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sexta-feira, 4 de dezembro de 2020

Bailarinas de Degas no Masp fogem da delicadeza e mostram sua face mais crua

Conjunto de 73 bronzes do impressionista francês ganha novas leituras ao ser retratado pela artista Sofia Borges


 


Uma fotografia cobre, de fora a fora, a parede que abre a exposição do impressionista francês Edgar Degas em cartaz no Masp agora. Nela, uma menina aparece de olhos fechados, o rosto coberto de dourado. Sua expressão flutua entre a vulnerabilidade absoluta, e a concentração de alguém que tenta, com todos os músculos do corpo, manter a mesma posição.

Quem vê a imagem talvez não perceba que ela pertence à escultura mais célebre de Degas, ‘Bailarina de 14 Anos’, associada, como tantas outras obras do artista, à delicadeza, à feminilidade.

Mas o retrato cru, algo grotesco, que a artista Sofia Borges fez da escultura talvez seja mais fiel à realidade das bailarinas do século 19 do que aquela do nosso imaginário, diz Fernando Oliva, à frente da exposição ao lado de Adriano Pedrosa, o diretor artístico do museu.

Afinal, afirma Oliva, na época de Degas as bailarinas eram meninas pobres, muitas delas filhas de mães solteiras. Ficavam íntimas da dor desde cedo, entrando nas companhias aos seis anos de idade.

Pior, viviam num limiar perigosamente próximo da prostituição, uma vez que dependiam do patrocínio de frequentadores da Opéra para se manter. Historiadores suspeitam, inclusive, que este tenha sido o destino da modelo de ‘Bailarina de 14 Anos’, Marie van Goethem. 



Escultura 'Bailarina de 14 Anos', do impressionista francês Edgar Degas 


Esse contexto fez com que a primeira exibição pública da escultura, num salão oficial em 1881, fosse desastrosa. Oliva diz que a opção de Degas por retratar uma menina pobre, da periferia parisiense, foi recebida com choque pelo público, aristocrata como ele.

O escândalo foi tal que Degas nunca mais expôs outra peça do tipo. Todas as outras 72 esculturas que compõem a mostra agora foram fundidas em bronze depois da sua morte, a partir de moldes de cera encontrados no seu ateliê.

As peças integram o acervo do Masp, todas compradas nos anos 1950. Só três outras instituições no mundo têm séries completas como esta —o D'Orsay, em Paris; o Metropolitan, em Nova York, e a Glyptoteket, em Copenhague.

Oliva afirma que a mostra, com outros dois trabalhos de tinta pastel e uma pintura do acervo, reuniria outras 14 telas a óleo do artista, emprestadas por museus internacionais. Mas a pandemia impediu o trânsito delas.

Mesmo assim, o conjunto de esculturas, exposto pela última vez no museu há quase 15 anos, impressiona. Em bronze e medindo em média 50 centímetros, elas foram agrupadas em estantes de acordo com temas —há bailarinas rodopiando, cavalos trotando, mulheres lavando, passando, colhendo frutas e performando rituais de toalete que tinham acabado de surgir.

Oliva afirma que Degas era atraído por essas ações porque elas não só permitiam estudar o movimento, como também observar as mudanças sociais em curso na época, ‘mesmo que não fosse um ativista’.

É esse olhar social sobre o impressionista francês, aliás, que o museu pretende lançar com a exposição de agora –em parte no catálogo, com lançamento em breve, que analisa aspectos controversos da produção do artista, em geral negligenciados, e em parte por meio das fotografias de Borges, exibidas nos cavaletes de vidro projetados por Lina Bo Bardi, e intercaladas entre as estantes de esculturas.


 

'Dança Escultórica 6', foto  Sofia Borges da série 'Ensaio para Degas', 2020 


Nelas, as bailarinas de Degas aparecem iluminadas por luzes duras —na realidade, as próprias lâmpadas do museu—, suas peles marcadas por sulcos. Algumas alongam braços, pernas, costas, seus pedestais de bronze cortados da composição de modo a ‘registrar sua potência dançante’, segundo Borges. Já a ‘Bailarina de 14 Anos’ aparece cercada de sombras e vultos, efeito dos reflexos no seu invólucro de vidro.

O interesse museológico de Borges, fotógrafa premiada, e uma das curadoras-artistas da última Bienal de São Paulo, vem de longe. Por sete anos, ela explorou com suas lentes detalhes de pinturas, objetos arqueológicos, animais empalhados, buscando entender uma relação entre matéria, representação e imagem que, ela argumenta, é ainda mais complexa nessas instituições.

