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segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

Hilma af Klint - Mundos Possíveis



A Pinacoteca de São Paulo, museu da Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo, abre dia 03 de março ‘Hilma af Klint: mundos possíveis’, sua primeira exposição do calendário de 2018 e um dos grandes destaques do ano. Com patrocínio de Banco Bradesco e Ultra, chega pela primeira vez na América Latina

Uma mostra individual da pintora sueca Hilma af Klint (1862-1944), cujo trabalho vem sendo reconhecido como pioneiro no campo da arte abstrata e que passou despercebido durante grande parte do século XX.

Hilma af Klint frequentou a Real Academia de Belas Artes, principal centro de educação artística da capital sueca, mas logo se distanciou do seu treino acadêmico para pintar mundos invisíveis, influenciada por movimentos espirituais como a Rosa-cruz, a Teosofia e, mais tarde, a Antroposofia. Ela integrou o ‘As cinco’, grupo artístico composto por artistas mulheres que acreditavam ser conduzidas por espíritos elevados que desejavam se comunicar por meio de imagens e já experimentavam desde o final do século 19 a escrita e o desenho automático, antecipando as estratégias surrealistas em mais de 30 anos.

A exposição inclui 130 obras. Destaque para a série intitulada ‘As dez maiores’, realizada em 1907 e considerada hoje uma das primeiras e maiores obras de arte abstrata no mundo ocidental, já que antecede as composições não figurativas de artistas contemporâneos a Hilma af Klint como Kandinsky, Mondrian e Malevich. Além deste conjunto, a exposição em São Paulo contará com algumas séries de obras que nunca foram apresentadas ao público.

A mostra da Pinacoteca tem curadoria de Jochen Volz, diretor geral da instituição, em parceria com Daniel Birnbaum, diretor do Moderna Museet, e é uma colaboração com a Hilma af Klint Foundation. ‘O trabalho de Hilma af Klint dialoga de certa forma com o sincretismo e a pluralidade de cosmovisões tão presente na cultura do Brasil. A serialidade encontrada em sua obra também aparece na arte brasileira, em especial no concretismo e neoconcretismo’, explica Volz.

O trabalho de Hilma af Klint foi exposto pela primeira vez em 1986 na mostra ‘The Spiritual in Art: Abstract Paintings 1890–1985’, realizada no Los Angeles County Museum of Art. Mas apenas a grande retrospectiva organizada pelo Moderna Museet de Estocolmo em 2013 e, consequentemente, a sua itinerância pela Alemanha, Espanha, Dinamarca, Noruega e Estônia permitiu que o trabalho de Hilma af Klint fosse reconhecido internacionalmente pelo grande público. Desde então, suas obras participam de exposições realizadas na Europa e Estados Unidos.

A Pinacoteca prepara um catálogo bilíngue (português-inglês) que reunirá três textos inéditos escritos pelos autores Jochen Volz, Daniela Castro, curadora independente, e Daniel Birnbaum. O livro trará ainda reproduções das obras expostas e uma cronologia escrita por Luciana Ventre, pesquisadora brasileira que lança nos próximos meses uma biografia de Hilma af Klint.

‘Hilma af Klint: Mundos Possíveis’ permanece em cartaz até 16 de julho de 2018, no primeiro andar da Pina Luz – Praça da Luz, 02. A visitação é aberta de quarta a segunda-feira, das 10h00 às 17h30 – com permanência até às 18h00 – os ingressos custam R$ 6 (inteira) e R$ 3 (meia). Crianças com menos de 10 anos e adultos com mais de 60 não pagam. Aos sábados, a entrada é gratuita para todos os visitantes. A Pina Luz fica próxima à estação Luz da CPTM.

A exposição tem patrocínio do Banco Bradesco e do Ultra e conta com o apoio da Embaixada da Suécia no Brasil e da Câmara de Comércio Sueco-Brasileira.




Texto:  Evento Central



(JA, Fev18)

