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terça-feira, 21 de maio de 2019

Aleijadinho, Escultor e Arquiteto




Rosto criado para representar a face de Aleijadinho

Antônio Francisco Lisboa nasceu em Vila Rica, atual Ouro Preto-MG em 1738, onde faleceu em 1814. Foi escultor, entalhador, arquiteto, carpinteiro. Personagem importante da história da arte brasileira, Aleijadinho é objeto de diversos estudos e biografias.






A visitação de suas obras é roteiro de turistas do Brasil e do exterior. Em Congonhas, Aleijadinho esculpiu os profetas e as imagens da Via Sacra. Em Ouro Preto, a igreja de São Francisco de Assis. O altar também foi entalhado pelo mestre brasileiro, em uma época em que o trabalho artístico era exclusividade dos portugueses.


Igreja São Francisco de Assis, em Ouro Preto


Igreja São Francisco de Assis, em Ouro Preto é considerada uma obra prima do barroco brasileiro. Sua construção foi iniciada em 1776 e concluída em 1794. Além de elementos do barroco, é notória a influência do estilo rococó.

Aleijadinho traçou a planta, elaborou a talha e a escultura do frontispício. Fez dois púlpitos, nos quais esculpiu figuras de santos.




Produziu também a pia batismal, as imagens de três pessoas da Santíssima Trindade e os dois anjos que adornam o altar principal. A fachada é adornada por um medalhão onde se insere a imagem de São Francisco de Assis.

Aleijadinho contribuiu enormemente para o reconhecimento e desenvolvimento da arte brasileira, criando até uma modernidade muito particular em suas obras. Seu legado o fizeram reconhecido Patrono das Artes no Brasil.


Paixão de Cristo em Congonhas


Na segunda metade do século XVIII, graças ao ouro, surgiram as ricas construções em pedra e alvenaria.

Foi nessa época, quando Minas Gerais liderava o movimento artístico da colônia, que Aleijadinho desenvolveu sua atividade de arquiteto e escultor.

Foi difícil obter o reconhecimento de seu talento, pois na época, não se perdoava a condição de mestiço. Muitos de seus trabalhos foram feitos para confrarias e irmandades de brancos.

Por conta de sua condição, não lhe foi permitido assinar nem sua obra nem os livros de registro de pagamentos.





Quando sua fama, apesar de tudo, chegou a outras cidades e sua obra se encontrava em pleno esplendor, a doença o atacou. Lepra ou sífilis, não se sabe ao certo, deformou seus pés e mãos.

Até hoje ninguém sabe qual doença teria levado Aleijadinho à morte. Nos últimos anos, os restos mortais foram exumados seis vezes em busca de respostas.

Obras e características

A maior parte das obras de Aleijadinho tem como tema central a religiosidade. As imagens sacras que produziu se caracterizam pela cores, leveza, simplicidade e dinamismo.




Grande parte de sua obra encontra-se nas cidades mineiras de Ouro Preto (antiga Vila Rica), Tiradentes, São João Del Rei, Mariana, Sabará e Congonhas do Campo.




O conjunto conhecido como os ‘doze profetas’ foi produzido entre os anos de 1794 a 1804. Aleijadinho representou Amós, Abdias, Jonas, Baruque, Isaías, Daniel, Jeremias, Oseias, Ezequiel, Joel, Habacuque e Naum.

Assim, o adro do Santuário, em forma de terraço, é ornado por 12 estátuas dos profetas um pouco maiores que o tamanho natural. As formas imitam os trajes da época dos profetas, segundo as gravuras bíblicas.

As estátuas dos profetas foram feitas de pedra-sabão, abundante na região do ouro. Esse material foi largamente utilizado por Aleijadinho também em umbrais e medalhões de frontispícios.




Fonte: Patricia Romanello Guedes Wertheimer   |  Agenda Arte e Cultura



(JA, Mai19)



quarta-feira, 13 de março de 2019

Exposição apresenta iconografia de São Francisco de Assis por mestres italianos



Com seleção de 18 obras, exposição que chega a São Paulo destaca as representações de São Francisco de Assis por artistas italianos

Acervo Pinacoteca Civica, Comune di Ascoli Piceno (Itália)

Um dos santos mais presentes na iconografia católica é tema de nova exposição que chega à cidade.  ‘São Francisco de Assis na Arte de Mestres Italianos’ – que já passou por museus de Belo Horizonte e Rio de Janeiro – reúne 18 obras datadas dos séculos 15, 16 e 17, vindas, em sua maioria, de coleções públicas italianas.

