sexta-feira, 31 de janeiro de 2020

Exposição sobre o Egito antigo chega a São Paulo


Mostra que já atraiu mais de 1 milhão de pessoas no Rio inclui uma múmia que data de 700 anos A.C.


Estela funerária de Mekimontu Deir el-Medina XVIII, Dinastia 1550-1295 a.C.


O Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) em São Paulo se prepara para inaugurar a exposição ‘Egito Antigo: Do Cotidiano À Eternidade’, no dia 19 de fevereiro. A mostra, que ocupará seis pisos instituição, contará com 140 itens.

Pieter Tjabbes, um dos curadores da exposição, conta que a múmia a ser exibida data de 700 anos A.C. Trata-se do corpo de uma senhora que se chamava Tararo.

Ela pertencia a 25ª dinastia, que ficou conhecida como Dinastia Núbia, ou Faraós Negros. Eles eram oriundos da Núbia, área que corresponde ao atual Sudão. O corpo da mulher virá acompanhado por um baú-caixão, onde se encontram hieróglifos e pinturas. ‘Eram espécies de fórmulas mágicas, que davam orientações para alma encontrar o corpo mumificado. Um modo lúdico de proteção do espírito contra os perigos da passagem da vida para morte’, explica Tjabbes.

Em cartaz na unidade carioca do CCBB até 27 de janeiro, ‘Egito Antigo: Do Cotidiano À Eternidade’ já atraiu mais de 1 milhão de visitantes. ‘Aqui, esperamos pelo menos a metade, 500 mil pessoas’, afirma Claudio Mattos, gerente da instituição em São Paulo. Ele recomenda que os paulistanos agendem suas visitas à exposição para que não sofram com as filas. A pré-venda de ingressos pelo site da Eventim tem previsão de início para 1º de fevereiro.




Outra peça que deve chama atenção do público, acredita o curador, é uma estátua de uma divindade chamada Sekhmet. Ela tem a cabeça de leoa e é associada à guerra. Sua representação em granito tem mais de 2 metros e pesa cerca de 500 quilogramas. Ela tem cabeça de leão, e é associada à guerra. Fará parte do núcleo sobre religião.

Outras seções presentes na exposição serão eternidade e dia a dia. Também haverá por lá a reprodução de um documentário e de uma pirâmide.



Esfinge de Gizé: um dos monumentos egípcios que serão reconstruídos em 3D na exposição sobre o CCBB 


Para quem nunca foi ou conhece pouco do Egito, uma vídeo introdutório no começo da exposição trará projeções tridimensionais de importantes monumentos de lá, a exemplo do templo de Karnak e a esfinge de Gizé.  ‘O legal vai ser ver todas essas construções com as suas cores originais’, conclui Tjabbes, que se prepara para ocupar todos os andares do CCBB São Paulo com a exposição sobre essa civilização








Fonte: Tatiane de Assis  |  Veja SP



(JA, Jan20)


quarta-feira, 29 de janeiro de 2020

Livro póstumo de Tunga é testamento visual que traça panorama de sua obra



Publicação, que demorou quase 20 anos para ser concluída, era promessa de Charles Cosac ao artista


'Trança Humana', performance de Tunga replicada por dançarinos da Lia Rodrigues Companhia de Danças, no CCBB São Paulo, 2001
Tunga era um escultor de flores estranhas, algumas de carne e osso, outras de cristal, bronze ou ferro fundido. Mais do que todas, o artista gostava de mandrágoras, plantas de pétalas escuras e raízes que lembram a forma de um corpo humano, tal qual um ex-voto enterrado.

Há quase quatro décadas, ele criou dentro de um túnel no Rio de Janeiro o que chamou de jardim dessas flores —dois manequins pendurados pelo pescoço orbitavam uma mulher de verdade, deitada de bruços direto no asfalto.

O contraste da pele branca da atriz com o negror do pavimento à sombra dos enforcados, era o clarão que Tunga buscava nas trevas, como fez em quase toda a sua obra de choques orquestrados entre formas puras e seus duplos perversos, luz e breu. Era a visão de que ‘as cavernas mais profundas da mente brilham com esplendor’.

