositor baiano,
Caetano Veloso — antológica canção de reação ao arbítrio, em plena ditadura
militar.
A mesma canção também é
motivo de duas alusões na ‘Ode à Alegria’ em português, em minha tradução,
feita na esteira de várias versões para canções de Schubert e Schumann, mas em
outra escala e num espírito um tanto diferente. Dois exemplos devem bastar para
dar uma ideia do que entra em jogo.
A ‘Ode’ de Schiller começa
com esses versos famosos: ‘Freude, schöner Götterfunken,/ Tochter aus Elysium’.
Em tradução literal: ‘Alegria, bela fagulha divina,/ Filha do Elísio’.
Para além das questões de
métrica e rima, que permeiam todo o poema, um exemplo desses deixa evidente o
risco de se fazer uma tradução ao pé da letra, que poderia soar não só
anacrônica, mas francamente ridícula. A tentação, por outro lado, de imitar um
autor romântico, como o Castro Alves de ‘Navio Negreiro’ (1869), por exemplo —
poema que a seu modo conversa com a ‘Ode’ de Schiller, e que teria tudo a ver
com esta Nona brasileira —, também tinha de ser deixada de lado, sob o mesmo
risco.
A tradução precisa seguir
minuciosamente os contornos da melodia. Sempre lembrando, também, o desejo de
falar com uma plateia do nosso tempo, o resultado reforça a vertente mais
moderna do pensamento do próprio Beethoven: ‘Alegria, alegria/ Filha do divino
em nós’. Diferente nos termos, próximo na forma, fiel ao espírito – mais fiel
até, quem sabe, que o próprio original, para um leitor nos dias de hoje. E boa
de cantar.
Outro exemplo, sem sair da
primeira estrofe. ‘Alle Menschen werden Brüder’, diz Schiller: ‘odos os homens
se tornam irmãos’. A questão que pega é a incômoda sinonímia entre ‘homens’ e ‘humanidade’’,
impossível de repetir sem mais nem menos, numa versão que busca aproximar a
Nona de uma plateia atual.
Ficaram assim os quatro últimos versos da estrofe: ‘Teu
apelo vê reunido/ O que era dividido em vão,/ Homens e mulheres, juntos,/ São
agora irmã e irmão’. Não seria isso o que diriam Schiller e Beethoven, hoje,
defensores por excelência da liberdade e da igualdade?
A partir de agora e ao longo
de todo o ano que vem, aqui como ao redor do mundo, a obra de Beethoven será
ouvida nas mais variadas circunstâncias.
Nunca será demais escutar as
sinfonias, os concertos, as sonatas, os quartetos de cordas, as obras corais, a
ópera ‘Fidelio’. Beethoven mudou a noção da história da música, que depois dele
— principalmente por causa dele — passa a se organizar como um cânone de
grandes autores do passado. Mudou a ideia do que pode ou deve ser um concerto,
experiência comparável à leitura de textos críticos ou filosóficos. Mudou, de
maneira crucial, a própria ideia da composição, definindo o caminho da
modernidade.
Pensando ainda nos ideais
carregados por essa Sinfonia, não surpreende que tenha sido usada em tantos
momentos críticos da história — durante a Segunda Guerra Mundial e na Queda do
Muro de Berlim, para ficar nesses dois exemplos. Também não poderia ser outro o
Hino da Europa, senão a ‘Ode à Alegria’.
Vivemos tempos estranhos.
Para nós, também, a Nona pode ser uma inspiração e um alento. É a música da
humanidade livre e justa, capaz, a despeito de tudo, de inventar a alegria.
Fonte: Arthur Nestrovski é
diretor artístico da Osesp. Autor de “Tudo tem a ver – literatura e música”,
entre outros livros.|=Nexo
Um passeio para apresentar,
de maneira lúdica, as obras de uma de nossas maiores artistas! O “Farol
Santander” recebe a partir do dia 26 de novembro a mostra Tarsila para
Crianças. A exposição é totalmente imersiva e a garotada vai poder se sentir
dentro dos quadros! A atração fica por lá até 2 de fevereiro de 2020 e os
ingressos custam R$25 e a entrada é grátis para crianças até 2 anos e 11 meses.
A mostra é toda instagramável
e utiliza de recursos cenográficos como almofadas e lustres, em um espaço de
cerca de 490 metros quadrados. São sete estações temáticas, divididas entre os
andares 19 e 20 do prédio.
Confira as estações
1.Vila dos Sentidos – a exposição começa com um cenário bucólico que
remete à infância de Tarsila na fazenda São Bernardo, onde cresceu brincando
com seus mais de 40 gatos e fazendo bonecos de mato. Uma mini vila caipira será
formada por quatro casinhas tridimensionais, rodeadas por cestos de frutas, com
inspiração no quadro A Feira. Cada casinha apresentará uma característica
marcante relacionada à infância da pintora, como o quarto com sua caixinha de
música e bonecas de mato, a sala de estar com piano, foto de família e seus
gatos de estimação, e até seu perfume e sabonete preferido.
