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segunda-feira, 11 de maio de 2020

Castelo de Clos Lucé Amboise, Centro-Vale do Loire, França



Há 500 anos, Leonardo da Vinci morreu em castelo que hoje abriga um museu dedicado a ele

Castelo de Amboise, antiga residência dos reis franceses, visto da margem oposta do Loire


Em 1515 Leonardo tinha 63 anos, Michelangelo, 40 e Rafael, 32. Os três viviam em Roma, o único lugar do mundo que podia comportar tantos gênios e egos. Poderíamos esperar que esses talentos trabalhassem juntos, mas não foi assim que aconteceu.

Em outubro daquele ano, o rei francês Francisco I anexou a cidade de Milão.   Dois meses depois, ele se encontrou com o papa Leão X em Bolonha, em uma ocasião em que Leonardo estava presente. O rei era admirador da obra do artista, então Leonardo recebeu uma encomenda: criou para Francisco um leão mecânico, que andava para a frente, abria o peito, e revelava um buquê de lírios. Alta tecnologia, coisa linda.

Pouco depois, em 1516, Leonardo já trabalhava oficialmente para o monarca francês. Aceitou o convite, e cruzou os Alpes em cima de uma mula, levando consigo alguns pupilos, anotações, rascunhos e três pinturas.


Fachada do Clos Lucé, que mantém um museu dedicado a Da Vinci

Ele passou a morar no Clos Lucé, castelo fortificado que um outro rei, Carlos VIII, comprou em 1490 para transformar em uma agradável residência de verão dos monarcas franceses.

O solar tinha uma passagem subterrânea para o castelo de Amboise, a então residência real. Era o palácio onde Francisco passou a infância, e onde Carlos morreu de forma estúpida, ao bater a cabeça no lintel de uma porta (lintel é a parte dura, horizontal e superior de portas e janelas).

Nada mal para o velho artista. Salário fixo, casa suntuosa e vizinho de Francisco, que ainda o nomeou ‘primeiro pintor, engenheiro e arquiteto do rei’.

Leonardo trabalhou em diversos projetos para Francisco, que foi um dos grandes monarcas de seu tempo. Fez estudos para a drenagem dos pântanos de Solonha e para uma rede de lagos e canais, conectando o Vale do Loire a Lyon, a fim de facilitar o acesso à Itália. Idealizou a cidade de Romorantin, novo distrito aristocrático que abrigaria a corte, e casas móveis para a nobreza itinerante. 

Criou também outros autômatos, na mesma linha do leão florista, para as espetaculares celebrações reais. Foram anos mais de engenheiro do que de pintor.  Mas, Leonardo também teve tempo para receber visitas ilustres do reino, líderes da Igreja, embaixadores italianos, e outros artistas. Trabalhava no térreo do edifício, e trabalhava demais. ‘A sopa está esfriando’, como deixou em uma de suas notas, preservadas até hoje.

No dia 2 de maio de 1519, há 500 anos, Leonardo morreu, provavelmente de derrame. Ele estava no Clos Lucé, a casa onde viveu os últimos três de seus 67 anos de vida, e que hoje abriga um museu dedicado a Da Vinci. Francisco chorou com a cabeça do amigo entre as mãos, embora essa seja a versão enfeitada, famosa na pintura de Ingres. Mas, dada a relação dos dois, sabemos que ele sentiu a partida do gênio.   Leonardo foi enterrado na igreja de São Florentim, no castelo de Amboise.

Quase três séculos depois, com os tempos áureos do palácio já na poeira da história, a dinastia Valois dera lugar à Bourbon, que, por sua vez, caiu na Revolução. A igreja foi destruída, e os ossos do gênio se perderam.


Capela de Saint-Hubert


Em 1863, a suposta ossada davinciana foi descoberta. Leonardo ganhou uma nova tumba, na capela de São Humberto, ali perto, nos jardins do castelo de Amboise.


