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sexta-feira, 13 de março de 2020

O mergulho no Cosmos, de Sandra Cinto, no Itaú Cultural




‘O mais importante e bonito do mundo é isso. Que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas, mas que elas vão sempre mudando. Afinam e desafinam’.   (Guimarães Rosa)


Nós somos poeira de estrela, todos nós somos Luz, 2020


Sandra Cinto nos propõe um mergulho no cosmos, em todos os nossos silêncios, inquietudes e no nosso eu mais íntimo. Convida-nos a desafinar e a acontecer. Para ela, que começou desenhando céus bem pequenos no início da carreira, levá-lo agora à grande escala é poder colocar o espectador nessa nuvem, nesse sagrado.

 ‘Poder, com a arte, criar outros espaços para o outro e conectar o espectador com um outro eu, é mágico’, pontua ela, enquanto devaneamos sobre esse vazio que é cheio de possibilidades, na montagem de sua primeira panorâmica de 30 anos de carreira –  Sandra Cinto: das Ideias na Cabeça aos Olhos no céu.


Construção, 2006


Todo o percurso é cheio de possibilidades e percorre as camadas vivas da artista, como uma grande dança composta por desenhos, pinturas, objetos, fotografias, documentos e vídeos. 

Como uma proposta curatorial de Paulo Herkenhoff, a mostra é  dividida em três tempos denominados com diferentes fases da água: Chuva, Garoa e Neblina.  Na chuva, o semear, na Garoa, o materializar e na Neblina, o representar o cosmos. 

Com seus tons transitórios entre azuis e cinzas, as nuvens tempestuosas reverenciam as ondas rebeldes anunciando a imensidão da natureza, salpicadas por uma poeira cósmica dourada.


Noites de esperança, 2006


‘As águas violentas, as águas do mar, com suas ondas na fúria e numa raiva animal, pisoteiam corpos como uma raiva humana’, disse Gaston Bachelard em seu livro ‘Água e os sonhos’. Nas paisagens de Cinto, feitas para nos perdermos nelas e em nós mesmos, somos pisoteados entre o respiro e a apreensão da beleza.


Sem título, 2013


Telas em branco como partituras prestes a acontecer são preenchidas de forma lenta e monótona, pelo desenhar de Sandra, por paisagens profundas. Uma linha atrás da outra, como um processo meditativo, sem pressa, com suas próprias referências ao budismo.

Para ela, essa exposição é um congraçamento de seus afetos. É dela e de todas as pessoas (e coisas) que permearam seu pensar, seu criar e seu ser. Em ‘Chuva’, no primeiro andar, ela nos presenteia com seus blocos de nota e todo seu processo criativo e faz uma homenagem à educação (tão fundamental nesses tempos sombrios). Afinal, em seu DNA, ela carrega o ensinar e compartilhar o que vê, sabe e aprende junto de sua carreira artística. Coloca a escola como um grande sol que ilumina e a Universidade como um telescópio invisível ‘A escola é o lugar mais lindo na vida de uma pessoa’, afirma. Convidar outros artistas para habitarem essa chuva com ela é um jeito de mostrar que não estamos sozinhos e somos melhores quando estamos juntos, segundo a artista.


Sem título, 2013


Junto com seu parceiro de vida, o também artista Albano Afonso, ela dirige o Ateliê Fidalga, espaço que usa o modelo horizontal de aprendizado, onde todo mundo aprende e ensina ao mesmo tempo, há 22 anos. Aliás, enquanto conversávamos no andar ‘Neblina’, de sua exposição, Albano era quem estava na redoma de um azul profundo do universo com uma caneta branca na mão pontilhando estrelas no céu de Cinto (ok, posso dizer que também pontilhei algumas). A ideia é mesmo ser uma obra colaborativa, me contou.


Nós somos poeira de estrela, todos nós somos Luz, 2020


No segundo andar, Garoa, ocupado por seus delicados desenhos iniciais e primeiras pinturas de céus nuvens e faróis, o espectador se deleita no traço fino da artista, como uma grande coreografia que ocupa todo o espaço. As  referências musicais, presentes em muitas de suas obras, aparecem em partituras desenhadas em uma sala acústica abrigando instrumentos sem corda, propondo o silêncio.

