sábado, 31 de agosto de 2019

Feira de decoração em São Paulo valoriza 'a beleza da imperfeição'



Técnicas artesanais, matérias-primas naturais e produtos sustentáveis foram destaque da 39ª Home & Gift



Mano de Baé - escultura em cerâmica

Tramas, temas, cores e texturas que remetem à natureza estão entre as tendências apresentadas na 39ª edição da ‘Home & Gift’, feira do setor de decoração, presentes e mobiliário, realizada entre os dias 14 e 18 de agosto pela Associação Brasileira das Empresas de Utilidades e Presentes (Abup), em São Paulo.

O design independente e o artesanato nacional chamaram a atenção em propostas inusitadas, com o uso de materiais impactantes, a exemplo do concreto e da madeira bruta, entre os lançamentos reunidos por 187 expositores.


Centro de mesa Affonso, de concreto reforçado com fibras de polipropileno

 São móveis feitos a partir de resíduos de madeira encontrados na mata, bordados aplicados em objetos decorativos e criações e revestimentos que resgatam as artes do tricô e do crochê.

No evento, artistas plásticos, artesãos e designers apresentaram seus trabalhos em áreas exclusivas. Um desses espaços, o Projeto Célula, voltado à promoção da diversidade criativa, da arte e da cultura brasileira, tem na direção a curadora de arte Cris Rosenbaum, ao lado de Marco Aurélio Pulchério, da marco500, agência que comercializa produtos de decoração assinados por artesãos e designers nacionais.

Almofada de tricô de fio 50% algodão e 50% acrílico

‘Peças feitas à mão e com design autoral, como uma almofada bordada, podem mudar a decoração. É isso que dá a alma a um lar e diferencia o ambiente. Ao contrário de lugares bege e sempre iguais’, afirma Cris Rosenbaum. ‘Trazer para dentro de casa uma renda ou um tricô, por exemplo, é uma forma de esquentar os espaços com referências nacionais’, diz.

Para Pulchério, há um interesse crescente pela produção autoral e artesanal, e isso se deve à procura de uma identidade cada vez maior na escolha dos objetos que são levados para casa.

‘Antes, não havia tanto essa preocupação, de encontrar a sua própria cultura e de retratar a sua história em peças decorativas. Tempos atrás, as pessoas vinham de fora carregando objetos da Europa para decorar suas casas. Hoje, valorizamos a beleza da imperfeição, como costumo dizer’, conta, referindo-se às características do trabalho artesanal, que nunca se repete.


Jaqueline Chiabay - Banqueta Novelo, feita com resíduos de couro de cabra e madeira

‘O imperfeito é belo e faz parte, tanto na madeira quanto no metal ou em outro material, coisa que há pouco tempo era impensável. Cada vez mais, buscamos essa possibilidade, de ter uma peça única e que conte um pouco sobre a nossa origem e cultura’, afirma.

À frente da Massa Branca, marca de objetos utilitários e decorativos, que participou do Projeto Célula, a empresária Silvia Finotti diz que, atualmente, o consumidor quer comprar peças com algum valor agregado.

‘Eu percebo que existe uma procura maior por objetos que tenham algo para contar e que sejam confeccionados a partir de materiais sustentáveis. Há uma preocupação em saber como e com o quê cada peça foi produzida’.







Fonte:  Yara Guerchenzon   |   Sobremorar, FSP



(JA, Ago19)




quarta-feira, 28 de agosto de 2019

Kobra transforma ônibus em galeria e faz exposição itinerante pela periferia de SP




O artista brasileiro Eduardo Kobra


Muralista brasileiro comemora 30 anos de carreira com mostra gratuita em 13 pontos da Grande São Paulo

No mesmo dia em que comemora 44 anos de idade e 30 de carreira, o artista plástico Eduardo Kobra, um dos mais conhecidos muralistas brasileiros, voltou às suas origens no bairro do Campo Limpo para inaugurar nesta terça-feira (27) uma exposição itinerante que vai percorrer bairros periféricos da Grande São Paulo em um ônibus transformado em galeria de arte.

‘Eu comecei meu trabalho na periferia de São Paulo, aqui no Campo Limpo. Foi aqui que eu passei todos os desafios, todas as lutas, mas foi justamente a periferia que me proporcionou toda a experiência. Então eu tenho uma eterna gratidão por tudo que eu aprendi’, diz Kobra.

