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quinta-feira, 23 de novembro de 2017

Papel da Arte na Revolução Russa


‘Refaçam tudo. Organizem de modo que tudo seja feito novo, para que nossa vida falsa, suja, chata e feia se torne justa, limpa, feliz e linda’, escreveu o poeta russo Alexander Blok, em 1918.
A ideia de ruptura radical -e recomeço- está no âmago da Revolução Russa, um dos eventos definidores do século 20. Nas artes e na cultura aconteceu o mesmo. A ideia de zerar o passado para erguer novos e melhores modelos de indivíduo e sociedade, é central nas vanguardas russas e, em especial, na corrente conhecida como construtivismo.
Iniciada em fevereiro (março, segundo o calendário gregoriano) de 1917 com a troca do regime do czar Nicolau II por um governo socialista provisório, a revolução resultou na ascensão ao poder do grupo bolchevique liderado por Vladimir LEnin em outubro (ou novembro, pela marcação gregoriana). Nesse contexto, diversos artistas russos, incluindo nomes que já tinham projeção no país, como o poeta e escritor Vladimir Maiakóvski e o pintor Kazimir Malevich, aderiram com entusiasmo ao novo regime e a seu projeto de sociedade, enxergando na revolução um paralelo com suas próprias inovações.
‘Estes artistas vão tentar pensar em como a arte pode responder essa demanda de construção de uma nova sociedade’, afirmou a fotógrafa e pesquisadora Clara Figueiredo.  Em ensaio que compõe o livro ‘1917, o ano que abalou o mundo’, Figueiredo escreve: 
‘Não mais caberia a arte e aos artistas o papel de representar a vida, mas o de atuar nela, de construí-la. Daí a origem do nome construtivismo, que enfatiza a dimensão material da arte, a construção em oposição à composição’.
A partir daí, vieram experimentos radicais de linguagem e forma, a rejeição a expressões consideradas ‘mortas’, como a pintura, e a noção de que artistas deveriam gerar produtos com utilidade social. Um ponto focal dessa movimentação foi a entidade artística Proletkult (de cultura proletária), que reuniu artistas e pessoas ligadas à cultura em todo o país com o objetivo de criar e fomentar linguagens não burguesas, de trabalhadores para trabalhadores.
Abaixo oito trabalhos simbólicos por revolucionar, na forma e no conteúdo, diferentes campos de expressões: arquitetura, cinema, teatro, música, literatura, pintura, design gráfico e fotografia. São trabalhos de artistas que, por vezes, colaboravam e discutiam entre si. E que, em geral, acabaram sendo desprestigiados ou eliminados a partir da década de 1930, sob a visão mais conservadora da era Stálin.
Pintura - Kazimir Malevich, ‘O Quadrado Preto’, 1915
Cinema - Serguei Eisenstein, ‘O Encouraçado Potemkin’, 1925
Literatura  - Vladimir Maiakóvski, ‘A Plenos Pulmões’,1929
Design - El Lissitzky, ‘Vença os Brancos com a Cunha Vermelha’, 1919
Arquitetura -   Vladimir Tátlin, ‘Torre de Tátlin, 1919
Música  -  Arseni Avraamov,  ‘Sinfonia de Sirenes de Fábrica’, 1922
Fotografia - Alexander Rodchenko, ‘A Escadaria’, 1929
Teatro -  Vsévolod Meyerhold, ‘O Corno Magnífico’, 1922



Texto: Camilo Rocha, Guilherme Falcão, Thiago Quadros e Ariel Tonglet  |  =Nexo Jornal
Imagem: El Lissitzky, ‘Vença os Brancos com a Cunha Vermelha’, 1919

(JA, Out17)

Papel da Arte na Revolução Russa - Fotografia


FOTOGRAFIA
Alexander Rodchenko
A ESCADARIA, 1929 

Fotógrafo, escultor, designer e pintor, entre outras atividades, a variedade de realizações de Alexander Rodchenko se destaca mesmo quando se leva em conta o padrão multidisciplinar dos nomes da vanguarda russa. Rodchenko realizou trabalhos relevantes e inovadores em quase todas as áreas em que atuou, como, por exemplo, ao experimentar novas tipografias na revista Novyi LEF (Frente de esquerda, em tradução livre), que também contava com Maiakóvski entre seus colaboradores. Seu portfólio inclui até distintivos e papelaria para a primeira companhia aérea soviética, Dobrolet.

