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quarta-feira, 18 de setembro de 2019

Mostra exibe as ninfas sensuais e o flerte místico de Alfons Mucha, na Fiesp



Expoente do art nouveau, tcheco é famoso pelas gravuras de mulheres emolduradas por flores e arabescos


'As Estações' - O Verão', 1896, parte da série de quatro painéis decorativos 


Se a menção seca a Alfons Mucha (pronuncia-se ‘murra’) talvez não baste para provocar o estalo mental no leitor, as imagens que acompanham este texto têm tudo para servir de gatilho e fazê-lo “ligar o nome à pessoa”.

O artista tcheco se aventurou na pintura, na escultura, na fotografia e na cenografia. Mas foi com suas gravuras habitadas por mulheres que parecem ninfas envoltas em motivos florais e arabescos tão ondulantes quanto sensuais que se tornou o patrono do estilo art nouveau, no fim do século 19.


Cartaz de 1898 para montagem tragédia Medeia, protagonizada por Sarah Bernhardt


Os meandros do ‘toque Mucha’, decantado em pôsteres para as peças da atriz Sarah Bernhardt, 1844-1923 e em rótulos e embalagens para espumantes, sabonetes, biscoitos e cigarros, estão em destaque, a partir desta quarta (18), em exposição no Centro Cultural Fiesp.

A mostra reúne mais de cem obras emprestadas pela Fundação Mucha, sediada em Praga, e constitui a amostra mais expressiva do trabalho do artista a passar pelo Brasil.
A curadora Tomoko Sato destaca a dupla habilidade do artista, capaz de conjugar experimentações formais ao longo de toda a carreira (‘e isso antes das vanguardas modernas’, diz) com a compreensão do que era preciso para atender ao gosto popular —e, assim, turbinar seu cacife.

‘Ele tinha consciência da importância da repetição, dessas variações sutis sobre um mesmo tema que fazem  o público associar uma obra a um artista’, diz Sato.
‘Além disso, sua produção é linear. As pessoas gostam daquilo que entendem. Foi assim que Mucha se tornou uma das primeiras celebridades do meio artístico.

Para a curadora, o gravurista manejou conceitos como sedução, surpresa e choque com a argúcia de um ‘pai da propaganda moderna’.

Recrutado às pressas pelo entourage de Bernhardt em 1894, ele atingiria o ápice de sua notoriedade ao fim do contrato de seis anos com a atriz, que cobria a criação de cenários, figurinos e cartazes para as montagens dela.


Cartaz publicitário filtro de cigarro, 1896


Quando assinou a cenografia do pavilhão bósnio na Exposição Universal de Paris de 1900, suas musas longilíneas, de cabeleira longa emolduradas por mosaicos já eram copiadas mundo afora.

Na França, contribuíram para a projeção de Mucha o aperfeiçoamento das técnicas de impressão e uma eslavofilia que respondia ao poderio do Império Alemão.

A influência do ‘estilo Mucha’ foi se diluindo ao longo das décadas, sobretudo por causa do fascínio gerado pelas vanguardas modernistas do começo do século 20.

‘O art nouveau e sua vocação decorativa eram considerados anacrônicos, frívolos’, explica Sato. Até que uma retrospectiva do tcheco em 1963, em Londres, coincidiu com um ‘espírito do tempo’ sombrio.

O noticiário girava em torno de Guerra Fria, conflito no Vietnã, assassinato do presidente John F. Kennedy... E as cores e curvas de Mucha prometiam um bálsamo, alguma sorte de unguento para as incertezas do mundo.

Sua iconografia foi então reabilitada pelo movimento psicodélico —sobretudo o braço britânico deste—, inspirando pôsteres para Pink Floyd e Rolling Stones.

No fim do século 20, a exuberância das gravuras da fase mais conhecida do tcheco ressurge como inspiração para quadrinhos da Marvel, mangás japoneses e manhwas sul-coreanos. Alguns desses ecos na seara das HQs integram a exposição agora em cartaz no Brasil.

O público de São Paulo também verá que, apesar do reconhecimento, Mucha se ressentia da ligeireza associada à sua obra.

Como diz a curadora Sato, é irônico que alguém tão interessado pela representação das ideias e pelo alcance filosófico seja lembrado pelo estilo ‘cosmético’, que para alguns se resume ao frufru.

Em escritos, ele menciona a busca por ‘algo mais elevado’, o intuito de ‘lançar luz sobre os lugares mais remotos’. Tal rota vai levá-lo à maçonaria e a experiências com correntes espiritualistas, como o misticismo e o ocultismo, muito por influência do amigo sueco August Strindberg, dramaturgo.  

Um dos primeiros frutos dessa incursão íntima é o livro ilustrado ‘Pater’,  1899, que desdobra os versos do pai-nosso em simbologias cristã, judaica e islâmica, para traçar um caminho desde a escuridão da ignorância até os prometidos clarões da verdade e do divino.



Alfons Mucha, autorretrato na escada, trabalhando no pôster 'Imprimerie Cassan Fils', 1896



Porém, o projeto que vai de fato mobilizar Mucha em sua última fase, a partir da volta à terra natal, em 1910, é o da ‘Epopeia Eslava’, 20 murais em que cristaliza episódios-chave na história dos tchecos e de outros povos eslavos.

A independência da Tchecoslováquia, conquistada em 1918, era uma fixação do artista, que desenhou as primeiras notas e selos do país livre.

Mesmo nas figuras idealizadas, quase impalpáveis de seus cartazes da belle époque, o tcheco fizera questão de inserir acenos ao imaginário eslavo, fosse em trajes típicos do folclore, fosse em uma técnica de desenho emprestada à arte bizantina —o Império Romano do Oriente era tido como o ‘berço espiritual’ da cultura eslava.

