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domingo, 5 de abril de 2020

A experiência de levar os museus para dentro de casa

Os grandes espaços fecharam as portas, mas 'Mona Lisa', e outros tesouros da humanidade podem ser admirados no isolamento, sob perspectivas surpreendentes


Mona Lisa: folga mesmo só no Louvre

Chegar perto da Mona Lisa, envolta em vidro numa parede só para ela no Louvre, em Paris, exige paciência e traquejo para furar o bloqueio de uma multidão, sempre muito bem paramentada com suas câmeras e smartphones.

Cerca de 10 milhões de pessoas passam por ali todos os anos para reverenciar a obra-prima de Leonardo da Vinci, um ícone renascentista que, para ser apreciado com todas as suas nuances de sfumato (a técnica de borrar o fundo da qual Da Vinci é o mestre), demanda tempo — e a fila não dá trégua. Pois a Mona Lisa anda solitária, trancada dentro do Louvre, que, como todos os mais extraordinários museus do planeta, fechou suas portas pelo necessário esforço para frear a contaminação pelo coronavírus. E, como não poderia deixar de ser, La Gioconda virou meme, de pernas para o ar, e o semblante leve de quem está em pleno dolce far niente.

Isso significa que o quadro ficará no limbo e que a humanidade será privada da arte quando mais precisa dela? De jeito nenhum, garantem os curadores de acervos portentosos como o do Metropolitan, de Nova York. ‘Compartilhamos nossos tesouros para que sirvam de inspiração a gente de todos os cantos que enfrenta esse período tão difícil’, diz Daniel Weiss, presidente do Met.

Muitas iniciativas estão fazendo uso de tecnologia para levar arte às pessoas no confinamento do lar. Não está sendo tudo erguido do zero: nesta era ultra conectada, os grandes museus já promovem há algum tempo passeios virtuais por seus valiosos acervos — mais de 2000 deles, inclusive, podem ser assim ‘visitados’ com a boa ferramenta Google Arts & Culture, que oferece visão de 360 graus e imagens de resolução elevada.

Mas há novidades — e a ideia é compensar em alguma medida a impossibilidade de estar frente a frente com uma pincelada nervosa de Van Gogh, ou com a grandeza cubista de um quadro como Guernica, apresentando novos ângulos de observação a distância e informação de primeira dada pelos próprios curadores.

O Museu Van Gogh, em Amsterdã, preparou roteiros temáticos para quarentenados de todos os tipos — crianças, leigos e especialistas — e criou um aplicativo que permite ir removendo, a cada clique, uma camada de célebres telas do mestre holandês, de modo a revelar segredos por trás delas que a olho nu jamais se alcançariam.

No caso de Guernica, o Reina Sofía, de Madri, disponibiliza uma ferramenta que disseca detalhes da tela, em que Pablo Picasso expôs a carnificina da Guerra Civil Espanhola, em 1937, parte do projeto #ElReinaEnCasa.







Consumir arte no laptop, ou na tela de um celular, evidentemente, é uma redução da experiência estética que só a presença da obra — sua textura, seu ritmo, seus dégradés — pode trazer. A sensação de ir se afastando pouco a pouco de uma tela de Monet até entender a inteireza da imagem impressionista, é única e ninguém pretende substituí-la por um tour virtual. 

A questão que se impõe agora é que, mesmo reclusa, a população mundial tenha acesso à boa arte, e o faça do jeito mais rico possível. Por força das circunstâncias, pode-se acabar extraindo daí algo desejável: na santa paz de suas casas, as pessoas atentam para ângulos que, não raro, escapam ao olhar devido à pressa. ‘Elas estão sendo provocadas a ver a arte de maneiras diversas. Isso provavelmente deixará o senso de observação mais aguçado’, reflete o filósofo Francisco Raz­zo. Quando os museus voltarem à ativa em todo o seu esplendor, o passeio pelas galerias poderá vir a se tornar um programa ‘mais pleno’, acredita.