‘Ali, um vaso representa o seu próprio tempo, o artista que o fez, a distância entre ele e o tempo de hoje, um povo inteiro. Ele parece ter uma espessura de significado, diferente da de um vaso da minha casa.’

Nos últimos tempos, porém, ela passou a nutrir um interesse pelo gesto —e, portanto, a dança.

Oliva, o curador, conta que percebia que Borges usava a câmera para olhar para os bronzes de Degas. A fotógrafa assente.


‘Não olho a coisa, mas a imagem da coisa.’




Fonte: Clara Balbi   |  FSP


 

(JA, Dez20)


sexta-feira, 28 de agosto de 2020

Masp e MAM se rendem ao virtual

Exposições de Hélio Oiticica e Antônio Dias estavam em montagem quando coronavírus fechou museus em São Paulo

Na semana em que começou a quarentena em São Paulo, dois dos principais museus da cidade de São Paulo, o Masp e o MAM,  planejavam abrir mostras cercadas de expectativa.

 

                                        Museu de Arte  de São Paulo – av. Paulista

A do Masp era ‘Hélio Oiticica: A Dança na Minha Experiência’, que articula o tema da programação deste ano, a dança, e o incontornável artista carioca, um dos maiores nomes do neoconcretismo.

A do MAM, a primeira retrospectiva do paraibano Antonio Dias desde a sua morte, há dois anos, com o subtítulo de ‘Derrotas e Vitórias’.


Museu de Arte Moderna de São Paulo – Parque do Ibirapuera


Quase seis meses depois, elas enfim podem ser vistas pelo público, em prévias virtuais —os museus ainda não têm data para retomar as atividades, embora a prefeitura paulistana estime que isso possa acontecer entre o final de setembro e o início de outubro.

No caso do Masp, esse aperitivo consiste numa seleção de imagens das obras e da exposição montada no subsolo, e de um vídeo de uma visita guiada por ali com o curador-chefe da instituição, Tomás Toledo. Ainda foi lançado um catálogo caprichado, à venda no site do museu.


      Réplicas de parangolés que podem ser vestidos pelo público na mostra 'Hélio Oiticia - A Dança na Minha            Experiência', no Masp 


Toledo afirma que a proposta da exposição era partir dos parangolés - icônicas capas criadas por Oiticica para serem vestidas pelo público -, mas sem se limitar a isso.

Desse modo, ali estão reunidos vários dos ‘Metaesquemas’ do artista, em que formas geométricas e traços coloridos parecem bailar sobre o papel. Também estão lá seus ‘Núcleos’, ‘Penetráveis’ e ‘Bólides’, peças que traduzem as preocupações cromáticas e geométricas para um espaço tridimensional e que marcam o início da busca de Oiticica pela aproximação com o corpo do visitante.

Os últimos, caixinhas com pigmentos e outros materiais que originalmente podiam ser manuseadas pelo público, inauguram o momento em que o carioca começa a tratar de temas políticos e sociais na sua obra. ‘São trabalhos que trazem a rua para dentro de si’, diz Toledo.

Ele lembra o ‘Bólide’ em homenagem ao bandido carioca Cara de Cavalo, executado à queima-roupa pela polícia nos anos 1960. Ou aquele que, abrigando um espelho, reflete os passantes e o local onde estão.

 


É, porém, um outro ‘Bólide’ da mostra que talvez melhor resuma a busca do artista no momento anterior à invenção dos parangolés, diz o curador. É uma caixa cheia de água, que tem no fundo a inscrição ‘mergulho no corpo’.

Já a mostra do MAM reúne trabalhos encontrados no próprio ateliê de Dias, no Rio de Janeiro, cidade onde ele viveu seus últimos oito anos. O peso deles, aliado ao fato de que o artista chegou a comprar alguns dos itens de outros colecionadores, podem indicar como Dias enxergava suas criações, diz Felipe Chaimovich, à frente da mostra. ‘É um museu que ele fez da própria obra’.

Da seleção original de quase 70 peças, porém, só dez estão na prévia que o museu inaugurou no ‘Google Arts and Culture’. A maioria delas é acompanhada de trechos de entrevistas de Dias que, na exposição original, estariam decalcadas nas paredes. ‘Quis muito dar voz ao artista, já que era a coleção dele’, justifica Chaimovich.

