Regina Duarte, no início de sua trajetória em novelas ainda na TV Excelsior |
Depois de ocupar o estrelato por
décadas, ela estava sumida, aqui e ali, esporadicamente aparecia na mídia,
principalmente de alguns anos para cá, quando o Brasil passou a viver intensos
embates políticos e então, com extrema coragem, passou a dar sua cara a tapa e,
nesse ano, voltou a ocupar o noticiário, só que agora numa outra posição, não
mais na parte de cultura e entretenimento, onde permaneceu por décadas, mas no
noticiário político. Hoje, a atriz e produtora cultural, e secretária nacional
da Cultura do governo Jair Bolsonaro, Regina Duarte, completa 73 anos de idade.
Natural da cidade de Franca, interior
de São Paulo, em 5 de fevereiro de 1947, era filha do militar cearense, Jesus
Nunes Duarte, e da pianista Dulce Blois, natural de Pelotas, Rio Grande do Sul.
Era a sexta dos cinco filhos do casal: Maria Lúcia, Cláudio, José, Flávio e
Teresa.
Viveu dos seis aos dezoito anos em
Campinas. Sua carreira teve início aos quatorze anos de idade como atriz
amadora no grupo TEC (Teatro do Estudante de Campinas). Estreou interpretando a
Compadecida em Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna.
Participou da montagem de Pluft, o
Fantasminha, de Maria Clara Machado, Rapunzel, Natal na Praça e O Tempo e os
Conways, de Priestley, e Via Sacra, de Ghéon.
Em 1964 apareceu em cartazes para uma
campanha de sorvetes. Em seguida, fez anúncio para a televisão de uma marca de
refrigeradores. Sua formação incluía aulas de balé clássico com Mozart Xavier,
declamação com Maria Silvia Ferraz Silva, e um curso de três meses com Eugênio
Kusnet sobre o método Stanislavski.
Regina, ao lado de Tarcísio Meira, em A Deusa Vencida, na TV Excelsior, em 1965 |
Regina estreou em 1965 na TV Excelsior,
atuando na telenovela ‘A Deusa Vencida’, de Ivani Ribeiro, sob a direção de
Felipe Duarte de Jesus, e no teatro, no mesmo ano, sob a direção de Antunes
Filho na montagem de ‘A Megera Domada’, de Shakespeare.
Durante sua carreira na TV Excelsior,
1965-1969, interpretou personagens marcantes, como a jovem Inezita, sua
primeira protagonista, em ‘As Minas de Prata’, telenovela, 1966; a dócil e
ingênua Carolina em ‘O Terceiro Pecado’, 1968; ou a extraterrestre Melissa em’
Os Estranhos’, 1969, seu penúltimo papel na emissora.
Regina em sua primeira novela na TV Globo, Véu de Noiva, em 1969 |
Em 1969, devido uma grave crise
financeira, a TV Excelsior foi obrigada a dispensar diversos atores, incluindo
Regina, sendo que a emissora faliu meses depois. Naquele mesmo ano a atriz
assinou com a Rede Globo para protagonizar ‘Véu de Noiva’, sob a direção de
Daniel Filho. Em seguida, em meados de 1970, interpretou a doce Ritinha, em ‘Irmãos
Coragem’, um marco em sua carreira.
Ganhou a alcunha de ‘Namoradinha do
Brasil’ quando fez a telenovela ‘Minha Doce Namorada’, em 1971, interpretando a
órfã Patrícia, na TV Globo. Em seguida interpretou a escultora Simone Marques,
em ‘Selva de Pedra’, 1972. Um grande marco em sua carreira, principalmente por
ser a primeira trama a bater 100% de audiência em todo o país.
Depois, vieram outras mocinhas, como
a aeromoça Cecília em ‘Carinhoso’, telenovela. No meio da trama, Regina
descobriu estar grávida de Gabriela Duarte, porém teve que esconder sua
gravidez da imprensa, já que não era conveniente para sua personagem
engravidar. Por isso, sua personagem passou a aparecer apenas em plano fechado,
e a trama foi encurtada em dois meses.
Na época, Regina estava insatisfeita
com a alcunha de ‘Namoradinha do Brasil’, já que este título a aprovisionava
apenas em interpretar as heroínas das novelas, não a possibilitando interpretar
outros papéis. Em 1975, disposta a romper o título que era vinculado à sua
imagem, fez a prostituta Janete em ‘Réveillon’, um divisor de águas em sua
carreira teatral. Nessa peça, que estreou no Teatro Sesc Vila Nova, na Vila
Buarque, em São Paulo, Antonio Rudolf, fez o cenário. A imagem de ‘Namoradinha
do Brasil’ foi se rompendo os poucos.
A ruptura que se propôs a fazer para
romper com o rótulo de namoradinha do Brasil teve início com sua atuação na
telenovela ‘Nina’, em 1977, consolidando-se de vez o fim da imagem de ‘Namoradinha
do Brasil’ com o seriado ‘Malu Mulher’, de 1979, onde interpretava uma mulher
divorciada e independente, levando diversos grupos conservadores a protestarem.
Em 1979 apresentou o especial ‘Mulher
80’, que trazia entrevistas e musicais sobre o papel feminino na sociedade.
Entre 1984 e 1985 deixou a Globo para
protagonizar o seriado ‘Joana’ na Rede Manchete, uma vez que desejava há muitos
anos trabalhar com Manoel Carlos, o autor da obra.