Filósofos da arte a definem como a expressão da busca humana por dar significado à existência, pensamento enunciado primeiro por Platão. Em sua tortuosa e brilhante caminhada, Van Gogh dizia: ‘Quando sinto uma terrível necessidade de religião, saio à noite para pintar as estrelas’.

A arte também é uma maneira de a civilização deixar viva a memória, retratando o caminhar da história, como enfatizou o filósofo alemão Friedrich Hegel (1770-1831). Uma terceira face dela pode se revelar bastante útil neste mundo, posto do avesso pela pandemia do coronavírus. 

Uma análise de 3000 pesquisas sobre os benefícios da arte para os indivíduos, conduzida pela University College de Londres, concluiu que, naqueles que têm contato constante com alguma forma de expressão artística, os níveis de ansiedade baixam consideravelmente, e até as respostas imunológicas melhoram. Mais uma razão para não dar vida boa à Mona Lisa.



Mona Lisa em época de coronavírus




Fonte: Ernesto Neves   |  Veja




(JA, Abr20)




terça-feira, 15 de outubro de 2019

Exposição de Leonardo da Vinci em São Paulo tem datas definidas






A exposição imersiva ‘Leonardo da Vinci – 500 anos’ em São Paulo será aberta ao público no próximo dia 02 de novembro. Bastante esperada a mostra teve sua realização anunciada para outubro, mas foi adiada por conta de obras no novo espaço do Museu da Imagem e do Som de São Paulo (MIS), o MIS Experience.


A exposição segue até 1º de março de 2020, de terça-feira a domingo, das 10h às 20h. A entrada é gratuita às terças-feiras. Aos sábados, domingos e feriados custará R$ 40 e de quarta a sexta custará R$ 30. Meia entrada para estudantes e acima de 60 anos.

O MIS Experience fica na Rua Vladimir Herzog, 75, no bairro da Água Branca.




O evento celebra o legado do cientista, matemático, engenheiro, inventor, anatomista, pintor, escultor, arquiteto, botânico, poeta e músico e é inspirado no Atelier des Lumière, em Paris.

Em São Paulo os visitantes terão ainda uma experiência multissensorial com animações gráficas em alta definição, combinadas a conteúdo multimídia e narrativa em áudio, o que permitirá uma vivência divertida, educativa e esclarecedora, voltada para pessoas de todas as idades e interesses. O público terá a oportunidade de tomar contato com a história das realizações do homem que lançou as bases para algumas das invenções mais notáveis da sociedade moderna, como o helicóptero, o automóvel, o submarino, o paraquedas e a bicicleta.

Criada em parceria com o Museo Leonardo da Vinci, em Roma, e contando com a colaboração de diversos especialistas e historiadores da Itália e da França, a exposição foi concebida pela Grand Exhibitions, empresa sediada em Melbourne, na Austrália, com escritórios no Reino Unido e nos EUA.

‘Leonardo da Vinci – 500 Anos de um Gênio’ também traz a área ‘Segredos de Mona Lisa’, uma análise profunda da pintura mais famosa do mundo, realizada no Museu do Louvre por Pascal Cotte, renomado engenheiro, pesquisador e fotógrafo de obras de arte.

MIS Experience terá uma área expositiva de 1,7 mil metros quadrados e outros 800 metros quadrados de área de projeção. O espaço resulta de uma parceria com a Rádio e TV Cultura, e amplia o trabalho realizado pelo Museu da Imagem e do Som de São Paulo, que agora conta com dois espaços para exposições. O MIS é uma instituição cultural do Governo do Estado de São Paulo, vinculada à Secretaria de Cultura e Economia Criativa e gerida pela organização social Paço das Artes.




Fonte: Mochileiros.com



(JA, Out19)




quarta-feira, 24 de julho de 2019

Segredos da Mona Lisa revelados







O engenheiro francês Pascal Cotte, fundador da Lumiere Technology, examinou a famosa pintura renascentista de Leonardo Da Vinci, Mona Lisa, com uma máquina de sua invenção, revelando segredos e mistérios amplamente debatidos sobre a obra.