A exposição tem entrada gratuita e acontece de 27 de agosto a 8 de setembro, das 9h às 17h, em 13 lugares. (Veja a lista completa abaixo)


Ônibus circular transformado em galeria de arte para a exposição itinerante de Eduardo Kobra por São Paulo


Com seu estilo próprio de retratos e cores fortes, Kobra ganhou fama internacional fazendo enormes painéis em diversos países. Mas há anos pensava em adaptar suas obras para esta exposição, em escala menor, no local onde começou sua carreira.

‘Nesses 30 anos eu estou podendo voltar para cá agora, trazendo as minhas obras na raiz da minha história. E agora eu já passei por cinco continentes, já pintei em cerca de 40 diferentes países. Mudou um pouco a perspectiva, mas eu tenho o mesmo prazer de estar em lugares nobres como a Times Square ou lugares mais simples. Acho que a beleza da arte pública é estar ao acesso de todas as pessoas’, diz.


O muralista Eduardo Kobra observa sua obra com retrato de Jean-Michel Basquiat


O ônibus é do mesmo modelo utilizado nas linhas comuns que circulam na capital. Ele foi cedido por uma empresa e inteiro adaptado. Os bancos foram removidos, recebeu iluminação especial e um projetor que passará um documentário com a história do artista durante a mostra.

‘Para cada muro sempre tenho um original que é uma tela, em menor escala, que é onde eu faço os testes de cor. É justamente o que eu estou mostrando aqui. Cada uma das obras que estão expostas no ônibus contam uma história, que é não só a história dos personagens, mas também do local onde a obra foi colocada’, afirma.



Ônibus circular transformado em galeria de arte para a exposição itinerante de Eduardo Kobra por São Paulo


Levar a arte de rua para o espaço da galeria continua, no entanto, sendo um desafio para Kobra. Esta é a terceira exposição em toda sua carreira, mas a primeira realizada no Brasil.

‘É um desafio, principalmente porque o ônibus é um espaço muito restrito, então as obras são ainda menores. Acaba dando mais trabalho pintar pequeno do que pintar grande. Às vezes o mesmo tempo que eu levo para pintar um prédio, que leva uns 10 dias, eu acabo levando para pintar uma tela de 1 metro por 1 metro’, afirma.


Eduardo Kobra mostra suas obras para crianças durante exposição itinerante por São Paulo



Exposição ‘Galeria Circular’ com Eduardo Kobra
Horário: das 9h às 17h
Dia 28 de agosto, terça-feira
Onde - Campo Limpo (Zona Sul), Projeto Arrastão, à rua Dr. Joviano Pacheco de Aguirre, 255, com apresentação do grupo de percussão ‘Arrasta Lata’ às 13h30
Dia  28 de agosto, quarta-feira
Onde: Grajaú (Zona Sul), à Praça José Boemer Roschel, na esq. da av. Carlos Oberhuber com rua Rubem Souto de Araújo, na Vila São José
Dia 29 de agosto, quinta-feira
Onde: Paraisópolis (Zona Sul), no CEU Paraisópolis, à rua Dr. José Augusto de Souza e Silva, s/n, com apresentação do Balé de Paraisópolis, às 14h
Dia 30  de agosto, sexta-feira
Onde: em Diadema, à Praça da Moça, no Centro
Dia 30 de agosto, sábado
Onde: Itaquera (Zona Leste), no Parque do Carmo, à av. Afonso de Sampaio e Souza, 951
Dia 1º. de setembro, domingo
Onde: Vila Madalena (Zona Oeste), à rua Medeiros de Albuquerque, 270
Dia 2 de setembro, segunda-feiraOnde: Vila Guilherme (Zonas Norte), no Parque do Trote, à av. Nadir Dias de Figueiredo, s/n
Dia 3 de setembro, terça-feiraOnde: Brasilândia (Zona Norte), na Fábrica de Cultura Brasilândia, à av. General Penha Brasil, 2.508
Dia 4 de setembro, quarta-feira
Onde: Heliópolis (Zona Sul), CEU Heliópolis, à Estrada das Lágrimas, 2.385, com apresentação de RAP, em horário ainda indefinido
Dia 5 de setembro, quinta-feira
Onde: Cidade Tiradentes (Zona Leste), Creche Nossa Senhora do Divino Pranto, à av. dos Metalúrgicos, 1.899
Dia 6 de setembro, sexta-feira
Onde: Jardim Noronha (Zona Sul), no Campo de Futebol, à rua Três Corações, à altura do número 874, no ponto final da linha Jd. Porto Velho
Dia 7 de setembro, sábado
Onde: Bom Retiro (Centro), no Projeto Novos Sonhos, à Al. Cleveland, 484, com apresentação da Companhia Infantil e Juvenil Novos Sonhos, com música clássica e percussão, respectivamente, a partir das 13h30
Dia 8 de setembro, domingo
Onde: av. Paulista (Paraíso), à Praça Osvaldo Cruz, em frente ao Japan House, esquina com rua 13 de Maio