Quando a libertação do jugo do Império Austro-Húngaro veio, houve quem dissesse que a magnum opus de Mucha perdera o sentido.

A entrada das tropas nazistas em Praga em 1939 e a anexação parcial da Tchecoslováquia durante a Segunda Guerra mostraram quem tinha razão em revolver o passado para tentar evitar o eterno retorno de equívocos.

Como a ‘Epopeia’ é frágil para sair da República Tcheca, será apresentada ao público paulistano por meio de uma instalação audiovisual.


ALPHONSE MUCHA: O LEGADO DA ART NOUVEAU
Quando Ter. a sáb., das 10h às 22h. Dom., das 10h às 20h. Até 15/12
Onde Centro Cultural Fiesp, av. Paulista, 1.313, Cerqueira César
Preço Grátis


Fonte: Lucas Neves   |   FSP


(JA, Set19)

domingo, 6 de janeiro de 2019

Itaú Cultural acompanha a evolução da gravura em mostra


Exposição reúne 150 obras, do século 15 até a modernidade
Van Dyck, Rembrandt, Goya, Toulouse-Lautrec, Munch. Pense num grande pintor que foi também um mestre da gravura e certamente vai encontrar uma de suas obras entre as 453 que integram a coleção do Itaú Cultural na mostra Imagens Impressas: Percurso Histórico pelas Gravuras da Coleção Itaú Cultural.
Do acervo, 150 gravuras foram selecionadas pelo curador Marcos Moraes e cobrem a história da gravura europeia desde o século 15, acompanhando a evolução da técnica, do alemão Martin Schongauer (1448-1491) ao espanhol Picasso (1881-1973).


‘Cristo Carregando a Cruz', 1475, gravura de Martin Schongauer

Montada em dois andares do Itaú Cultural, a mostra segue esse percurso cronológico, introduzindo o visitante no universo da gravura de forma didática, desde as anônimas xilogravuras do século 15 até a mais recente das técnicas gráficas, a serigrafia, passando pela gravura em metal, a litografia e os processos fotomecânicos. Duas novas aquisições da coleção destacam-se no conjunto: uma gravura de Picasso (Davi e Bethsabée, que retoma uma pintura de Cranach sobre um tema bíblico) e outra do norueguês Edward Munch (Garotas na Ponte, 1918, que retrata a musa do pintor, Aase Nørregaard).




Garotas na Ponte, 1918, gravura do norueguês Edward Munch


‘Ainda estamos estudando a coleção para identificar a autoria de algumas gravuras’, revela o curador, destacando a predominância de Doré e Daumier no acervo. Há, ainda, certas lacunas, que começam a ser corrigidas com novas aquisições, caso da litogravura de Picasso, comprada este ano, e a xilogravura de Munch, adquirida no ano passado. Ao analisar esse acervo, o curador Marcos Moraes imagina que ele foi formado para construir uma possível narrativa da história da gravura ocidental desde o século 15..


A separação por núcleos seguindo a ordem cronológica foi uma opção curatorial que permite explicar ao visitante como a função da gravura foi mudando através dos séculos, servindo para ilustrar livros e jornais no passado e ganhando autonomia nos últimos dois séculos. É o caso da gravura de Toulouse- Lautrec (1864-1901), Última Balada, no limiar da abstração e que, no entanto, replica as figuras que dominavam os cartazes do pintor feitos segundo a técnica litográfica (e com uma economia cromática franciscana).

‘Última Balada', gravura do francês Toulouse-Lautrec: traços modernos

 Se o visitante preferir começar seu percurso pelo primeiro andar, ele logo verá a gravura de Toulouse-Lautrec, anunciando os artistas do século 20 (Picasso e companhia). No mesmo andar, recuando um pouco mais, é possível ver algumas ilustrações engraçadas feitas pelo demolidor Daumier (1808-1879) para o primeiro periódico satírico publicado na França, Le Charivari. Daumier chegou a ser preso por ridicularizar reis em caricaturas, e foi pioneiro ao tratar de questões sociais (como a miséria) na conservadora imprensa da época (século 19).
Gravura de Picasso que reinventa imagem original de Lucas Cranach

Daumier também foi pintor, mas não teve a projeção de seu contemporâneo Delacroix (1798-1863), que nasceu numa família de posses (seu pai era ministro) e ia todos os dias ao Louvre estudar os renascentistas italianos. Uma das mais belas gravuras da mostra, Le Tasse Moqué Dans la Prison des Fous, foi baseada numa tela sua – e gravada por Leópold Flameng. Por vezes o nome do gravador acaba associado ao autor das gravuras, mas quase sempre é possível identificar a origem da imagem.
Há casos únicos em que se reconhece a autoria de imediato, como o das gravuras do romano Piranesi (1720-1778), famoso por suas obras que elegem a arquitetura como tema (especialmente as ruínas e os cárceres imaginários). Na mostra há também retratos de artistas ingleses (Reynolds) e paisagens francesas (Daubigny, um precursor do impressionismo). Simplesmente uma mostra encantadora.

Imagens Impressas: Percurso Histórico pelas Gravuras da Coleção Itaú Cultural.
Itaú Cultural -  Avenida Paulista 149 São Paulo-SP, CEP: 01311 000 [Estação Brigadeiro do metrô]. Tel.: (11) 2168-1777
Até 17 de fevereiro de 2019
Terça a sexta 9h às 20h [permanência até as 20h30], sábado, domingo e feriado 11h às 20h
Entrada gratuita
Livre

Fonte: Antonio Gonçalves Filho   |   OESP

(JA, Jan19)