Mostrando postagens com marcador INSTITUTO TOMIE OHTAKE. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador INSTITUTO TOMIE OHTAKE. Mostrar todas as postagens

quinta-feira, 22 de julho de 2021

Murais de Di Cavalcanti fogem das musas sensuais, atacam elite e celebram povo

 Instituto Tomie Ohtake reúne 23 obras políticas do artista e discute aproximação das obras com os muralistas mexicanos

 

‘Trabalhadores’ – painel de Di Cavalcanti, 1952 


Emiliano Di Cavalcanti é vastamente conhecido por suas pinturas de um Brasil considerado popular e miscigenado, mas o curador Ivo Mesquita defende que o artista ainda não recebeu reconhecimento pelo período em que fez algumas de suas maiores produções, e talvez as mais políticas de sua carreira —a de painéis e murais.

 

Brasil em 4 Fases II, 1965


O painel ‘Brasil em Quatro Fases’, por exemplo, narra a formação de um país que passa por florestas exuberantes, por um sol a pino, e por trabalhadores que ocupam as ruas e as sacadas da cidade de um Brasil que rumava para a modernidade.

A história formada por essa obra se amarra, no entanto, com um último pedaço do painel de cores escuras, com cidadãos que dançam nas sombras —e que se relaciona com quando foi feito, 1965, um ano após a ditadura militar começar no Brasil.

É essa e outras obras, predominantes na produção dos anos 1950 do artista brasileiro, que são retomadas em ‘Di Cavalcanti, Muralista’, que fica até outubro deste ano no Instituto Tomie Ohtake, com 23 trabalhos produzidos a partir da década de 1920.

‘O Di se tornou o pintor das mulatas, do samba, que virou um estereótipo dele’, afirma Mesquita. Não se vê esse outro lado dele que, para mim, é sua grande obra. Ele era um muralista’.

Acontece que não é possível transpor vários de seus murais mais importantes para dentro do museu. A solução para aproximar o público dessas obras, então, foi trazer pinturas de grandes dimensões, que anunciam técnicas e temas que Di usou em seus murais, apresentar uma linha do tempo com imagens desses murais mais emblemáticos que estão pelo Brasil, e exibir outros dois painéis, como ‘Trabalhadores’ e o próprio ‘Brasil em Quatro Fases’.

Distante dos cavaletes, o público é apresentado para um Di que trabalha com uma tinta mais lavada, mesmo com um traço firme. Há também composições de um fundo decorativo, quase bordado, como em ‘Feira Nordestina’, que Mesquita aponta uma influência de Delacroix. 


Feira Nordestina, de 1951, de Di Cavalcanti 


O curador também busca debater a aproximação que se faz entre o muralismo do Di Cavalcanti e dos muralistas mexicanos, como Diego Rivera —mais do que uma influência do outro país, Mesquita defende que se trata de uma produção feita na mesma época, no espírito do tempo.

‘Sempre me perguntei onde o Di conheceu o muralismo, porque nos anos 1920 não tinha mural, e em 1922 ele começa a pintar os primeiros. Ele só vai ao México em 1949’, diz Mesquita, que considera que o artista teve contato com painéis primeiro no Rio de Janeiro.

‘Essa talvez tenha sido a grande linguagem dele. Mesmo que pinte, por exemplo, painéis com mulatas, o que predomina neles é o trabalho, que é o tema dos muralistas’.

Essa atitude carregada de um certo vanguardismo que a exposição levanta, se dá em torno principalmente do mural que o artista fez para o teatro João Caetano, no Rio de Janeiro —na mostra, há uma reprodução grande dele, ainda que não em tamanho real, numa tentativa de reproduzir parte do impacto que a obra causa.

O que faz do díptico ‘Samba e Carnaval’ uma obra tão solar no posicionamento de Di Cavalcanti que a mostra propõe é, primeiro, ela ter sido feita em 1929 e ser considerada o primeiro mural modernista brasileiro —ou seja, uma produção que acontece anos antes de Portinari, conhecido como grande muralista, fincar sua produção como tal.

A segunda razão é, de novo, política. ‘É a primeira vez que nós temos uma representação do povo brasileiro, da rua, do subúrbio, do morro por um artista modernista’, afirma Mesquita. O ineditismo era tanto que há registros de uma elite que se dizia desconfortável com aquele povo num salão de um teatro, considerado tão elegante e refinado.