Essa ideia marcou a britânica Catherine Lampert, uma das críticas mais interessadas na obra do artista.

Ela batizou com essa frase um ensaio que entende como resumo do trabalho difícil, impenetrável de Tunga, um dos maiores nomes das artes visuais do país.

Depois de quase duas décadas, seus escritos intimistas sobre o tempo que passou ao lado do escultor vem à tona, num livro que disfarça no formato simples sua enorme ambição.

Tunga, que morreu há quatro anos, viu quase tudo reunido para o volume, uma espécie de testamento visual que, além de ensaios críticos de Lampert, e do também britânico Guy Brett, pela primeira vez tenta construir um glossário de sua obra. As formas mais recorrentes do vocabulário de suas esculturas —tranças, cálices, garrafas, sinos, tacapes— ressurgem analisadas ali como assuntos de uma enciclopédia.

O esforço de juntar num único livro quase cinco décadas de obras, que muitas vezes não passaram de rituais fechados encenados pelo artista com seus amigos, exigiu tempo. No meio do caminho, Tunga foi ficando cada vez mais doente, e as duas editoras que publicariam a obra acabaram fechando as portas, silenciando o estudo.

‘Era muito difícil voltar a trabalhar com algo que havia escrito há tanto tempo sem querer jogar tudo fora e começar de novo’, lembra Lampert. ‘Mas depois vi que era cada vez mais importante trabalhar essa lista do repertório de formas dele, um repertório que, em muitos casos, era uma extensão de seu corpo'.

Foi só nos últimos meses de vida do artista que o livro enfim ganhou forma. Tunga trocara o Rio por São Paulo para tratar o câncer de pulmão que tiraria sua vida, e foi morar no apartamento do amigo Charles Cosac, que acabava de encerrar as operações da Cosac Naify, casa que publicou outros quatro livros sobre Tunga.

‘Ele só piorou desde o dia em que ele pôs os pés em casa’, lembra o editor. ‘Foram sete meses de tristeza, e a gente não tinha como disfarçar isso. Não sabia o que dizer para ele, não dava para falar nada. O livro então era uma promessa que fiz ao Tunga. Existia essa dívida e tinha que terminar’.

O cuidado de Cosac e Lampert com o livro, explícito nos mínimos detalhes, como elencar os nomes de quase todos os atores e atrizes que participaram das performances mais radicais do artista, em museus, galerias, ruas e até capelas pelo mundo, não deixa dúvidas que a obra foi pensada como o último ato, mesmo que póstumo, de um artista incendiário.

Tunga, do mesmo jeito que entrelaçou cobras sedadas em tranças vivas ou pediu a bailarinos nus que imitassem essas formas, juntou dois lados irreconciliáveis na arte do país —a secura do impulso geométrico e a vibração de corpos vivos.

Sua obra muitas vezes fuliginosa e escura, construída com ímãs, fios de cobre, couro e feltro, por mais distante que pudesse parecer do calor da pele, na verdade sempre se deu como reencarnação da matéria, a ideia de devolver a vida a elementos minerais, fossilizados.

Numa das passagens mais reveladoras do livro, Tunga descreve uma escultura de feltro da fase em que ele ensaiava os primeiros passos de sua tentativa de ruptura com a herança concretista, que marcou todos artistas do país, desde a metade do século passado. Escrevendo sobre ‘Albinos’, um trabalho dos anos 1980, Tunga fala em criar ‘uma possível geometria, um caminho entre as camadas de carnes do feltro’.

Não espanta que décadas mais tarde o artista levaria a carne real ao contato mais extremo com as formas roliças, irregulares de suas esculturas, criando uma série de performances em que mulheres nuas lambuzavam de maquiagem suas peças de vidro e alumínio, ou dançarinos sem roupa se banhassem em geleia cor de sangue, entre ampolas e frascos pendurados de cruzes no teto.

Outra ação, também envolvendo maquiar as peças, terminava com um ritual destrutivo, com belas mulheres estilhaçando objetos de vidro na nave de uma capela, à luz pálida de holofotes atrás das cortinas.

