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sexta-feira, 29 de março de 2019

Mostra ‘Consciência cibernética’ debate o avanço da inteligência artificial



Entre os dias 27 de março e 19 de maio de 2019, o Itaú Cultural apresenta uma mostra onde o público pode vivenciar um tempo futuro, em que a inteligência humana se mescla à artificial e à computação quântica, em convivência natural.

É o que indica ‘Consciência Cibernética [?] Horizonte Quântico’, composta de nove obras assinadas por oito artistas internacionais e do Brasil: o austríaco Thomas Feurstein, a brasileira Rejane Cantoni, o britânico Robin Baumgarten, a francesa Justine Emard, os norte-americanos David Bowen e Lynn Hershman Leeson, os suíços André e Michel Décosterd, que formam a dupla Cod.Act, e o turco Memo Akten.
A programação da mostra conta ainda com um seminário nos dias 28 e 29 de março de 2019 e um curso a ser realizado em maio. A entrada é livre e gratuita.


Co(AI)xistence (2017, 12 mins), de Justine Emard, França


Com conceito elaborado pelo gerente do Núcleo de Inovação do Itaú Cultural, Marcos Cuzziol, pesquisa de Rejane Cantoni e projeto expográfico de Maria Stella Tedesco, em coautoria com Renata Fernandes, a mostra ocupa os três andares do espaço expositivo do instituto em uma demonstração artística digna de ficção científica.

Passeando por estes pisos, o público tanto pode interagir com uma agente da web, artificialmente inteligente, quanto observar uma espécie de cobra píton gigante fechada em si mesma, que se contorce e emite sons. Ele tem a possibilidade, ainda, de mergulhar no mundo interior de uma rede neural artificial, que capta o mundo dos humanos, ou apreciar o concerto de um piano sem pianista, que executa uma partitura a partir da passagem das nuvens naquele exato momento.

O visitante também encontra um vídeo performance em que uma robô-mulher aprende a dançar com um homem humano, uma instalação cibernética que simula comportamentos, além de duas criaturas, na forma de lâmpadas cirúrgicas, que observam e debatem este mundo, muitas vezes horrorizadas, e um jogo que apresenta simulações quânticas animadas.

‘A inteligência artificial e a computação quântica são duas linhas de tecnologias que se desenvolvem rapidamente’, observa Cuzziol. ‘Elas vão além da mera ampliação de capacidades humanas, pois uma nos leva a questionar o que é de fato a inteligência, a consciência, e a outra questiona nossa própria realidade’, continua. ‘Parece inevitável que essas duas tecnologias se encontrem em um futuro próximo, o que torna urgente uma reflexão sobre elas’, completa.

Para dar corpo a esta reflexão, nos dias 28 e 29 (quinta-feira e sexta-feira), o instituto promove na Sala Itaú Cultural o ‘Seminário Consciência Cibernética [?] Horizonte Quântico 2019’. Em quatro mesas – duas por dia –, ele reúne especialistas, pesquisadores e artistas brasileiros e internacionais ligados à arte sob o ponto de vista da inteligência artificial, da computação quântica e da poética.

A mostra e o seminário se inserem na linha propositiva das bienais Emoção Art.Ficial e das exposições de arte e tecnologia apresentadas pelo Itaú Cultural desde 1997. Em 2017, o instituto apresentou ‘Consciência Cibernética [?]’, que teve como mote o debate a respeito da evolução das máquinas e de seus avanços em relação ao cérebro humano.

Um passo adiante da última exposição, ‘Consciência Cibernética [?] Horizonte Quântico’ propõe um olhar artístico para esse dilema, trazendo obras que, em diferentes aspectos, exploram características não muito conhecidas do processamento de dados, digital ou não. São sistemas que aprendem, se auto estabilizam, desenvolvem soluções não imaginadas por seus criadores, conversam em linguagem natural e fazem escolhas estéticas. Nenhuma das obras apresentadas no instituto têm consciência, mas cada uma delas demonstra características importantes que, em um futuro próximo, podem fazer parte de máquinas cibernéticas conscientes.


Cloud Piano (2014), de David Bowen, Estados Unidos


A mostra

Cinco obras dividem o piso 1:

Agent Ruby, da norte-americana Lynn Hershman Leeson, é dotada de inteligência artificial, tem rosto de mulher, expressões variadas e faz parte, simultaneamente, dos mundos real e virtual em interação com o público.