Mona Lisa, também conhecida como A Gioconda, La Joconde em francês, ou ainda Mona Lisa del Giocondo, é provavelmente a obra de arte mais comentada do mundo. 

Atualmente exibida no Museu Louvre, em Paris (França), depois de séculos de existência, a pintura não poderia, naturalmente, estar intocável ou exatamente igual era quando foi criada pelas mãos do gênio multe especialista da Vinci.

Entra em cena Cotte, que criou uma câmara multiespectral de 240 megapixels que utiliza 13 comprimentos de onda de luz, do ultravioleta ao infravermelho, para gerar imagens que ‘descascam’ séculos de alterações e desgastes em pinturas, revelando seu aspecto original.

Usando a câmara em Mona Lisa, o engenheiro foi capaz de lançar luz sobre a forma como o artista trouxe a figura pintada à vida, e como ela parecia à Vinci e seus contemporâneos. Com isso, 25 segredos de ‘Lisa Gherardini, mulher de Francesco del Giocondo’ (o nome oficial da pintura) foram expostos.

As novidades

No original, a pintura parece um pouco diferente do que é agora, explica Cotte. ‘O rosto de Mona Lisa parece um pouco mais largo, o sorriso é diferente e os olhos são diferentes’, diz. ‘O sorriso é mais acentuado, eu diria’.

Um zoom de aproximação ao olho esquerdo de Mona Lisa revela uma pincelada única na região da sobrancelha. O fato do quadro, hoje, não apresentar nenhuma sobrancelha era ilógico, segundo Cotte. A verdade finalmente veio à tona: Mona Lisa tinha, sim, um traço acima dos olhos.

Outro dilema é a posição do braço direito da Mona, que se encontra transpassado pela sua barriga. Esta foi a primeira vez que um pintor posicionou um braço e punho dessa forma. Enquanto os outros artistas nunca entenderam tal raciocínio de da Vinci, ele foi copiado mesmo assim.

O que Cotte descobriu foi um pigmento atrás do pulso direito, que corresponde perfeitamente com o pigmento de uma ‘capa’ pintada sobre o joelho de Mona Lisa. Por causa disso, a posição fazia sentido: o antebraço e punho seguravam um lado de um ‘cobertor’. ‘O pulso da mão direita está erguido sobre a barriga, e isso não parece lógico. Mas se você olhar a imagem profundamente no infravermelho, você entende que é porque ela tem um pano na mão’, conta Cotte.

As imagens de infravermelho também revelaram desenhos preparatórios de da Vinci, que estão por trás de camadas de verniz e pintura, mostrando que o homem do Renascimento também era humano. ‘Se você olhar para a mão esquerda, você vê a primeira posição do dedo que ele desenhou, e depois mudou de ideia’, afirma Cotte. ‘Mesmo Leonardo da Vinci tinha hesitação’.

Cotte também descobriu um laço no vestido de Mona Lisa, e que o cobertor sobre os joelhos de Mona Lisa também cobre sua barriga.

Quanto a alterações, foi descoberta uma alteração na posição do indicador esquerdo e uma no dedo médio. O cotovelo também foi reparado, devido a danos causados por uma pedra atirada na pintura em 1956. Por fim, Cotte notou que um dedo da esquerda não foi completamente terminado.

Cotte também argumenta que, na região da cabeça de Mona, onde há um véu, da Vinci pintou primeiro a paisagem, e só depois usou técnicas de transparência para pintar o véu em cima.

Outra descoberta é que a marca de mancha no canto do olho e do queixo de Mona Lisa são acidentes de verniz, o que contraria afirmações/suposições de que Mona Lisa estava doente no momento da pintura. Mais uma especulação que foi descartada é de que Mona Lisa foi pintada em uma placa de choupo sem cortes.

Cotte explica que olhar para a imagem ampliada em infravermelho de Mona Lisa deixa transparecer sua beleza e mistério. ‘Se você está na frente deste alargamento enorme de Mona Lisa, você entende instantaneamente porque é tão famosa’, conta. ‘É algo que você tem que ver com seus próprios olhos’.