O poder destrutivo de suas performances, oposto da limpeza contida das vanguardas construtivas, fez de Tunga talvez o primeiro artista contemporâneo do país a ostentar uma vontade barroca na raiz de seus trabalhos, uma dramaticidade confessa, teatral que parecia espelhar melhor a carnificina brasileira do que qualquer outro trabalho de toada cerebral ou asséptica.

‘Reinventar as formas clássicas era o que ele fazia de melhor’, lembra Catherine Lampert. ‘Mas é também por isso que muitos dos especialistas em arte latino-americana rejeitavam o aspecto barroco desenfreado de seus trabalhos’.

Ela, que comandou a Whitechapel, um dos grandes templos da arte contemporânea em Londres, lembra como foi difícil, por exemplo, convencer os historiadores da Tate Modern a comprar peças de Tunga para um acervo que já abria as portas aos artistas latinos.

‘É difícil penetrar na obra do Tunga. A gente gosta dela, mas não sabe por quê’, diz Charles Cosac, que retomou sua editora só para publicar o livro derradeiro. ‘O discurso dele é muito erudito, e ele era uma pessoa difícil de lidar. Trabalhar com ele significava se subjugar ao temperamento, e ao humor dele. Foi ali que percebi que nenhum artista quer revelar a sua obra por inteiro’.

Mesmo arredio e famoso por dar entrevistas sem responder as perguntas, Tunga morreu consagrado como um dos maiores nomes de sua geração. Lampert, aliás, acompanhou de perto o momento em que ele atingiu o auge da fama, ao instalar uma enorme escultura debaixo da pirâmide de vidro do Louvre, em Paris.

Lá, um gigantesco esqueleto sem cabeça repousava numa rede negra sustentada em balanço por bolsas cheias de caveiras negras e douradas, a morte refestelada à luz do sol filtrada pela estrutura cristalina, a coroar o saguão do museu.

Tunga chamou o trabalho de ‘À la Lumière des Deux Mondes’, ou à luz de dois mundos. Mais uma vez, polos opostos se chocavam numa alegoria a um só tempo tétrica e sedutora.


'À Luz de Dois Mundos', (detalhe), museu do Louvre, Paris


‘Ele foi um artista de extremos, no bom sentido. Tunga era borderline, no limite’, diz Lampert. ‘Mas, convivendo com ele, era possível absorver seu vocabulário e sua sensibilidade. Ele compartilhava algumas coisas às vezes’.

Muitas dessas coisas eram visões, sonhos e pesadelos, mais tarde traduzidos em esculturas e performances. Também podiam ser mitos herdados da tradição ocidental, ou inventados pelo artista, como base narrativa para suas obras quase operísticas.

O trabalho em que ele arremessa uma réplica da própria cabeça ao mar surgiu de uma dessas visões. Nas palavras dele, o ‘troféu mórbido’ lançado às ondas por seus longos cabelos, era uma forma de atrair a atenção das sereias.

Essa imagem de cabeleiras fartas ecoa os cachos das ‘Xifópagas Capilares entre Nós’, ação do começo da década de 1980, em que garotas idênticas, presas pelos cabelos, circulavam pela galeria onde fios de cobre atravessavam enormes pentes metálicos no chão.

Tranças nunca desapareceram de suas obras. Noutra encarnação, elas estavam em ‘Tereza’, performance em que homens costuravam cobertores para formar uma longa corda, alusão à tática de detentos que escapavam da prisão usando lençóis amarrados, que em galerias de arte tinham o efeito oposto, ao cercear o movimento do público.

Tunga, nesse ponto, estava atento a duas realidades, cindido entre sua cosmovisão particular, e a realidade de um país mergulhado na violência. No fundo, radiografava uma angústia, muitas vezes asfixiante, um mal-estar inescapável.





Na curva escura do mesmo túnel Dois Irmãos onde pendurou seus manequins, aliás, Tunga filmou um looping infinito, a sensação de rodar e rodar sem nunca encontrar uma saída. A trilha sonora era ‘Night and Day’, na voz de Frank Sinatra —luz e trevas inseparáveis.