Outra delas é Deep Meditations: A brief history of almost everything in 60 minutes, do turco Memo Akten. Esta obra é um convite para uma meditação e reflexão sobre a vida e a experiência humana subjetiva. Ela abre caminho para o observador explorar o mundo interior de uma rede neural artificial treinada, que capta o mundo real em suas nuances artísticas, a vida, o amor, os rituais de fé.

A obra Learning to see: Gloomy Sunday também é de Akten. Este trabalho explora uma possível interação homem-máquina em colaboração criativa. Trata-se de uma rede neural artificial que olha o mundo real por meio das câmeras e procura dar sentido ao que vê, inspirada pelo córtex visual humano. Ao observar um emaranhado de fios, por exemplo, ela é capaz de transformar o que vê em cenas bucólicas da natureza, reproduzindo cenas oníricas e poéticas.

Ainda neste andar encontra-se a obra Borgy & Bes, do austríaco Thomas Feuerstein. Nela, duas lâmpadas cirúrgicas transformadas em criaturas cibernéticas robóticas se movem, falam, sussurram, discutem entre si. Borgy (de Cyborg) e Bes (de Os Demônios, de F. M. Dostoiévski) discutem dados on-line de redes sociais e feeds de notícias e os executam na linguagem do escritor russo. Elas não interagem com as pessoas, porém questionam e interpretam informações e notícias para ter uma ideia do que é este mundo. A obra, foi produzida pelo laboratório Art&Science de Moscou, Rússia, e tem como parceiro o Kaspersky Lab.

Em Cloud Piano, uma instalação do também norte-americano David Bowen, a música literalmente dá o tom. Há um piano de cauda, mas não há pianista. Em seu lugar, há uma câmera apontada para o céu, que captura em vídeo a imagem das nuvens, e um software personalizado, que usa estas imagens registradas em tempo real, articulado com um dispositivo robótico que pressiona as teclas no piano. É como se as nuvens tocassem essas teclas à medida que se deslocam no céu e mudam de forma para emitir o som.


Learning to see: Gloomy Sunday (2017), de Memo Akten


Descendo, estão a πTon/2 (Pyton), da dupla de suíços Cod.Act (André e Michel Décosterd), Co(AI)xistence, da francesa Justine Emard, e Quantum Garden, do britânico Robin Baumgarten.

A primeira, que tem apoio de Faulhaber Drive Systems, é uma instalação sonora de 20min, com intervalos para manutenção. Ela é composta de um anel flexível fechado em si mesmo e acionado por motores de torção localizados dentro de seu corpo. Torcendo-se e virando para si mesmo, πTon se movimenta de maneira natural e imprevisível emitindo um som cuja origem é de clarinete baixo. Como uma cobra, ela se move devagar, suas contrações e dilatações produzem sons sensuais. Quando os movimentos se tornam rápidos, nervosos e brutais, emite um som ácido e agudo.

No vídeo performance Co(AI)xistence, a robô Alter é governada por redes neurais e interage com o artista japonês de dança Mirai Moriyama. Por meio de sons e movimentos, ela aprende a expressão corporal dele e tenta reproduzi-la. A partir do dialogo estabelecido com Alter, o artista realiza uma performance de dança e a provoca. Toda a interação entre os dois foi captada pela autora da obra Justine Emard no vídeo em exibição na mostra.

Quantum Garden é um jogo, uma instalação gráfica de luz interativa, que o artista britânico de jogos Robin Baumgarten desenvolveu em colaboração com uma equipe de físicos quânticos da Universidade de Turku e as escolas de Ciências e de Artes, Design e Arquitetura da Universidade Aalto, ambas da Finlândia, e patrocínio do Centro de Engenharia Quântica (CQE).

Todo o andar -2 é ocupado por QUANTUM, obra da brasileira Rejane Cantoni, uma instalação imersiva e interativa desenvolvida com pesquisa de Marcos Cuzziol, produção da equipe Itaú Cultural, desenvolvimento de software de Kenzo Okamura e Tuany Pinheiro, também integrantes do Núcleo de Inovação do instituto, e design do espaço ST Arquitetura.