2.Toca da Cuca – Inspirado no quadro A Cuca, o público encontrará um
espaço com uma projeção com os bichos divertidos inspirados nos seres
imaginários presentes na obra de Tarsila do Amaral, que passarão em uma espécie
de tapete imersivo, projetado dentro da Toca da Cuca cenográfica, com acesso
pelo túnel da lagarta.
3.Universo Tarsila – Tendo como referência a obra Cartão Postal, os
visitantes poderão colorir diferentes elementos encontrados em sua obra e os
animais imaginários que habitam o extraordinário e colorido universo de
Tarsila, que ganham vida em uma parede interativa instalada no andar.
4.Floresta Negra – Com uma cenografia e ambientação sonora do que seria a
floresta onírica do quadro Floresta, o público poderá se aconchegar no ninho de
almofadas que simulam os famosos ovos rosa arroxeados de sua pintura. No mesmo
local, baseado na obra Urutu, será possível encontrar um ovo onde os visitantes
despertam a curiosidade, observando através de buraquinhos as possíveis
criaturas que habitam dentro do ovo. A floresta ainda esconde um guardião, o
touro preto (O Touro), que protege com seu mugido quem pensar em fazer mal à
natureza. Os visitantes poderão tirar fotos no instapoint do touro. Uma
reprodução tátil do quadro Floresta foi criada especialmente para que
deficientes visuais conheçam a obra de Tarsila do Amaral.
5.Jardim Afetivo – Os visitantes serão convidados a embarcar em uma
viagem sensorial, com animações e sons, como por exemplo, os ruídos da estação
de ferro, da caixinha de música, o coaxar do sapo, os grilos, que remetem
diretamente a 4 quadros de Tarsila.
6.As Cores de Tarsila – Neste ambiente estarão expostos reproduções de
diversos quadros impressos e as principais cores da paleta de Tarsila (Cores
Caipiras: azul puríssimo, rosa violáceo, amarelo vivo e verde cantante) para a
pintura brasileira e internacional. Ao centro, duas redes coloridas penduradas
do teto até quase o chão, representando pinceis. Os visitantes serão convidados
a se posicionar nas redes-pinceis, e percebem que no chão há uma projeção que
repercute o movimento de cada pincel e vai misturando as cores e dando origem a
uma infinidade de pinturas digitais aleatórias.
7.Papo com o Abaporu – A mais famosa obra de Tarsila,Abaporu, divide espaço com as obras Sol
Poente e A Lua, em uma sala repleta de cactos cenográficos e flores
holográficas. O cenário do Sol Poente é pensado para boas fotografias, com
diversos pufes espalhados em frente a uma série de círculos laranjas. Nessa
sala também há o espaço Papo Com Abaporu, com dois totens touchscreen com
perguntas que poderão ser respondidas pelo enigmático personagem via
inteligência artificial, através da plataforma Watson.
A exposição é assinado pela
YDreams Global, que foi responsável pela em exposição inspirada em Van Gogh,
que ficou em cartaz no shopping Pátio Higienópolis. A curadoria é de Patrícia
Engel Secco, Karina Israel e da sobrinha-neta da artista, Tarsilinha.
Tarsila
para Crianças
Recomendado: Todas as idades
Quando: de 26/11 a 02/02 nas terças, quartas, quintas,
sextas, sábados e domingos. Horários: das 9h às 20h
Anita Catarina Malfatti (São Paulo, 2 de dezembro de
1889 — São Paulo, 6 de novembro de 1964) foi uma pintora, desenhista,
gravadora, ilustradora e professora ítalo-brasileira.
Filha do engenheiro italiano Samuele Malfatti e de mãe
norte-americana Eleonora Elizabeth ‘Betty’ Krug, Anita Malfatti nasceu na
cidade de São Paulo, em 2 de dezembro de 1889. Segunda filha do casal, nasceu
com atrofia no braço e na mão direita.
Aos três anos de idade foi levada pelos pais à cidade
de Lucca, na Itália, na esperança de corrigir o defeito congênito. Os
resultados do tratamento médico não foram animadores e Anita teve que carregar
essa deficiência pelo resto da vida.
Voltando ao Brasil, teve à sua disposição Miss Browne,
que a ajudou no desenvolvimento do uso da escrita e no aprendizado do desenho
com a mão esquerda. Essa Miss Browne deve ter sido a educadora norte-americana
Márcia P. Browne que assessorou Caetano de Campos na reforma que empreendeu no
ensino primário e normal em São Paulo, nos primórdios da República. Miss Browne
organizou e foi a primeira diretora da Escola Modelo anexa à Escola Normal.