Mesmo que não esteja na mostra propriamente, a linha do tempo resgata a memória de murais de Di Cavalcanti que apontam para um certo humor do artista, que também era cartunista.

Uma tapeçaria que está na biblioteca do Palácio da Alvorada, por exemplo, foi chamada ‘Múmias’, numa referência um tanto irônica aos que habitam o prédio. Já no painel que ele faz para o Congresso Nacional, com os candangos, reina uma sobriedade ordenada da força de trabalhadores que ergueram a capital do país.

‘Era um trabalho que envolvia muitas pessoas, mas acredito que era até disso que ele gostava’, afirma o curador sobre Di, que era declaradamente de esquerda. ‘Era a produção de uma arte para as ruas e sobre as ruas’.

 


 

DI CAVALCANTI, MURALISTA

  • Quando - Até 17/10. Ter. a dom.: 12h às 17h
  • Onde - No Instituto Tomie Ohtake - av. Faria Lima 201 (entrada pela r. Coropés, 88), Pinheiros, São Paulo
  • Preço - Gratuito

 

Fonte: Carolina Moraes | FSP

 

(JA, Jul21)

 


 

terça-feira, 13 de outubro de 2020

Arte Roubada

Alex Katz criou um mundo sem sobras em telas que viriam à Bienal de São Paulo, mas a pandemia atropelou todos os planos. A exposição agora é só virtual 












Uma mulher mais velha ajeita um blusão rosa com uma expressão de aconchego no rosto. Dois amantes se abraçam com ternura em meio às árvores. Poucas folhas amareladas pelo frio do outono caem no asfalto cinzento.

Quem observa essas telas plácidas e de atmosfera ‘cool’ de Alex Katz não imagina que um dos principais nomes da pintura da atualidade tem um humor bastante ácido.

‘Você não quer fazer algo que pareça velho. Eu quero fazer algo que pareça novo em folha. E, para as pessoas que gostam de coisas velhas, pintar coisas novas é raso’, afirma, meio sério e meio irônico, em entrevista pelo Zoom.

Nas suas telas, o pintor nova-iorquino congela num eterno presente o cotidiano que vive na ilha de Manhattan —a convivência com os amigos, familiares, e com a mulher Ada, que já foi retratada por ele algumas centenas de vezes.

 

‘Lisa e Brooks’, óleo sobre tela de 1995 

Outro tema recorrente são os arredores bucólicos de uma casa-ateliê no estado do Maine, próxima à uma praia, onde ele passa boa parte do tempo. Aos 92 anos, Katz afirma não acreditar em paraíso nem no amanhã radiante. ‘Não há passado, não há futuro, é só hoje’.

Um breve recorte de sua carreira de cerca de sete décadas está em exposição até o início de novembro no site da galeria Thaddaeus Ropac —são 30 telas de dimensões variadas selecionadas pelo seu amigo e crítico Robert Storr.

Mas essas obras deveriam estar agora no Brasil. Katz participaria da mostra principal da 34ª edição da Bienal de São Paulo, e também ganharia uma grande retrospectiva no Instituto Tomie Ohtake, na capital paulista, sua primeira na América do Sul. A pandemia e a alta do dólar forçaram a suspensão de ambos. ‘Não é a mesma coisa’, diz ele, sobre ver o seu trabalho na tela de um computador ou celular.

Precursor da pop art, Katz desenvolveu seu estilo nos anos 1950, depois de estudar na faculdade Cooper Union, em Nova York. Desprezando o ensinamento modernista que recebeu, decidiu fazer pinturas figurativas num momento em que os Estados Unidos se destacavam com os respingos abstratos de Jackson Pollock.

Mas, se as telas do expressionista abstrato inspiravam profundidade e contemplação, as de Katz, influenciadas pela estética dos outdoors publicitários e cenas de filmes, iam pelo caminho oposto, apostando na leitura fácil.

‘Eu cresci, sou um artista treinado, embora o meu trabalho não pareça assim para muita gente’, diz, refutando uma crítica comum a suas obras —a de que parecem terem sido feitas sem esforço.

Ser um pintor famoso foi algo consciente, ele diz que exigiu dele pensar muito sobre o ofício, e fazer coisas que se parecessem com a ideia de arte.

No colegial, notou que seus desenhos de moldes de estátuas, aos poucos, se tornaram melhores do que o de seus professores, o que o estimulou a levar a carreira a sério.