A cidade de Amboise vista do castelo

Amboise, cidade histórica na margem esquerda do Loire, celebra meio milênio da morte de seu imigrante mais famoso. Paris também. As três pinturas que Leonardo levou em sua mudança para a França acabaram ficando no país. Hoje, elas integram o acervo do Louvre: A Virgem e o Menino com Santa Ana, São João Batista (que talvez nem estivesse finalizada), e Mona Lisa.



Fonte: Felipe van Deursen  |  Terra à Vista



(JA, Mai20)




terça-feira, 7 de abril de 2020

Epidemia barra retorno triunfal do pintor Rafael

Contemporâneo de Da Vinci e Michelangelo, artista brilharia em 2020, mas mostra com suas obras foi suspensa na Itália


Autorretrato atribuído a Rafael, datado do começo do século 16


Depois de um 2019 inteiramente dedicado a Leonardo da Vinci, era para este ser o ano de outro renascentista —Raffaello Sanzio, o Rafael, nascido em 1483, morto há exatos 500 anos, em 6 de abril de 1520. O pintor seria tema de exposições em todo o mundo, do Louvre, em Paris, ao Victoria & Albert, em Londres, passando pela Galeria Nacional de Arte de Washington.

A mais importante delas, no entanto, era ‘Raffaello’, na Scuderie del Quirinale, em Roma. Num esforço que custou € 3 bilhões, ou mais de R$ 15 bilhões em seguros, segundo o jornal The New York Times, a exposição reuniria, pela primeira vez, 27 pinturas de Rafael.

Nem mesmo as comemorações do aniversário de 500 anos do nascimento do artista, ocorridas há 37 anos, tinham alcançado o feito. Então, suas pinturas, muitas delas sobre madeira, foram consideradas frágeis demais para o transporte. Quem quisesse festejar a data teria que atravessar a Itália para ver trabalhos espalhados por museus em Milão, Veneza, Bolonha, Florença, Gênova, Roma.

Mas não foi desta vez que o público pôde ver as obras num mesmo espaço. ‘Raffaello’ foi fechada dias depois de sua abertura, por causa da pandemia do novo coronavírus.

Com o período de isolamento social na Itália estendido até o início do mês de maio, não se sabe quando a mostra voltará a receber visitantes.

Com isso, Rafael volta a ocupar um lugar um tanto obscuro no imaginário popular. Afinal, enquanto Leonardo da Vinci bate recordes em leilões, e vende best-sellers, ele é relegado a um vago terceiro posto do Renascimento, depois ainda de Michelangelo.

Nem sempre foi assim. Em vida, e por ao menos três séculos depois, Rafael foi considerado ‘o pintor por excelência, o mestre a ser seguido’, afirma Jorge Coli, professor de história da arte da Universidade Estadual de Campinas.


Leonardo da Vinci, 1452-1519


Ele conta que, enquanto Michelangelo era considerado perigoso para os iniciantes, que poderiam ser esmagados pela sua força enquanto modelo, Da Vinci era visto como sedutor, mas misterioso, Rafael ‘propunha as próprias chaves da beleza’. ‘Quem o seguisse não seguia um indivíduo, mas um universal’, diz Coli.

‘Da Vinci e Michelangelo eram admirados, mas Rafael era imitado’, resume Louis A. Waldman, professor da Universidade de Austin, no Texas, especializado em Renascimento italiano.


La Fornarina’,  1518-1519, do pintor renascentista Rafael

Ele descreve as pinturas do artista como naturalistas, tecnicamente perfeitas. Ao contrário da geração anterior a ele, porém, Rafael buscava realçar a beleza do mundo ao seu redor, e ajudou a forjar o conceito de uma arte como criação de um mundo ideal que teria repercussões pelos dois séculos seguintes.

Não é só a força dessa ideia que explica a influência de Rafael naqueles anos. Luiz Marques, também professor da Unicamp, conta que duas condições materiais contribuíram para isso. A primeira foi a ideia de Rafael de desenhar matrizes para gravuras, o que permitiu que seu estilo viajasse pela Europa por meio da imprensa.