Não importa em qual parte da exposição você esteja, será regado(a) de afetos. ‘Não há educação sem amor. Não há arte sem amor. Hoje, falar do amor é um jeito de produzir um antídoto a tudo que estamos vivendo’, afirma Cinto.



Partitura (Instalação), 2014


Os silêncios, as pausas e os hiatos são notórios nessa panorâmica. Tudo se percebe, se sente, se atravessa. Todas suas obras são imersivas e monumentais, mas com um caráter introspectivo impressionante.

Suas obras carregam o microcosmos no macrocosmos. São pequenos universos dentro de toda grandiosidade. A experiência de ver uma de suas obras tem dois (ou mais) momentos. Enxergar o todo ou se aproximar e observar os pequenos mundos que acontecem em cada uma delas. Poder estar atento a isso e encontrar uma redoma que te permita esse respiro é o mais precioso da arte. Um hiato no ruído do que nos rodeia e da sociedade em que habitamos. É o que ela propõe junto ao cosmos.





Sandra Cinto: das ideias na cabeça aos olhos no céu

Abertura: 11 de março, 20h
Visitação: 12 de março a 3 de maio
Avenida Paulista, 149




Fonte:  Cassiana Der Haroutiounian  |  FSP



(JA, Mar20)



quinta-feira, 5 de março de 2020

Exposição revela como Rino Levi fez São Paulo se transmutar em metrópole


Mostra no Itaú Cultural dedicada ao arquiteto, pioneiro do modernismo, tem 200 objetos e até realidade virtual




Cinemas monumentais, com mais de 3000 lugares. Apartamentos de quase 400 metros quadrados e janelas do chão ao teto. Fachadas com afrescos de Di Cavalcanti e painéis de Burle Marx.

A São Paulo idealizada pelo arquiteto Rino Levi na primeira metade do século 20 era bem diferente daquela erguida hoje, em que poucas janelas permitem ver o horizonte —e emolduram algo que não o muro do prédio vizinho.

Ainda assim, suas criações ajudaram a formar a cidade que conhecemos. É o que mostra a ‘Ocupação Rino Levi’, que acaba de entrar em cartaz no Itaú Cultural.
Com cerca de 200 itens, entre fotografias, plantas, croquis e anotações, a maioria do acervo da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, a FAU, ela ilustra o papel do arquiteto na transformação de São Paulo em metrópole.

Ou melhor, os papéis. Levi não só pensou edifícios para atender serviços e formas de lazer nascentes na época, como criou prédios emblemáticos, que ainda hoje hipnotizam os pedestres nas calçadas —um deles, hoje sede do Itaú, fica a dez quadras da mostra.

A maioria dessas criações foi produzida sob encomenda para a iniciativa privada.


Arquiteto Rino Levi



Um dos organizadores da exposição, a professora Joana Mello, da FAU, explica que isso, aliado ao fato de que Levi não era de esquerda, como a maioria dos arquitetos modernos, levou seu nome a ser esquecido na ditadura militar. O resgate de sua obra só aconteceu na redemocratização, a partir da década de 1980.

A despeito das divergências políticas, Levi tem muitas semelhanças com seus contemporâneos, uma lista que engloba Gregori Warchavchik, Lina Bo Bardi e Vilanova Artigas.

Como eles, o arquiteto prefere linhas que se integram à paisagem. Seus trabalhos usam elementos que filtram a luz e facilitam a circulação de ar, como cobogós e brise-soleils. E, tal qual seus pares, ele acredita no que Mello chama de ‘síntese das artes’, a fusão da arquitetura com o paisagismo e as artes visuais.

A funcionalidade é outro princípio que ele partilha com os demais modernos. Os hospitais que criou, como o Antônio Camargo, do Instituto Central do Câncer, e a maternidade do hospital da USP, são estruturados para dificultar a disseminação de doenças. Suas cozinhas têm janelas sobre a pia e acima dos armários, para aproveitar a luz natural e ventilar o espaço.

