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terça-feira, 2 de abril de 2019

As Pinturas Mais Famosas da História



Picasso, Van Gogh, Monet e Gustav Klimt são alguns dos autores das obras mais famosas da História.

A arte tem inspirado o mundo desde os primórdios dos tempos. Adquirimos a habilidade de nos expressarmos através de símbolos e desenhos. A começar pela arte rupestre - ou arte pré-histórica - o homem sempre sentiu a necessidade de retratar algo ou expressar um sentimento através do processo artístico. 

Temos, portanto, milhares dessas representações artísticas, de diferentes períodos da história, a nos mostrar que o homem sempre foi um ser inspirador e profundo, com uma arte que se renova em estilos, padrões e técnicas.

A arte é a comunicação visual cheia de conceitos, símbolos e linguagens, a expressão máxima do homem. Confira aqui as obras que, até hoje, mais fizeram sucesso na História, sendo reconhecidas universalmente.



Starry Night, de Vincent Van Gogh, 1889



É uma das mais conhecidas pinturas do artista holandês pós-impressionista Vincent van Gogh. Foi criada por Van Gogh aos 37 anos, enquanto esteve em um asilo em Saint-Rémy-de-Provence (1889-1890).

A obra atualmente encontra-se na coleção permanente do Museu de Arte Moderna de Nova York. O quadro, chamado "A Noite Estrelada", em Português, foi pintado a partir da memória do artista.


Retrato do Dr. Gachet, de Vincent Van Gogh, 1890

O Dr. Gachet foi quem cuidou de Van Gogh nos seus últimos meses de vida. O pintor dedicou-lhe dois retratos. Ambos o mostram na mesma posição: sentado numa mesa e inclinando a cabeça sobre o braço direito. Variam nas cores, sendo que este foi realizado com tons mais claros.


É o quadro mais caro do artista até hoje: 82,5 milhões de dólares.



A Persistência da Memória, de Salvador Dali, 1931


Como um desafio à nossa concepção de existência, o artista utiliza uma teoria de Albert Einstein, a Teoria Geral da Relatividade, que diz que o tempo se curva sob a gravidade. É isso que os relógios representam.


Bal au moulin de la Galette, Montmartre, por Pierre-Auguste Renoir, 1876


O quadro retrata uma típica tarde de domingo passada em Moulin de la Galette, no bairro de Montmartre, em Paris.

Em pleno século XIX, era comum os trabalhadores vestirem-se a rigor e passar por lá para beber, comer e conviver durante o dia.

Uma das obras mais representativas do impressionismo, mostrando o momento da vida real, numa enorme riqueza de formas, fluidez e luzes.




Cafe Terrace at Night, de Vincent Van Gogh, 1888


É uma das mais famosas obras do pintor holandês. A tela foi finalizada em setembro de 1888, sete meses após a chegada de Vincent à cidade de Arles, no sul da França, vindo de Paris.

Ainda hoje o café da pintura pode ser encontrado no mesmo Local, sob o nome de ‘Café Van Gogh’. No início dos anos 90, sua fachada foi pintada em tons de verde e amarelo, aproximando-a da forma como é vista no quadro.


From the Lake, 1924, Geórgia O'Keeffe


Geórgia O’Keefe passava os dias em Lake George, Nova Iorque, no início de 1900. O lago inspirou muitas de suas obras.


Dora Maar com gato, de Pablo Picasso, 1941


Dora Marr, amante de Picasso, numa cadeira com um pequeno gato sobre os ombros, foi pintado em 1941, durante a invasão nazi na França.

Este foi um dos muitos retratos que o artista lhe dedicou. Com 29 anos de idade (26 anos mais nova do que Picasso), Dora esteve com ele por mais de uma década.


Garota com brinco de pérola, de Jan Vermeer, ~ 1665


É uma das obras-primas do pintor holandês Johannes Vermeer. Como o seu nome indica, é utilizado um brinco de pérola como ponto focal.

A pintura está no Mauritshuis de Haia. É muitas vezes referido como ‘a Mona Lisa do Norte’ ou ‘a Mona Lisa holandesa’.


ris, de Vincent Van Gogh, 1890


Iris foi pintado apenas um ano antes da morte de Van Gogh, em 1890.
Nesta altura, já estava internado num asilo em Saint-Rémy-de-Provence, França. Chamou-lhe o ‘para-raios da minha doença’, pois acreditava que continuando a pintar evitaria ficar doente. As influências japonesas estão muito presentes na obra.