  1. Michelangelo, 1475-1560

A segunda foi o fato de que o artista foi um dos primeiros da Itália a dirigir um ateliê moderno, onde os trabalhos eram realizados ao lado de exércitos de aprendizes. Enquanto Michelangelo, aos 33 anos, iniciava, sozinho, a pintura do teto da Capela Sistina, por exemplo, o jovem de 25 anos estava ali perto, no Vaticano, pintando afrescos nos aposentos papais com muitos auxiliares.

O método fez com que Rafael tivesse que ensinar seus assistentes a reproduzir fielmente seus traços, e a estrutura de suas pinturas. E, com isso, contaminasse o estilo não só dos pintores dali, numa homogeneização observada poucas vezes na história, como das gerações futuras.

É irônico, mas é essa mesma unanimidade que explica por que Rafael perdeu a força no imaginário popular com o passar dos anos. De um lado, o modelo de ateliês que ele ajudou a estabelecer entrou em crise no final do século 18, substituído pelo mito do artista romântico, do gênio individual. Daí o triunfo de Da Vinci, artista errático e sem educação formal, avesso às instituições, de um lado, e de Michelangelo, artista torturado, obsessivo, de outro.

Na mesma época, os artistas começam a negar a ideia de beleza e harmonia da qual Rafael é indissociável — ‘grazia’, graça, como define seu biógrafo Giorgio Vasari no século 16. ‘Rafael era o modelo indiscutível das escolas e academias, o mestre contra quem se revoltar’, diz Coli. ‘A arte preferiu a expressividade, o choque, o abalo, ao invés da sublime harmonia sutil.’

Marques concorda: ‘Num momento em que essa cultura do belo entra em crise, Rafael vai junto’. Mas faz uma ressalva. Se a arte trilhou outros caminhos a partir do século 19, Rafael sobrevive ainda hoje na cultura de massa. As mais de 30 madonas atribuídas a ele estão na origem dos santinhos distribuídos nas portas de igreja, e lembrancinhas de primeira comunhão. ‘As pessoas são rafaelianas sem saber’, diz o professor.

Na visão dele, a sutileza das obras de Rafael dificulta o interesse do público leigo de hoje, acostumado a contrastes evidentes.

Marques traça um paralelo entre as pinturas do renascentista e os filmes dos anos 1940, considerados monótonos pelos mais jovens no geral. ‘Mudou muito o nível de oferta emocional, da violência da imagem. Se quiser que meus filhos durmam, basta um filme do Frank Capra’, ele diz.

Quem mesmo assim quiser se aventurar pela obra de Rafael, pode assistir a uma visita filmada pela exposição fechada da Scuderie del Quirinale.

Talvez a quarentena não tenha sido tão danosa ao renascentista, afinal —é possível que em casa, entediadas, as pessoas estejam mais dispostas a notar as sutilezas das imagens que ele criou.




Fonte: Clara Balbi   |   FSP



(JA, Abr20)




sábado, 2 de novembro de 2019

Novo espaço em SP, MIS Experience esmiúça lado inventor de Da Vinci



Ocupando antiga marcenaria da TV Cultura, a nova sede tem mais de 2.000 metros quadrados e custou R$ 8,5 mi




O espaço que o Museu da Imagem e do Som, o MIS, inaugura neste fim de semana é envolto em hipérboles.

Ocupando uma antiga marcenaria da TV Cultura na zona oeste paulistana, a nova sede tem mais de 2.000 metros quadrados. Custou R$ 8,5 milhões, bancados por empresas privadas. E abriga o primeiro espaço imersivo da América Latina, um salão inundado por projeções de imagens em alta definição.

Também a mostra que abre o MIS Experience neste sábado se quer grandiosa. ’Leonardo Da Vinci - 500 Anos de um Gênio’ marca os cinco séculos da morte do artista italiano com cerca de cem peças de sua autoria e vendeu cerca de 14 mil ingressos antes mesmo de abrir, segundo o governador de São Paulo, João Doria.