Até os painéis que decoravam o interior do UFA Palácio, cinema na avenida São João depois rebatizado Art Palácio, tinham fins acústicos, conta Mello. A solução foi tão bem-sucedida que Levi emendou projetos de outros três cinemas, o Piratininga, o Ipiranga e o Universo. O último pode ser visitado numa experiência em realidade virtual.


Interior do cinema Ufa Palácio, na avenida São João, é retratado em fotografia exibida na Ocupação Rino Levi, no Itaú Cultural


Talvez mais do que seus pares, porém, Levi elevava a natureza a protagonista das suas obras. Nas residências de Castor Delgado Perez, hoje a galeria de arte Luciana Brito, e de Olivo Gomes, em São José dos Campos, no interior paulista, grandes vidraças trazem para dentro o verde dos arredores.

Afinal, a convivência com as plantas ‘dignifica e eleva espiritualmente o homem’, escreveu o arquiteto. Talvez por isso, uma de suas parcerias mais duradouras foi com o paisagista Burle Marx. Era comum que ele acompanhasse o amigo em expedições botânicas pelo país. Foi numa dessas viagens, à procura de bromélias, que ele morreu, aos 63 anos, em 1965.



Centro Cívico de Santo André


A exposição termina com o projeto de Levi para o Plano Piloto de Brasília. Em sua visão, em vez das construções baixas do vencedor Lucio Costa, estariam prédios exíguos de 300 metros de altura —a mesma medida da torre Eiffel. Cada um deles abrigaria corredores com lojas e serviços.

‘Levi estava preocupado em desenhar uma cidade, e o Lucio, uma capital’, diz Mello.


Ocupação Rino Levi
Itaú Cultural, Av. Paulista, 149, São Paulo-SP
Ter. a Sex., das 90h às 20h. Sab. E dom., das 11h às 20h
Até 12/04
Livre
Grátis




Fonte:  Clara Balbi  |  FSP



(JA, Mar20)



domingo, 1 de dezembro de 2019

Franz Weissmann: o Vazio como Forma






O escultor, pintor e desenhista Franz Weissmann, 1911-2005, ganha uma exposição de três andares no Itaú Cultural. Com curadoria de Felipe Scovino, ‘Franz Weissmann: o Vazio como Forma’ traz um olhar panorâmico sobre a produção do artista, apresentando várias fases de sua criação, e abrange, além de esculturas, 50 desenhos inéditos. Como diz o texto curatorial, a mostra ‘é um passeio por tamanhos, formas e cores’.


Franz Joseph Weissmann (Knittelfeld, Áustria 1911 - Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2005)



Escultor, desenhista, pintor e professor. Por meio da aplicação de técnicas do figurativismo e do construtivismo – movimento do qual foi um dos precursores no Brasil –, consolida-se como importante criador de esculturas em espaços públicos do país. Sua obra tem como traços característicos os contornos de espaços vazados e a valorização das formas geométricas.

Após chegar ao Brasil em 1921, a família de Weissmann se estabelece, inicialmente, no interior de São Paulo. Em 1927, ele se muda para a capital do estado, onde leciona português a estrangeiros e entra em contato com as artes plásticas em visitas a exposições.

Em 1929, a família se transfere para o Rio de Janeiro e ele começa a frequentar o curso preparatório para a Escola Politécnica. Decide ingressar na Escola Nacional de Belas Artes (Enba) em 1939.

Franz Weissmann frequenta a Escola de Belas Artes durante dois anos, passa pelos cursos de arquitetura, pintura, desenho e escultura, mas não se adapta ao ensino acadêmico, e acaba expulso por não se alinhar com as práticas da instituição. ‘Academia é academia, você tem que copiar’, comenta. ‘Eu não sabia copiar, então [o diretor] me expulsou e escondeu os meus trabalhos para não corromper os alunos’, lembra o artista, que, depois disso, envereda pela escultura e se torna um dos grandes nomes do movimento neoconcreto.

Atraído pela tridimensionalidade e pela possibilidade de criar espaços, ocupados ou vazios, Weissmann se dedica à criação de suas esculturas geométricas, de formas econômicas e cores fortes. ‘Eu até cheguei a pintar e furava a tela para procurar um outro espaço. Acharam um absurdo, mas eu tive a necessidade de criar o terceiro espaço, que a pintura não me deu’, conta. Para Weissmann, as obras de arte devem estar acessíveis, ocupando espaços na cidade e mantendo um diálogo direto com o público
.
De 1942 a 1944, estuda desenho, escultura, modelagem e fundição no ateliê do escultor polonês August Zamoyski, 1893-1970, com quem aprende as técnicas tradicionais do campo.