Fonte: Marina Pinhoni  |   G1 SP


(JA, Ago19)


sexta-feira, 23 de agosto de 2019

Masp exibe obras de pintoras que foram ignoradas na história da arte




Mostras jogam luz sobre o trabalho de artistas mulheres dos séculos 16 a 19, que não encontram espaço nos museus


Lavinia Fontana, 1552-1614  -^-  'Heilige Familie mit Elisabeth und dem Johannesknaben'


Lavinia Fontana teve tanto sucesso na pintura que seu marido largou o trabalho para assumir a criação dos 11 filhos do casal.


Élisabeth Vigée Lebrun,1755-1842  -^-  Self-Portrait, 1781


Elisabeth Louise Vigée Le Brun foi a retratista oficial da corte de Luís 16, além da artista favorita de Maria Antonieta.


Sofonisba Anguissola, 1532-1625  -^-  Auto Retrato


Sofonisba Anguissola ganhou elogios de Michelangelo em pessoa.

Elas são apenas algumas das pintoras atuantes entre os séculos 16 e 19 que o Masp apresenta em ‘Histórias das Mulheres, Histórias Feministas’.

Dividida em duas mostras, a primeira com trabalhos até 1900 e a segunda com obras a partir dos anos 2000, a iniciativa é mais um capítulo na tentativa do museu de ampliar as vozes que escreveram a história da arte —esforço que começou há três anos, com ‘Histórias da Infância’.

Vale observar que as artistas do século 20, aqui excluídas, guiam as exposições monográficas montadas no resto do ano, como as de Tarsila do Amaral ou Lina Bo Bardi.

À frente de ‘Histórias das Mulheres: Artistas até 1900’, junto a Julia Bryan-Wilson e Lilia Schwarcz, Mariana Leme diz que os casos de Fontana ou Anguissola são mais comuns do que se imagina. Afinal, explica, a noção de que as mulheres não podiam ser artistas profissionais, apenas amadoras, só foi quebrada no século 20.

Mas foi ela que ficou para nós. Os museus de belas artes raras vezes exibem obras de mulheres nas paredes. Os principais manuais de história da arte não citam seus nomes.



Artemisia Gentileschi, 1593-1653  -^-    'Allegory of Fame', 1630~1635

‘Parece um círculo vicioso. Se você só vê isso’, diz Leme, apontando para duas pequeninas telas que pertencem à coleção do Masp, ‘você tem a impressão de que as mulheres não fizeram aquilo’, afirma, direcionando o olhar para uma pintura de dois metros de altura da italiana Artemisia Gentileschi. ‘Isso é mentira, e as obras estão aqui para provar’.

Os trabalhos permitem descobrir artistas pouco conhecidas, além de testemunhar as dificuldades que elas enfrentaram ao longo dos séculos.


Adrienne Marie Louise Grandpierre Deverzy,1798-1869    -^-   'The Studio of Abel de Pujol'

Dois quadros da francesa Adrienne Grandpierre-Deverzy são simbólicos nesse sentido. No primeiro, ela retrata uma aula de arte para mulheres. Doze jovens se apinham no ateliê de pintura. No segundo, um artista pinta uma mulher nua num estúdio vazio.

O desafio também atravessou a organização da mostra, que garimpou os trabalhos em galerias e coleções particulares —pouco mais da metade das pinturas expostas vêm de museus, aos quais o público tem acesso. Leme acrescenta que mesmo as instituições brasileiras não têm muito conhecimento das artistas mulheres que possuem nos acervos.