Interpretando a marcante Viúva Porcina, em Roque Santeiro em 1985, com Lima Duarte |
Viveu personagens antológicos na TV
como a Simone Marques de ‘Selva de Pedra’, 1972, a Malu do seriado ‘Malu Mulher’,
1979-1980; a dupla personalidade Luana Camará/Priscila Capricce em ‘Sétimo
Sentido’, 1982; a politicamente correta Raquel Accioli em ‘Vale Tudo’, 1988, a
espalhafatosa Maria do Carmo de ‘Rainha da Sucata’, 1990; a extravagante Viúva
Porcina em ‘Roque Santeiro’, 1985; além de ter sido a atriz que mais deu vida
às Helenas de Manoel Carlos, nas novelas ‘História de Amor’, 1995; ‘Por Amor’, 1997; e ‘Páginas da Vida’, 2006.
Em 2008, viveu a cômica Waldete
Maria, uma mulher despachada, divertida, pragmática e sem papas na língua, na
novela ‘Três Irmãs’.
Em cena na peça ‘Volta ao Lar’, do dramaturgo Harold Pinter, ganhador de um Prêmio Nobel de Literatura |
Em 2011, Regina retornou à TV em um
papel de destaque, a enigmática e fútil ricaça Clô Hayalla no remake de ‘O
Astro’. De acordo com a própria Regina, Clô é um dos papéis mais marcantes e
importantes de sua carreira, já que foi uma das poucas vilãs que a atriz
interpretou em novelas.
Em 2014, a atriz foi anunciada no
elenco de ‘Boogie Oogie’, porém desistiu do papel na novela. A expectativa era
que a atriz interpretasse a avó da protagonista - papel de Ísis Valverde -, e
repetisse par romântico com Lima Duarte, com quem contracenou em ‘Roque
Santeiro’.
No mesmo ano, fez uma participação
especial em ‘Império’, novela de Aguinaldo Silva, no papel de Maria Joaquina,
uma compradora de diamantes que participa dos quatro primeiros capítulos da
trama. Ainda, em 2014, foi anunciada no elenco de ‘Sete Vidas’, num papel muito
diferenciado na sua longeva carreira, a de uma homossexual.
No Teatro ao lado de Leopoldo Pacheco em cena de 'O Leão no Inverno' |
Em 2017, fez uma participação
especial como ela mesma na novela ‘Pega Pega’. Viveu a personagem Madame
Lucerne na novela ‘Tempo de Amar’.
Regina com a sua filha, a atriz Gabriela Duarte |
Regina foi casada entre 1969 e 1975
com o engenheiro Marcos Flávio Franco Cunha, com quem teve dois filhos: o
diretor André Duarte, 1970, e a atriz Gabriela Duarte, 1974.
Regina atuou com a filha em três
ocasiões: nas telenovelas ‘Por Amor’ e ‘Top Model’, onde interpretaram
igualmente mãe e filha, e na minissérie ‘Chiquinha Gonzaga’, onde dividiram o
mesmo papel em fases diferentes.
Em 1976 começou a namorar o diretor
Daniel Filho, com quem foi casada entre 1978 e 1979. Entre 1980 e 1982 namorou
o publicitário argentino Daniel Gómez, com quem teve seu terceiro filho, o
cineasta João Gomez.
Em 1983 se casou com o diretor Del
Rangel, permanecendo até 1995 Em 2000 começou a namorar o fazendeiro Eduardo
Lippincott, com quem mantém uma união estável desde então.
Discursando na Avenida Paulista defendendo o impeachment de Dilma Roussef, em 2015 |
Em paralelo a sua carreira, Regina
sempre se notabilizou, notadamente nos últimos 30 anos pelo seus constantes
posicionamentos políticos, concordando com suas posições ou não, sempre deu a
sua cara a tapa, como quando em 2002, revelou o medo da eleição de Lula,
revelando durante um bom tempo estar mais alinhada ao PSDB, sem necessariamente
ser militante, e até por isso, sem jamais se furtar a mudar de opinião.
Com o PT no poder, rapidamente foi
claramente sendo isolada por grande parte da classe artística que causou alguns
prejuízos na sua carreira, mas nem por isso, Regina, demonstrando muita
personalidade, recuou. Nesse período com o envolvimento do PSDB em esquemas de
corrupção revelados pela Lava Jato, Regina foi buscando se alinhar ao
conservadorismo que começou a se formar na sociedade brasileira e na defesa
intransigente do combate a corrupção, dando seu testemunho varias vezes a favor
dessa causa, sendo aliás uma das poucas vozes declaradas do meio artístico
nessa direção infelizmente.
Atualmente, como secretaria da cultura
Em janeiro desse ano, de maneira um
tanto inusitada, foi convidada para ocupar a Secretaria da Cultura do Governo
Bolsonaro, Sua decisão foi confirmada em 29 de janeiro de 2020, e passou a
ocupar o cargo de secretária especial da Cultura do Brasil do governo de Jair
Bolsonaro.
Em função de exercer uma secretaria
de governo, o contrato com a Rede Globo foi suspenso. Aos 73 anos de idade, com
uma carreira consagrada, e já estando no imaginário e na história afetiva de
milhares de pessoas de diversas gerações de brasileiros, certamente, enfrenta o
maior desafio de sua vida. As poucas semanas que está no cargo já demonstram
claramente o imenso desafio que terá pela frente. Parabéns Regina Duarte.
Fonte:
Antonio Marcos Rudolf
(JA, Fev20)