Entre o fim de 1944 e o início de 1945, como forma de ‘retiro voluntário’ para se libertar ‘do peso acadêmico’, Weissmann transfere-se para Belo Horizonte, cidade onde seu irmão, Karl, residia desde 1932. Na capital mineira, ele ministra aulas particulares de desenho e escultura, bem como continua com trabalhos que seguem a linha figurativa, os quais tendem a uma crescente simplificação.
Em 1946, é convidado a realizar uma exposição, a sua primeira individual, no diretório dos estudantes da Enba, no Rio de Janeiro.

Dois anos depois, a convite de Guignard, 1896-1962, começa a dar aulas de modelo vivo, modelagem e escultura na primeiro escola de arte moderna de Belo Horizonte, a Escola do Parque – a qual, posteriormente receberia o nome de Escola Guignard –, onde permaneceu até 1956. Entre seus alunos, contam-se Amilcar de Castro, 1920-2002, Farnese de Andrade, 1926-1996 e Mary Vieira, 1927-2001.




Numa busca pela essência da figura, o artista realiza esculturas com formas cada vez mais geometrizantes, nas quais o espaço vazado já aparece como um elemento definidor. No decorrer da carreira, o ‘vazio ativo’ – como o artista costuma chamar tais espaços –, torna-se uma obsessão. É do jogo entre o plano e as suas articulações com o elemento vazado que nasce a tridimensionalidade aberta para o mundo das esculturas de Weissmann.

A partir da década de 1950, ele começa a abandonar o estilo figurativo ao passo que, gradualmente, elabora um trabalho de cunho construtivista, com a valorização das formas geométricas e a submissão delas a recortes e dobraduras, por meio do uso de chapas de ferro, fios de aço, alumínio em verga ou folha. As primeiras experiências construtivistas, determinantes para o desenvolvimento e a consolidação dessa estética no Brasil, culminam na obra Cubo Vazado (1951), um dos marcos iniciais do estilo.




Em 1954, Weissmann vence diversos concursos de projetos para esculturas em espaços públicos. Destes, apenas o Monumento à Liberdade de Expressão do Pensamento, encomendado pela Associação das Emissoras de São Paulo, com patrocínio da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), é edificado na Quinta da Boa Vista, no Rio de Janeiro. O monumento, no entanto, é destruído em 1962, em virtude de ‘reformas urbanísticas’ no local onde se encontrava.

Ainda nos anos 1950, de volta ao Rio de Janeiro, ele integra o Grupo Frente, importante referência do construtivismo no Brasil, formado por artistas como Ivan Serpa, 1923-1973, Lygia Clark, 1920-1988, Décio Vieira, 1922-1988, e Aluísio Carvão, 1920-2001. Nesse período, ele realiza experiências com fios de aço, na série de ‘esculturas lineares’, e com as formas modulares, procedimentos que eliminam qualquer tipo de base para as esculturas.

Em 1957, a polícia mineira resolve transformar o ateliê que ele mantinha no subsolo da Escola do Parque Municipal em uma penitenciária. Sem que o artista estivesse presente no momento, todos os estudos feitos durante os anos em Belo Horizonte foram jogados fora. Com isso, quase todo o trabalho das décadas de 1940 e 1950 é destruído.

Após participação na Exposição Nacional de Arte Concreta, em 1957, ele recebe o prêmio de viagem ao exterior com a obra Torre no 8º Salão Nacional de Arte Moderna (SNAM), em 1958. No ano seguinte, junto a outros artistas, funda o Grupo Neoconcreto e assina o Manifesto Neoconcreto. No mesmo ano, depois de uma viagem com a família pelo  Extremo Oriente  – em razão do interesse em conhecer melhor a filosofia oriental –, estabelece-se na Europa, onde fica até o final de 1964. 