‘Eu não tinha nenhuma confiança, mas trabalhei duro e pensei que se eu posso me tornar tão bom vindo do nada, em 20 anos vou fazer algo realmente bom. E consegui’.

A estética de Katz —personagens chapados e sem sombra, contra grandes blocos de cor— se manteve em grande parte inalterada, ao longo das décadas, independente do movimento artístico em voga. Atualmente, parece fazer sentido num ambiente saturado de imagens. Ele se diz contente por ‘ser parte dessa saturação’, e afirma apreciar um mundo que se torna cada vez mais visual, e menos verbal, nas suas palavras.


Laura,  2017 


Outra característica de sua obra é a ausência de motivos explicitamente políticos. Desde adolescente, ele diz nunca ter gostado de arte engajada, porque a considera barata, e uma forma de rebaixar a pintura, como se alguém estivesse perguntando de forma obsessiva se o observador entende o que está representado ali.

Quando era estudante, ele recusou o convite de um professor para participar de uma mostra de arte politizada numa galeria importante —chance que a maioria dos jovens não desperdiçaria, conta.

Toda essa aversão talvez explique a sua total falta de cerimônia ao estraçalhar a pintura contemporânea americana. ‘Essencialmente decorativa’, diz ele, sobre a obra do artista negro e gay Mark Bradford, que representou os Estados Unidos na Bienal de Veneza de 2017, com um trabalho crítico ao presidente Donald Trump. ‘Suas telas grandes vão bem com tapetes brancos’.

Por outro lado, Katz afirma que foi uma covardia o recente cancelamento de uma exposição de seu contemporâneo Philip Guston, que traria uma série de telas do grupo racista Ku Klux Klan, pintadas no final da década de 1960.

‘Estamos em tempos reacionários. Cancelar uma exposição por um motivo político, é agir como covardes completos. Deixem a mostra de pé e digam a quem estiver protestando que vá para o inferno. Ponham todos eles atrás das grades se ainda fizerem algo’.

Em setembro, museus nos Estados Unidos, e no Reino Unido, anunciaram o adiamento de uma exposição de Guston, prevista para o ano que vem, alegando que esperam o momento certo para que a mensagem do pintor, um ativista antirracismo morto em 1980, ‘possa ser possa ser mais claramente interpretada’.

Katz passou uma parte dos últimos meses isolado na Pensilvânia, pintando, e diz que a pandemia proporcionou a ele ‘o melhor momento da vida’, já que, como todos os lugares estavam fechados, não precisava ir a nenhum canto.

Ele acha que o efeito da epidemia pode ser destruidor sobre a arte, dizendo acreditar que a pintura deve se tornar muito mais séria a partir de agora, refletindo o momento.

Questionado sobre o pleito americano do mês que vem, o artista responde com uma frase curta, às gargalhadas. ‘Bem, tive uma boa notícia hoje’. Poucas horas antes, Trump havia anunciado que estava infectado com o coronavírus.


MERCADO DE ARTE

Valor das obras

O trabalho de Alex Katz ainda é menos valorizado em relação a outros artistas de sua geração; o valor mais alto pago por uma obra sua foi cerca de US$ 4,1 milhões, ou R$ 22,8 milhões, ao passo em que o pioneiro da pop art, Jasper Johns, teve a pintura de uma bandeira vendida por US$ 36 milhões, ou cerca de R$ 200 milhões

Interesse recente

Um artigo de capa na revista suíça de art e Parket, em 1989, ajudou a reavivar o interesse pela obra de Katz, que ganharia diversas mostras na Europa e nos Estados Unidos nas décadas seguintes

Como se forma um pintor

Segundo Katz, pintar é uma atividade comunitária, e novos artistas se desenvolvem em contato com outros, não de maneira isolada, o que faz com que jovens se mudem para Nova York em busca de referências.

Cenário difícil

Muitos pintores voltam para suas cidades de origem, diz Katz, com os sonhos destruídos, pois não conseguem espaço em um mercado que se tornou corporativo e estagnado, dificultando bastante a entrada de jovens artistas

 

SOUP TO NUTS - THE SÃO PAULO BIENAL PROJECT

Quando Até 7 de novembro

Onde ropac.net/online_exhibitions

 

Homenagem a Utamaro, 2008

 


Fonte: João Perassolo   |  FSP


 

(JA, Out20)

 


 

sexta-feira, 2 de agosto de 2019

Arte Atual | Jamais me olharás lá de onde te vejo






Abertura: 7 agosto 2019
Visitação: 8 agosto a 29 setembro 2019

Curadoria: Diego Mauro, Luana Fortes, Priscyla Gomes e Theo Monteiro  (Núcleo de Pesquisa e Curadoria do Instituto Tomie Ohtake)

O Instituto Tomie Ohtake criou em 2013 o ‘Arte Atual’, uma plataforma para pesquisas artísticas, de caráter experimental, na qual, por meio de uma questão sugerida pelo seu Núcleo de Pesquisa e Curadoria, coordenado por Paulo Miyada, um grupo de artistas convidado desenvolve um novo trabalho.