 

                                'Nota Sobre a Morte Imprevista', de Antônio Dias, de 1965


A mostra online constrói, assim, uma espécie de panorâmica da trajetória do artista, passando das referências aos quadrinhos de obras como a seminal ‘Nota sobre a Morte Imprevista’, da época da ditadura, até chegar à sua produção dos anos 2000 com ‘Seu Marido’, figura saltitante que, coberta por franjas amarelas, lembraria um personagem infantil, não fosse a aparência fálica.


                              'Eu Marido', obra de Antonio Dias, 2002, em colaboração com a Coopa-Roca RJ 


Segundo Chaimovich, são trabalhos marcados por uma certa incompletude, não só em termos de composição como num sentido ético. ‘Sempre há algo que falta, e de certa maneira essa falta costura toda a obra. É um artista que lidou com a ideia da finitude humana’, afirma o curador.

Mesmo que a reunião de obras do ‘Google Arts and Culture’ seja uma boa porta de entrada para o trabalho de Dias, a transposição para a tela do computador deixa alguns prejuízos.

Exibida numa fotografia, imóvel, ‘Seu Marido’ perde parte do humor e da surpresa. A série de vídeos ‘The Illustration of Art/Gimmick’, em geral mostrada em três televisores, foi reduzida a um único frame.

Isso sem falar nos trabalhos que usam pigmentos minerais, que, na visão de Dias, operavam como condutores de energia. ‘A representação virtual é sem dúvida didática, mas, para o próprio artista, o sentido de várias de suas obras é físico’, diz Chaimovich.

Na mostra de Oiticica, a maior perda será da mostra física. As réplicas de parangolés que o museu produziu para serem usadas pelos visitantes, a princípio, não poderão ser manuseadas, por causa do risco de transmissão do coronavírus, conta Toledo.

 

HÉLIO OITICICA: A DANÇA NA MINHA EXPERIÊNCIA

Onde Site do Masp

Link   https://masp.org.br/exposicoes/helio-oiticica-a-danca-na-minha-experiencia

 

ANTONIO DIAS: DERROTAS E VITÓRIAS

Onde Página do MAM-SP na plataforma ‘Google Arts and Culture’

Link https://artsandculture.google.com/partner/museu-de-arte-moderna-de-sao-paulo

 

Curadoria Felipe Chaimovich

 



Fonte: Clara Balbi   |   FSP

 

(JA, Ago20)

 


segunda-feira, 8 de junho de 2020

Coronavírus atropela ano em que artistas indígenas tomariam os museus de SP

Mostra no MAM que integraria Bienal é cancelada, e mesmo exposições mantidas correm risco de ter menos público


Pagé-Onça, hackeando a 33ª Bienal de Artes São Paulo, performance de Denilson Baniwa, apresentada no Pavilhão da Bienal, no Parque do Ibirapuera, em 2018

A cauda de um manto com estampa de onça desliza pelo chão do pavilhão da Bienal, no parque Ibirapuera. Envolto nele, está um homem de pés descalços e dorso nu, o rosto coberto por uma máscara de tigre. Numa mão, ele sacode um chocalho. Na outra, traz flores, que ele deita, uma a uma, em frente a certas fotografias e esculturas.

O homem era o artista Denilson Baniwa, indígena do povo baniwa, da região amazônica. A exposição, a Bienal de São Paulo de dois anos atrás. E a performance, conta Baniwa, por telefone, um protesto contra a forma como os povos originários apareciam naquelas obras —figuras sem voz, presas a um passado imemorial, que não foram convidadas a se representar, ele descreve. Seu pajé-onça servia, assim, como ‘uma energia ancestral, que abre verdades’.
Menos de dois anos depois, Baniwa participaria, desta vez oficialmente, da Bienal, numa mostra da programação estendida do evento no Museu de Arte Moderna de São Paulo, o MAM.

Organizada por Jaider Esbell, artista da etnia makuxi que participa do evento principal, com os pesquisadores Paula Berbert e Pedro Cesarino, ‘Moquém – Surarî Arte Indígena Contemporânea’ reuniria trabalhos de mais de 50 artistas e coletivos, num esforço de mapear a diversidade da produção indígena pelo país, e divulgar artistas sem acesso a esse circuito.