‘A ESCADARIA’ É UM EXEMPLO DE COMO RODCHENKO CONVERTIA CENAS COTIDIANAS EM IMAGENS QUE PARECIAM QUASE ABSTRATAS

Rodchenko, que havia passado pelo futurismo nos anos 1910, estava entre os artistas russos que declararam a pintura como morta no início da década de 1920. Deixando para trás um extenso acervo de obras baseadas em formas geométricas, influenciadas pelo cubismo e pelo suprematismo, o artista se voltou para o desenho industrial e as artes aplicadas. Ao lado de outros artistas, fundou a corrente ‘produtivista’, que defendia a introdução da arte na vida cotidiana.
Em seguida, Rodchenko incorporou também a fotografia no seu repertório, realizando fotomontagens para pôsteres e publicações pró-Revolução. Em 1925, Rodchenko adquiriu um dos novos modelos da câmera Leica que podia ser segurada com uma mão apenas. A máquina possibilitou que o fotógrafo experimentasse imagens com ângulos inclinados e perspectivas incomuns, completamente inovadores para a fotografia de então. Por meio desse tipo de fotografia, Rodchenko viu a possibilidade de realizar uma nova linguagem visual que fosse artística e não apenas de registro, como era a norma entre as imagens fotográficas nesse tempo.

‘OUVINTE DE RÁDIO’ É UMA FOTO DE 1929

‘CONSTRUÇÃO DO CANAL DO MAR BRANCO’ FOI REALIZADA EM 1932

CADA VEZ MAIS, O TRABALHO DO FOTÓGRAFO SERVIU PARA FINS DE PROPAGANDA DO REGIME SOVIÉTICO.
Para ele, os sistemas e traçados das coisas deveriam ser evidenciados pela arte e não escondidos. Suas fotografias destacam esse aspecto, como é o caso de ‘A escadaria’, em que uma imagem banal e cotidiana, uma mulher subindo uma escada carregando uma criança, adquire um aspecto geométrico e contrastado, quase abstrato. “Ser capaz de fotografar significa criar uma imagem que produz um efeito visual máximo”, disse Rodchenko sobre sua abordagem.
O fotógrafo ocupou diversos postos em órgãos culturais bolcheviques, incluindo a diretoria do departamento de museus, e foi secretário do sindicato de artistas de Moscou. Apesar de ter atraído críticas de alguns setores oficiais, pelo modo incomum de retratar pessoas e objetos, foi ganhando prestígio entre as autoridades. Na era Stálin, a partir de 1927 e especialmente na década de 1930, a câmera de Rodchenko foi servindo cada vez mais para registros de obras do governo, eventos esportivos e desfiles oficiais, que tinham como objetivo glorificar o regime.
  
CARTAZ PARA EDITORA EM QUE MULHER GRITA “LIVROS!”; A MODELO É LILY BRIK, ENTÃO ESPOSA DO EDITOR OSIP BRIK, E QUE TINHA SIDO AMANTE DE VLADIMIR MAIAKÓVSKI

MARCHA DE ATLETAS DO DYNAMO SPORTS CLUB; FOTO TIRADA EM 1932



Texto: Camilo Rocha, Guilherme Falcão, Thiago Quadros e Ariel Tonglet  |  =Nexo Jornal
Imagens: Kazimir Malevich –  Quadrado Negro’ e ‘Círculo Negro’1915; ‘Cruz Negra’ e ‘Branco no Branco’, 1920


(JA, Nov17)