Les Amants, René Magritte, 1928


A mãe de Magritte suicidou-se quando ele tinha apenas 13 anos. Historiadores afirmam que este evento levou o artista a pintar quadros como Les Amants, em que dois namorados se beijam encapuçados - da mesma forma que a sua mãe tinha sido encontrada, com o vestido cobrindo-lhe a cabeça.

Apesar da tragédia, Magritte tornou-se um dos pintores mais famosos do século XX e um marco incontornável da arte surrealista.


Luncheon of the Boating Party, Pierre Auguste Renoir, 1881


A pintura retrata um grupo de amigos de Renoir relaxando em uma varanda ao longo do rio Sena.

Nesta pintura Renoir conquistou a alegria da classe média do final do século 19 na França. É uma pintura viva que traz felicidade e emoção para qualquer sala.


Menino com cachimbo, de Pablo Picasso, 1905


Picasso tinha 24 anos quando pintou esta obra, em 1905. O óleo sobre tela, retrata um menino que segura um cachimbo na mão esquerda e usa uma grinalda de flores no cabelo.

Picasso vivia em Montmartre, Paris, e retratou muitos habitantes locais que trabalhavam no espetáculo como acrobatas ou palhaços.

É o quadro mais caro do pintor. Foi vendido na Sotheby's de Nova Iorque, em 2004, por 104,2 milhões de dólares.


Mona Lisa, de Leonardo Da Vinci, 1503–1517


Também conhecida como A Gioconda (em italiano, La Gioconda, ‘a sorridente’), é a mais notável e conhecida obra de Leonardo da Vinci, um dos mais eminentes homens do Renascimento italiano.

O seu sorriso restrito é muito sedutor, mesmo que um pouco conservador. O seu corpo representa o padrão de beleza da mulher na época de Leonardo.

Este quadro é provavelmente o retrato mais famoso na história da arte, senão o quadro mais famoso e valioso de todo o mundo. Poucos outros trabalhos de arte são tão controversos, questionados, valiosos, elogiados, comemorados ou reproduzidos.


No.5, de Jackson Pollock, 1948


Esta pintura de Jackson Pollock é o quadro mais caro da história. O pintor americano terminou-o em 1948. Pollock ficou conhecido pelas suas influências no movimento do expressionismo abstrato.


O Beijo, de Gustav Klimt, 1909


Este quadro é uma das obras mais conhecidas do austríaco Klimt, graças a um elevado número de reproduções.

A obra pertence ao período designado de fase dourada da criação do autor e é representada por sinais característicos biológicos e psicológicos do sexo - as formas estão definidas por ornamentos retangulares (masculina) e arredondados (feminina).



Pintada em 1611, esta obra de Rubens representa uma passagem Bíblica tal como é descrita no Evangelho segundo Mateus. Nela encontram-se influências e aprendizagens do tempo que passou em Itália nos anos de 1600 e 1608.

É presente a inspiração na arte barroca de Caravaggio através da emotividade da pintura, assim como das cores e do contraste claro-escuro.





Os autorretratos sempre foram uma constante de Van Gogh. Existem inúmeros quadros imortalizados pelo artista com a sua imagem. Este data de finais de Setembro de 1889 e foi pintado logo após ter feito a barba.


Nesse mesmo ano, cortou parte da orelha numa das suas manifestações de grave depressão, que o levaria a suicidar-se mais tarde.


O Grito, de Edvard Munch, 1893


O Grito (no original Skrik) é uma série de quatro pinturas do norueguês Edvard Munch, a mais célebre das quais datada de 1893.

A obra representa uma figura andrógina num momento de profunda angústia e desespero existencial. O plano de fundo é a doca de Oslofjord (em Oslo) ao pôr-do-Sol.

O Grito é considerado como uma das obras mais importantes do movimento expressionista e adquiriu um estatuto de ícone cultural, a par da Mona Lisa de Leonardo da Vinci.


Woman with a Parasol, Claude Monet, 1875


O Passeio, Mulher com Sombrinha (1875), também conhecido como Madame Monet e o Filho, ou ainda como Camille e Jean na Colina, está entre os quadros mais famosos do pintor impressionista.

Esta obra pertence a uma série de pinturas de Monet durante os Verões 1875 e 1876, e que representam o jardim da sua nova casa em Argenteuil e campos cobertos de papoilas perto de Colombes e Gennevilliers.