Com a pandemia do novo coronavírus, no entanto, a exposição foi cancelada pelo museu. Em nota, o MAM afirma que a decisão foi motivada pelos ajustes no orçamento, e na programação ocasionados pela interrupção das suas atividades nesses meses de quarentena.

Já a Bienal diz que vem negociando cada uma dessas exposições paralelas individualmente, de modo a encontrar soluções que levem em conta as necessidades e potenciais de todos os envolvidos. Segundo Esbell, a mostra deve acontecer numa outra configuração, ainda a ser anunciada.

‘Moquém - Surarî Arte Indígena Contemporânea’ não foi a única exposição de arte indígena afetada pela pandemia.

O ano veria essa produção tomar a cidade, com mostras na Pinacoteca e no Sesc Ipiranga e a presença confirmada de três artistas indígenas na Bienal —além do próprio Esbell, Gustavo Caboco, wapichana, e o colombiano Abel Rodríguez, nonuya —, antecedendo um ciclo de exposições sobre o tema no Masp em 2021.

Mas o Masp adiou suas ‘Histórias Indígenas’ para 2023, em razão das dificuldades para fazer empréstimos internacionais no contexto da pandemia, e da alta do dólar, que encareceu as operações. ‘Não queríamos perder a amplitude, a complexidade, e a potência da programação, então decidimos adiar’, afirma Tomás Toledo, curador-chefe do museu.

Além disso, mesmo os eventos mantidos, caso dos demais lembrados, podem ver uma redução significativa de público. Seja porque os museus devem limitar a quantidade de visitantes no pós-pandemia, ou por causa da chance de a população ter medo de frequentar espaços fechados.

Com isso, é possível que o espaço que os artistas indígenas vinham conquistando nos museus diminua, diz Sandra Benites, curadora do Masp —ela foi a primeira indígena convidada para uma função do tipo no país.

‘Vai haver um certo apagamento, um apagamento que afeta o ser e o pensamento indígena, desde a colonização, desde 1500. Mas quem vai perder não somos nós, e sim os brasileiros, que deveriam ter mais diálogo conosco’, ela afirma.


Obra de Denílson Baniwa


Mais do que um enfraquecimento, porém, Denilson Baniwa diz achar que as formas como ele e outros artistas negociam essa presença, pode sofrer mudanças.

Ele conta que, até o início do ano, sua obra tinha um foco muito combativo em relação à história da arte oficial. ‘Hoje, isso não faz mais sentido. Tenho passado por situações complicadas, de perder amigos e mestres. Depois da pandemia, o que vai sobrar é a reconstrução desse mundo, a partir do nosso conhecimento, que é de compartilhar, curar. Mostrar que asfalto, ferro e poluição, não combinam com saúde’.

Ao mesmo tempo, continua Baniwa, essa revisão sistemática, que ele e seus pares vinham empreendendo, não tem mais volta. ‘Este ano, estaríamos escrevendo novos parágrafos, que dariam mais densidade ao nosso pensamento. Mas, o parágrafo que já escrevemos, não dá mais para apagar’.


Jaider Esbell - 'Malditas e Desejadas, 2013


Jaider Esbell, que num dos trabalhos que exibe na Bienal pretende justamente confrontar essa narrativa oficial da arte, também considera que o lugar que a produção indígena conquistou, até agora, é inegociável. O artista diz que a situação pode servir, na verdade, para sensibilizar o planeta de que, sem os povos indígenas, não há futuro.

‘Todo o mundo foi englobado nessas advertências que viemos fazendo, de que o céu vai desabar. Demorou muito tempo, mas agora estamos diante do abismo, e qualquer movimento em falso pode nos fazer pular ou nos segurar ainda mais. Temos tudo para nos segurarmos. E a questão é exatamente como as pessoas vão construir isso’, completa Esbell.

Enquanto isso, o artista participa da organização de uma série de seminários virtuais para o início de julho, que aproveitam a suspensão da agenda, do que ele chama de sistemão, para ouvir as demandas da comunidade indígena. ‘É um convite para essas instituições também. Ao menos, de escuta’, ele afirma.

Ele ainda trabalha em dois grandes eventos, para 2022, quando se comemora o centenário da Semana de Arte Moderna e, em 2028, centenário da publicação de ‘Macunaíma’, de Mário de Andrade —o mito que deu origem ao romance é do seu povo, os makuxi, e o artista usa no seu trabalho a ideia de que é neto do herói.