Para completar, o detentor do recorde de grafite mais extenso do planeta até pouco tempo atrás, Eduardo Kobra, fez uma versão do ‘Homem Vitruviano’ no muro da instituição. A arte, no entanto, tem pouco destaque na mostra.

Embora reproduções das 15 pinturas atribuídas ao renascentista estejam ali —‘Salvator Mundi’, que bateu recorde ao ser vendida por US$ 450 milhões, cerca de R$ 1,8 bilhão, não é uma delas—, elas ocupam só um cantinho pequeno.

O grosso da mostra, na verdade, é o lado inventor de Da Vinci. Setenta modelos de projetos do italiano se espalham por 700 metros quadrados.




Estão lá, por exemplo, projetos de máquinas militares e desenhos anatômicos, além de uma maquete de arquitetura —Da Vinci pensou uma cidade capaz de prevenir a peste bulbônica— e inovações que só seriam produzidas séculos depois.




Na última categoria se encaixam um escafandro de tecido que parece saído de um filme de terror, e um para-quedas em forma de pirâmide , testado de forma bem-sucedida em 2000.

De todos esses, só 12 miniaturas podem ser manipuladas pelo público. A carência de trabalhos interativos parece contradizer um museu que tem ‘experiência’ no nome, em especial se considerarmos que as plaquinhas que acompanham as peças nem sempre têm explicações claras sobre seu funcionamento.

A exposição foi criada pela firma australiana Grande Exhibitions, e já foi levada para outras 130 cidades ao redor do mundo, segundo o seu fundador, Bruce Peterson. O objetivo, ele diz, é juntar informação e entretenimento.

‘As exposições nos museus convencionais, organizadas por historiadores, costumam ser para quem já entende do assunto. Queria que qualquer um, até os que não têm ensino formal, pudessem ser capazes de aprender e se divertir’, diz.

Esse mesmo espírito lúdico contamina o estudo sobre a ‘Mona Lisa’ do pesquisador francês Pascal Cotte, que ocupa a última parte da mostra. Usando um método de amplificação de camadas sobre a pintura, chamado de LAM, ele chegou à conclusão de que o sorriso mais enigmático do mundo esconde outras três versões embaixo da atual.

A primeira é um retrato fiel de Lisa Gherardini, mulher de um rico comerciante florentino a quem atribuímos a identidade da ‘Mona Lisa’ —segundo Cotte, a moça que vemos no quadro é uma versão estetizada da figura original, que vestia roupas da época.

A segunda revela a imagem de uma santa e é conhecida como ‘Retrato com Pérolas’ por causa de um enfeite de cabelo decorado com as joias. Debaixo dela, fica um esboço do desenho com proporções um pouco maiores.

Vale ressaltar, porém, que a tese de Cotte foi rebatida há quatro anos por Martin Kemp, um dos maiores especialistas em Leonardo Da Vinci da atualidade, e professor emérito da Universidade de Oxford.

Entre o estudo da ‘Mona Lisa’ e as invenções de Da Vinci fica a galeria imersiva.
A inspiração por trás do espaço é o Atelier des Lumières, em Paris, onde os visitantes são convidados a mergulhar em obras como a ‘Noite Estrelada’, de Van Gogh, ou ‘O Beijo’, de Gustav Klimt.

Enquanto no equivalente francês cerca de 140 projetores não deixam um pontinho em branco, aqui as 38 máquinas no salão de 800 metros quadrados fazem com que o efeito seja bonito, mas não tão impressionante.

Questionados, Doria e o diretor do MIS, Marcos Mendonça, não revelaram qual exposição deve suceder esta a partir de março do ano que vem. Também disseram não saber se a parceria com a iniciativa privada continua no próximo projeto.

Doria ressaltou, porém, que o imóvel da TV Cultura foi cedido em definitivo —o MIS Experience veio para ficar.