A oitava edição do programa Arte Atual, ‘Jamais me olharás lá de onde te vejo’, traz em seu título uma referência a uma frase do psicanalista francês Jacques Lacan empregada no livro 11 de O Seminário denominado ‘Os Quatro Conceitos Fundamentais da Psicanálise’.

‘Jamais me olharás lá de onde te vejo’ apresenta trabalhos de Éder Oliveira, Regina Parra e Virginia de Medeiros, a fim de empreender reflexões acerca tanto do retrato como gênero pictórico quanto como forma de reconhecer e atribuir uma identidade ao retratado.

O próprio ato de retratar também permeia as questões da mostra, partindo de diferentes abordagens e linguagens.

É possível, por intermédio dos trabalhos, discutir parâmetros de como os artistas constroem os limites entre o ‘eu’ e o ‘outro’, e delimitam relações de afinidade e de distinção. Mais do que isso, os trabalhos presentes explicitam como os artistas convidados se valem da figura humana como uma de suas ferramentas para abordar a violência que imputamos ou a que são imputados nossos corpos, os limites e rastros do tempo e a noção do corpo como um lugar de resistência.

A obra de Éder Oliveira resvala sobretudo na pintura. Conhecido por coloridos retratos feitos em diferentes escalas, cujo suporte pode variar da tela ao muro de cidades, o artista paraense se apropria de imagens do caderno policial de jornais e recria imagens majoritariamente masculinas. 

Sua investigação pondera sobre o que se entende como homem amazônico e traz à tona os altos índices de violência no norte do Brasil. Se até pouco tempo atrás Oliveira pintava figuras solo, mesmo que dispostas lado a lado em um contexto expositivo, agora o artista passa a pintar pessoas em grupos. 

Além disso, também é recente sua experiência de adicionar texto às suas pinturas. Agora, seus trabalhos tendem a vir acompanhados de citações literárias que servem comentários sobre a situação por ele representada.

Regina Parra, traz no retrato um processo de desconstrução mitológica sobre si.

Apesar de usar autorretratos fotográficos para escolher quais imagens pintar, a artista não considera os resultados como autorretratos. Com uma trajetória que já passou bastante pelo teatro, Parra afirma que empresta seu corpo para experimentar posições, movimentos e enquadramentos. 

Em ‘Jamais me olharás lá de onde te vejo’, a artista exibe uma série de pinturas e de neons, todos tendo como pano de fundo as peças ‘Dias Felizes’, 1961, e ‘Eu Não’, 1972, do dramaturgo e escritor irlandês Samuel Beckett.

Virginia de Medeiros, por sua vez, propõe uma nova montagem para a série ‘Alma de Bronze’, 2016-2018, realizada a partir de sua convivência com lideranças femininas da Frente de Luta por Moradia (FLM), do Movimento Sem Teto do Centro (MSTC), iniciada com sua participação no ‘Programa de Residência Artística Cambridge’ e posteriormente transmutada para a ‘Ocupação 9 de Julho’, onde exibiu uma primeira montagem do trabalho, que também foi exposto no Centro Cultural São Paulo (CCSP). 

Para o Instituto Tomie Ohtake, o projeto ganha um formato mais aberto e experimental que pretende servir como espaço para debates e conversas acerca dos acontecimentos mais urgentes do MSTC, com uma programação a ser definida de acordo com as demandas do movimento.

A nova montagem, de caráter instalativo, traz retratos em vídeo de doze importantes líderes femininas da ‘Ocupação 9 de Julho’, ao som de uma percussão de Beth Belli, regente de tambores do ‘Ilú Obá de Min’, que ressoa como um alerta e apenas cede o volume para as conversas que lá acontecerão.