Mona Lisa hoje






Fonte:  Natasha Romanzoti     |   HC Hypescience




(JA, Jul19)

terça-feira, 30 de abril de 2019

Os 500 anos de Leonardo da Vinci






Dentre os muitos enigmas que envolvem a vida de Leonardo da Vinci e sua obra, certamente, podemos elencar o seu mais famoso quadro, retrato de Lisa del Giocondo, mais conhecido como Mona Lisa ou Gioconda, que atualmente encontra-se no Louvre, Paris.

De sorriso enigmático e origem imprecisa, o quadro vem intrigando milhares de pessoas ao redor do mundo desde o Século 16. Mas, o mais intrigante de tudo, é que existe uma outra Mona Lisa no Museu do Prado, Espanha.


Mona Lisa do Louvre




Dentre os muitos enigmas que envolvem a vida de Leonardo da Vinci e sua obra, certamente, podemos elencar o seu mais famoso quadro, retrato de Lisa del Giocondo, mais conhecido como Mona Lisa ou Gioconda.

De sorriso enigmático e origem imprecisa, o quadro vem intrigando milhares de pessoas ao redor do mundo desde o Século 16.

Iniciado em 1503 e, oficialmente, finalizado em 1506, mas com retoques feitos em 1510, a obra em questão ficou em poder do rei François I, que alegou tê-la comprado do pintor antes de sua morte, em 1519. Isso já gerou a primeira grande polêmica, pois italianos consideram-na como parte de seu patrimônio histórico e cultural e lutam para ‘repatriá-la’. Entretanto, os historiadores franceses alegam que a Itália sequer era uma nação unificada ao tempo de Leonardo, e que ele, portanto, teria nascido numa República atualmente extinta, e que, nesse caso, seu legado pertence à humanidade, podendo o quadro permanecer exposto no Louvre, em Paris.

A pintura foi executada em várias camadas finas, o que deve ter levado anos, e apresenta o maior toque de perfeição técnica dentre todas as obras do pintor, que utilizou inúmeros vernizes transparentes numa combinação com um de tom mais amarelado para compor a justaposição de luz/sombra idealizada pelo gênio, e, justamente por isso, suspeita-se que ela tenha sido usada como elemento de aula ainda enquanto era executada, o que seria totalmente inédito para o conceito de ensino da arte na época.

Tal afirmação se faz pertinente, pois no Museu do Prado, na Espanha, podemos apreciar a Mona Lisa do Prado, obra quase idêntica, porém, com cores mais vibrantes, e suaves alterações na lateral direita da paisagem de fundo e nas colunas que compõem o plano de enquadramento da distinta dama.


Mona Lisa do Prado




Mona Lisa do Prado foi executada entre 1503 e 1516, muito provavelmente, sobre um desenho base feito pelo grande mestre, o que era muito comum nos ateliês renascentistas, especialmente, nos fiorentinos. Mas, também é possível que ela tenha sido executada em parceria com um ou mais alunos, fato também comum à época.

Parece que o ‘copista’ elaborou a obra da esquerda para a direita e, respeitando essa lógica de deslocamento, foi se afastando da ideia originalmente proposta, e acrescentando elementos de sua própria criação.

A ausência das camadas de verniz também distanciam as matizes do colorido original das duas obras, impossibilitando a perfeita comparação - ainda que saibamos que, nas cores originais da Gioconda que está no Louvre, as variação de suas vestes são em tons de mostarda, acentuados num amarelecimento causado pelo verniz final e pela ação do tempo.

A comparação entre as obras apresenta vários elementos interessantes, mas talvez o mais importante é que o retrato de Lisa que está no Prado pode ser o resultado de uma aula magistral, e direto acompanhamento do desenvolvimento do aluno, ou ainda, uma variação feita pelo próprio mestre para ensinar suas técnicas...

Como quase tudo vindo deste adorável gênio, fica o enigma e nosso olhar embevecido para o seu legado revolucionário, que construiu muitas obras magistrais tanto no campo técnico, como no simbólico.