Fonte: Rejane Borges  |  Artes e Ideias, Obvious



(JA, Abr19)


terça-feira, 8 de janeiro de 2019

Como Dalí pode ter salvo a vida da família de Pablo Escobar


Em livro, Victoria Eugenia Henao descreve saga de sua família com o quadro do pintor surrealista

‘A Dança’ talvez não seja o melhor quadro do surrealista espanhol Salvador Dalí, mas provavelmente é sua obra com a história mais interessante.

'A Dança' (1957), quadro de Salvador Dalí

A primeira versão decorava o Ziefgfeld Theater, em Nova York, e posteriormente foi perdida no incêndio que destruiu a casa de Billy Rose, o empresário teatral da Broadway, em Mount Kisco. Dalí fez uma segunda cópia para Rose, que a vendeu a um vizinho da frente. A pintura terminou na casa de Pablo Escobar, o traficante de drogas colombiano, cujo império da cocaína o colocou entre as pessoas mais ricas do mundo, e cujas campanhas de terrorismo paralisaram seu país.
Agora, uma visão do que aconteceu em seguida ao quadro, também conhecido pelo título “Rock ‘n’ Roll”, é relatada em um novo livro publicado em espanhol por Victoria Eugenia Henao, a mulher de Escobar. No livro, ‘Mi Vida y Mi Cárcel con Pablo Escobar’ (A Minha Vida e a Minha Prisão com Pablo Escobar), ela recorda seus sentimentos ao ver pela primeira vez o trabalho de Dalí.
‘Foi incrível’, ela escreve. ‘Fiquei impressionada com o movimento do casal por um deserto sem fim, sexual e onírico’.

Famosa imagem do traficante colombiano Pablo Escobar, feita pós ter sido preso em 1976



O mais importante é que o quadro se tornou uma espécie de talismã para os familiares de Escobar, que escaparam por pouco a um atentado contra sua casa em Medellín, ela relata, e mais tarde serviu como uma espécie de ‘presente’ que, acredita Henao, pode ter salvado sua vida e a vida de seus filhos.
Abaixo, um relato do percurso do quadro, como descrito no livro.
NOVA YORK, 1944
A primeira versão de ‘A Dança’ era conhecida como ‘Arte do Boogie-Woogie’, e era parte de uma série encomendada por Rose para decorar o teatro Ziegfeld em sua produção de estreia, uma revista musical intitulada ‘Seven Lively Arts’, encenada em 1944. Dalí criou pinturas que refletiam sua visão da música, do teatro e de outras artes, em uma pequena sala no teatro, cujo saguão os quadros mais tarde viriam a decorar.
A versão original do quadro, conhecida como ‘Arte do Boogie-Woogie’, mostrava figuras alongadas semelhantes às da versão posterior, mas o cenário era um saguão, não um deserto.
O quadro original mostrava diversas figuras retorcidas e emaciadas entrelaçadas no que parecia ser mais um combate que uma celebração, enquanto se moviam por um corredor ou túnel. Há uma tuba em chamas entre elas, e figuras misteriosas contemplam a cena, ao fundo.
MOUNT KISCO, ESTADO DE NOVA YORK, 1956
As obras mais tarde foram transferidas para a casa de Rose, em Mount Kisco, um subúrbio de Nova York, e terminaram destruídas no incêndio de 1956.
Quando Dalí descobriu que as peças tinham sido destruídas, ofereceu-se para pintar novas versões pelo mesmo preço das originais, como um sinal de gratidão ao patrono, Rose.
PORT LLIGAT, ESPANHA, 1957
Dalí pintou os quadros substitutos na Espanha, em Port Lligat, onde vivia. O espanhol havia se tornado um pintor conhecido internacionalmente, àquela altura, famoso por sua imprevisibilidade, sua ousadia e sua mistura surreal entre o brutal e o divino.
A segunda versão do quadro era ligeiramente diferente. Só havia duas figuras, e a tuba desapareceu. O pano de fundo também mudou. Os dois dançarinos aparecem diante uma paisagem árida típica das obras do pintor. Os quadros substitutos foram mais tarde transferidos ao apartamento de Rose em Manhattan.
NOVA YORK, 1985
O homem que comprou o Dalí de Rose leiloou a peça em 14 de maio de 1985, na Sotheby’s, em Manhattan. Henao não deixa claro em seu livro se foi ela a compradora que pagou US$ 209 mil (US$ 490 mil em valores atuais) pelo quadro ou se ela adquiriu a peça mais tarde. Mas por volta de 1988, o quadro estava na Colômbia, como parte da coleção que ela estava criando.
Em seu livro de 512 páginas, Henao dá a entender que a arte se tornou uma espécie de refúgio para ela, uma atividade mais amena em uma vida muitas vezes envolta em violência e medo. Ela afirma que não estava ciente da extensão dos crimes de Escobar. Mas não tenta negá-los, e em entrevista a uma rádio colombiana no mês passado pediu desculpas pela dor que seu marido causou.
Quanto à sua coleção de arte, ela escreve que Escobar não ligava muito. Ele só se interessava por ‘antiguidades e carros antigos’.
Henao colecionava peças de diversos artistas, entre os quais o pintor Claudio Bravo, o pintor e escultor Fernando Botero e o escultor Édgard Negret.
Mas adquirir o Dalí foi especialmente importante, ela escreve, por conta da estatura do artista. ‘Parecia incrível para mim’, ela escreveu, ‘que aos 22 anos de idade eu tivesse uma obra de arte como aquela em casa’.
MEDELLÍN, COLÔMBIA, 1988
O apartamento dos Escobar ficava em El Poblado, um bairro de Medellín. Henao conta que pendurou o Dalí em um espaço que descreve como privilegiado, a biblioteca, onde a peça podia ser vista de múltiplos ângulos.
O quadro estava lá em 1988 quando um carro-bomba que tinha Escobar e sua família como alvos devastou o edifício. Escobar não estava em casa, mas alguns parentes estavam, e fugiram de lá.
Cauca es uno de los bastiones de las Fuerzas Armadas Revolucionarias da Colombia (FARC)