_________


Éder Oliveira (Timboteua, PA, 1983) Vive e trabalha em Belém do Pará. Licenciado em Educação Artística - Artes Plásticas pela Universidade Federal do Pará. Pintor por ofício, desde 2004 desenvolve trabalhos relacionando retratos e identidade, tendo como objeto principal o homem amazônico.

Entre bolsas e premiações, destacam-se o Prêmio Pipa - Voto Popular Exposição, 2017, Lingener Kunstpreis, 2016, (Alemanha), Rede Nacional Funarte Artes Visuais, 2015, Prêmio Seiva Projetos Artísticos (Fundação Cultural do Pará, 2015), Bolsa Funarte de Estímulo à Produção em Artes Visuais, 2014.

Possui trabalhos em acervo de instituições como Centro de Arte Dos de Mayo - Madrid, Fundação Clóvis Salgado, Fundação Marcos Amaro, Itaú Cultural, Kunsthalle Lingen - Alemanha, MAC Rio Grande do Sul, Museu Casa das Onze Janelas, Museu de Arte de Belém e Museu de Arte do Rio.


Regina Parra (São Paulo, SP, 1984) vive e trabalha em São Paulo. Mestre em Teoria e Crítica da Arte pela Faculdade Santa Marcelina (orientação de Lisette Lagnado) e bacharel em Artes Plásticas pela Faap (orientação de Paulo Pasta).

Nos últimos anos, realizou exposições individuais na Galeria Millan (SP), Pivô (SP), Centro Cultural São Paulo (SP), Paço das Artes (SP), Fundação Joaquim Nabuco (PE) e Galeria Leme (SP).


Virginia de Medeiros (Feira de Santana, BA, 1973) vive e trabalha em São Paulo, SP. Mestre em Artes Visuais pela Universidade Federal da Bahia. Em 2014 foi premiada no 18º Festival de Arte Contemporânea Sesc-Videobrasil com a Bolsa na Residency Unlimited em Nova York.

Seus trabalhos foram expostos em numerosas ocasiões, entre elas, Behind the Sun-Prêmio Marcantônio Vilaça, HOME, Manchester, Reino Unido; MAR Museu de Arte do Rio, Rio de Janeiro, Brasil, 31ª Bienal de São Paulo, ‘São Paulo: Como procurar coisas que não existem’; ‘Rainbow in the Dark’ , ‘SALT Galata’, ‘Istambul’; ‘Salón de Belleza’ [Beauty Salon], ‘Utopian Pulse – Flares in the Darkroom’, ‘Secessão de Viena,’ Viena, Áustria; 27ª Bienal Internacional de São Paulo ‘Como Viver Junto’; ‘Itinerários, Itinerâncias: 32º Panorama de Arte Brasileira’, MAM-SP; 2ª Trienal de Luanda ‘Geografias Emocionais’, ‘Arte e Afectos’ – ‘Projeto 3 Pontes’, Espaço Palladium, Luanda.







Fonte: Instituto Tomie Ohtake


(JA, Ago19)





quarta-feira, 3 de abril de 2019

Exposição ‘Oscar Niemeyer (1907-2012) – Territórios da Criação’ - Instituto Tomie Ohtake







Ícone da paisagem de cidades como Brasília, Niterói e Curitiba, a arquitetura de Oscar Niemeyer (1907-2012) é apenas uma parte de sua produção artística. É isso o que mostra a exposição ‘Territórios da Criação’, que abriu na última terça-feira (2), no Instituto Tomie Ohtake.

Depois de passar pelo Rio de Janeiro, em 2017 e Brasília, a exposição ‘Oscar Niemeyer (1907-2012) – Territórios da Criação’, organizada por ocasião dos 110 anos de nascimento do arquiteto, chega ao Instituto Tomie Ohtake com a adição de algumas obras.

A curadoria de Marcus Lontra e Max Perlingeiro, além de reunir um conjunto inédito de desenhos, pinturas, esculturas e peças de mobiliário feitos pelo consagrado arquiteto, traz também obras de artistas que trabalharam com ele em seus emblemáticos projetos, como Alfredo Ceschiatti (1918-1989), Alfredo Volpi (1896-1988), Athos Bulcão (1918-2008), Bruno Giorgi (1905-1993), Candido Portinari (1903-1962), Franz Weissmann (1911-2005), Joaquim Tenreiro (1906-1992), Maria Martins (1894-1973), Roberto Burle Marx (1909-1994) e Tomie Ohtake (1913-2015).