Fonte: ‘Os Medices - Senhores do Renascimento’  |  Maria Cristina Pedroso Macedo, Agenda Arte e Cultura



(JA, Abr19)



sexta-feira, 21 de dezembro de 2018

Leonardo Da Vinci - Uma Mente Errante

Por que a falta de foco do Mestre Renascentista foi a fonte de seu gênio
  


Como Adam Smith nos disse em A riqueza das nações, o sistema econômico capitalista baseia-se na divisão e especialização do trabalho. Nós vemos essa força oculta guiando nossas vidas a partir do momento em que nos matriculamos na escola. A cada ano, de nossos Certificados da Escola Secundária, às nossas Qualificações Acadêmicas, às nossas graduações, nosso escopo se estreita e os assuntos que adotamos diminuem. No momento em que chegamos à nossa formatura, muitas vezes encontramos rapidamente algumas carreiras selecionadas. Quando embarcamos nelas, seguimos nossos pontos fortes e circunstâncias, e nos especializamos ainda mais.
Como tal, no mundo profissional de hoje o 'foco' é visto como uma virtude cardinal. Uma receita para uma carreira de sucesso, ou um negócio próspero. A economia valoriza especialistas. Todos nós ouvimos a frase de advertência 'Jack of all trades and Master of None'. Há uma lógica para isso, o surgimento da Internet significou que os produtos e serviços dos concorrentes estão a apenas um clique de distância para os consumidores. Vale a pena restringir nosso foco e estar no top 1% de um campo específico. O melhor dos melhores sempre estará em demanda. Essa é a narrativa comum.
A realidade é que a próxima revolução industrial, propagada pela IA e pela robótica, foco e eficiência talvez não seja melhor servida nas mãos dos seres humanos.
Então, onde isso nos deixa? A propósito, relato abaixo o caso de um desfocado.
Leonardo Da Vinci foi o arquetípico gênio da Renascença. Como artista ele também era notoriamente ineficiente. A maior parte de seu trabalho foi deixada incompleta, já que ele muitas vezes ele se desviou para seus outros interesses. Quase sempre, ele se viu cavando buracos de coelho, completamente alheios ao seu trabalho, mas puxado por sua curiosidade insaciável. Ao trabalhar numa encomenda para um rico patrono, ele era notório por perder prazos, para a frustração de seu empregador. Nos poucos casos em que ele terminou suas peças encomendadas, muitas vezes ele não as submetia para seus clientes pagantes. Pegue a Mona Lisa para um exemplo, a qual ele segurou depois de estar pronta para apresentação e venda. Na verdade, ele a guardou para o resto da vida, aplicando periodicamente pinceladas, como bem entendesse.
Embora essa descrição pareça descrever os defeitos e fracassos de Leonardo, há um forte argumento de que os mesmos traços de caráter são o que fizeram dele o gênio que pintou algumas das peças de arte mais célebres do mundo.
Pegue o ‘Salvador Mundi’, o ‘Salvador do Mundo’. No início dos anos 2000, a representação de Jesus há muito perdida de Leonardo foi redescoberta. Foi a primeira peça do trabalho dos mestres da Renascença a ser colocada à venda em 100 anos. Na Christie's, em 2017, vendeu atingindo um valor recorde mundial - US $ 450 milhões. A obra de arte mais cara comprada em leilão. Um testemunho do apelo, e legado duradouro de Leonardo.
A imagem resume como a mente errante de Leonardo ajudou a compor seu trabalho e deu vida a ele.