‘Tunga quebrou a ideia que eu tinha de escultura’, diz Cosac. ‘Ele cria tensão e movimento, uma obra que nunca pode ser estática. É como se fosse a visão de um vaso de flores vivas, com a diferença que essas são flores perpétuas’.


Tunga
De Catherine Lampert, Editora Cosac Naify








Fonte: Silas Marti   |   FSP



(JA, Jan20)


terça-feira, 21 de janeiro de 2020

Antonio Bandeira no MAN




Pioneiro do abstracionismo no Brasil, o pintor ganha exposição que abrange diversos períodos de sua produção.


Árvores, 1953-1954, Antonio Bandeira


A exposição Antonio Bandeira reúne obras de diferentes fases da produção do artista, desde as primeiras pinturas figurativas até as grandes telas de tramas, criadas nos últimos anos de sua carreira. Com curadoria de Regina Teixeira de Barros e Giancarlo Hannud a exposição apresenta cerca de 60 trabalhos de Antonio Bandeira (1922-1967).

 Expoente do abstracionismo no Brasil, Bandeira ocupa lugar de destaque na arte brasileira. Nascido em Fortaleza, em 1922, transferiu-se em 1945 para o Rio de Janeiro. Aos 24 anos, viajou para Paris com bolsa de estudos concedida pelo governo francês, e por lá se aproximou de artistas como Camille Bryen e Georges Mathieu, além do alemão Wols, que exerceu forte influência sobre seu trabalho.

Ainda que, em sua trajetória de feitos artísticos nacionais e internacionais, tenha se tornado um dos artistas brasileiros mais valorizados em termos comerciais, Bandeira ainda é pouco conhecido pelo grande público. Para Giancarlo Hannud, um dos curadores da exposição, isso se deve à independência cultivada pelo pintor, que sempre foi exigente, metódico e extremamente disciplinado, mas nunca se filiou a nenhum grupo.

‘Na arte brasileira, Bandeira ocupa um lugar bastante particular, pois ao contrário da maior parte dos artistas de sua geração, especialmente nas décadas de 1950 e 1960, ele nunca se filiou a grupos ou movimentos artísticos, sempre se mantendo independente de coletividades estéticas. É por isso um dos poucos independentes de seu tempo no Brasil, sempre travando um trabalho de depuração formal interno. Também foi um dos primeiros artistas brasileiros a cultivar sua própria imagem de forma bastante ativa, desenvolvendo uma persona e alimentando as narrativas que se construíam em torno de sua pessoa. Além disso, integrou tanto o ambiente artístico brasileiro quanto internacional, participando de mostras no Brasil e no exterior em igual parte, e tendo interlocutores tanto na Europa quanto no Brasil’, comenta Hannud.


Primaveril, 1965, Antonio Bandeira


A apresentação da exposição em uma instituição como o MAM São Paulo ganha ainda mais relevância em função disso, uma vez que permite ao público conhecer o trabalho - e a discussão em torno da obra - de Bandeira. Por trás do abstracionismo, o pintor sugere emoções concretas guiadas por títulos que se relacionam com uma paisagem urbana e cenas do cotidiano, a exemplo de Flora agreste (1958), Ascensão das favelas em azul (1951), e Cais noturno (1962-63). A mostra também apresenta a multiplicidade das produções de Bandeira, das aquarelas e guaches da década de 1940 aos trabalhos mais experimentais, realizados na década de 1960, com fitas adesivas ou sobre flãs de jornal.

A exposição chegou a São Paulo após ser apresentada, em 2017, no Espaço Cultural Unifor, na Universidade de Fortaleza, trazendo pequenas diferenciações em relação à sua primeira versão. ‘Os curadores foram convidados pelo MAM devido à ampla pesquisa que já haviam desenvolvido sobre o artista e que resultara na mostra ‘Antonio Bandeira: um abstracionista amigo da vida’. Assim, será possível apresentar ao público do MAM uma visão atual sobre a obra desse artista de forma didática e abrangente em relação ao conjunto de sua produção’, explica Felipe Chaimovich, curador do museu.