Os trabalhos realizados nesse período, conhecidos como amassados, abandonam momentaneamente a construção geométrica, o que é apontado pelos críticos como um ‘interregno expressivo’ em sua pesquisa, quando a preocupação com a materialidade toma o primeiro plano. Um exemplo é a série Amassados, elaborada com chapas de zinco ou alumínio trabalhadas a martelo, porrete e instrumentos cortantes, alinhando-se temporariamente ao informalismo.


Praça da Sé – São Paulo


Volta ao Brasil em 1965, momento em que retoma a aproximação com as vertentes construtivistas e reinicia as suas experimentações com formas geométricas e modulares. Em 1967, ele apresenta Arapuca na 9ª Bienal Internacional de São Paulo, peça na qual a cor, como elemento determinante do espaço da escultura, se faz presente pela primeira vez. A partir de então, serão raras as esculturas sem aplicação de cor.

Nos anos de 1970, recebe o prêmio de melhor escultor da Associação Paulista de Críticos de Artes (APCA), participa da Bienal Internacional de Escultura ao Ar Livre – em Antuérpia, Bélgica – e da Bienal de Veneza. Ao longo do tempo, mantém-se fiel ao seu processo de criação, sobretudo o trabalho direto com o material e a manufatura de modelos com cortes e dobraduras, os quais são posteriormente ampliados numa metalúrgica.

Ao priorizar a exploração dos limites da forma e a realização de esculturas que dialogam com o público, Franz Weissmann torna-se um importante personagem do movimento construtivista no Brasil.








Franz Weissmann: o Vazio como Forma
Itaú Cultural - Avenida Paulista 149 São Paulo SP 01311 000 [estação Brigadeiro do metrô] Fone: 11 2168 1777
De 27/11 a 09/02/2020




(JA, Dez19)
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sexta-feira, 29 de março de 2019

Mostra ‘Consciência cibernética’ debate o avanço da inteligência artificial



Entre os dias 27 de março e 19 de maio de 2019, o Itaú Cultural apresenta uma mostra onde o público pode vivenciar um tempo futuro, em que a inteligência humana se mescla à artificial e à computação quântica, em convivência natural.

É o que indica ‘Consciência Cibernética [?] Horizonte Quântico’, composta de nove obras assinadas por oito artistas internacionais e do Brasil: o austríaco Thomas Feurstein, a brasileira Rejane Cantoni, o britânico Robin Baumgarten, a francesa Justine Emard, os norte-americanos David Bowen e Lynn Hershman Leeson, os suíços André e Michel Décosterd, que formam a dupla Cod.Act, e o turco Memo Akten.
A programação da mostra conta ainda com um seminário nos dias 28 e 29 de março de 2019 e um curso a ser realizado em maio. A entrada é livre e gratuita.


Co(AI)xistence (2017, 12 mins), de Justine Emard, França


Com conceito elaborado pelo gerente do Núcleo de Inovação do Itaú Cultural, Marcos Cuzziol, pesquisa de Rejane Cantoni e projeto expográfico de Maria Stella Tedesco, em coautoria com Renata Fernandes, a mostra ocupa os três andares do espaço expositivo do instituto em uma demonstração artística digna de ficção científica.

Passeando por estes pisos, o público tanto pode interagir com uma agente da web, artificialmente inteligente, quanto observar uma espécie de cobra píton gigante fechada em si mesma, que se contorce e emite sons. Ele tem a possibilidade, ainda, de mergulhar no mundo interior de uma rede neural artificial, que capta o mundo dos humanos, ou apreciar o concerto de um piano sem pianista, que executa uma partitura a partir da passagem das nuvens naquele exato momento.

O visitante também encontra um vídeo performance em que uma robô-mulher aprende a dançar com um homem humano, uma instalação cibernética que simula comportamentos, além de duas criaturas, na forma de lâmpadas cirúrgicas, que observam e debatem este mundo, muitas vezes horrorizadas, e um jogo que apresenta simulações quânticas animadas.

‘A inteligência artificial e a computação quântica são duas linhas de tecnologias que se desenvolvem rapidamente’, observa Cuzziol. ‘Elas vão além da mera ampliação de capacidades humanas, pois uma nos leva a questionar o que é de fato a inteligência, a consciência, e a outra questiona nossa própria realidade’, continua. ‘Parece inevitável que essas duas tecnologias se encontrem em um futuro próximo, o que torna urgente uma reflexão sobre elas’, completa.