Oscar Niemeyer nasceu no Rio de Janeiro em 15 de dezembro de 1907, e morreu na mesma cidade em 5 de dezembro de 2012. ‘Ao longo de sua vida, Niemeyer produziu intensamente e afirmou-se não apenas como arquiteto, como a primeira referência estética brasileira reconhecida em todo mundo, mas também como artista e intelectual respeitado, atuando em várias frentes do conhecimento humano’, afirma Marcus Lontra.


‘Ruínas de Brasília’, 1964


‘Ruínas de Brasília’, 1964, duas raras pinturas de Niemeyer – uma delas nunca exposta – se juntam a 25 desenhos inéditos, que retratam com seu inconfundível traço a Igreja de São Francisco de Assis, na Pampulha, em Belo Horizonte, a Oca e o Parque Ibirapuera, em São Paulo, o Palácio do Planalto, a Catedral de Brasília, o Palácio da Alvorada, o Caminho Niemeyer, em Niterói, e a Bolsa de trabalho, em Bobigny, França, entre outros


Oscar Niemeyer, por Marcio Scavone

A exposição também dedica um espaço a retratos de Oscar Niemeyer assinadas por grandes fotógrafos: Antonio Guerreiro, Bob Wolfenson, Edu Simões, Evandro Teixeira, Juan Esteves, Luiz Garrido, Marcio Scavone, Nana Moraes, Nani Góis, Orlando Brito, Ricardo Fasanello, Rogerio Reis, Vilma Slomp, Walter Carvalho e Walter Firmo.



Sem título, caneta hidrográfica sobre papel


Para mostra em São Paulo, foi incluída a maquete original do trabalho de Tomie Ohtake realizado para o Auditório do Ibirapuera, uma monumental pincelada vermelha do chão ao teto do grande hall.


Bruno Giorgi - ‘Os Candangos’, década de 1960, bronze patinado
Franz Weissmann - Sem título, aço pintado
Candido Portinari -‘Cabeça de São Francisco’, Prova de parte do painel de azulejos, Igreja de São Francisco de Assis, Pampulha, 1944


Há ainda desenhos, pinturas, esculturas e azulejos criados por grandes artistas para projetos arquitetônicos de Niemeyer, e que se tornaram igualmente símbolos desses espaços, como um estudo feito por Volpi em têmpera sobre cartão para a Capela Dom Bosco, em Brasília; um estudo em aquarela e duas provas de azulejos feitos por Portinari para a Igreja de São Francisco de Assis, na Pampulha; duas esculturas em pequeno formato como estudo para os ‘Candangos’ e outra para ‘Meteoro’, de Bruno Giorgi, que estão em Brasília em escala monumental.

A exposição reunirá ainda uma série de documentos e publicações, mostrando o Niemeyer designer gráfico. Niemeyer criou a revista ‘Módulo’, na década de 1950, dedicada à arte e à arquitetura, publicada até 1964, e retomada por ele em 1975, quando retornou ao Brasil. Além disso, será exibido continuamente o vídeo ‘Oscar Niemeyer: a vida é um sopro’, 2006.




                  



Exposição:  ‘Oscar Niemeyer (1907-2012) – Territórios da Criação’
Local: Instituto Tomie Ohtake, Av. Faria Lima 201 - Complexo Aché Cultural
Abertura: de 02 de abril, até 19 de maio de 2019
De terça a domingo, das 11h às 20h
Entrada franca



Fonte: ArchDaily Brasil, Revista Museu



(JA, Abr19)


sábado, 24 de novembro de 2018

Mostra no Instituto Tomie Ohtake celebra carreira de Karin Lambrecht

Viemos do Vento Trazer essas Luzinhas', pintura da artista Karin Lambrecht

Com Karin Lambrecht, o Instituto Tomie Ohtake dá prosseguimento ao projeto ‘Nossas Artistas’, uma sequência de mostras individuais dedicadas a mulheres que fizeram e fazem a história da arte brasileira. Iniciado em 2016, com ‘I love you baby’, de Leda Catunda, vencedora do Prêmio Bravo de melhor exposição individual do ano, agora o programa contempla a obra da pintora gaúcha.