Além das pinturas, ‘Histórias das Mulheres’ exibe também têxteis de autoria feminina manufaturados na Inglaterra, na Índia, nos Andes, no antigo Império Otomano e em outros lugares. Um deles mostra as colchas costuradas por associações de mulheres americanas no final do século 19 —as peças eram vendidas para financiar desde a Guerra de Secessão a campanhas pelo sufrágio feminino.

Os ‘quilts’ servem como uma espécie de transição para ‘Histórias Feministas: Artistas depois de 2000’, que ocupa os andares subterrâneos do Masp. Outras obras feitas com tecido, de bandanas a enormes painéis bordados, costumam ser mostradas ali.

A curadora Isabella Rjeille diz que não quis mapear uma produção feminina contemporânea na mostra. Em vez disso, explica, os artistas —a maioria, jovens latino-americanas, mas há um homem na seleção— mostram como a vivência feminina pode ser associada a outras esferas de ativismo.



Vestido de noiva da Daspu


Dessa forma, o coletivo Daspu, formado por prostitutas, costura um vestido de noiva a partir de lençóis usados em bordéis. Virginia de Medeiros retrata as antigas vizinhas na ocupação do velho edifício do INSS, no centro de São Paulo.

Outros trabalhos se debruçam sobre as artistas mulheres que vieram antes delas. ‘As Páginas Brancas’, da dupla sueca Eva Marie Lindahl e Ditte Ejlerskov Viken, por exemplo, cria volumes para diversas artistas ignoradas pela coleção de livros da editora Taschen. Seus miolos permanecem em branco.

Nenhuma das curadoras gosta da ideia de uma história da arte feminina, no entanto. ‘Essa ideia de feminino pressupõe que formamos blocos homogêneos’, afirma Leme.



Histórias das Mulheres, Histórias Feministas
MASP - Av. Paulista, 1578 - Bela Vista - Tel: 3149-5959
Abertura: sex. (23). Até 17/11 Qua. a dom., 10h Às 18h | Ter.:Grátis





Fonte: Clara Balbi  |   FSP


(JA, Ago19) 


quinta-feira, 22 de agosto de 2019

Man Ray, o fotógrafo que deu status de arte à fotografia



O Centro Cultural Banco do Brasil, em São Paulo, recebe a primeira retrospectiva brasileira do trabalho do sedutor modernista americano


ESPELHO - Man Ray no célebre autorretrato: o pai das selfies



No estúdio que manteve em Paris nos anos gloriosos da carreira, entre 1921 e 1940, o americano Man Ray promoveu inovações em várias frentes.

Expoente de duas vanguardas ruidosas, o dadaísmo e o surrealismo, ele atacou de início como pintor e escultor. Logo se converteu em desbravador da fotografia de moda, produzindo ensaios até hoje influentes para as revistas Vogue e Harper’s Bazaar.

Foi ainda na fotografia, afinal, que alcançou seu grande feito — nada menos do que elevar essa forma de expressão ao patamar de arte. Para Man Ray, a labuta no estúdio era, digamos, duplamente extenuante: ele gostava de trabalhar deitado na cama — sempre na companhia de belas mulheres.

Daí vem, naturalmente, a sensualidade radiante dos 225 itens de Man Ray em Paris, a primeira mostra devotada ao maior fotógrafo modernista realizada até hoje no país.

Com abertura na última quarta-feira 21, na filial paulistana do Centro Cultural Banco do Brasil (em dezembro, o acervo aporta em Belo Horizonte), a retrospectiva ilumina um artista que foi discreto perto de seus pares mais famosos nos mesmos movimentos — pois seria difícil competir em egolatria ou capacidade de chamar atenção com o francês Marcel Duchamp e o catalão Salvador Dalí.

Mas, embora trabalhasse quieto, Man Ray era famoso em toda a Paris boêmia por sua facilidade em unir o útil ao agradável. Ele amava retratar o corpo feminino, decupado especialmente em nus radicais (não raro tão despudorados que fariam corar políticos com medo de Bruna Surfistinha).