Para dar corpo a esta reflexão, nos dias 28 e 29 (quinta-feira e sexta-feira), o instituto promove na Sala Itaú Cultural o ‘Seminário Consciência Cibernética [?] Horizonte Quântico 2019’. Em quatro mesas – duas por dia –, ele reúne especialistas, pesquisadores e artistas brasileiros e internacionais ligados à arte sob o ponto de vista da inteligência artificial, da computação quântica e da poética.

A mostra e o seminário se inserem na linha propositiva das bienais Emoção Art.Ficial e das exposições de arte e tecnologia apresentadas pelo Itaú Cultural desde 1997. Em 2017, o instituto apresentou ‘Consciência Cibernética [?]’, que teve como mote o debate a respeito da evolução das máquinas e de seus avanços em relação ao cérebro humano.

Um passo adiante da última exposição, ‘Consciência Cibernética [?] Horizonte Quântico’ propõe um olhar artístico para esse dilema, trazendo obras que, em diferentes aspectos, exploram características não muito conhecidas do processamento de dados, digital ou não. São sistemas que aprendem, se auto estabilizam, desenvolvem soluções não imaginadas por seus criadores, conversam em linguagem natural e fazem escolhas estéticas. Nenhuma das obras apresentadas no instituto têm consciência, mas cada uma delas demonstra características importantes que, em um futuro próximo, podem fazer parte de máquinas cibernéticas conscientes.


Cloud Piano (2014), de David Bowen, Estados Unidos


A mostra

Cinco obras dividem o piso 1:

Agent Ruby, da norte-americana Lynn Hershman Leeson, é dotada de inteligência artificial, tem rosto de mulher, expressões variadas e faz parte, simultaneamente, dos mundos real e virtual em interação com o público.

Outra delas é Deep Meditations: A brief history of almost everything in 60 minutes, do turco Memo Akten. Esta obra é um convite para uma meditação e reflexão sobre a vida e a experiência humana subjetiva. Ela abre caminho para o observador explorar o mundo interior de uma rede neural artificial treinada, que capta o mundo real em suas nuances artísticas, a vida, o amor, os rituais de fé.

A obra Learning to see: Gloomy Sunday também é de Akten. Este trabalho explora uma possível interação homem-máquina em colaboração criativa. Trata-se de uma rede neural artificial que olha o mundo real por meio das câmeras e procura dar sentido ao que vê, inspirada pelo córtex visual humano. Ao observar um emaranhado de fios, por exemplo, ela é capaz de transformar o que vê em cenas bucólicas da natureza, reproduzindo cenas oníricas e poéticas.

Ainda neste andar encontra-se a obra Borgy & Bes, do austríaco Thomas Feuerstein. Nela, duas lâmpadas cirúrgicas transformadas em criaturas cibernéticas robóticas se movem, falam, sussurram, discutem entre si. Borgy (de Cyborg) e Bes (de Os Demônios, de F. M. Dostoiévski) discutem dados on-line de redes sociais e feeds de notícias e os executam na linguagem do escritor russo. Elas não interagem com as pessoas, porém questionam e interpretam informações e notícias para ter uma ideia do que é este mundo. A obra, foi produzida pelo laboratório Art&Science de Moscou, Rússia, e tem como parceiro o Kaspersky Lab.

Em Cloud Piano, uma instalação do também norte-americano David Bowen, a música literalmente dá o tom. Há um piano de cauda, mas não há pianista. Em seu lugar, há uma câmera apontada para o céu, que captura em vídeo a imagem das nuvens, e um software personalizado, que usa estas imagens registradas em tempo real, articulado com um dispositivo robótico que pressiona as teclas no piano. É como se as nuvens tocassem essas teclas à medida que se deslocam no céu e mudam de forma para emitir o som.


Learning to see: Gloomy Sunday (2017), de Memo Akten


Descendo, estão a πTon/2 (Pyton), da dupla de suíços Cod.Act (André e Michel Décosterd), Co(AI)xistence, da francesa Justine Emard, e Quantum Garden, do britânico Robin Baumgarten.