A mostra divide em três diferentes núcleos temáticos pinturas, desenhos e cadernos da artista conhecida por integrar a Geração 80. Abstratos, os trabalhos lidam como as impressões causadas pelo reflexo e o rebatimento da luz e exploram questões relacionadas à espiritualidade, à vida e à morte.
Com curadoria de Paulo Miyada,  reúne obras de diferentes momentos da carreira de Lambrecht: desde alguns desenhos realizados do início dos anos 1990 até pinturas mais recentes, que constituem a maior parte da seleção. ‘Trata-se de uma oportunidade para gradualmente imergir no universo visual e reflexivo de uma artista singular na nossa arte, cuja obra oferece uma densa alternativa ao frenesi do consumo de imagens descartáveis que caracteriza os tempos vigentes’, comenta o curador.
As telas da artista sugerem particular interesse pelo transcendental, pelo espiritual e pelas religiões a partir de uma paleta obstinada em auscultar a natureza da linguagem dos mais diversos materiais. Além das tintas, outros substratos pictóricos ocupam a superfície de suas pinturas, como ouro, mel, lona, cera de abelha, terra, grafite, linho, pigmento e pastel.
Segundo Miyada, a simples ampliação de recursos para além da trivial ‘tinta a óleo sobre tela’ não seria digna de nota não fosse pela clareza e pelo escrúpulo com que cada matéria atua no campo pictórico. ‘Mesmo que não seja sempre óbvio qual o material utilizado pela artista, é sempre possível distinguir quais signos, texturas, cores e formas correspondem a recursos distintos, manipulados com uma gestualidade adequada a sua dureza, peso e maleabilidade. O princípio de acumulação dessas substâncias não é, portanto, o da mistura indiferenciada, mas sim o da articulação de órgãos em um organismo visual’.
A exposição constrói propositalmente um percurso. O primeiro núcleo de trabalhos é constituído por sete pinturas realizadas entre 1990 e 2013 dispostas sob visibilidade tênue, resultante praticamente dos rebatimentos da luz. Ao ultrapassar este ambiente, o visitante adentra uma clareira como uma ampla nave de fundo semicircular, onde a iluminação é projetada de tal forma que a resplandecência parece nascer das 17 pinturas suspensas, concebidas de 1990 a 2018. ‘No vértice entre o desejo de saber e a necessidade de crer, alguém imagina uma clareira de silêncio’, escreve Miyada.
Na sessão final da exposição, ao atravessar uma cortina de voil, o espectador depara-se com um ambiente claro e branco ocupado por cadernos, desenhos e pequenas pinturas da artista.  Um conjunto de temas, palavras e símbolos que refletem a escala íntima do contato com as obras.
‘As próprias pinturas, desenhos e cadernos de Karin Lambrecht almejam ser laço e passagem. Presenças imanentes, quer dizer, materialidades que se inserem na experiência possível e compartilhável. Evocações suprassensíveis, ou seja, chamados à contemplação de aspectos invisíveis da existência humana’, conclui o curador.
Karin Lambrecht  nasceu Porto Alegre em 1957. Vive e trabalha em Porto Alegre, graduou-se em desenho e gravura na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, mudando-se logo em seguida para a Alemanha, onde realizou parte significativa de sua formação como pintora. No retorno ao Brasil, participou das ações desenvolvidas no Espaço N.O., das artistas Ana Torrano e Vera Chaves Barcellos; integrou a importante exposição ‘Como vai você, Geração 80?’ no Parque Lage, 1984, e dedicou sua produção a realizar uma pintura que borra as fronteiras entre a colagem, o trabalho escultórico e a performance. De caráter sentimental e espiritual, sua produção lida com questões de espiritualidade, acerca da vida e da morte e aplica o texto de maneira simbólica.


Karin Lambrecht - Entre nós uma passagem
Instituto Tomie Ohtake - R. dos Coropés, 88, Pinheiros, região oeste, tel. (11) 2245-1900
De 23/11 até 10/2
Ter. a dom.: 11h às 20h
Livre
GRÁTIS




(JA, Nov18)

quarta-feira, 27 de junho de 2018

Mostra no Masp e Tomie Ohtake retrata fluxos da cultura africana para além da escravidão


Exposição reúne 432 obras de mais de 200 artistas de 14 países diferentes
'O Negro Cipião', 1866-68, de Paul Cézanne ,que estará exposta no Tomie Ohtake


O Masp e o Instituto Tomie Ohtake inauguram, na quinta (28) e no sábado (30), respectivamente, uma exposição dois em um. As duas instituições culturais uniram seus espaços para abrigar 432 obras de 210 artistas de diferentes países.