‘Man Ray tinha a reputação de ser um dom-juan, um grande fornicateur’, diz a curadora francesa Emmanuelle de l’Ecotais. ‘Objeto de desejo e de fantasias, a mulher emerge em suas fotografias sempre num mundo estranho, desmaterializada’, divaga a especialista.

No mundo real, havia bastante matéria envolvida no negócio: as musas de Man Ray eram também suas amantes. As principais beldades foram Kiki (1922-1926), Lee Miller (1929-1932), Meret Oppenheim (1933-1934), Ady (1936-1940) e Juliet (a partir de 1941).

Kiki foi a modelo da célebre e muito imitada Noire et Blanche (Negra e Branca), imagem surrealista que exibe o rosto da modelo em pose sonhadora (sonhos eram uma obsessão surrealista) ao lado de uma máscara africana. Quando Kiki o largou, Man Ray exprimiu sua ira em outro símbolo da fotografia: Lágrimas, em que os olhos de uma manequim surgem em close, com gotas de vidro simulando choro.




Nem só de retratos femininos se fez a obra do dom-juan modernista. Possivelmente, Man Ray foi o inventor da selfie: em imagens precursoras como o autorretrato na imagem em destaque, ele capta a si mesmo diante do espelho. Na entrada da mostra, os espectadores serão convidados a copiar sua pose.

Ainda que abranja toda a sua trajetória, a exposição se detém principalmente nos anos em Paris até 1940, que foram os mais produtivos.

Judeu, Man Ray teve de fugir da Europa na II Guerra, mas voltou mais adiante e viveu lá até a morte, em 1976, aos 86 anos. Nessa fase tardia, já era prisioneiro do sucesso. Diz a curadora:


‘Ele adotou o discurso provocativo de que a fotografia não era arte, enquanto ele era precisamente aquele que tornou a fotografia uma arte’.


Man Ray fez sua fama na cama — mas, ao posar para a posteridade, não se deitou nela.






Fonte:  Marcelo Marthe    |  Rev. Veja 



(JA, Ago19)


terça-feira, 20 de agosto de 2019

Exposição introduz público à obra do fotógrafo e pintor Man Ray


Retrospectiva dedicada pelo CCBB de São Paulo ao fotógrafo surrealista norte-americano.

'Lágrimas', 1932

Com caráter didático, retrospectiva cobre os anos de 1921 a 1940 da produção parisiense do artista americano.

Esta retrospectiva, apresentada pela primeira vez no Brasil, abrange a imensa e multiforme obra de Man Ray. Conhecido principalmente por sua fotografia, mas também criador de objetos, realizador de filmes e faz-tudo genial, Man Ray chega a Paris em 1921, onde permanece até a Segunda Guerra Mundial e para onde retorna definitivamente em 1951. Foi nessa cidade que sua arte original se desenvolveu e mais repercutiu.

A exposição elucida, por meio de cerca de 250 obras, a lenta maturação de Man Ray, bem como apresenta um panorama completo de sua criatividade. Das primeiras obras dadaístas ao retrato e à paisagem, da moda às imagens surrealistas, de seus trabalhos comerciais a uma seleção de seus objetos e filmes, e à sua vontade de revelar outra realidade, reúnem-se nesta exposição toda a complexidade e a riqueza do que ele nos legou.

‘Man Ray em Paris’ reúne fotografias e objetos nunca exibidos no Brasil. Tendo como curadora a francesa Emmanuelle de l’Ecotais, a mostra foi montada de forma didática, de modo a introduzir o público na obra do fotógrafo e pintor.

No dia 21 de agosto, às 19h, a curadora Emmanuelle De l'ecotais conversa com o público sobre a trajetória de Man Ray, com entrada franca mediante retirada de senha a partir de 1 hora antes do início do evento. Sujeito à lotação.

A exposição cobre os anos de 1921 a 1940, período mais intenso do trabalho de Man Ray, pseudônimo de Emanuel Radnitzky, nascido na Filadélfia em 1890, que, na década de 1910, conheceu Duchamp e, encantado com os dadaístas, fixou residência em Paris, onde conviveu com a vanguarda da época, de André Breton, teórico do surrealismo, a Picasso, o maior nome do cubismo. Imagens dele e outros artistas do século 20 estão na mostra.