The Blue Tress, 1955, Antonio Bandeira


Bandeira e o MAM

A relação de Antonio Bandeira com o Museu de Arte Moderna de São Paulo começa nos primeiros anos de existência do museu: já em 1951, quando o MAM organizava a sua primeira Bienal, Bandeira ganhava uma exposição individual no museu; em 1953 novamente expôs no MAM e foi o autor do cartaz da II Bienal do Museu de Arte Moderna de São Paulo. Em 1955, novamente participa do calendário do museu com mais uma individual composta por desenhos enviados da Europa ao Brasil e, em 1959, Bandeira novamente participa da Bienal do museu -- antes de ser criada a Fundação Bienal de São Paulo, a partir da sétima edição do evento.

Serviço
Antonio Bandeira
Visitação: 11 de dezembro de 2019 a 01 de março de 2020
Local: Museu de Arte Moderna de São Paulo  - Parque Ibirapuera (av. Pedro Álvares Cabral, s/nº - Portões 1 e 3)
Ingresso: R$ 10,00. Gratuidade aos sábados. Meia-entrada para estudantes e professores, mediante identificação.




                                     




Fonte: InfoArt-SP



(JA, Jan20)


domingo, 12 de janeiro de 2020

Eva Gonzalès, 1849-1883, pintora impressionista francesa




Édouard Manet, 1832-1983   -^-   ‘Mlle EG’, 1869-1970


Início da vida




Eva Gonzalès nasceu em Paris e foi introduzida em sofisticados círculos literários e artísticos desde tenra idade por seu pai, escritor espanhol, naturalizado francês, Emmanuel Gonzalès.

Em 1865, aos dezesseis anos, Eva Gonzalès começou sua formação profissional e aulas de arte em desenho do retratista da sociedade Charles Joshua Chaplin, que também foi professor de Mary Cassatt. Quatro anos depois, Eva se tornaria pupila de Édouard Manet, em fevereiro de 1869.

Através das conexões de seu pai, como presidente fundador da Société des gens de lettres, ela conheceu uma variedade de membros da elite cultural parisiense e, desde tenra idade, foi exposta às novas ideias que envolviam arte e literatura na época .


Estudante de Édouard Manet

Eva Gonzalès é mais conhecida por ter sido aluna de Manet.

Tal como seu professor Manet, Eva nunca exibiu seus trabalhos com outros pintores impressionistas nas controversas exposições de Paris, mas ela é considerada membro importante do grupo devido ao seu estilo. Eva foi a única aluna formal de Manet e frequentemente modelou para diversos pintores da escola impressionista.

Dizem que Manet pintou o retrato dela de uma só vez, concluído em março de 1870, e exibido como ’Mlle EG’, no Salão de Paris naquele ano.

Infelizmente, seus trabalhos de estreia apresentados no Salon, também em 1870, foram ofuscados pela presença do retrato de Manet. No retrato Manet apresenta Eva trabalhando em um cavalete, mas sua postura rígida e seu vestido caro, são claramente impróprios para a criação de obras de arte.

Essa representação dela provavelmente fez com que alguns críticos a percebessem simplesmente como uma modelo jovem e decorativa, que estava trabalhando com um pintor masculino estabelecido.

 ‘Mlle EG’, de Manet, foi discutido mais do que a obra de Eva Gonzalès em sua própria retrospectiva de 1885, e na exposição de Galerie Dabe, em 1950.




O estilo de Eva se alinha muito ao do período espanhol de Manet. Pequenas mudanças foram feitas ao longo dos anos, pois suas formas de arte consistiam em disciplina com uma paleta sóbria. Os assuntos que ela escolheu usar eram uma representação da vida cotidiana, que foi profundamente decorrente da orientação de Chaplin.


EG, Retrato de Jeanne Gonzalès, 1869-1870


Durante 1871, Manet buscou a incorporação das cores mais brilhantes e superfícies ativas dos impressionistas em seu trabalho. Enquanto isso, Eva Gonzalès decidiu manter os esquemas de cores neutras, e os contornos precisos dos anos sessenta, deixando seus tons pastel em tons mais suaves, criando uma paleta mais clara para trabalhar.