Iniciou seus estudos em 1897 no Externato São José de
freiras católicas, hoje não mais existente, outrora localizado na Rua da
Glória, onde foi alfabetizada. Logo depois passou a estudar em escolas
protestantes: na Escola Americana, em 1903 e, pouco depois, no Mackenzie
College onde, em 1906, recebe o diploma de normalista.
Surge a pintora
Nesse meio tempo morreu Samuele Malfatti, esteio moral
e financeiro da família. Sem recursos para o sustento dos filhos, Betty passou
a dar aulas particulares de idiomas, e também de desenho e pintura. Chegou a
pedir orientações do pintor Carlo de Servi para ela com mais segurança ensinar
suas discípulas. Anita acompanhava as aulas que tomavam a maior parte de seu
tempo - foi portanto sua própria mãe quem lhe ensinou os rudimentos das artes
plásticas.
Na Alemanha
Anita Malfatti, aos 22 anos, 1912
Anita pretendia estudar em Paris, mas sem a ajuda do
pai parecia impossível, tendo em vista que sua avó vivia entrevada numa cama, e
sua mãe passava o dia dando aulas de pintura e de idiomas.
Anita tinha umas amigas, as irmãs Shalders, que
estavam prestes a viajar à Europa para estudar música. Assim surgiu a ideia de
acompanhá-las à Alemanha e seu tio e padrinho, o engenheiro Jorge Krug, aceitou
financiar a viagem.
Anita e as Shalders chegaram a Berlim em 1910, ano
marcante na história da Arte Moderna alemã. Berlim era então o grande centro
musical da Europa. Acompanhando suas amigas às aulas no centro musical, ali
recebeu a sugestão para estudar no ateliê do artista pintor Fritz Burger.
Fritz Burger era um retratista que dominava a técnica
pontilhista ou divisionista. Foi o primeiro mestre alemão de Anita. Nessa época
ela ingressou na Academia de Belas Artes de Berlim.
Durante as férias de verão, Anita e as amigas foram às
montanhas de Harz, em Treseburg, região frequentada por pintores. Continuando
sua viagem, visitou a 4° Sonderbund, uma exposição que aconteceu em Colônia na
Alemanha, na qual conheceu trabalhos de pintores modernos e famosos,
incluindo-se Van Gogh.
Teve aulas também com Lovis Corinth, nome mais
conhecido do que seu primeiro mestre. Alguns anos antes Corinth sofrera um
acidente vascular cerebral (AVC) que, como sequela, tal como a aluna, lhe
deixara alguma dificuldade motora na mão direita. Anita estava cada vez mais
interessada pela pintura expressionista. Desejava aprender seu conceito e sua
técnica.
Em 1913, inicia aulas com o professor Ernst
Bischoff-Culm da mesma escola de Corinth. Com a instabilidade política e social
causada por uma guerra que se mostrava iminente, Anita Malfatti resolve deixar
Berlim e passando rapidamente por Paris, retorna ao Brasil.
Primeira exposição individual – 1914
Em 1914, Anita tinha 24 anos e, depois de quatro anos
de estudo na Europa, voltava para o seio familiar. Anita ainda tinha o desejo
de partir mais uma vez em viagem de estudos. Sem condições financeiras, tentou
pleitear uma bolsa junto ao Pensionato Artístico do Estado de São Paulo. Por
essa razão, montou no dia 23 de maio de 1914, uma exposição com obras de sua
autoria, exposição essa que ficou aberta até meados de junho..
O senador José de Freitas Valle foi visitar a
exposição. Dependia dele a concessão da bolsa. Mas o influente político não
gostou das obras de Anita, chegando a criticá-las publicamente.
Entretanto, independentemente da opinião do senador, a
bolsa não seria concedida. Notícias do iminente início da guerra na Europa
fizeram com que o Pensionato as cancelasse. Foi aí que, mais uma vez,
financiada pelo tio, o engenheiro e arquiteto Jorge Krug, Anita embarca para os
Estados Unidos.
Nos Estados Unidos
No início de 1915, Anita Malfatti já se encontrava em
Nova Iorque e matriculada na tradicional Art Student's League. Nessa escola, Anita ia de um professor a outro na
tentativa de encontrar o caminho que sonhava para seus trabalhos.
Após três meses de estudos, desistiu de qualquer curso
de pintura ou desenho nessa instituição, reservando-a apenas para os estudos de
gravura. Anita ficou sabendo de um professor que deixava os alunos pintarem à
vontade - ele lecionava na Independent School of Art e se chamava Homer Boss.
