Se traduzirmos ao pé da letra, naif
em francês significa ingênuo, inocente. E esses adjetivos muito revelam sobre
essa arte. Para entendermos o contexto das criações, um pouco de história: o
termo Arte Naif foi empregado pela primeira vez no virar do século 19, para identificar a obra de Henri Rousseau.
Nessa época, a Europa vivia a
realidade gerada pela Revolução Industrial. Novos produtos eram produzidos em
maior quantidade, de forma mais rápida e com melhor qualidade.
Grandes populações migravam da área
rural para as periferias dos grandes centros urbanos, como Londres na
Inglaterra, e Paris na França. Essas pessoas iam em busca de trabalho e
melhores condições de vida, algumas migravam para ainda mais longe, indo para
as ex-colônias nas Américas.
Com novos materiais produzidos pela
indústria, as técnicas tiveram que evoluir também. Era cada vez mais comum que
os pintores utilizassem a tela como suporte, e não mais a antiga tábua de
madeira, e até as tintas eram fabricadas - não sendo mais necessário que o
artista produzisse a sua tinta de forma artesanal, como era costume até pouco
tempo antes.
A chamada ‘Arte Acadêmica’ chega ao
seu auge de perfeição, o que permite ao artista
transferir para a tela a realidade que vê. Agora consegue produzir mais rápido,
pois tem seu material pronto e facilmente disponível para a compra.
Por volta de 1860, a arte ocidental dá sinais de uma crise, pois surgem
as primeiras câmeras fotográficas, que pintava com a luz, e, em pouco tempo,
cai no gosto da elite, e depois do povo.
Contratar um artista para pintar um
retrato, ou uma paisagem passou a não ser tão necessário. A pintura teria que
se renovar, buscar novos resultados.
Surge então o movimento mais popular
da história da pintura, o movimento dos pintores Impressionistas, que passaram
a pintar, não apenas a realidade que as pessoas viam, mas a impressão que o
artista tinha da realidade e das cores.
Dentro dessa linha, os artistas que
se definiam como naif, não tinham a obrigação de utilizar técnicas elaboradas,
e abordagens temáticas e cromáticas convencionais. Logo, tal escola se
caracterizou pela simplicidade, e pela liberdade que o autor tinha para
relacionar elementos considerados formais, como a inexistência de perspectiva e
a irrealidade dos fatos.
Outro ponto marcante nesse tipo de arte foi o uso de cores fortes e chocantes. A arte naif exprime alegria, felicidade, espontaneidade e imaginários complexos.
Por algum tempo as pessoas
continuaram a procurar os artistas para pintar retratos e paisagens, pois, de
início, a fotografia não tinha cor. Mas, logo surgiram alguns fotógrafos que
pintavam partes das fotos, para torná-las mais realistas. Todos sabiam que não
demoraria muito para o surgimento da fotografia colorida.
Os organizadores dos Salões de Arte
Oficial de Paris não tinham a visão da evolução natural que estava acontecendo,
e selecionavam as obras com critérios já estabelecidos e estáticos.
Formar um movimento paralelo foi
inevitável. O movimento de arte Impressionista escandalizou a Paris da Belle
époque, 1871-1914, pelos temas e pela pintura.
O terreno estava pronto para que a
arte desse mais um passo, para o movimento dos artistas independentes, chamados
de Pós- Impressionistas, que viria a seguir.
Por volta de 1884, pintores franceses como George
Seurat e Paul Sinac, com apoio de outros artistas, fundaram o Grupo dos
Independentes, e começaram a organizar exposições coletivas, paralelas ao Salão
de Arte oficial.
O ‘Salon des Refusés’, ou salão dos
recusados, foi o mais importante organizado pelo grupo. Nele qualquer artista
poderia participar - era só pagar uma taxa de 15 francos, e já estava participando, sem a necessidade da avaliação da
obra inscrita por um júri - algo incomum
na época. A maioria dos artistas que participavam, realmente haviam sido recusados
do Salão de Arte Oficial. Entretanto, muitos deles acabaram ficando mais
famosos do que aqueles que puderam participar.
Como temática desse estilo de arte,
vemos muito o dia a dia de cidades, o cotidiano de crianças e pessoas nas ruas,
temas bucólicos com árvores e campo, e o retrato da vida simples.
Fonte: História da Arte
(JA, Set20)