O trabalho de Eva pode não ser considerado inovador, mas ainda possui charme e um senso de expressão pessoal sincera, que lhe confere um valor significativo.

Apesar de associar-se à aluna de Manet, seu trabalho ainda carrega significado, e progride numa direção que se alinha perfeitamente com seu temperamento.






Fonte: WP e Dvs



(JA, Jan20)


Isadora Duncan, a grande dançarina


  
Ateia, bissexual e inventora da dança moderna, Duncan acabou falecendo de maneira insólita




Nascida em 1877 na cidade de San Francisco, Estados Unidos, Isadora Duncan marcou a história da dança: inovando por não seguir regras formais ou técnicas rígidas de balé, ela abriu as portas para o que chamamos hoje de dança contemporânea. Entretanto, Duncan teve um final trágico: passeando de carro aos 50 anos, ela acabou enrolando seu lenço de pescoço nas rodas do veículo, o que a levou à morte.


Trajetória

Isadora Duncan, em 1927

Duncan via a dança como uma forma natural de expressão do espírito humano. Inspirando seus movimentos na arte da Grécia Antiga, ela se mudou para Londres aos 21 anos, após tentativas fracassadas de fazer carreira nos Estados Unidos. Lá, ganhou o suficiente para alugar um estúdio de dança, e logo foi convidada pela atriz e dançarina Loie Fuller para uma turnê pela Europa.

A artista tinha como missão compartilhar sua filosofia da dança e liberdade de expressão. Para isso, ela abriu escolas onde ensinava sua técnica a jovens alunas: a primeira foi inaugurada em Berlim-Grunewald, Alemanha, em 1904, e suas seis alunas ficaram conhecidas como as ‘Isadorables’.

Além da dança, as roupas de Duncan também eram inovadoras: ao contrário das dançarinas de Balé tradicional, ela se movia com tecidos leves e esvoaçantes, que davam sensação de conforto. E o fato de ela se autodeclarar ateia, simpatizante comunista e bissexual, também chamava muita atenção do público.


Duncan performando com colegas à beira do mar


Sua fama ganhou repercussão mundial, e a artista chegou a ser descrita pelo ocultista britânico Aleister Crowley da seguinte forma: ‘Isadora Duncan tem esse dom de gesto em um nível muito alto. Estude sua dança, se possível em privado e em público, e aprenda a soberba inconsciência - que é a consciência mágica - com a qual ela adapta a ação à melodia’.


Terrível acidente

Duncan teve dois filhos, um em 1906 com o designer de teatro Gordon Craig, e o outro em 1910, com Paris Singer. As crianças acabaram morrendo afogadas em 1913 junto à babá, em um acidente de carro no rio Sena, na França - evento do qual a artista nunca se recuperou. E um automóvel também levaria ela mesma à morte.

No ano de 1927, Isadora andava de carro com alguns amigos em Nice, vestindo um lenço de seda esvoaçante pintado à mão pelo artista Roman Chatov. Seu lenço, acidentalmente, se enroscou nas rodas do automóvel, arremessando a artista e fazendo-a quebrar o pescoço. Levada ao hospital, Isadora faleceu logo depois, e suas cinzas foram colocadas ao lado dos filhos no cemitério Père Lachaise, em Paris.






Fonte: Joseane Pereira  | AH-Aventuras na História




(JA, Jan20)




sábado, 11 de janeiro de 2020

Henri de Toulouse-Lautrec





Toulouse-Lautrec em 1892, então com 28 anos


Henri Marie Raymond de Toulouse-Lautrec Monfa (Albi, 24 de Novembro de 1864 — Saint-André-du-Bois, 9 de Setembro de 1901) foi um pintor pós-impressionista e litógrafo francês, conhecido por pintar a vida boêmia de Paris do final do século XIX.

Sendo ele mesmo um boêmio, faleceu precocemente aos 36 anos, de sífilis e alcoolismo.