Ela é composta de um dispositivo ótico; computadores; software customizado, sensores e sistema de áudio. Tem uma grande estrutura feita de 15 módulos de madeira, alinhados e conectados entre si formando uma armação tubular elipsoidal de 4,15 metros largura x 2,27 metros de altura x 15,24 metros de comprimento.

QUANTUM funciona como um simulador de comportamentos, que permite, dentro de certos limites, uma experiência imersiva e interativa na realidade quântica. Em seu interior, o teto, o piso e uma lateral são espelhados; a outra lateral funciona como tela de projeção, que exibe imagens geradas por computadores. Os espelhos refletem as imagens computacionais e as interações dos usuários. Por meio de sensores infravermelhos, a presença do público gera silhuetas digitais ao ativar mudanças no estado do sistema, nas suas telas de projeção e na dimensão sonora.

Curso

Em maio, o instituto promove um curso com noções de física quântica e sobre os conceitos da mostra. De 7 a 10 daquele mês, o curso ‘Consciência Cibernética [?] Horizonte Quântico’ parte de questões como a forma que a exposição afeta os visitantes e como o tema explorado pode atravessar o cotidiano das pessoas.

São dois módulos de discussão. Um é ministrado pelo doutor em física, pelo Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas, Gabriel Guerrer, no qual aborda os limites da física quântica. O outro, se foca nos conceitos da exposição e tem como ministrantes Rejane Cantoni e Marcos Cuzziol. São 70 vagas para as aulas que vão das 19h às 22h, por meio de inscrições, que serão abertas de 15 a 29 de abril.


Quantum Garden (2018), Robin Baumgarten, Reino Unido


Serviço

Exposição: ‘Consciência Cibernética [?] Horizonte Quântico’, mostra coletiva.
Local: Itaú Cultural (pisos 1M, 1S e 2S) | Avenida Paulista, 149 - São Paulo (próximo à estação Brigadeiro do Metrô).
Datas e horários: abertura dia 27 de março, quarta-feira, às 20h. Em cartaz até 19 de maio de 2019. De terça a sexta-feira, das 9h às 20h (permanência até as 20h30); sábado, domingo e feriado, das 11h às 20h.
Entrada livre e gratuita.








Fonte: INFOARTsp



(JA, Mar19)









domingo, 22 de abril de 2018

O que falta para a inteligência artificial produzir obras de arte?



Organizador de exposição no Japão discute o que (ainda) separa seres humanos de máquinas

O que precisa acontecer para que a inteligência artificial seja capaz de produzir obras artísticas? Organizador de exposição sobre o tema no Japão discute o que (ainda) separa seres humanos de máquinas no campo das artes plásticas.

O violoncelista Jan Vogler disse que a arte é o que nos faz humanos. Mas e se máquinas também começarem a criar arte?


Um exemplo de uma obra de arte criada por uma inteligência artificial está na foto (1), abaixo. Do lado direito da imagem, vemos um computador usando inteligência artificial que foi treinada com imagens de grafitagem. Ele controla um cabeçote de plotagem que borrifa água sobre blocos de concreto, à esquerda. Os desenhos resultantes são uma forma de arte gerada por computador.

‘About a Theory of Graffiti’, obra feita por máquina treinada com imagens de grafitagem


Isso é belas-artes no sentido real do termo? Se for, teremos que encarar a possibilidade de que alguma parte de nossa humanidade —a parte à qual Vogler aludiu— foi capturada por máquinas.


Mas a verdade é que, embora o que a máquina produz possa ser artístico, ela não está criando arte.

Quando arte é criada para satisfazer as necessidades de uma terceira parte —neste caso, o programador de computadores empregado pelo artista—, ela é ilustração ou arte comercial, não belas-artes.

Se quisermos que arte real seja criada por inteligência artificial, a obra terá que ser gerada por ela própria: produzida por máquinas de maneira autônoma, independente e ativa, para o seu próprio bem e com sua estética. Apenas nesse caso a arte não seria um produto passivo de criação humana.

No dia 8 de janeiro deste ano, a Exposição de Arte e Estética de Inteligência Artificial encerrou sua passagem pelo Instituto Okinawa de Ciência e Tecnologia (Oist), em Okinawa, Japão. A exposição se concentrou no conceito de arte artificialmente inteligente de verdade. O único problema dos curadores (entre os quais me incluo): ainda não existe arte que se enquadre nessa categoria.