Leonardo Da Vinci - 500 Anos de um Gênio
Onde:  MIS Experience, r. Vladimir Herzog, 75, São Paulo
Quando:  Ter. a dom., das 10h às 20h30. Até 1º/3
Preço:  R$ 30 a R$ 40; Ter., grátis
Classificação:  Livre








Fonte: Clara Balbi  |   FSP





(JA, Nov19)




terça-feira, 15 de outubro de 2019

Exposição de Leonardo da Vinci em São Paulo tem datas definidas






A exposição imersiva ‘Leonardo da Vinci – 500 anos’ em São Paulo será aberta ao público no próximo dia 02 de novembro. Bastante esperada a mostra teve sua realização anunciada para outubro, mas foi adiada por conta de obras no novo espaço do Museu da Imagem e do Som de São Paulo (MIS), o MIS Experience.


A exposição segue até 1º de março de 2020, de terça-feira a domingo, das 10h às 20h. A entrada é gratuita às terças-feiras. Aos sábados, domingos e feriados custará R$ 40 e de quarta a sexta custará R$ 30. Meia entrada para estudantes e acima de 60 anos.

O MIS Experience fica na Rua Vladimir Herzog, 75, no bairro da Água Branca.




O evento celebra o legado do cientista, matemático, engenheiro, inventor, anatomista, pintor, escultor, arquiteto, botânico, poeta e músico e é inspirado no Atelier des Lumière, em Paris.

Em São Paulo os visitantes terão ainda uma experiência multissensorial com animações gráficas em alta definição, combinadas a conteúdo multimídia e narrativa em áudio, o que permitirá uma vivência divertida, educativa e esclarecedora, voltada para pessoas de todas as idades e interesses. O público terá a oportunidade de tomar contato com a história das realizações do homem que lançou as bases para algumas das invenções mais notáveis da sociedade moderna, como o helicóptero, o automóvel, o submarino, o paraquedas e a bicicleta.

Criada em parceria com o Museo Leonardo da Vinci, em Roma, e contando com a colaboração de diversos especialistas e historiadores da Itália e da França, a exposição foi concebida pela Grand Exhibitions, empresa sediada em Melbourne, na Austrália, com escritórios no Reino Unido e nos EUA.

‘Leonardo da Vinci – 500 Anos de um Gênio’ também traz a área ‘Segredos de Mona Lisa’, uma análise profunda da pintura mais famosa do mundo, realizada no Museu do Louvre por Pascal Cotte, renomado engenheiro, pesquisador e fotógrafo de obras de arte.

MIS Experience terá uma área expositiva de 1,7 mil metros quadrados e outros 800 metros quadrados de área de projeção. O espaço resulta de uma parceria com a Rádio e TV Cultura, e amplia o trabalho realizado pelo Museu da Imagem e do Som de São Paulo, que agora conta com dois espaços para exposições. O MIS é uma instituição cultural do Governo do Estado de São Paulo, vinculada à Secretaria de Cultura e Economia Criativa e gerida pela organização social Paço das Artes.




Fonte: Mochileiros.com



(JA, Out19)




domingo, 18 de agosto de 2019

Tendência de exposições digitais leva multidões a 'entrar' em quadros


Mostras em Paris exibem projeções virtuais de obras de Da Vinci e Van Gogh

Van Gogh, ‘Noite Estrelada’


Agora que até a ‘Mona Lisa’, obra-prima de Leonardo da Vinci, será exibida virtualmente no tradicionalíssimo Museu do Louvre a partir do dia 24 de outubro, não restam mais dúvidas: as exposições imersivas vieram para ficar.



Egon Schiele, 'Minha Irmã Gerta, 1909

A moda começou a se consolidar no Atelier des Lumières em abril de 2018, com a exposição de Gustav Klimt e Egon Schiele, que em nove meses levou 4 milhões de visitantes ao espaço parisiense.

O Atelier continua provocando filas com a mostra interativa de Van Gogh, que requer compra antecipada de ingressos. Tudo bem, esse tipo de antecipação também é vital nas concorridas exposições de museus convencionais, mas basta falar em experiência imersiva para despertar o interesse de multidões, ávidas em interagir com as obras.