Dias depois do ataque, a irmã de Henao voltou ao edifício, encontrou o quadro, intacto, e o recuperou, conta ela.
O quadro foi transferido para a casa da irmã de Henao em outro bairro de Medellín. Mas aquela casa também foi atacada, por um grupo paramilitar chamado Los Pepes, que odiava seu marido, escreve Henao.
A casa foi incendiada em 1993, e Henao conta que inicialmente presumiu que o quadro tivesse sido destruído. Mas os incendiários tinham levado o quadro de Dalí, fato que ela descobriu depois que seu marido foi morto, em dezembro daquele ano. Pouco mais tarde, ela disse ter recebido uma mensagem de um intermediário de Carlos Castaño Gil, que com seu irmão, Fidel, liderava Los Pepes.
Eles estavam dispostos a devolver o quadro a Henao, já viúva, para ajudá-la a pagar os inimigos do marido. Mas ela recusou porque lembrou de um conselho de Escobar, caso ela viesse a encontrar situações perigosas. ‘No dia em que eu morrer’, ela recorda ter ouvido de Escobar, ‘lhes dê tudo que tiver sobrado, para que eles não a matem e nem matem nossos filhos’.
O gesto, ela conta, foi um do muitos que fez para convencer os antigos inimigos de seu marido de que ela não representava ameaça, e para compensá-los pelos custos de sua luta contra Escobar. Ao que parece, a ideia funcionou. Henao e sua família puderam deixar a Colômbia em segurança, e mais tarde se radicaram na Argentina.
‘A última coisa que sei sobre ‘A Dança do Rock and Roll’ foi que Carlos havia ligado a diversos comerciantes de arte em Bogotá e pedido a ajuda deles para vender a peça a um colecionador internacional’, ela escreveu.
FUKUSHIMA, JAPÃO, 2018
Em 1994, ‘A Dança’ foi leiloada pela Christie’s, em Londres. A seção sobre proveniência da obra no catálogo citava Billy Rose e um segundo colecionador como proprietários anteriores, mas não identificava o vendedor e nem mencionava Escobar. A casa de leilões estimava um valor de US$ 625.195 para o quadro, que terminou sendo arrematado, a preço desconhecido, pelo empresário japonês Teizo Morohashi, fundador da Xebio, uma cadeia de varejo de material esportivo.
Colecionador de arte fascinado especialmente por Dalí, Morohashi adquiriu cerca de 330 quadros, esculturas, gravuras e outras peças do artista. Ele em seguida as doou, juntamente com cerca de  70 obras de outros artistas, para criar o Museu Morohashi de Arte Moderna, inaugurado em 1999, em um terreno doado por ele na região de Fukushima, a cerca de duas horas do mar. Hoje, o museu recebe cerca de 50 mil visitantes ao ano.
Dalí provavelmente teria gostado da existência de mais um museu dedicado ao seu legado. E, dado seu apego especial pelo humor e beleza, que podem ser encontrados em mundo que saiu dos trilhos, ele provavelmente também apreciaria a estranha jornada que ‘A Dança’ fez para chegar ao seu novo lar.