Diretor da Pinacoteca Civica Di Ascoli e curador da mostra (ao lado do historiador da arte Giovanni Morello), Stefano Papetti atribui o grande número de representações de São Francisco ao entendimento que os franciscanos tiveram, desde cedo, sobre o poder das imagens na difusão da biografia e, sobretudo, dos milagres do santo.

Assim, segundo ele, 'a partir de Giotto, os principais artistas italianos e europeus o retrataram destacando suas principais qualidades morais – pacifismo, amor pela natureza, respeito ao próximo'.

Acompanhando os diferentes momentos da trajetória de São Francisco, a exposição é dividida em três núcleos: ‘Imagens’, ‘Os Estigmas’ e ‘Conversas Sagradas’. As seções contemplam desde os primeiros retratos de suas privações, nos quais aparece como uma figura franzina, até representações suas como santo merecedor de devoção, associado à Virgem Maria e a outros nomes sagrados.

Do realismo da Renascença em Tiziano, passando pelo Barroco de Guido Reni e Guercino, até obras ligadas à Reforma Católica, como as de Cigoli e Andrea Lilli, o curador aponta que a mostra ajuda na compreensão de como sua figura foi motivo de interpretações ligadas a diferentes correntes artísticas. ‘Sem, entretanto, trair a mensagem de paz, amor universal, atenção às criaturas e humildade que marcaram seu caminho’.

Além do conjunto de pinturas, a mostra contará com uma sala de realidade virtual na qual será possível ‘caminhar’ pela Basílica Superior de Assis, que guarda afrescos com cenas da vida de São Francisco assinados por Giotto.



‘São Francisco de Assis na Arte de Mestres Italianos’
ONDE: MAB-Faap. -  R. Alagoas, 903, Higienópolis, Tel.: (11) 3662-7198
QUANDO: 10h/19h (sáb., dom. e fer., 10h/18h; fecha 3ª).  Até 12/4
QUANTO: Grátis




Fonte: Júlia Correa   |   ESP


(JA, Mar19)


segunda-feira, 6 de agosto de 2018

Santo milagreiro


Uma estupenda mostra de mestres italianos, com o grande Ticiano à frente, ilustra as razões da popularidade e da eterna atualidade de São Francisco de Assis


Imitação de cristo - O personagem com o anjo, por Orazio Gentileschi: depois da Virgem e de Jesus, só dá ele


Pai dos pobres - Francisco, em obra do quattrocento, de Antoniazzo Romano (1467): santo ‘antenado’


Notório pela humildade inquebrantável, São Francisco de Assis (1182-1226) não endossava a opinião que os outros tinham sobre sua aparência. Para os seguidores, o santo que renovou o cristianismo com sua opção radical pelos pobres sintetizaria a pureza da fé nos traços formosos de sua face. Mas Francisco, consciente de seu rosto fino e inexpressivo, auto definia-se como um ‘franguinho preto’. A posteridade não avalizou a modéstia franciscana: desde sua morte, na Itália do século XIII, o franguinho tornou-se um poderoso emblema católico, como se atesta em São Francisco de Assis na Arte de Mestres Italianos, que estreia na quarta-feira 8 na Casa Fiat de Cultura, em Belo Horizonte, e aportará em outubro no Museu Nacional de Belas Artes, no Rio.
Com vinte obras que vão do quattrocento renascentista às visões estupefacientes do barroco, passando por uma tela de quase 3 metros de altura do mestre da escola veneziana Ticiano Vecellio, o acervo resume a força do santo como inspiração para grandes pintores. Como estima o italiano Stefano Papetti, um dos curadores: ‘Depois de Cristo e da Virgem, nenhuma figura cristã foi tão celebrada em imagens’. A mostra é a versão ligeiramente reduzida de outra exibida em 2016, em Ascoli Piceno, cidadezinha italiana onde Francisco pregou há oito séculos, e em cuja igreja se encontra a obra de Ticiano. A falta de ineditismo não afeta o essencial: quando um conjunto tão estupendo de arte italiana vem ao Brasil, só resta correr para a fila do museu.