Trabalhou por menos de vinte anos, mas deixou um legado artístico importantíssimo, tanto no que se refere à qualidade e quantidade de suas obras, como também no que se refere à popularização e comercialização da arte.

Toulouse-Lautrec revolucionou o design gráfico dos cartazes publicitários, ajudando a definir o estilo que seria posteriormente conhecido como Art Nouveau. Filho mais velho do Conde Toulouse-Lautrec-Monfa, de quem deveria herdar o título, faleceu antes do pai.


Condessa Adèle de Toulouse-Lautrec, no desjejum, no Castelo Malromé, nos anos ~1882


Nascido na nobreza, herdeiro de uma linhagem aristocrática francesa, seu pai era o Conde Alphonse de Toulouse-Lautrec-Monfa, e sua mãe Adéle Tapié de Céleyran. Seus pais queriam que o filho seguisse com esmero o mesmo caminho nobre de toda a sua família, tanto materna quanto paterna.

Toulouse-Lautrec sofria de uma doença genética rara, a Pycnodysostosis, que ficou mais tarde conhecida como Doença de Toulouse-Lautrec. Trata-se de uma doença autossômica recessiva, caracterizada por ossos frágeis e baixa estatura.

Henri não ultrapassava a altura de 1,52m, tornando-se um homem com corpo de adulto, mas com pernas curtas de menino. Os pais de Toulouse-Lautrec eram primos de primeiro grau. Os problemas de saúde de Toulouse-Lautrec foram resultado de gerações de endogamia. Com este propósito, os médicos franceses Pierre Maroteaux e Maurice Lamy, e mais tarde, o também médico geneticista da Universidade de Coimbra, Luís Meneses de Almeida, entre outros, vão estudar a doença que os primeiros apelidaram de ‘doença de Toulouse-Lautrec’, precisamente a picnodisostose (pycnodisostosis, em ingl.).

Aos dezesseis anos foi estudar pintura com Léon Bonnat, professor rígido que não o agradava. Logo depois foi estudar com Fernand Cormon, cujo estúdio ficava nas ladeiras suburbanas de Montmartre, em Paris. Foi lá que Lautrec descobriu a inspiração que lhe faltava. Mudou-se para aquele bairro, de má fama, e encontrou seu lugar entre trabalhadores e artistas de caráter duvidoso. Começava sua nova vida.


Boemia


Baile no Moulin Rouge - 1890

Frequentador assíduo do Moulin Rouge e outros cabarés, o pequeno nobre acaba se acomodando muito bem naquele ambiente tão estranho onde seus pais nunca aceitaram em ter o filho. 

O tema principal das pinturas de Toulouse-Lautrec era a vida boêmia parisiense, que ele representava através de um desenho que lembra a espontaneidade do desenho satírico de Honoré Daumier, e uma composição dinâmica que poderia ter sido influenciada pela fotografia e as gravuras japonesas, dois fatores de grande importância cultural no fim do século XIX.

Era atraído por Montmartre, uma área de Paris famosa pela boemia e por ser antro de artistas, escritores, filósofos. Escondido no coração de Montmartre estava o jardim de Pere Foret, onde Toulouse-Lautrec pintou uma série de óleos sobre tela ao ar livre de Carmen Gaudin (a modelo ruiva que aparece no quadro ‘A Lavadeira’ de 1888).


Moulin Rouge - La Goulue, poster, 189


Quando o cabaré Moulin Rouge abriu as portas ali perto, Toulouse-Lautrec foi contratado para fazer cartazes. Posteriormente, ele passou a ter assento cativo no cabaré, onde suas pinturas eram expostas. Nos muitos conhecidos trabalhos que ele fez para o Moulin Rouge e outras casas noturnas parisienses, em 35 anos, estão retratadas a cantora Yvette Guilbert, a dançarina Louise Weber, mais conhecida como a louca e cativante La Goulue (‘A Gulosa’), a qual criou o cancan francês, e também a mais discreta dançarina Jane Avril.


Terremoto

A invenção do coquetel ‘Terremoto’ (Tremblement de Terre) é atribuída à Toulouse-Lautrec. É uma mistura potente de 1/2 parte de absinto e 1/2 parte de conhaque, servido em copo de vinho, sobre cubos de gelo ou batido com gelo em coqueteleira.