Fonte: Peter Libbey, NYT   |   tradução Paulo Migliacci, FSP

(JA, Jan18)

sexta-feira, 10 de agosto de 2018

Quem foi Gala Dalí. E a exposição que resgata sua trajetória



Exposição ‘Gala Salvador Dalí - um quarto para si em Púbol’ é apresentada no Museu Nacional de Arte da Catalunha até outubro de 2018



Gala com chapéu e sapato inspirado desenho de Salvador de 1938,  André Caileet

Nascida em 1894 na cidade de Kazan, na Rússia, Elena Ivanovna Diakonova é mais conhecida como Gala Dalí. Ela passou a ser chamada por esse nome após se casar com o pintor surrealista espanhol Salvador Dalí, em 1934 e, frequentemente, é descrita como ‘musa’ de surrealistas.

 Agora, uma nova exposição no Museu Nacional de Arte da Catalunha, em Barcelona, busca mostrá-la como um personagem mais complexo, com uma produção própria e influência sobre o movimento artístico em que se inseria, apesar dos obstáculos que enfrentava como mulher.
Inaugurada no dia 6 de julho, a exposição é intitulada “Gala Salvador Dalí - um quarto para si em Púbol”, em referência à cidade onde Gala se estabeleceu durante a maior parte de sua vida e a um ensaio da escritora britânica Virginia Woolf, segundo o qual uma mulher precisava ter seu próprio dinheiro e seu próprio quarto.
Ela ocorre até 14 de outubro de 2018 e inclui representações de Gala criadas por artistas surrealistas, como Max Ernst, Man Ray, Cecil Beaton e, principalmente, o próprio Salvador Dalí, além de roupas, cartões postais e livros.
Em nota à imprensa, a curadoria da exposição afirma que apresenta Gala Dalí como ‘musa e artista, assim como figura-chave na arte do século 20’.
“Representações suas em pinturas por Max Ernst, em fotografias por Man Ray, Cecil Beaton e, especialmente, em trabalhos por Salvador Dalí, são muito mais que retratos: elas tratam de uma odisseia autobiográfica em que Gala imaginava e criava sua própria imagem -como uma verdadeira heroína pós-moderna”. 
Nota à imprensa sobre a exposição ‘Gala Salvador Dalí - um quarto para si mesmo em Púbol’

Gala Placidia, Galatea das esferas, de 1952, por Salvador Dalí

Quem foi Gala Dalí Gala cresceu em uma família de seis pessoas em Moscowand, com dois irmãos mais velhos, Vadim e Nicolai, e uma irmã mais nova, Lidia. Aos 11 anos, seu pai morreu, levando sua mãe a se casar novamente com um advogado que contribuiu para sua formação intelectual, apresentando a ela romancistas e poetas russos.
Ela passou parte de sua adolescência em Moscou. Aos 17 anos, foi passar uma temporada em um sanatório na Suíça, sob suspeita de tuberculose -doença que faria com que passasse períodos afastada de casa ao longo da vida.
Lá, conheceu o jovem francês Eugène Émile Paul Grindel, que posteriormente produziria poesias com a alcunha de Paul Éluard. Éluard foi um dos fundadores do surrealismo, e é considerado um dos poetas mais amados do movimento.
A jovem Gala Dalí convenceu seus pais e os de Éluard a permitirem que ela passasse a viver com o jovem poeta. Os dois se casaram em 1917 em Paris, durante a Primeira Guerra Mundial. A filha do casal, Cécile, nasceu em 1918.
Ambos aderiram ao então nascente movimento surrealista, no seio do qual Gala travou amizades com personalidades como os escritores franceses René Crevel e René Char, e teve um caso com o pintor, escultor e artista gráfico alemão Max Ernst em 1922.
Uma reportagem publicada em julho de 2018 no site da Smithsonian Magazine destaca que Gala é uma das duas únicas mulheres representadas no quadro ‘Uma reunião de amigos’, pintado naquele ano por Ernst, representando as principais figuras surrealistas da época. Ela também foi fotografada por figuras como Man Ray, Eric Schaal e Brassaï.

Ernst Gala - Reunião entre amigos, 1922

O movimento foi composto principalmente por homens, que se mostravam refratários à inserção de mulheres. Gala, no entanto, participava de eventos surrealistas, como sessões de desenho, e chegou a produzir objetos surrealistas, roupas e textos -a maioria dos quais se perdeu.