Penitência – ‘Êxtase’ (século XVII), de Cesare Fracanzano: sofrer é viver

 A vida simples e a pregação acessível de Francisco sempre fizeram dele um dos santos mais populares, e hoje seu misticismo pé no chão parece ter ganhado atualidade. Não é fortuito que ele dê nome ao papa de turno: Francisco é o santo ‘antenado’ com a galera que professa a militância pela ecologia e pelos direitos dos animais, exercita o desapego por meio de hábitos colaborativos e prega a tolerância. ‘Seu estilo de vida continua moderno’, diz o curador.

Família - Obra de dell’Amatrice: São Sebastião, Santo Antônio, a Virgem com Jesus, São Francisco e São Roque


A aura de santo ‘gente como a gente’ se completa com fraquezas e padecimentos humanos. Filho de um comerciante rico, Francisco foi o equivalente medieval do playboy­ostentação: esbanjava dinheiro em farras, e trajava os últimos babados da moda. A certa altura, porém, os prazeres mundanos perderam o sentido. Em crise existencial, ele penou até a conversão. No momento da ruptura, entregou suas roupas ao pai — que o acusava de torrar a herança com os pobres — e saiu nu em meio a uma multidão. Mais tarde, quando os romanos se mostraram insensíveis à sua pregação, pôs-se a evangelizar pássaros, que se reuniriam só para ouvi-lo — o que espalhou a fama de santo.
As duas cenas foram imortalizadas em afrescos que adornam a Basílica de Assis, onde ele está sepultado. São obras que não saem de suas paredes de origem — mas o espectador brasileiro poderá, como consolo, fazer um tour virtual pela igreja. A riqueza da Basílica de Assis expõe outra razão de sua popularidade: a ordem religiosa que ele criou — a dos frades franciscanos — foi desde sempre sagaz em promover a imagem de seu primeiro líder por meio da arte.

Grandeza - A tela de Ticiano: cena poderosa dos estigmas enviados por raios


Além do feito de reaproximar a Igreja do povo ao abraçar a ‘Senhora Pobreza’, Francisco tinha mais um atrativo para a exploração visual: foi o primeiro santo a ostentar os chamados estigmas. Seu corpo, supostamente, carregava as cinco chagas do Cristo crucificado: os cravos nos pés e nas mãos e a ferida no lado direito do tórax. Anunciado após sua morte, o milagre foi visto a princípio com desconfiança, inclusive pelos artistas. ‘Pintores relutavam em pintar os estigmas e, se os pintavam, logo eram apagados por fiéis desconhecidos’, relata uma biógrafa moderna, Chiara Frugoni (para quem os estigmas seriam sinais de uma das várias doenças que possivelmente o levaram à morte: a hanseníase). Com o tempo, porém, a Igreja deu um jeitinho de condensar os relatos na cena de irresistível pungência em que o santo recebe as marcas de raios disparados por Cristo.

Fé - ‘São Francisco em Oração’, de Annibale Carracci: glória barroca

A mostra ilustra três variantes da representação de São Francisco. Ele surge acompanhado de outros santos: na pequena mas singela obra do mestre do século XVI conhecido como Cola dell’Amatrice, está ao lado da Virgem com o Menino Jesus, São Sebastião, São Roque e Santo Antônio. Em outras, há o Francisco sofredor e penitente — tema comum desde seus primeiros retratos até a explosão dramática do barroco, como no dilacerante Êxtase, de Cesare Fracanzano. O motivo mais recorrente são os estigmas. Em um magnífico óleo do também barroco Orazio Gentileschi, Francisco tem seu corpo inerte abraçado por um anjo, igualando-se ao próprio Cristo apeado da cruz. Por fim, há a grande obra do grande Ticiano. Feito pelo pintor aos 80 anos, usando os dedos em lugar de pincéis em alguns pontos, o painel é um milagre da restauração: exames de raios x mostram que por baixo da tinta há buracos causados pelo fogo de velas, fruto de um acidente séculos atrás. Pintor mais careiro de seu tempo, Ticiano cobrou uma nota para fazer a encomenda para um figurão que aparece todo pomposo no lado direito da pintura. Santa ironia: o artista ficou mais rico à custa do pai dos pobres.





Fonte: Marcelo Marthe   |   Revista Veja


(JA, Ago18)