Mostrando postagens com marcador DESIGN GRÁFICO. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador DESIGN GRÁFICO. Mostrar todas as postagens

terça-feira, 20 de março de 2018

A revista alemã que exaltou as vanguardas do século 20

A revista alemã que exaltou as vanguardas do século 20


Edições da 'Jugend', publicação que destacou o movimento art nouveau, estão disponíveis online

Revista tinha textos curtos e foco na parte visual
 
‘Jugend’, que significa ‘juventude’ em alemão, foi o nome de uma revista que circulou entre 1896 e 1940. Conhecida durante a maior parte de sua existência pela postura libertária e esteticamente ousada, a Jugend é admirada hoje por estudantes de design gráfico, arte e colecionadores em geral. O site da Universidade de Heidelberg disponibilizou recentemente todos os números da revista em PDFs, para consulta on-line gratuita, além das capas em uma página no Flickr.


Segundo um crítico literário inglês, a revista era a mais ‘cerebral’ de seu tempo. ‘A plataforma política e social da Jugend é uma de oposição - oposição a tudo’, escreveu. Essa postura caía bem nos primeiros anos do século 20, repletos de movimentos artísticos que propunham ruptura com as tradições estéticas consagradas como cubismo, dadaísmo e futurismo.

Edição da revista Jugend, que durou até 1940


O principal movimento coberto pela revista, entretanto, foi o art nouveau. O termo significa ‘arte nova’, em francês, e se aplica a uma estética nas artes e na arquitetura que acolheu avanços científicos e tecnológicos em seus materiais e técnicas. Ilustrações e pinturas da art nouveau valorizam curvas e detalhes elaborados. As linhas e os contornos são bem destacados e definidos. A estética foi predominante entre o fim do século 19 e a década de 20.

A ligação da Jugend com o estilo era tão forte que este passou a ser conhecido na Alemanha como ‘jugendstil’ (estilo da Jugend, ou estilo da juventude, em tradução livre). De acordo com um livro da universidade de Oxford sobre revistas modernistas, ‘entre as qualidades mais importantes da Jugend - na verdade, um aspecto essencial da art nouveau e da jugenstil - era seu escapismo brilhante’.

Publicação foi fundada por jornalista alemão em 1896


Criada pelo jornalista George Hirth, a orientação editorial da Jugend para os colaboradores de textos era de que fossem ‘curtos e agradáveis’. O visual era o foco maior. Nos primeiros anos do século 20, a revista chegaria a vender 70 mil cópias por semana. ‘Era um respiro em tempos confusos, uma expressão da alegria de viver da juventude’, escreveram os autores.
O modo como a Jugend usava a tipografia, com fontes desenhadas à mão e fusões de letras e imagens, teve grande influência nas artes gráficas e na publicidade posteriores.

A chegada dos nazistas

Quando os nazistas ascenderam ao poder na Alemanha, em 1933, uma das políticas que colocaram em prática foi a ‘Gleichschaltung’. Em tradução livre, significa ‘forçar a entrar na mesma linha’. Descrevia uma conformidade em relação à ideologia oficial à qual deveriam se pautar instituições políticas, econômicas e sociais. Por meio desta política, associações da sociedade civil, sindicatos e veículos de imprensa deveriam estar alinhados com o discurso do governo de Adolf Hitler.

A revista se tornou um exemplo emblemático dessa situação. Durante décadas, a revista ficou conhecida por seu design ousado e pautas que celebravam vanguardas artísticas, inovação estética e um espírito livre e inquieto. Quando o partido de Hitler chegou ao poder, a revista foi enquadrada e adotou uma linha editorial de propaganda governamental.

Edição da revista no período nazista



Texto:  Camilo Rocha   |   =Nexo


(JA, Mar18)