O Farol
Nas férias de verão, Homer Boss levou os alunos para
pintar na costa do Maine, na ilha de Monhegan. Esse Estado litorâneo mais ao
nordeste, fronteira com o Canadá, tornara-se há muito o refúgio dos artistas.
Foi nessa ilha que Anita pintou, entre outras, a paisagem intitulada O farol.
Passado o verão, Anita voltou à Independent School of Art. Em meados de 1916,
preparava-se para voltar ao Brasil.
De volta ao Brasil e segunda exposição
individual - 1917
Em 1917, Anita resolveu promover sua segunda
exposição.
Após a crítica de Lobato, publicada em O Estado de S. Paulo,
edição da tarde, em 20 de dezembro de 1917, com o título de ‘A propósito da
exposição Malfatti’, as telas vendidas foram devolvidas, algumas quase foram
destruídas a bengaladas.
Nem as palavras mas afáveis, ou menos agressivas,
despejadas ao final do artigo, nem os elogios ao seu talento, colocados no
início, poderiam desfazer tamanho estrago sobre a personalidade tímida e irresoluta
de Anita, que caiu em forte depressão, vivendo um período de desorientação
total e de descrença, um sentimento que carregou pelo resto da vida.
Anita foi tomar aulas de natureza-morta com o mestre pintor
acadêmico Pedro Alexandrino. 1856-1942, no ano de 1919, e também com o alemão George
Fischer Elpons, um pouco mais avançado do que o velho mestre das naturezas
mortas. Foi nessa ocasião que conheceu Tarsila do Amaral que tinha aulas com os
mesmos professores, dando início a uma longa e proveitosa amizade.
Apesar da mágoa, mais tarde, Anita ilustrou livros de
Monteiro Lobato e, na década de 40, participou de um programa na Rádio Cultura
chamado ‘Desafiando os Catedráticos’, juntamente com Menotti Del Picchia e
Monteiro Lobato. Os ouvintes telefonavam fazendo perguntas para que o trio
respondesse.
Depois do pai, o tio Jorge Krug, que a havia ajudado
tanto, também faleceu, e Anita precisou buscar caminhos para vender suas obras.
Pedro Alexandrino já era um pintor de renome e vendia com facilidade seus
trabalhos.
A Semana de Arte Moderna de 1922
Mário de Andrade (sentado), Anita Malfatti (sentada, ao centro) e Zina Aita (à esquerda de Anita), em 1922
Após o período de recesso, a Semana de Arte Moderna,
mais uma vez, movimentou a vida artística insípida de São Paulo. Anita
participou dela com 22 trabalhos. Uma vez que o círculo modernista vinha ao
encontro de suas aspirações artísticas, ela entraria também para o grupo dos
cinco.
A Europa nos loucos anos 20
Anita embarcava mais uma vez, em viagem de estudos
para Paris. Seriam cinco anos de estudos pela bolsa do Pensionato. Este seria o
último e o seu mais longo período fora do Brasil. Em agosto de 1922, ela tinha
33 anos e embarcava no vapor Mosella rumo à França.
Mário de Andrade que não conseguiu chegar a tempo da
partida de Anita e enviou-lhe um telegrama de desculpas. Apesar das muitas
dúvidas que ainda tinha em relação a que caminho seguir na sua arte, não deixou
de produzir.
Brasil, 1928
No final de setembro de 1928, Anita já se encontrava
no Brasil. O ambiente artístico encontrado por Anita na volta era diferente do
que deixara em 1923; o grupo inicial evoluíra, surgiam novos adeptos e novos
movimentos. O número de artistas plásticos também crescera. Na chegada, Mário
de Andrade noticiou imediatamente sua chegada, relembrando quem ela era.
Em 1929 abria em São Paulo sua quarta individual.
Anita Malfatti, ~ 1930
Depois de fechar sua exposição, até 1932, Anita
dedicou-se ao ensino escolar. Retomou suas aulas na Escola Normal Americana e
foi trabalhar também na Escola Normal do Mackenzie College.
Em 1933, muda-se para a Rua Ceará, no bairro de
Higienópolis, onde instala seu ateliê e dá aulas, inclusive para Oswald de
Andrade Filho, onde permanece até 1952, com a venda da casa, em razão da morte
de sua mãe.
Considerada por Pietro Maria Bardi como a maior
pintora brasileira, ela jamais se recuperou do golpe sofrido. Como diria mais
tarde Mário de Andrade: Ela fraquejou, sua mão, indecisa, se perdeu.
Já com idade madura, Anita mudou-se, com sua irmã
Georgina, para uma chácara em Diadema-SP), onde morreu em 6 de novembro de
1964, alienada do mundo, cuidando do jardim e vivendo seus próprios devaneios. Está sepultada no Cemitério dos Protestantes,
na Rua Sergipe, número 117, bairro da Consolação, São Paulo.