A mostra faz parte do ciclo do Masp que, neste ano, dedica-se às histórias afro-atlânticas, isto é, trajetórias que ligam a África às Américas. Trata-se da maior mostra da atual gestão do museu, que assumiu em 2014.
Historiadora, antropóloga e curadora das duas instituições, Lilia Schwarcz afirma que a exposição é uma espécie de desdobramento da mostra ‘Histórias Mestiças’, realizada em 2014 no Tomie Ohtake. ‘Ali, trabalhamos com o território brasileiro. Agora, tivemos que tomar uma perspectiva transatlântica’, diz Schwarcz.
Desta forma, a megaexposição congrega obras de artistas brasileiros, latino-americanos, europeus, dos EUA e de países africanos. 
Dos oito núcleos criados para a exposição, seis estão distribuídos em quase todo o espaço do Masp —exceto o segundo andar, dedicado à exposição permanente, e parte do primeiro subsolo, que expõe obras do comodato com  a B3, dona da Bolsa de Valores de São Paulo.
Já o Tomie Ohtake, responsável por dois núcleos, abordará os temas Emancipações e Ativismos e Resistências.
Entre os artistas que terão obras apresentadas estão os americanos Benny Andrews e Emory Douglas. ‘Quisermos dar voz a artistas modernistas americanos negros que muitas vezes ficam ofuscados’, diz o curador Tomás Toledo.

Montagem da Exposição Afro-Atlântica, que ocupa grande parte do Masp


Também americano, Andy Warhol tem serigrafias expostas na mostra. Lilia Schwarcz afirma ele tem um importante papel na exposição, já que é o único do grupo a tratar de questões de gênero, com a imagem de mulheres negras transexuais. 

Segundo a historiadora Lilia Schwarcz, não seria possível mostrar uma cronologia da arte sobre as histórias afro-atlânticas, que reúne obras desde o século 16, sem a presença de artistas brancos.

Além disso, ela afirma que, para dialogar com a história africana, é necessário ter exemplos de artistas que a retrataram e viveram o início da colonização. Na mostra, há 55% de artistas negros. 

‘Ao colocarmos imagens de artistas dos séculos passados próximas de artistas contemporâneos como americanos, jamaicanos e cubanos, isso permite uma releitura dessas imagens para que possamos notar a perversidade delas’, diz a historiadora.


Obra de Janaína Barros que está exposta no Instituto Tomie Ohtake

Um desses exemplos, que está na exposição, é a fotografia do século 19 em que uma ama negra está de cócoras com uma criança branca montada em suas costas. Na expografia, essa imagem está justaposta a uma obra do artista americano Titus Kaphar que, em uma imensa tela, reproduz a figura da escrava e recorta a criança da cena.

Entre as instituições internacionais que emprestaram obras da sua coleção estão o Metropolitan Museum, de Nova York, o J. Paul Getty Museum, de Los Angeles, a National Gallery of Denmark, de Copenhague, o Museu Nacional de Bela Artes de Havana e a National Gallery da Jamaica.

As obras vieram de 14 países para os aeroportos de Viracopos e Guarulhos. O Masp e outros centros culturais vêm enfrentando problemas com a vinda de obras internacionais desde o início do ano. Isso porque os aeroportos brasileiros mudaram a política de cobrança da armazenagem. Antes, cobrava-se uma tarifa calculada com base no peso da carga. Agora, cobra-se pelo valor dela.

Com isso, o Masp, que havia programado pagar R$ 3.000 pela armazenagem das obras, teria de desembolsar R$ 4,5 milhões pela nova regra, como informou a coluna Mônica Bergamo. Para viabilizar a exposição, o museu entrou com um mandado de segurança para garantir a cobrança do valor antigo e reverteu o quadro.

Esta não é a primeira vez que a nova tarifação ameaça o museu. Em maio, obras da Tate Gallery, de Londres, só vieram ao Brasil após um mandado de segurança ser impetrado, impedindo uma cobrança que encareceria em mais de R$ 240 mil a mostra.

Histórias Afro-Atlânticas 
A partir desta qui. (28) para convidados e sex. (29) para o público até 21/10
Masp, av. Paulista, 1.578
Ter. a qua. e sex. a dom., das 10h às 18h, e qui., das 10h às 20h
R$ 35
Tomie Ohtake, av. Faria Lima, 20
Sáb. (30) para convidados das 11h às 15h; aberto ao público em seguida
Ter. a dom., das 11h às 20h
Grátis





 Texto: Isabella Menon   |   FSP



(JA, Jun18)