quinta-feira, 23 de novembro de 2017

Papel da Arte na Revolução Russa - Pintura


Pintura
Kazimir Malevich
O quadrado preto, 1915

Em meio às muitas novas propostas de pintura do modernismo do início do século 20, como o cubismo de Picasso e o abstracionismo de Kandinski, Kazimir Malevich foi mais longe na busca por uma arte que estivesse livre de obrigações com a realidade ou a representação. Em 1915, inaugurou em São Petersburgo a exposição ‘A última exibição futurista de pinturas 0.10’ (em tradução livre), em que foram mostrados 36 trabalhos, dele e de outros 13 artistas de estilo similar. Na mostra, os quadros ficaram espalhados de modo irregular pelas paredes, alguns em cantos perto do teto.
Entre estes posicionados de modo pouco usual para um museu, estava o ‘Quadrado negro’. A obra é exatamente o que diz o nome: um quadrado negro margeado por uma borda branca. “Acredita-se em geral que foi a primeira vez que alguém fez uma obra que não era sobre alguma coisa”, explicou a curadoria do museu britânico Tate Modern, em texto de 2014 para uma exibição sobre o pintor.
A obra ficou conhecida como o trabalho inaugural do suprematismo, movimento de arte abstrata que se colocava como superior às outras correntes por aderir à ‘forma pura’. Ao pintar apenas formas geométricas, buscando um abstracionismo radical, o suprematismo acreditava estar instigando uma pureza de sentimento e percepção no olhar, sem qualquer influência ou referência para servir de apoio.

A MOSTRA “A ÚLTIMA EXIBIÇÃO FUTURISTA DE PINTURAS 0.10”, REALIZADA EM SÃO          PETERSBURGO, EM 1915, APRESENTOU O “QUADRADO NEGRO”, DE KAZIMIR MALEVICH. ELE  FOI PENDURADO EM UM LUGAR INUSITADO: UM CANTO PERTO DO TETO.

O extremismo de ‘Quadrado negro’ não veio de cara. Exames de raio-X feitos em tempos mais recentes revelaram que a tela recebeu outras inscrições inicialmente. Por baixo da tinta preta, havia contornos de um cavalo e palavras. Isso indica que, até chegar no preto total, houve um processo com outras etapas. Malevich pintaria outros três quadrados negros até o fim da década de 1920. O original encontra-se hoje em estado tão frágil que não pode deixar a galeria Tretyakov, em Moscou, onde fica guardado.
A pintura logo deixou de merecer a atenção de Malevich, que logo se juntou aos contemporâneos vanguardistas que viam a pintura como algo morto e ligado à velha ordem burguesa que havia colapsado com a revolução de 1917. Na década de 1920, o artista passou a se dedicar a trabalhos de design gráfico para pôsteres e publicações, entre outros.
‘Para o suprematista, os fenômenos visuais do mundo objetivo são desprovidos de sentido em si mesmos; o que é significativo é a sensação...o suprematista não observa e não toca, ele sente’ – Kazimir Malevich


O “CÍRCULO NEGRO” FOI REALIZADO POR MALEVICH NA MESMA ÉPOCA QUE O “QUADRADO”. O ARTISTA QUERIA LIBERTAR A ARTE DO “LASTRO DO MUNDO OBJETIVO”. A “CRUZ NEGRA” FOI PINTADA POR MALEVICH NA DÉCADA DE 1920, QUANDO O ARTISTA ESTAVA MAIS ENVOLVIDO COM COMPOSIÇÃO E LAYOUT GRÁFICO PARA PÔSTERES. JÁ “BRANCO NO BRANCO” É MAIS UM EXEMPLO DA ESTÉTICA SUPREMATISTA, QUE TINHA COMO PROPOSTA UM ABSTRACIONISMO LEVADO AO EXTREMO.

Há muitas relações de Malevich com outros protagonistas da vanguarda russa desse tempo. O pintor teve como discípulo na escola suprematista El Lissitzky, mais tarde conhecido por suas inovações gráficas nos cartazes de estética construtivista. Malevich também contribuiu com os cenários para a primeira peça de Vsévolod Meyerhold na era soviética, ‘Mistério-bufo’, cujo texto era de Vladimir Maiakóvski.
Com a morte de Lênin, em 1924, Malevich se preocupou com a mudança do clima político. O artista, desde sempre um colaborador da revolução bolchevique, não estava errado: o regime stalinista subiu o tom em relação à arte abstrata e aos trabalhos vanguardistas em geral, às vezes chamados de ‘depravados’. Depois de sua morte, vítima do câncer, em 1935, o governo soviético tirou seus trabalhos de circulação. Só em 1981 suas obras voltaram a ser mostradas na Rússia.
MALEVICH PINTARIA OUTROS TRÊS QUADRADOS NEGROS ATÉ O FIM DA DÉCADA DE 1920. O ORIGINAL ENCONTRA-SE HOJE EM ESTADO TÃO FRÁGIL QUE NÃO PODE DEIXAR A GALERIA TRETYAKOV, EM MOSCOU, ONDE FICA GUARDADO.


Texto: Camilo Rocha, Guilherme Falcão, Thiago Quadros e Ariel Tonglet  |  =Nexo Jornal
Imagens: Kazimir Malevich –  Quadrado Negro’ e ‘Círculo Negro’1915; ‘Cruz Negra’ e ‘Branco no Branco’, 1920


(JA, Nov17)