Em 1929, Gala e Éluard viajaram à Espanha, onde conheceram o então artista emergente Salvador Dalí, cinco anos mais jovem que Gala. Apaixonada, ela abandonou a filha e o marido, e passou a viver com o pintor na cidade de Cadaqués. Eles se casaram cinco anos depois.
Durante e depois de sua vida, Gala foi frequentemente descrita como uma mulher forte, uma alpinista social ávida por dinheiro que exercia uma poderosa influência sobre o talentoso Salvador Dalí.
Em entrevista publicada em julho de 2018 no The Art Newspaper, no entanto, o curador da exposição dedicada a Gala, Estrella de Diego, afirma que a atitude que tomou em 1929, de abandonar a vida ao lado de um poeta reconhecido de família rica e passar a se dedicar a um novo esposo pouco conhecido em uma vila remota da região da Catalunha contradiz essa imagem.
De Diego acredita que Gala se dispôs a embarcar com Salvador em um projeto conjunto no qual transformaram suas próprias vidas em uma obra de arte.
Diversos amigos acreditavam que o pintor continuava virgem quando se casou. A relação peculiar com a sexualidade é um traço conhecido do pintor -relata-se que ele tinha, em geral, aversão ao contato físico e preferência pelo papel de voyeur.

Gala e Dalí trabalhando exposição 'Dream of Venus', 1939 - foto Eric Schaal

Dalí resumiu sua admiração pela esposa em uma frase famosa: ‘Eu nomeio minha esposa: Gala, Galushka, Gradiva [este último em referência à heroína mitológica que serve de força motriz no romance homônimo por Wilhelm Jensen]; Oliva, pela forma oval de seu rosto e pela cor de sua pele; Oliveta, como diminutivo de Oliva; e seus derivativos delirantes Oliueta, Oriueta, Buribeta, Buriueteta, Suliueta, Suliueta, Solibubuleta, Oliburibuleta, Ciueta, Liueta. Também a chamo de Lionette, porque quando ela fica brava ela ruge como o leão da Metro-Goldwyn-Mayer’.

Gala foi tema de vários retratos pintados por Dalí, a quem servia como interlocutora, referência e agente, responsável por negociar com galeristas e outros compradores. Salvador chegou a assinar diversos de seus trabalhos como ‘Gala Dalí’, em reconhecimento à influência mútua entre ambos.
Em 1939, ela participou da construção da instalação ‘Dream of Venus’, para a Feira Mundial de Nova York. Tratava-se de uma casa surrealista, pontuada por figuras e estátuas femininas, incluindo um par de pernas aberto como porta de entrada.

Dali's Dream of Venus 1939 World's Fair


Em 1969, Salvador Dalí presenteou Gala com um castelo em mau estado na vila de Púbol, na Catalunha. Gala aceitou o presente e passou a residir no local, mas estabeleceu regras sobre como os dois se relacionariam: seu marido poderia visitá-la apenas após ser convidado por escrito. Ela delimitava assim o seu ‘próprio quarto’ a que o nome da exposição se refere.
Segundo reportagem do jornal americano The New York Times, Salvador aceitou as condições com certo entusiasmo, afirmando que ‘rigor sentimental e distância - como demonstrado pela cerimônia neurótica do amor cortês - aumentam a paixão’.
Gala implementou no local uma decoração que lembrava sua juventude na Rússia, incluindo objetos, fotografias e uma biblioteca em cirílico. A estrutura também pode ser lida como uma obra conjunta dela e de seu marido, que contribuiu com ideias e trabalhos, incluindo brasões com a letra ‘G’.

The Madonna of Portlligat, 1ª versão, 1949, Salvador Dali

Com a liberdade que obteve no local, Gala viveu vários romances com homens mais jovens.
Ela morreu em 1982 em Púbol, e foi enterrada em uma cripta em seu castelo, projetada por seu marido de forma a se assemelhar a um jogo de xadrez. Na nota à imprensa sobre a exposição em seu nome, o diretor do museu Dalí, Montse Aguer afirma que Gala ‘sempre se sentiu mais confortável nas sombras, mas, como seu marido, sempre desejou se tornar uma lenda algum dia’.
Na avaliação da reportagem do The New York Times, a exposição mostra como ela teve sucesso, à sua maneira, em ‘encontrar seu lugar no movimento Surrealista que, de outra maneira, dava pouco espaço às mulheres’.

Gala sintomas rinocerônticos, 1954, Salvador Dali





Fonte: André Cabette Fábio   |   NexoJornal


(JA, Ago18)