A experiência digital da ‘Mona Lisa’ permitirá aos visitantes, por meios de óculos especiais, observar minúcias do quadro mais famoso do mundo, com impressionantes proximidade e resolução. Será como se os visitantes ultrapassassem o vidro protetor do museu para verificar os detalhes da obra invisíveis a olho nu.




A exposição, ‘Mona Lisa: Além do Vidro’, apresentará descobertas científicas sobre os métodos usados por Da Vinci no quadro pintado entre 1503 e 1506 com a técnica sfumato, além de informações adicionais sobre a nobre italiana Lisa del Giocondo, inspiradora do trabalho.

Da Vinci talvez pudesse ver com alguma naturalidade a exibição virtual de sua obra-prima, dada sua intimidade com a inovação, que incluía até a dissecação de cadáveres para aperfeiçoar seus quadros. Já Van Gogh, que não conheceu sucesso e reconhecimento em vida, ficaria atônito se entrasse na exposição do Atelier des Lumières, montada na antiga fundação de aço da família Plichon, na capital francesa.

A sensação de ‘entrar’ em um quadro de Van Gogh é arrebatadora. Um dos pontos altos das imagens projetadas nas paredes de dez metros de altura do galpão é o tremular das águas do quadro ‘Noite Estrelada’, que dá nome à exposição. A intensidade das pinceladas se torna mais nítida pela ampliação da caótica e poética criação de Van Gogh.




As projeções, iniciadas pelo ambiente na Holanda em que o pintor passou seus primeiros anos de vida, também contemplam outros locais retratados em suas telas, como Arles, Paris e Auvers-sur-Oise.

Tudo isso pode ser apreciado por visitantes em movimento, sentados no chão nos carretéis de madeira espalhados pelo espaço, nas escadas que levam a um segundo piso ou mesmo lá de cima, com vista panorâmica. O público pode filmar e fotografar as imagens, desde que o flash não seja acionado.

Trata-se de uma situação bem diferente da vivenciada nas passivas exposições convencionais. Além de atraente ao público, a experiência digital pode representar um fator de economia para os museus. Sem a necessidade de ter no acervo as obras reais, eles deixariam de arcar com os milionários custos dos seguros.

Durante 35 minutos, tempo de visitação que cada pessoa pode repetir quantas vezes quiser —eu fiz três passeios consecutivos—, as imagens, estáticas ou em movimento, são acompanhadas por trilha sonora escolhida a dedo pelos realizadores: de Janis Joplin a Miles Davis, passando por Vivaldi e Puccini.

Curiosamente, não há um único francês entre os organizadores da mostra de Van Gogh. Todos são italianos. ‘Eu quis conduzir os visitantes além da tradicional experiência de observar, levando-os ao coração das obras, de maneira que eles se tornem um componente integral da experiência imersiva’, explica Gianfranco Iannuzzi, coordenador dos espaços imersivos.

E como Van Gogh sofreu fortes influências da arte japonesa e sentiu-se no Japão ao chegar a Provence, a mostra tem uma sequência, ‘Sonho Japonês, Imagens de um Mundo Flutuante’, cujo auge é uma dança de lanternas japonesas flutuando pelo gigantesco espaço.

O Atelier des Lumières —que guarda a sete chaves qual será sua próxima exposição, em 2020— já tem filiais em Baux-de-Provence, na Coreia do Sul e abre outra no ano que vem na cidade de Bordeaux.

Para a húngara Zuzana Paternostro, radicada no Brasil, que por mais de 30 anos exerceu a curadoria de pinturas estrangeiras no Museu Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro, ‘é muito importante que a arte avance além dos muros dos castelos, para aproximar ainda mais o público das obras, rompendo barreiras e fronteiras’.