Para contornar esse fato incômodo, as mostras da exposição foram divididas em quatro categorias: (1) Arte Humana / Estética Humana; (2) Arte Humana / Estética de Máquina; (3) Arte de Máquina / Estética Humana e (4) Arte de Máquina / Estética de Máquina.

A categoria 1 continha uma coleção de arte humana convencional, da Renascença em diante. As categorias 2 e 3 apresentaram, como seus nomes indicam, coleções de arte híbrida humana e de máquinas. A categoria quatro, por sua vez, não trazia arte feita por máquinas porque não existe esse tipo de arte que também reflita uma estética de máquina.

Mesmo assim, essa última categoria foi útil como marcadora de posição —e, como vamos descobrir, não ficou completamente vazia. Cada categoria nos ensina suas próprias lições.

A arte na categoria 1 mostra a transformação histórica da estética, afastando-se da perspectiva do olhar de Deus em direção a uma visão humana. A arte sistêmica incluída na categoria 2 (foto 2), em sua maioria arte do século 20, incluindo minimalismo, música serial e poesia visual, caracteriza-se pelo uso de regras ou formas matemáticas. Podemos considerar que a arte sistêmica nasceu com a Torre Eiffel, em 1889.



Trabalhos de Mika Kusakari e Hideki Nakazawa que usam regras matemáticas

A construção da torre enfrentou a oposição de muitos artistas famosos, incluindo o pintor William-Adolphe Bouguereau e o escritor Guy de Maupassant, para os quais sua aparência básica e seu design calculado por máquina eram uma negação hedionda da estética humana.


O fato de que hoje a maioria de nós considera a Torre Eiffel bela é a lição fundamental proposta pela categoria 2: que nosso senso estético pode ser modificado pela matemática e pelas máquinas.

A categoria 3 (foto 3) contém uma espécie de arte midiática, produzida por máquinas, mostrando-nos que, mesmo sendo um produto passivo da criação humana, a inteligência artificial moderna é capaz de produzir objetos dotados de beleza.



Série ‘Deep Rembrandt’, gerada pelo software Deep Dream AI, do Google


Juntas, as três primeiras categorias da exposição descrevem um arco incompleto. Vemos o nascimento do autor humano e os primórdios do autor de inteligência artificial.

Mas será que um artista artificial verdadeiro existirá algum dia? Podemos prever que algum dia a estética venha a ser gerada inteiramente pela máquina, sem qualquer design comandado pelo homem? Essa questão esteve no cerne da exposição: a inteligência artificial terá estética própria algum dia?

Platão argumentou que o verdadeiro, o bom e o belo, são todos coisas que possuem valor intrínseco. A beleza possui valor por si própria, não por servir a algum outro propósito. Fazemos o bem por fazer o bem, e assim por diante.

Para que uma máquina possa produzir sua própria arte, ela precisa satisfazer a regra de Platão, e criar sem finalidade utilitária. A pergunta que está em aberto é se as máquinas serão capazes de fazê-lo algum dia.

Uma base para otimismo é que os humanos não são os únicos seres capazes de criar sem fins utilitários. Por exemplo, já foi observado que chimpanzés, quando lhes são dados materiais de pintura, fazem desenhos por simples prazer.

Aliás, a exposição em Okinawa incluiu (foto 4) desenhos feitos por cinco chimpanzés e um chimpanzé-pigmeu que pertencem a Tetsuro Matsuzawa, professor da Universidade de Kyoto —e todos foram incluídos na categoria 4, ‘Arte de Máquina / Estética de Máquina’, para nos lembrar do que é possível.



Pinturas feitas por chimpanzés

Se os animais tivessem produzido os desenhos em troca de bananas, não teriam sido incluídos nessa categoria porque a arte deles não teria sido criada sem outra finalidade, exceto a de criar arte.


Para a inteligência artificial chegar ao ponto em que estão os chimpanzés, são necessários dois passos. Primeiro, a inteligência artificial deve ser capaz de gerar seus próprios objetivos. Hoje, suas metas são traçadas por programadores humanos, que escrevem as chamadas funções de avaliação para calcular quão bom ou ruim está sendo o desempenho de um algoritmo.