Quase um século após Man Ray ter registrado imagens de corpos nus, nos anos 1920, suas fotos ainda provocam desconforto, especialmente nesta época de regressão moralista: o cartaz concebido pela curadora francesa Emmanuelle de l’Ecotais para a mostra Man Ray em Paris, que será aberta no dia 21, no CCBB de São Paulo, foi trocado por orientação da produtora Artepadilla.

Esse cartaz, que reproduziria uma foto da série Érotique Voilée, dos anos 1930, com a modelo Meret Oppenheim nua, foi substituído pela imagem Larmes (1932), que agora anuncia a exposição na parede frontal do CCCB, no centro. Não pesou na decisão da produtora brasileira, segundo seu diretor Roberto Padilla, a censura à mostra, ao contrário de Queermuseu, exposição que provocou protestos de grupos conservadores em 2017.


Le Violon d'Ingres, 1924


Padilla esclareceu a troca da foto como estratégica, e não como censura. ‘Não houve cerceamento propriamente, mas cautela, pois a foto poderia dar uma conotação errada à exposição, que não é só de nus’, justificou o produtor. Como se trata de uma mostra abrangente, dedicada a apresentar a obra de Man Ray aos brasileiros, a produtora considerou que uma foto com nu poderia induzir o público a imaginar que se trata de uma exposição de caráter erótico. Não é, de fato, mas poderia ser. Afinal, como indica o título da foto renegada, Érotique Voilée, trata-se de erotismo velado, o que não se aplica às outras imagens da série na mostra do CCCB – a instituição não participou do debate para decidir o cartaz, não censurou obras ou sugeriu faixa etária para ingresso, segundo o produtor.

Seja como for, a obra de Man Ray está repleta de sugestões eróticas, como parte da produção surrealista da época, impulsionada pelas descobertas da psicanálise freudiana, que dava grande importância ao inconsciente e ao sexo.

São 255 fotografias de excepcional qualidade, produzidas por Man Ray em Paris, entre 1921 e 1940, período marcante de sua produção, além de objetos nunca exibidos no Brasil.

Entre eles está o famoso ferro de engomar com tachinhas (Cadeau, 1921), um ready-made de sua primeira exposição individual em Paris cujo título irônico (Presente) subverte o conceito de uma peça que se recebe com satisfação. Outro objeto da mostra, Obstruction (1920/1960), deu um trabalho imenso para a curadora Emmanuelle de l’Ecotais, autora de dois livros sobre Man Ray, e do catálogo raisonné de suas rayografias (fotos obtidas sem recorrer a um aparelho fotográfico, mas por meio de sensibilização à luz de objetos colocados sobre o papel fotográfico).

Cuidadosa, Emmanuelle supervisionou a montagem da dadaísta ‘Obstruction’ peça por peça – são 63 cabides acoplados nessa assemblage que evoca um candelabro, recorrendo ao procedimento dadaísta de trabalhar com objetos do cotidiano (ready-made). Man Ray fez o original em 1920 e produziu uma edição de 15 deles para uma mostra de arte cinética, em 1961. Difícil calcular o preço de objetos como o ferro de engomar ou dessa peça, mas uma fotografia vintage do surrealista pode chegar a ¤ 2,5 milhões.

Das primeiras obras dadaístas de Man Ray às imagens surrealistas, passando por fotos de Paris nos ‘anos loucos’ (1920/30), a retrospectiva foi organizada, segundo a curadora, de modo didático para dar ao público um panorama geral de suas técnicas – ele foi pioneiro em muitas delas, como a solarização – e linguagem. ‘Em cada um dos andares o público vai conhecer seu processo de criação, inclusive seus filmes’.



Autorretrato, Man Ray





Fonte: Antonio Gonçalves Filho, OESP




(JA, Ago19)

domingo, 18 de agosto de 2019

Tendência de exposições digitais leva multidões a 'entrar' em quadros


Mostras em Paris exibem projeções virtuais de obras de Da Vinci e Van Gogh

Van Gogh, ‘Noite Estrelada’


Agora que até a ‘Mona Lisa’, obra-prima de Leonardo da Vinci, será exibida virtualmente no tradicionalíssimo Museu do Louvre a partir do dia 24 de outubro, não restam mais dúvidas: as exposições imersivas vieram para ficar.