quinta-feira, 23 de novembro de 2017

Papel da Arte na Revolução Russa - Pintura


Pintura
Kazimir Malevich
O quadrado preto, 1915

Em meio às muitas novas propostas de pintura do modernismo do início do século 20, como o cubismo de Picasso e o abstracionismo de Kandinski, Kazimir Malevich foi mais longe na busca por uma arte que estivesse livre de obrigações com a realidade ou a representação. Em 1915, inaugurou em São Petersburgo a exposição ‘A última exibição futurista de pinturas 0.10’ (em tradução livre), em que foram mostrados 36 trabalhos, dele e de outros 13 artistas de estilo similar. Na mostra, os quadros ficaram espalhados de modo irregular pelas paredes, alguns em cantos perto do teto.
Entre estes posicionados de modo pouco usual para um museu, estava o ‘Quadrado negro’. A obra é exatamente o que diz o nome: um quadrado negro margeado por uma borda branca. “Acredita-se em geral que foi a primeira vez que alguém fez uma obra que não era sobre alguma coisa”, explicou a curadoria do museu britânico Tate Modern, em texto de 2014 para uma exibição sobre o pintor.
A obra ficou conhecida como o trabalho inaugural do suprematismo, movimento de arte abstrata que se colocava como superior às outras correntes por aderir à ‘forma pura’. Ao pintar apenas formas geométricas, buscando um abstracionismo radical, o suprematismo acreditava estar instigando uma pureza de sentimento e percepção no olhar, sem qualquer influência ou referência para servir de apoio.

A MOSTRA “A ÚLTIMA EXIBIÇÃO FUTURISTA DE PINTURAS 0.10”, REALIZADA EM SÃO          PETERSBURGO, EM 1915, APRESENTOU O “QUADRADO NEGRO”, DE KAZIMIR MALEVICH. ELE  FOI PENDURADO EM UM LUGAR INUSITADO: UM CANTO PERTO DO TETO.

O extremismo de ‘Quadrado negro’ não veio de cara. Exames de raio-X feitos em tempos mais recentes revelaram que a tela recebeu outras inscrições inicialmente. Por baixo da tinta preta, havia contornos de um cavalo e palavras. Isso indica que, até chegar no preto total, houve um processo com outras etapas. Malevich pintaria outros três quadrados negros até o fim da década de 1920. O original encontra-se hoje em estado tão frágil que não pode deixar a galeria Tretyakov, em Moscou, onde fica guardado.
A pintura logo deixou de merecer a atenção de Malevich, que logo se juntou aos contemporâneos vanguardistas que viam a pintura como algo morto e ligado à velha ordem burguesa que havia colapsado com a revolução de 1917. Na década de 1920, o artista passou a se dedicar a trabalhos de design gráfico para pôsteres e publicações, entre outros.
‘Para o suprematista, os fenômenos visuais do mundo objetivo são desprovidos de sentido em si mesmos; o que é significativo é a sensação...o suprematista não observa e não toca, ele sente’ – Kazimir Malevich


O “CÍRCULO NEGRO” FOI REALIZADO POR MALEVICH NA MESMA ÉPOCA QUE O “QUADRADO”. O ARTISTA QUERIA LIBERTAR A ARTE DO “LASTRO DO MUNDO OBJETIVO”. A “CRUZ NEGRA” FOI PINTADA POR MALEVICH NA DÉCADA DE 1920, QUANDO O ARTISTA ESTAVA MAIS ENVOLVIDO COM COMPOSIÇÃO E LAYOUT GRÁFICO PARA PÔSTERES. JÁ “BRANCO NO BRANCO” É MAIS UM EXEMPLO DA ESTÉTICA SUPREMATISTA, QUE TINHA COMO PROPOSTA UM ABSTRACIONISMO LEVADO AO EXTREMO.

Há muitas relações de Malevich com outros protagonistas da vanguarda russa desse tempo. O pintor teve como discípulo na escola suprematista El Lissitzky, mais tarde conhecido por suas inovações gráficas nos cartazes de estética construtivista. Malevich também contribuiu com os cenários para a primeira peça de Vsévolod Meyerhold na era soviética, ‘Mistério-bufo’, cujo texto era de Vladimir Maiakóvski.
Com a morte de Lênin, em 1924, Malevich se preocupou com a mudança do clima político. O artista, desde sempre um colaborador da revolução bolchevique, não estava errado: o regime stalinista subiu o tom em relação à arte abstrata e aos trabalhos vanguardistas em geral, às vezes chamados de ‘depravados’. Depois de sua morte, vítima do câncer, em 1935, o governo soviético tirou seus trabalhos de circulação. Só em 1981 suas obras voltaram a ser mostradas na Rússia.
MALEVICH PINTARIA OUTROS TRÊS QUADRADOS NEGROS ATÉ O FIM DA DÉCADA DE 1920. O ORIGINAL ENCONTRA-SE HOJE EM ESTADO TÃO FRÁGIL QUE NÃO PODE DEIXAR A GALERIA TRETYAKOV, EM MOSCOU, ONDE FICA GUARDADO.


Texto: Camilo Rocha, Guilherme Falcão, Thiago Quadros e Ariel Tonglet  |  =Nexo Jornal
Imagens: Kazimir Malevich –  Quadrado Negro’ e ‘Círculo Negro’1915; ‘Cruz Negra’ e ‘Branco no Branco’, 1920


(JA, Nov17)