A primeira, que tem apoio de Faulhaber Drive Systems, é uma instalação sonora de 20min, com intervalos para manutenção. Ela é composta de um anel flexível fechado em si mesmo e acionado por motores de torção localizados dentro de seu corpo. Torcendo-se e virando para si mesmo, πTon se movimenta de maneira natural e imprevisível emitindo um som cuja origem é de clarinete baixo. Como uma cobra, ela se move devagar, suas contrações e dilatações produzem sons sensuais. Quando os movimentos se tornam rápidos, nervosos e brutais, emite um som ácido e agudo.

No vídeo performance Co(AI)xistence, a robô Alter é governada por redes neurais e interage com o artista japonês de dança Mirai Moriyama. Por meio de sons e movimentos, ela aprende a expressão corporal dele e tenta reproduzi-la. A partir do dialogo estabelecido com Alter, o artista realiza uma performance de dança e a provoca. Toda a interação entre os dois foi captada pela autora da obra Justine Emard no vídeo em exibição na mostra.

Quantum Garden é um jogo, uma instalação gráfica de luz interativa, que o artista britânico de jogos Robin Baumgarten desenvolveu em colaboração com uma equipe de físicos quânticos da Universidade de Turku e as escolas de Ciências e de Artes, Design e Arquitetura da Universidade Aalto, ambas da Finlândia, e patrocínio do Centro de Engenharia Quântica (CQE).

Todo o andar -2 é ocupado por QUANTUM, obra da brasileira Rejane Cantoni, uma instalação imersiva e interativa desenvolvida com pesquisa de Marcos Cuzziol, produção da equipe Itaú Cultural, desenvolvimento de software de Kenzo Okamura e Tuany Pinheiro, também integrantes do Núcleo de Inovação do instituto, e design do espaço ST Arquitetura.

Ela é composta de um dispositivo ótico; computadores; software customizado, sensores e sistema de áudio. Tem uma grande estrutura feita de 15 módulos de madeira, alinhados e conectados entre si formando uma armação tubular elipsoidal de 4,15 metros largura x 2,27 metros de altura x 15,24 metros de comprimento.

QUANTUM funciona como um simulador de comportamentos, que permite, dentro de certos limites, uma experiência imersiva e interativa na realidade quântica. Em seu interior, o teto, o piso e uma lateral são espelhados; a outra lateral funciona como tela de projeção, que exibe imagens geradas por computadores. Os espelhos refletem as imagens computacionais e as interações dos usuários. Por meio de sensores infravermelhos, a presença do público gera silhuetas digitais ao ativar mudanças no estado do sistema, nas suas telas de projeção e na dimensão sonora.

Curso

Em maio, o instituto promove um curso com noções de física quântica e sobre os conceitos da mostra. De 7 a 10 daquele mês, o curso ‘Consciência Cibernética [?] Horizonte Quântico’ parte de questões como a forma que a exposição afeta os visitantes e como o tema explorado pode atravessar o cotidiano das pessoas.

São dois módulos de discussão. Um é ministrado pelo doutor em física, pelo Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas, Gabriel Guerrer, no qual aborda os limites da física quântica. O outro, se foca nos conceitos da exposição e tem como ministrantes Rejane Cantoni e Marcos Cuzziol. São 70 vagas para as aulas que vão das 19h às 22h, por meio de inscrições, que serão abertas de 15 a 29 de abril.


Quantum Garden (2018), Robin Baumgarten, Reino Unido


Serviço

Exposição: ‘Consciência Cibernética [?] Horizonte Quântico’, mostra coletiva.
Local: Itaú Cultural (pisos 1M, 1S e 2S) | Avenida Paulista, 149 - São Paulo (próximo à estação Brigadeiro do Metrô).
Datas e horários: abertura dia 27 de março, quarta-feira, às 20h. Em cartaz até 19 de maio de 2019. De terça a sexta-feira, das 9h às 20h (permanência até as 20h30); sábado, domingo e feriado, das 11h às 20h.
Entrada livre e gratuita.








Fonte: INFOARTsp



(JA, Mar19)