A primeira obra de arte criada por máquina qualificada na categoria 4 terá que ser capaz de escrever suas próprias funções de avaliação.

Isso não apenas é possível como já foi feito —e se você visitou nossa exposição em Okinawa este ano, pode tê-lo visto em ação. Kenji Doya, professor da Unidade de Computação Neural do Oist, e sua equipe de desenvolvimento de robôs para smartphones montaram um experimento chamado ‘Os robôs são capazes de definir seus próprios objetivos?’

Eles colocaram numa área comum uma coleção de robôs feitos de smartphones sobre rodas. Essas máquinas podiam deslocar-se livremente, encontrar seus próprios lugares para se recarregar e trocar programas, escaneando os códigos QR uns dos outros. As recargas eram análogas a se alimentar, enquanto trocar programas era análogo a se reproduzir.

Os robôs que não se recarregavam paravam de funcionar, e aqueles que não trocavam programas com outros não transmitiam seu ‘DNA’ à geração seguinte. Com o tempo, os robôs começaram a escolher suas metas: alguns pararam de se recarregar para correr atrás de outros robôs, por exemplo, um comportamento para o qual não tinham sido programados.

Os resultados deste e de outros experimentos convenceram Doya de que os robôs podem criar seus próprios objetivos.

O segundo passo necessário é que a inteligência artificial seja capaz de elevar as metas secundárias —as que existem apenas para servir à sua meta principal— à condição de metas primárias.

Suponhamos, por exemplo, que a meta primária de um organismo ou uma máquina seja se reproduzir. Fazer sexo é um método de se reproduzir; logo, fazer sexo é uma submeta. Atrair um parceiro é um método para fazer sexo, logo, pode ser visto como uma sub-submeta. Ser belo é uma maneira de atrair parceiros, podendo ser visto como uma sub-sub-submeta, e assim por diante.

Para os humanos, porém, o sexo e a beleza do parceiro adquiriram valor próprio. Assim como fazer sexo pelo próprio sexo pode passar a ter valor, fazer arte pela própria arte, também. Quando uma inteligência artificial tiver escolhido seus próprios objetivos e começado a ir atrás deles por elas próprias, e não com outra finalidade, ela estará a caminho de criar suas próprias belas-artes.

Vamos ser capazes de reconhecer quando as máquinas começarem a criar arte? Podemos ensinar à inteligência artificial nossa própria história da arte, para incentivar uma produção que possamos reconhecer e apreciar.

Por outro lado, a inteligência artificial não treinada terá probabilidade maior de produzir algo fortemente original e até mesmo irreconhecível, à maneira da chamada arte outsider ou arte bruta.

Embora não possamos entender o sentido estético interno do artista autista Moriya Kishaba, um de nossos expositores na categoria 2 (foto 5), muitas pessoas acham seus azulejos com caracteres chineses minúsculos estranhamente belos. O futuro da arte criada por inteligência artificial é análogo a um mundo cheio de artistas como Moriya antes de serem descobertos.



Obra de Moriya Kishaba, que é autista, mostra centenas de caracteres chineses em ordem aleatória

A verdadeira arte criada por inteligência artificial será ao mesmo tempo dolorosamente entediante e altamente estimulante, e isso representará progresso. Afinal, a beleza não pode ser quantificada, e o próprio ato de questionar a definição da estética faz toda a arte avançar, algo que já testemunhamos inúmeras vezes na história da arte feita pelo homem
.

A concretização da inteligência artificial vai imbuir essas questões de novas dimensões. Será também um triunfo do materialismo, enfraquecendo ainda mais o caráter especial da espécie humana e desvelando um mundo que não encerra nem mistério nem Deus, no qual os humanos são meras máquinas feitas de materiais inanimados.

Se tivermos razão, também trará à luz uma nova geração de artistas e, com eles, novas Torres Eiffel que vão transcender nossas visões mais desvairadas.






Fonte: Hideki Nakazawa, 55,  artista japonês fundador do Grupo de Pesquisas sobre Arte e Estética de Inteligência Artificial. Texto publicado originalmente na revista Nautilus. Tradução de Clara Allain   |   FSP


(JA, Abr18)