Retrospectiva dedicada pelo CCBB de São Paulo ao fotógrafo surrealista norte-americano.
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'Lágrimas', 1932 |
Com caráter didático, retrospectiva cobre os anos de 1921 a 1940 da produção parisiense do artista americano.
Esta retrospectiva,
apresentada pela primeira vez no Brasil, abrange a imensa e multiforme obra de
Man Ray. Conhecido principalmente por sua fotografia, mas também criador de
objetos, realizador de filmes e faz-tudo genial, Man Ray chega a Paris em 1921,
onde permanece até a Segunda Guerra Mundial e para onde retorna definitivamente
em 1951. Foi nessa cidade que sua arte original se desenvolveu e mais
repercutiu.
A exposição elucida, por
meio de cerca de 250 obras, a lenta maturação de Man Ray, bem como apresenta um
panorama completo de sua criatividade. Das primeiras obras dadaístas ao retrato
e à paisagem, da moda às imagens surrealistas, de seus trabalhos comerciais a
uma seleção de seus objetos e filmes, e à sua vontade de revelar outra
realidade, reúnem-se nesta exposição toda a complexidade e a riqueza do que ele
nos legou.
‘Man Ray em Paris’ reúne
fotografias e objetos nunca exibidos no Brasil. Tendo como curadora a francesa
Emmanuelle de l’Ecotais, a mostra foi montada de forma didática, de modo a
introduzir o público na obra do fotógrafo e pintor.
No dia 21 de agosto, às 19h,
a curadora Emmanuelle De l'ecotais conversa com o público sobre a trajetória de
Man Ray, com entrada franca mediante retirada de senha a partir de 1 hora antes
do início do evento. Sujeito à lotação.
A exposição cobre os anos de
1921 a 1940, período mais intenso do trabalho de Man Ray, pseudônimo de Emanuel
Radnitzky, nascido na Filadélfia em 1890, que, na década de 1910, conheceu
Duchamp e, encantado com os dadaístas, fixou residência em Paris, onde conviveu
com a vanguarda da época, de André Breton, teórico do surrealismo, a Picasso, o
maior nome do cubismo. Imagens dele e outros artistas do século 20 estão na
mostra.
Quase um século após Man Ray
ter registrado imagens de corpos nus, nos anos 1920, suas fotos ainda provocam
desconforto, especialmente nesta época de regressão moralista: o cartaz
concebido pela curadora francesa Emmanuelle de l’Ecotais para a mostra Man Ray
em Paris, que será aberta no dia 21, no CCBB de São Paulo, foi trocado por
orientação da produtora Artepadilla.
Esse cartaz, que reproduziria
uma foto da série Érotique Voilée, dos anos 1930, com a modelo Meret Oppenheim
nua, foi substituído pela imagem Larmes (1932), que agora anuncia a exposição
na parede frontal do CCCB, no centro. Não pesou na decisão da produtora
brasileira, segundo seu diretor Roberto Padilla, a censura à mostra, ao
contrário de Queermuseu, exposição que provocou protestos de grupos
conservadores em 2017.
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Le Violon d'Ingres, 1924 |
Padilla esclareceu a troca da
foto como estratégica, e não como censura. ‘Não houve cerceamento propriamente,
mas cautela, pois a foto poderia dar uma conotação errada à exposição, que não
é só de nus’, justificou o produtor. Como se trata de uma mostra abrangente,
dedicada a apresentar a obra de Man Ray aos brasileiros, a produtora considerou
que uma foto com nu poderia induzir o público a imaginar que se trata de uma
exposição de caráter erótico. Não é, de fato, mas poderia ser. Afinal, como
indica o título da foto renegada, Érotique Voilée, trata-se de erotismo velado,
o que não se aplica às outras imagens da série na mostra do CCCB – a
instituição não participou do debate para decidir o cartaz, não censurou obras
ou sugeriu faixa etária para ingresso, segundo o produtor.
Seja como for, a obra de Man
Ray está repleta de sugestões eróticas, como parte da produção surrealista da
época, impulsionada pelas descobertas da psicanálise freudiana, que dava grande
importância ao inconsciente e ao sexo.
São 255 fotografias de
excepcional qualidade, produzidas por Man Ray em Paris, entre 1921 e 1940,
período marcante de sua produção, além de objetos nunca exibidos no Brasil.
Entre eles está o famoso
ferro de engomar com tachinhas (Cadeau, 1921), um ready-made de sua primeira
exposição individual em Paris cujo título irônico (Presente) subverte o
conceito de uma peça que se recebe com satisfação. Outro objeto da mostra,
Obstruction (1920/1960), deu um trabalho imenso para a curadora Emmanuelle de
l’Ecotais, autora de dois livros sobre Man Ray, e do catálogo raisonné de suas
rayografias (fotos obtidas sem recorrer a um aparelho fotográfico, mas por meio
de sensibilização à luz de objetos colocados sobre o papel fotográfico).
Cuidadosa, Emmanuelle
supervisionou a montagem da dadaísta ‘Obstruction’ peça por peça – são 63
cabides acoplados nessa assemblage que evoca um candelabro, recorrendo ao
procedimento dadaísta de trabalhar com objetos do cotidiano (ready-made). Man
Ray fez o original em 1920 e produziu uma edição de 15 deles para uma mostra de
arte cinética, em 1961. Difícil calcular o preço de objetos como o ferro de
engomar ou dessa peça, mas uma fotografia vintage do surrealista pode chegar a
¤ 2,5 milhões.
Das primeiras obras dadaístas
de Man Ray às imagens surrealistas, passando por fotos de Paris nos ‘anos
loucos’ (1920/30), a retrospectiva foi organizada, segundo a curadora, de modo
didático para dar ao público um panorama geral de suas técnicas – ele foi
pioneiro em muitas delas, como a solarização – e linguagem. ‘Em cada um dos
andares o público vai conhecer seu processo de criação, inclusive seus filmes’.
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Autorretrato, Man Ray |
Fonte: Antonio Gonçalves Filho, OESP
(JA, Ago19)