Fonte: Celina Côrtes  Ilustríssima, FSP 


(JA, Ago19)

quinta-feira, 1 de agosto de 2019

Legado de Da Vinci se espalha por ruas e museus de Milão



Cidade tem programação especial para os 500 anos da morte do artista





​​Leonardo da Vinci, 1452-1519, passou a maior parte da vida adulta em Milão, no norte da Itália. Nascido na região de Florença e morto na França, chegou à capital lombarda em 1482 e ali ficou por quase 20 anos. Seu legado pode ser visto ainda hoje na cidade —em manuscritos, maquetes e pinturas.

Neste ano, em que se comemoram os 500 anos de sua morte, algumas dessas peças estão expostas ao público em caráter excepcional, como parte de uma programação que segue até janeiro de 2020.

Depois de dar os primeiros passos como artista em Florença, Da Vinci mudou de cidade aos 30 anos em busca de reconhecimento e dinheiro.

Sua ida para Milão foi consequência da chegada da família Sforza ao poder, em 1450. Ricos, eles queriam deixar a cidade mais bonita, diz Claudio Giorgione, curador do Museu Nacional de Ciência e Tecnologia Leonardo da Vinci.

‘Em 1482, quando Leonardo chegou, a cidade estava em transformação, com muitas obras: a cúpula do Duomo [a catedral], um novo hospital, igrejas’, diz Giorgione.

Da Vinci queria um emprego na corte de Ludovico ‘il Moro’ e se dedicou, nos primeiros anos, a estudar engenharia militar para impressioná-lo. Ao mesmo tempo, começou a prestar atenção no sistema hidráulico da cidade, e começou a pensar em melhorias.

O resultado desses estudos pode ser conferido em três locais: na Pinacoteca Ambrosiana, na Conca dell’Incoronata, e no Museu de Ciência e Tecnologia que leva seu nome.

A pinacoteca detém o ‘Codex Atlanticus’, com mais de mil folhas manuscritas por Da Vinci. É o conjunto de obras do artista mais completo do mundo —outros originais estão espalhados por museus, bibliotecas e coleções.




A Conca é uma eclusa urbana construída em 1496 com a ajuda de Da Vinci. Até hoje está a céu aberto, a poucos minutos do bairro de Brera. Já o museu tem uma coleção de mais de cem miniaturas baseadas nos registros vincianos. Dessas, 52 estão expostas na mostra ‘Leonardo Parade’, em cartaz até 31 de outubro.

‘Os desenhos que ele deixou das eclusas são os primeiros da história’, afirma Giorgione. ‘Seus registros são uma enciclopédia do conhecimento técnico daquele tempo’.




Está também em Milão sua obra-prima, ‘A Última Ceia’.  Da Vinci iniciou a pintura, encomendada por Ludovico ‘il Moro’, em meados dos anos 1490 e levou quatro anos para finalizá-la.

‘Ninguém entendia por que Leonardo era tão lento. E ele era, de fato, lento. Mudava de ideia a toda hora e por isso não usou a técnica do afresco, mas sim uma técnica seca que não permitiu que a tinta penetrasse na parede’, diz Giorgione.





A pintura está desaparecendo e, por isso, o acesso à sala onde está, no museu Cenacolo, é hipercontrolado. Apenas 30 pessoas podem entrar por vez, e só por 15 minutos.

Para dar conta da procura neste ano, a prefeitura de Milão lançou um ingresso que permite visitar cinco museus ligados a Da Vinci, incluindo o Cenacolo, e abriu 90 vagas por dia exclusivas para quem compra esse pacote.


Onde ver obras do italiano


Pinacoteca Ambrosiana




Abriga duas importantes obras de Da Vinci: a pintura ‘O Retrato de um Músico’ e o ‘Codex Atlanticus’. Pintado em 1485, o quadro é seu único painel que restou Milão. 

Foi durante a restauração, em 1905, que uma partitura foi identificada nas mãos do músico retratado, levando à hipótese de que ele teria sido um amigo do artista.