Diretor da Pinacoteca, que abrirá ‘Véxoa – Nós Sabemos’ ainda neste ano, Jochen Volz, diz que é preciso lembrar que a presença da arte indígena no museu foi fruto de um longo processo, que incluiu seminários e atividades como os encontros com líderes, durante a retrospectiva de Ernesto Neto no ano passado. ‘Ela não está vindo do nada, mas de uma pesquisa e uma forma de escuta que o museu tem adotado’.

Tanto é que ‘Véxoa’ será inaugurada junto de uma nova exposição permanente, incorporando trabalhos de artistas, como Esbell e Baniwa, à linha do tempo da arte brasileira, acrescenta Volz.

‘Para nós, não é um evento, é um paradigma de uma ideia de diálogo. Então, não vejo como fazer isso no ano que vem. É essencial que o museu abra a nova montagem de acervo’, afirma o diretor, acrescentando que a exposição, adiada para o final de agosto, teve a duração estendida até março do ano que vem, de modo a garantir a visibilidade que merece.

Sandra Benites também diz que, mais do que fazer uma ou outra exposição, o importante é as instituições pensarem junto com os povos indígenas. ‘Há várias formas de estarmos presentes, enquanto curadores, palestrantes, artistas’, ela diz. ‘São imagens que não estão congeladas, e sim em movimento’.

Impacto da Covid-19 nas mostras de arte indígena em São Paulo 

Histórias Indígenas
Tema que guiaria exposições no Masp em 2021, foi adiado para 2023.

Moquém – Surarî Arte Indígena Contemporânea
Mostra no MAM, que integraria 34ª Bienal de São Paulo, foi cancelada, mas pode ser retomada em novo formato.

Sawé
Exposição sobre lideranças indígenas no Sesc Ipiranga foi paralisada, mas será retomada quando o sistema S reabrir.

Véxoa – Nós Sabemos
Mostra na Pinacoteca organizada por Naine Terena foi adiada para final de agosto, mas durará mais tempo que o previsto.




Fonte: Clara Balbi   |   FSP


(JA, Jun20)


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segunda-feira, 30 de dezembro de 2019

Exposição de Vincent Van Gogh chega ao MASP




As obras do famoso pintor holandês chegam no Brasil em 2025

Van Gogh  -^-  ‘A Noite Estrelada’

Uma mostra especial com obras do pintor Vincent Van Gogh deve ganhar temporada no MASP – Museu de Arte de São Paulo, em 2025. Revolucionário no meio artístico, o holandês é conhecido pelo uso de cores e pinceladas expressivas em seus quadros, sendo considerado um grande mestre da pintura moderna.

O museu, que trabalha com cinco anos de antecedência em sua programação, informou estar viabilizando o empréstimo e transporte dos quadros para o Brasil. As informações sobre a mostra foram confirmadas pela assessoria de imprensa oficial do MASP.

Vincent Willem Van Gogh, 1853-1890, é considerado uma das figuras mais significativas para a história da arte ocidental. Criador de mais de 2.000 obras em pouco mais de uma década, o artista conta com acervo de 860 pinturas a óleo, em sua maioria paisagens, naturezas-mortas, retratos e autorretratos de cores dramáticas e vibrantes.

Ele criou mais de dois mil trabalhos em pouco mais de uma década, incluindo por volta de 860 pinturas a óleo, a maioria dos quais durante seus dois últimos anos de vida.


Van Gogh  - Autorretrato

Em 2025, o museu vai ter sua programação norteada pelo ciclo ‘Histórias da Loucura’, assim como neste ano o tema das exposições em cartaz foram voltados para ‘Histórias das mulheres, histórias feministas’.

E quem melhor para representar Histórias da Loucura que Van Gogh? O pintor holandês, conhecido por sua biografia perturbada e por obras como ‘O Escolar’, 1888, que faz parte da coleção do MASP.


‘O Escolar’, de Van Gogh, é uma das obras da coleção do MASP

Viu só? Faz muito bem o MASP trazer Van Gogh para brilhar no coração da Avenida Paulista!

Ah… e toda essa antecedência na definição do nome do artista é porque a solicitação do empréstimo de obras é bem burocrático.

Segundo o diretor artístico do MASP, Adriano Pedrosa, isso acontece com alguns poucos artistas e Van Gogh é um deles.

Agora só nos resta esperar e contar os dias para conferir essa exposição que, com certeza, vai ser INCRÍVEL!