Egon Schiele, 'Minha Irmã Gerta, 1909

A moda começou a se consolidar no Atelier des Lumières em abril de 2018, com a exposição de Gustav Klimt e Egon Schiele, que em nove meses levou 4 milhões de visitantes ao espaço parisiense.

O Atelier continua provocando filas com a mostra interativa de Van Gogh, que requer compra antecipada de ingressos. Tudo bem, esse tipo de antecipação também é vital nas concorridas exposições de museus convencionais, mas basta falar em experiência imersiva para despertar o interesse de multidões, ávidas em interagir com as obras.

A experiência digital da ‘Mona Lisa’ permitirá aos visitantes, por meios de óculos especiais, observar minúcias do quadro mais famoso do mundo, com impressionantes proximidade e resolução. Será como se os visitantes ultrapassassem o vidro protetor do museu para verificar os detalhes da obra invisíveis a olho nu.




A exposição, ‘Mona Lisa: Além do Vidro’, apresentará descobertas científicas sobre os métodos usados por Da Vinci no quadro pintado entre 1503 e 1506 com a técnica sfumato, além de informações adicionais sobre a nobre italiana Lisa del Giocondo, inspiradora do trabalho.

Da Vinci talvez pudesse ver com alguma naturalidade a exibição virtual de sua obra-prima, dada sua intimidade com a inovação, que incluía até a dissecação de cadáveres para aperfeiçoar seus quadros. Já Van Gogh, que não conheceu sucesso e reconhecimento em vida, ficaria atônito se entrasse na exposição do Atelier des Lumières, montada na antiga fundação de aço da família Plichon, na capital francesa.

A sensação de ‘entrar’ em um quadro de Van Gogh é arrebatadora. Um dos pontos altos das imagens projetadas nas paredes de dez metros de altura do galpão é o tremular das águas do quadro ‘Noite Estrelada’, que dá nome à exposição. A intensidade das pinceladas se torna mais nítida pela ampliação da caótica e poética criação de Van Gogh.




As projeções, iniciadas pelo ambiente na Holanda em que o pintor passou seus primeiros anos de vida, também contemplam outros locais retratados em suas telas, como Arles, Paris e Auvers-sur-Oise.

Tudo isso pode ser apreciado por visitantes em movimento, sentados no chão nos carretéis de madeira espalhados pelo espaço, nas escadas que levam a um segundo piso ou mesmo lá de cima, com vista panorâmica. O público pode filmar e fotografar as imagens, desde que o flash não seja acionado.

Trata-se de uma situação bem diferente da vivenciada nas passivas exposições convencionais. Além de atraente ao público, a experiência digital pode representar um fator de economia para os museus. Sem a necessidade de ter no acervo as obras reais, eles deixariam de arcar com os milionários custos dos seguros.

Durante 35 minutos, tempo de visitação que cada pessoa pode repetir quantas vezes quiser —eu fiz três passeios consecutivos—, as imagens, estáticas ou em movimento, são acompanhadas por trilha sonora escolhida a dedo pelos realizadores: de Janis Joplin a Miles Davis, passando por Vivaldi e Puccini.

Curiosamente, não há um único francês entre os organizadores da mostra de Van Gogh. Todos são italianos. ‘Eu quis conduzir os visitantes além da tradicional experiência de observar, levando-os ao coração das obras, de maneira que eles se tornem um componente integral da experiência imersiva’, explica Gianfranco Iannuzzi, coordenador dos espaços imersivos.

E como Van Gogh sofreu fortes influências da arte japonesa e sentiu-se no Japão ao chegar a Provence, a mostra tem uma sequência, ‘Sonho Japonês, Imagens de um Mundo Flutuante’, cujo auge é uma dança de lanternas japonesas flutuando pelo gigantesco espaço.

O Atelier des Lumières —que guarda a sete chaves qual será sua próxima exposição, em 2020— já tem filiais em Baux-de-Provence, na Coreia do Sul e abre outra no ano que vem na cidade de Bordeaux.

Para a húngara Zuzana Paternostro, radicada no Brasil, que por mais de 30 anos exerceu a curadoria de pinturas estrangeiras no Museu Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro, ‘é muito importante que a arte avance além dos muros dos castelos, para aproximar ainda mais o público das obras, rompendo barreiras e fronteiras’.






Fonte: Celina Côrtes  Ilustríssima, FSP 


(JA, Ago19)