Já ‘Codex Atlanticus’ tem mais de mil folhas manuscritas e cerca de 1.750 desenhos feitos entre 1478 e 1519, ano de sua morte. São registros de arquitetura, técnicas militares e hidráulicas, anatomia e astronomia que exigem do visitante uma observação atenta. Até 12 de janeiro a Ambrosiana organiza mostras com algumas das folhas mais importantes. O museu fica na praça Pio XI, 2. O ingresso custa € 15 (R$ 63). Mais informações em ambrosiana.it


Museu Cenacolo 

Está ali ‘A Última Ceia’. Na reforma da igreja de Santa Marie delle Grazie, Ludovico ‘il Moro’ pede para Da Vinci pintar uma parede do refeitório do convento. O artista escolheu ilustrar o momento em que Jesus diz aos apóstolos que um deles o trairia.

As reações de todos, o estudo da luz e o uso da perspectiva explicam o fascínio pela obra. Com 460 x 880 cm, o trabalho, iniciado em 1494, demoraria quatro anos para ser concluído e foi feito sem a técnica do afresco, que permite melhor fixação da tinta na parede. 
Por essa razão, o acesso à sala é limitado a 30 pessoas por vez, que só podem ficar ali durante 15 minutos. É preciso agendar a visita. Dica: comprar pelo telefone (com atendimento em italiano ou inglês) é mais fácil do que pelo site oficial. E cuidado com sites falsos ou que cobram bem mais pelo tíquete, que custa € 12 (R$ 50). 

O museu fica na praça Santa Maria delle Grazie, 2. Mais informações pelo site cenacolovinciano.vivaticket.it ou pelo telefone (+39) 02 92800360


Sala delle Asse




Um dos espaços mais importantes do castelo Sforzesco foi reaberto neste ano ao público como parte da programação em torno de Leonardo da Vinci. A sala, pintada pelo artista após a ‘A Última Ceia’, também a pedido de Ludovico ‘il Moro’, só foi descoberta no fim do século 19.

Nela, paredes e teto reproduzem um pergolado com amoreiras entrelaçadas, além de raízes, troncos, galhos e paisagens distantes. 

Chamada de ‘Leonardo Mai Visto’ (Leonardo nunca visto), a exposição conta com uma instalação audiovisual que ajuda o visitante a entender a pintura e o trabalho de restauração, que continuará após 12 de janeiro de 2020. Os ingressos custam € 10 (R$ 42). A sala fica no Castello Sforzesco. Informações  em milanocastello.it


Pela cidade



Dois pontos a céu aberto (e de acesso gratuito) mostram a ligação entre Da Vinci e Milão. Perto do movimentado bairro de Brera está a eclusa Conca dell’Incoronata, construída em 1496, com a participação de Da Vinci. A obra tem portas que estiveram submersas (hoje o canal está seco) e eram manobradas à mão para permitir uma passagem controlada dos barcos.

Embora sua conservação não seja excelente, é uma chance de ver ao vivo um projeto que foi tão estudado pelo artista e tão presente em seus manuscritos.

Entre os pontos turísticos mais famosos de Milão —o Duomo, a galeria Vittorio Emanuele II e o teatro Scala— está uma estátua em homenagem a Da Vinci, feita de mármore de Carrara por Pietro Magni e inaugurada em 1872.


Ingresso cinco vezes Leonardo


Cenacolo Vinciano e Museo della Scienza


A prefeitura de Milão vende até 12 de janeiro um ingresso especial que permite visitar cinco museus ligados a Leonardo da Vinci. Por € 40 (R$ 169), é possível ver a Sala delle Asse, a Pinacoteca Ambrosiana, o Museu de Ciência e Tecnologia, a Pinacoteca de Brera (onde há muitas pinturas de discípulos), e o Cenacolo Vinciano. 

A compra está condicionada ao agendamento da visita à ‘A Última Ceia’. Tíquetes extras estão reservados para quem adquire o cartão. Mais informações disponíveis no site cenacolovinciano.vivaticket.it​







Fonte:  Michele Oliveira   |   FSP



(JA, Ago19)
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