Em outubro de 1947, SP ganhava um espaço que provou ser um marco na disseminação da arte, o Museu de Arte de São Paulo. Dono do mais importante acervo de arte europeia do Hemisfério Sul, o MASP reúne cerca de 10 mil obras, entre pinturas, esculturas, objetos, fotografias, vídeos e vestuário de diversos períodos da história.

Fundado em 1947 por Assis Chateaubriand, 1892-1968, o MASP é um museu privado sem fins lucrativos, tornando-se o primeiro museu moderno no país. Chateaubriand convidou o crítico e marchand italiano Pietro Maria Bardi, 1900-1999, para dirigir o MASP, e Lina Bo Bardi, 1914-1992, para desenvolver o projeto arquitetônico e expográfico.






Fonte – Catraca Livre



(JA, Dez19) 


segunda-feira, 21 de outubro de 2019

História das Mulheres Artistas até 1900



Atelier Abel de Pujol, 1822


A exposição Histórias das mulheres apresenta quase cem trabalhos, que datam do século 1 ao 19. Como o título indica, não se trata de uma única história, mas de muitas, narradas por meio de obras feitas por mulheres que viveram no norte da África, nas Américas (antes e depois da colonização), na Ásia, na Europa, na Índia e no território do antigo Império Otomano.

Uma das características mais fortes desta mostra é o diálogo que se estabelece entre pinturas e têxteis, escolhidos como um suporte emblemático — afinal, a pintura também é feita sobre tecido.


Sofonisba Anguissola

Com 60 pinturas, 2 desenhos e 34 tecidos de diferentes épocas e origens, Histórias das mulheres destaca trabalhos para além das categorias tradicionais das belas artes, procurando oferecer perspectivas mais amplas e mais plurais. Embora não se conheça o nome das artistas têxteis, todas as peças expostas foram produzidas por mulheres.

Em muitas regiões do mundo antes de 1900, a criação de tecidos, feita manualmente, era considerado um trabalho de gênero e visto como o ideal das mulheres — da mesma forma que a pintura de belas artes era típica e idealmente feita por homens. Colocar essas duas formas de trabalho juntas demonstra a persistência do fazer das mulheres ao longo do tempo. Mesmo que os tecidos estejam excluídos das definições de arte, e de as mulheres terem sido barradas do treinamento nas academias, a exposição mostra que elas sempre fizeram arte.


Elisabeth Louise Vigée Le Brun

Algumas artistas tiveram carreiras de grande sucesso. Este é o caso das tecelãs da América pré-colombiana, que desfrutaram de uma posição de prestígio nas sociedades andinas, de Sofonisba Anguissola, que trabalhou para a corte espanhola no século 16, de Mary Beale, cujo marido foi seu assistente de ateliê, no século 17, de Elisabeth Louise Vigée Le Brun que ocupou o cargo de ‘primeira pintora’ da rainha da França, no século 18, e de Abigail de Andrade, que ganhou uma medalha de ouro no Salão de 1884, no Brasil imperial.



Autorretrato, 1787-1790 Leonor de Almeida Portugal de Lorena e Lencastre - Alcipe



Apesar disso, as mulheres representam um contingente muito menor que seus colegas homens nos manuais de história da arte, nas narrativas oficiais e nas coleções de museus. O MASP possui em seu acervo apenas duas pinturas de mulheres artistas até 1900: um autorretrato da portuguesa Leonor de Almeida Portugal de Lorena e Lencastre e um panorama da baía de Guanabara, da inglesa Maria Graham, especialmente restaurado para esta exposição.

É difícil falar de histórias feministas antes do século 19, por isso falamos em histórias das mulheres. Mas olhar para as artistas dessa época, hoje, nos ajuda a estabelecer genealogias feministas. O encontro com essas várias precursoras — nomeadas ou anônimas, famosas e desconhecidas — nos convida, assim, a repensar as hierarquias da história tradicional, que costuma celebrar a arte como uma atividade de homens brancos e europeus. A singularidade das obras expostas mostram que a arte é muito maior e mais complexa do que se costuma imaginar.


