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quarta-feira, 13 de março de 2019

Exposição apresenta iconografia de São Francisco de Assis por mestres italianos



Com seleção de 18 obras, exposição que chega a São Paulo destaca as representações de São Francisco de Assis por artistas italianos

Acervo Pinacoteca Civica, Comune di Ascoli Piceno (Itália)

Um dos santos mais presentes na iconografia católica é tema de nova exposição que chega à cidade.  ‘São Francisco de Assis na Arte de Mestres Italianos’ – que já passou por museus de Belo Horizonte e Rio de Janeiro – reúne 18 obras datadas dos séculos 15, 16 e 17, vindas, em sua maioria, de coleções públicas italianas.

Diretor da Pinacoteca Civica Di Ascoli e curador da mostra (ao lado do historiador da arte Giovanni Morello), Stefano Papetti atribui o grande número de representações de São Francisco ao entendimento que os franciscanos tiveram, desde cedo, sobre o poder das imagens na difusão da biografia e, sobretudo, dos milagres do santo.

Assim, segundo ele, 'a partir de Giotto, os principais artistas italianos e europeus o retrataram destacando suas principais qualidades morais – pacifismo, amor pela natureza, respeito ao próximo'.

Acompanhando os diferentes momentos da trajetória de São Francisco, a exposição é dividida em três núcleos: ‘Imagens’, ‘Os Estigmas’ e ‘Conversas Sagradas’. As seções contemplam desde os primeiros retratos de suas privações, nos quais aparece como uma figura franzina, até representações suas como santo merecedor de devoção, associado à Virgem Maria e a outros nomes sagrados.

Do realismo da Renascença em Tiziano, passando pelo Barroco de Guido Reni e Guercino, até obras ligadas à Reforma Católica, como as de Cigoli e Andrea Lilli, o curador aponta que a mostra ajuda na compreensão de como sua figura foi motivo de interpretações ligadas a diferentes correntes artísticas. ‘Sem, entretanto, trair a mensagem de paz, amor universal, atenção às criaturas e humildade que marcaram seu caminho’.

Além do conjunto de pinturas, a mostra contará com uma sala de realidade virtual na qual será possível ‘caminhar’ pela Basílica Superior de Assis, que guarda afrescos com cenas da vida de São Francisco assinados por Giotto.



‘São Francisco de Assis na Arte de Mestres Italianos’
ONDE: MAB-Faap. -  R. Alagoas, 903, Higienópolis, Tel.: (11) 3662-7198
QUANDO: 10h/19h (sáb., dom. e fer., 10h/18h; fecha 3ª).  Até 12/4
QUANTO: Grátis




Fonte: Júlia Correa   |   ESP


(JA, Mar19)


segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

Mostra em Nova York traça retrato íntimo de Michelangelo


Vermelho talvez seja a cor mais lembrada pelos que saem da mostra de Michelangelo agora no Metropolitan. Não um vermelho vivo, mas o tom opaco do giz, algo entre a carne e o mármore. Seus anjos, homens e monstros tomam forma aos poucos, em traços vaporosos, nos mais de cem desenhos dessa exposição.

Em grande parte estudos e esboços, essas obras reunidas até o mês que vem, em Nova York, revelam os métodos e a arquitetura secreta por trás dos trabalhos de um dos maiores artistas da história.
Suas figuras ali mudam de posição e escala -montanhas de músculos sobre a folha de papel que lembram às vezes deslizamentos de terra quando o artista mudava de ideia sobre seus contornos e não apagava versões anteriores.
Nesse sentido, estar diante desses trabalhos é como observar o mestre renascentista em seu ateliê, uma intimidade reforçada pela escala das obras. Esses pequenos desenhos ficam quase na penumbra –frágeis demais para aguentar um holofote– e exigem que os espectadores cheguem muito perto deles.
É esse contato com os mínimos detalhes que acaba revelando a monumentalidade de sua obra. Morto aos 88, em 1564, Michelangelo atravessou um momento de transformação na história da arte em que o desenho e a perspectiva se tornavam os alicerces inabaláveis de um universo retratado à base da fricção entre a anatomia e a geometria.
Escultor, arquiteto e anatomista, Michelangelo trabalhava sobre a folha de papel como quem construía um mundo real e físico, os traços como linhas mestras de algo que poderia ter vida própria.
E essa mostra deslumbrante do Metropolitan revela os momentos em que as figuras deixam de ser abstrações ou coisas mentais para respirar pela primeira vez –músculo por músculo, fibra por fibra.
Em sequências quase cinematográficas, em que um traço se sobrepõe a outro até as linhas tomarem corpo em esboço atrás de esboço, surgem figuras como o Adão do teto da Capela Sistina, um jovem arqueiro, os soldados amontoados da batalha de Cascina e coleções de braços, pernas, mãos, pés e olhos, como um catálogo de corpos infinitos.
Michelangelo, que desenhava seus homens começando pelas pernas fortes como colunas de sustentação de um templo, não escondeu o desejo que sentia pelo corpo masculino, um encanto por formas e volumes robustos que frequentam sua obra dos primórdios até o fim.
O número estonteante desses desenhos reforça essa impressão, mas outra ala belíssima da mostra, onde estão retratos de alguns dos homens pelos quais Michelangelo se apaixonou, revela como o artista também se deixou levar por emoções e sentimentos que vão além de um estudo anatômico cerebral.

Seu retrato do jovem aristocrata Andrea Quaratesi, que parece olhar para o artista que o desenha, é de uma força sublime. Em vez de músculos, é um rosto delicado, de espontaneidade chocante, que domina o quadro.
Toda a dureza arquitetônica de Michelangelo se dissolve nesses retratos ao mesmo tempo firmes e reticentes, como se fosse mais fácil desenhar deuses musculosos em torções dramáticas do que fixar o poder desarmado do olhar desses jovens amantes.
Tanto que em seus esboços quase nunca aparecem rostos. Enquanto pernas, braços, costas e peitorais têm contornos nítidos, nunca há uma face que possa dizer seu nome. É como se Michelangelo estivesse mais à vontade com a pedra do que com a carne que tentava imitar no mármore.


MICHELANGELO
QUANDO de dom. a qui., 10h às 17h30; sex. e sáb., 10h às 21h; até 12/2
ONDE Metropolitan, 1.000 5th Ave., Nova York; informações em www.metmuseum.org
QUANTO US$ 25 (ou R$ 78,50)
AVALIAÇÃO ótimo


Texto: Silas Marti
Imagens:   ‘Retrato de Andrea Quaratesi’, esboço concluído em 1534 por Michelangelo
                  ‘Punição de Tício’
                  ‘Estudos para a Sibila Líbia no Teto da Capela Sistina’



(JA, Jan18)