Escultura achada em escombros é uma das obras mais famosas do mundo
A obra representa uma mulher com mais de dois metros de
altura, vestindo apenas uma túnica na cintura. Sua característica mais
marcante, além da beleza, é que seus braços estão faltando —parecem quebrados -
um deles pouco acima do cotovelo, e o outro, bem junto ao ombro.
O fazendeiro, de nome Theodoros Kendrotas, avistou primeiro
só um pedaço da Vênus, que estava inteira debaixo de escombros. Olivier
Voutier, um oficial da Marinha francesa que havia acabado de chegar à Grécia
com seu navio chamado Estafette, e que também estava cavando na região,
percebeu o movimento de Theodoros.
Olivier procurava antiguidades, e rapidamente entendeu que a
escultura encontrada era uma importante obra de arte, que certamente valeria
bastante dinheiro. ‘Ele percebeu de cara que a Vênus era coisa de um grande
artista’, assegura o historiador e crítico de arte João Spinelli, professor na USP e na Unesp.
Depois de negociações e algumas viagens, a Vênus de Milo hoje
mora no Museu do Louvre, o mais famoso de Paris, capital da França. Não há como
ter certeza sobre quem foi seu criador, mas as suspeitas são de que ela teria
sido esculpida por Alexandros de Antióquia, ou por Praxiteles, dois importantes
artistas de diferentes períodos da história.
A estimativa é que ela tenha sido produzida por volta do ano 300 a.C, o que faria
dela uma obra com mais de 2000 anos de
idade. João Spinelli explica que, nessa época, era comum que os artistas
retratassem a mitologia, e por isso existe a certeza de que esta escultura
representa uma deusa —Vênus, o nome romano para a grega Afrodite, divindade da
beleza e do amor.
Um colega do oficial Olivier Voutier, que também estava
presente quando a escultura foi encontrada, deixou um relato por escrito. Nele,
ele fala dos braços da Vênus, dizendo que sua mão direita segurava parte da
roupa, e a mão esquerda segurava uma maçã.
O professor João Spinelli diz que, mesmo que não seja
possível admirar estas partes da obra —que também perdeu parte do coque no
cabelo e o pé esquerdo—, todo mundo pode imaginá-las.
‘Uma pessoa que observa algo inacabado tem a capacidade de
completar aquela falta emocionalmente. É melhor ter a verdade faltando do que
uma mentira acrescentada’, diz ele, sobre a possibilidade de a escultura ser
restaurada com novos braços.
‘Através de fragmentos você pode imaginar como seria a beleza
daquele braço que está faltando. É preferível deixar fragmentos que você tem
certeza de que são do artista, do que acrescentar adereços que comprometam sua
qualidade’.
A artista e galerista Maria Montero também sugere um
exercício diante de obras como a Vênus de Milo. ‘Quando você olha em um museu
uma obra que foi produzida quase 400
anos antes de Cristo, tudo parece muito distante, mas é bacana para a gente
pesquisar o que acontecia naquela época’, diz.
‘Um bom exercício é pensar como vai ser daqui a 200 anos, quando alguém encontrar uma obra produzida
hoje. Que obra seria essa? Quais pistas ela traria sobre o que estamos vivendo
hoje?’, propõe. ‘A arte é uma lupa da sociedade. Pense no que você gostaria que
um arqueólogo encontrasse para falar sobre nosso período atual’.
Ainda sobre a ‘Vênus de Milo’, o professor João acredita que
ela seja a segunda obra mais visitada do Museu do Louvre, perdendo apenas para
a Mona Lisa. ‘Ela caiu no gosto do povo, foi transformada em souvenir, e já foi
reinterpretada inúmeras vezes. Virou um símbolo de feminilidade’, resume.
Isso se deve à graciosidade da escultura, explica João. ‘A
graça é uma beleza espontânea, singela, não é apelativa. A Vênus de Milo é um
perfeito exemplo deste conceito estético’, ensina.
‘Pessoas importantíssimas a estudaram, a questionaram. Obras
símbolo da graciosidade mostram mulheres lindas e elegantes, sem afetação. Não
há nelas nada que o artista tenha colocado para deixá-las mais imponentes. E a Vênus
de Milo é imponente por si só’.
Existem algumas obras de arte que pode até ser que a gente
não saiba o nome, mas que todo mundo já viu alguma vez na vida e reconhece de
longe. É o caso da ‘Mona Lisa’, por exemplo, pintada por Leonardo da Vinci, ou
de ‘O Grito’, criado por Edvard Munch.
Na última quinta-feira (8), foi comemorado o aniversário de descobrimento de uma obra dessas: a ‘Vênus de Milo’. Há 201 anos, um fazendeiro estava escolhendo boas pedras para construir um muro em sua casa, na ilha grega de Milos, quando se deparou com a hoje famosa escultura soterrada.
Fonte: Marcella Franco
| FSP
(JA, Abr21)