‘Histórias feministas: artistas depois de 2000’
Masp (Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand)
De 23 de agosto a 17 de novembro de 2019


Fonte: MASP  Exposições


(JA, Out19)

sexta-feira, 9 de agosto de 2019

'Abaporu', Tarsila do Amaral






‘Esnobaram o Abaporu’, diz ex-dono do mais famoso quadro brasileiro. Raul Forbes revela detalhes da tumultuada venda da tela assinada por Tarsila do Amaral

O que vivenciei é uma amostra fiel de como parte dos brasileiros trata a arte nacional. Eu adquirira a obra-prima Abaporu, de Tarsila do Amaral, em 1984, do empresário Érico Stickel. Foi-me dada a chance de pagá-la em cinco parcelas, mas acertei de uma vez só: 250 000 dólares.

Depois de ganhar e perder muito dinheiro com ações, vivi um período de problemas financeiros e tive de vendê-la a um colecionador argentino, com dor no coração. O ano era 1995. Como integrava o conselho da Bolsa de Valores, que à época montava sua coleção de arte, ofereci algo que qualquer especialista em arte jamais recusaria.

Para minha surpresa, ninguém se apresentou. Fui em busca de outros compradores, de empresas a pessoas físicas, sem sucesso. A única saída foi vender o quadro em um leilão fora do Brasil, na Christie’s de Nova York. Uma vez marcada a data do evento, aconteceu o imprevisível. Precisei travar uma batalha judicial contra o governo do Estado de São Paulo, que, ao saber da venda da tela modernista, tomou uma medida inédita: tombou o Abaporu como patrimônio estadual.

Com essa medida arbitrária, o colecionador seria impedido de comercializar o quadro e até mesmo de emprestá-­lo a um museu sem autorização prévia.

Entrei com uma liminar e, finalmente, o Abaporu embarcou para os Estados Unidos, menos de 24 horas antes de o leilão começar, escoltado por polícia armada. Em Nova York, houve outra surpresa. A guerra judicial com o governo paulista afugentou os dois únicos interessados que até então tinham feito os cadastros. A diretora da Christie’s perguntou se eu queria desistir, diante do iminente risco de encalhe. Não topei, já não poderia desistir. Imagine voltar para o Brasil com o Abaporu debaixo do braço. Seria um retrocesso enorme para a arte brasileira.


Raul Forbes, ex-dono da mais famosa tela brasileira: 'Não sinto tristeza por ter vendido o Abaporu, pois a obra me ajudou em um momento de dificuldade financeira'


Na hora do leilão, uma surpresa: o argentino Eduardo Costantini deu o maior lance e arrematou a tela por 1,3 milhão de dólares. Levou também o Autorretrato com Macaco e Papagaio, da Frida Khalo, por outros 3,2 milhões de dólares. Costantini formava sua coleção de obras de arte latinas para compor o acervo do Malba, em Buenos Aires.

Se foi complexo tirar o Abaporu do Brasil, também foi difícil permitir seu ingresso na Argentina. O governo do país vizinho decidiu taxar em 10% o valor das obras adquiridas. Enquanto Costantini lutava na Justiça local para diminuir o imposto, os quadros de Tarsila e Frida ficaram exilados no Uruguai.

À época, eu possuía uma casa em Punta del Este, e tive a chance de rever meu antigo quadro, já um ano após o leilão. Costantini organizou uma exposição no Museo Nacional de Artes Visuales, de Montevidéu, com a presença do então presidente uruguaio, Julio María Sanguinetti. O quadro da Frida, que eu particularmente acho horrível, estava cercado por uma proteção de vidro, na expectativa de ser a grande atração da mostra.

Na abertura, no entanto, a realidade: apenas quatro gatos-pingados apreciavam a tela da mexicana, enquanto 150 pessoas admiravam o Abaporu. Na hora, Costantini teve a certeza de ter feito um excelente negócio. Aliás, ao perceber a bobagem de não ter ficado com o Abaporu, a Bolsa de Valores pediu que eu tentasse repatriá-lo. O orçamento era de 3 milhões de dólares. Ainda estiquei a corda para 4 milhões, mas o atual dono não quis nem saber.

Hoje, o quadro está avaliado em pelo menos 75 milhões de dólares. Acompanhei, agora, o extraordinário interesse pela obra da Tarsila no Masp, em São Paulo, com filas a perder de vista, e me senti orgulhoso.

Não sinto tristeza por ter vendido o Abaporu, pois a obra me ajudou em um momento de dificuldade financeira. Infelizmente, nos últimos dias, por uma questão de saúde, não tive a chance de apreciá-lo pessoalmente.




Fonte:  Raul Forbes |  João Batista Jr, Rev.Veja





(JA, Ago19)