Trabalho e Arte

Troupe de Mlle Elegantine (cartaz de 1896) 


Testemunha da vida noturna de Montmartre, Henri não apenas faz pinturas, como também cartazes promocionais dos cabarés e teatros, fazendo-se presente na revolução da publicidade do século XIX, quando a arte deixa de ser patrocinada e financiada apenas pela Igreja e os nobres, para ser comprada e utilizada pelo comércio crescente gerado pela revolução industrial.

O cartaz litográfico colorido é uma nova ferramenta de divulgação de locais de lazer parisienses. Trilhando o caminho de Jules Chéret, assim como Alfons Mucha, Toulouse-Lautrec revolucionou o design gráfico dos cartazes, definindo o estilo que seria conhecido como Art Nouveau.

O dom artístico de Lautrec é bastante reconhecido, tanto pelos seus amigos da classe baixa, quanto por críticos de arte. Participa do Salão dos Independentes em Paris, da exposição dos Vinte e das galerias de Boussod e Valadin.


Estilo


Exame na Faculdade de Medicina 1901

Tinha habilidade em capturar as pessoas em seu ambiente de trabalho, com a cor e o movimento da pululante e opulenta vida noturna, porém sem o glamour.

Usava muito vermelho, em geral de maneira contrastante, cabelos cor de laranja e a cor verde limão para traduzir a atmosfera elétrica da vida noturna.

Era um mestre do contorno, podia retratar cenas de grupos de pessoas onde cada pessoa é individual (e na época podia ser identificada apenas pela silhueta)

Frequentemente, ele aplicava a tinta em uma estreita e longilínea pincelada, deixando a base (papel, tela) ou o contorno aparecer. Sua pintura é gráfica por natureza, nunca encobria por completo o traço forte do desenho. O contorno simples era a ‘marca registrada’ de Lautrec desde o início da carreira como designer de cartazes. Não pintava sombras. Suas pinturas sempre incluíam pessoas (um grupo ou um indivíduo), e não gostava de pintar paisagens. O papel usado para os cartazes frequentemente era amarelo.

Apesar da litografia cheia de cores de seu tempo poder acomodar dezenas de cores em um só cartaz, Lautrec geralmente escolhia apenas 4 ou 5, às vezes, raramente, 6. Ao invés de usar uma multiplicidade de cores, Henri preferiu criar seus efeitos com justaposições e modulações delicadas.


Últimos anos

Em 1899, a vida desregrada e o excesso de álcool finalmente cobram seu preço do artista. Lautrec sofre de crises e é internado numa clínica psiquiátrica. Ao sair, é constantemente vigiado para que não beba e que não volte a frequentar os bordéis, vigilância que ele consegue burlar. Sua saúde vai-se deteriorando cada vez mais, até que, em 1901 já não é mais capaz de viver sozinho. Henri despede-se de Paris com a certeza de que está com os dias contados. Sofre ataques de paralisia e quase não consegue mais pintar.

Em 9 de Setembro de 1901, Henri de Toulouse-Lautrec morre, em consequência de um derrame, nos braços de sua mãe, no Castelo de Malromé, perto de Bordeaux, às duas horas e quinze minutos da manhã.

Encontra-se sepultado no Cemitério de Verdelais, na França.


Túmulo de Toulouse Lautrec  em Verdelais, Gironde, França


Legado


Local onde Lautrec nasceu. Hoje abriga o Museu Toulouse-Lautrec, fundado por sua mãe, após a morte dele


Estima-se que Lautrec tenha pintado mais de 1000 quadros a óleo (737 estão catalogados), feito mais de 5000 desenhos (275 aquarelas, 5084 desenhos catalogados), e por volta de 363 gravuras e cartazes. Seu trabalho pode ser dividido em períodos: pinturas e desenhos até 1888, entre 1888 e 1892, entre 1893 e 1896, entre 1897 e 1901, e os cartazes.



Autocaricatura, 1882




Fonte:  WP e Dvs



(JA, Jan20)