Mundi de Leonardo – ‘O Salvador do Mundo’

Observe como  o cabelo de Jesus cai e se enrola na pintura. A complexidade e os detalhes aqui são muitas vezes uma bela assinatura dos retratos de Leonardo.
Sua representação do cabelo dos salvadores inspirou-se em suas observações da natureza. Em particular, suas investigações profundas de água. Entender o movimento da água tornou-se um fascínio para ele, até chegou a escrever um tratado de 72 páginas sobre o assunto. Ele passou a ser conhecido como o Codex Leicester e foi comprado por Bill Gates por cerca de US $ 30 milhões em 1990. Sua escrita toca no movimento e erosão dos rios para recomendações arquitetônicas para projeto de pontes, até hipóteses sobre a presença de água na superfície da lua. Ele gasta muito tempo e espaço estudando e esboçando os efeitos e o movimento da água em espaços contraídos, e os redemoinhos e redemoinhos que podem se formar quando a água é desviada de seu caminho costumeiro. Estes orientaram diretamente sua ilustração dos cachos de cabelo castanho de Jesus. Em suas próprias palavras, citadas no excelente livro de Walter Isaacson, ‘Leonardo Da Vinci’ – uma biografia:
O movimento ondulante da superfície da água assemelha-se ao comportamento do cabelo, que tem dois movimentos, um dos quais depende do peso dos fios, o outro na direção do seu giro; assim, a água faz redemoinhos, uma parte da qual resultante do ímpeto da corrente principal e a outra do movimento incidental e do fluxo de retorno.

Representações de Leonardo de água corrente no Codex Leicester

A grande alegria de Leonardo vinha de encontrar as ligações entre tópicos díspares que lhe interessavam. Ele usou suas observações em uma área, para informar suas criações em outra. Isso só foi possível porque ele se permitiu a liberdade de pular para outras áreas de interesse, o que às vezes podia parecer distrações.
Ao mesmo tempo em que Leonardo conduzia suas investigações sobre a água e a hidráulica, ele estava mergulhando em um estudo implacável da anatomia humana. No início dos anos 1500, em Florença, ele passou cerca de cinco anos dissecando cadáveres no hospital Santa Maria Nuova. Os 250 desenhos que ele fez deste período, assim como as 13000 palavras de notas para acompanhá-los, são alguns dos mais surpreendentes e detalhados.
Suas investigações se estenderam desde estudos detalhados do coração e suas válvulas, a medula espinhal até o sistema muscular. Como artista, era natural que ele fosse particularmente fascinado pela anatomia dos músculos faciais e sua capacidade de transmitir emoção. Ele forneceu, talvez, o exame mais detalhado dos lábios e músculos associados ao movimento do tempo. Seus desenhos sobre esse assunto são as primeiras representações conhecidas da anatomia do sorriso humano. Ele escreve:
‘Os músculos que movem os lábios são mais numerosos do que em qualquer outro animal’. A pessoa sempre encontrará tantos músculos quanto há posições dos lábios e muitos mais que servem para desfazer essas posições’.
Dê uma outra olhada no Salvador Mundi. Olhe para os lábios de Jesus. Ele está sorrindo ou franzindo a testa? Ele está com raiva, triste ou pensativo? É difícil dizer. Este enigmático retrato não é, naturalmente, exclusivo deste retrato de Leonardo. Talvez sua pintura mais famosa, a Mona Lisa, encantou os espectadores por séculos com seu sorriso misterioso.
A capacidade de Leonardo de criar ‘retratos psicológicos’, com um sentido real de complexidade, era única para o seu tempo e desde então. Parece-me que ele foi capaz de criar rostos tão inescrutáveis ​​por causa de suas investigações sobre a anatomia facial humana e especialmente a do sorriso. Mais uma vez, sua mente errante, descendo pela toca do coelho, puxada por suas curiosidades variadas, provou informar sua arte.

Estudos anatômicos de Leonardo nos lábios e músculos associados

Assim como o enigma trazido pela representação da face de Jesus, há também um aspecto profundamente psicológico no retrato de Leonardo como um todo. Eu acho que muito disso vem da maneira em que ele usa luz e sombras em sua representação.
Na época, havia um consenso geral na comunidade artística de que retratos de pessoas e da natureza, na pintura, deveriam ser feitos com linhas bem delineadas. Leonardo contestou isso. Ele acreditava que, a fim de descrever o assunto com mais precisão em três dimensões, ‘linhas borradas’, e um uso pesado de sombras era necessário. Esta técnica de marca registrada veio a ser conhecida como 'sfumato' . Em suas próprias palavras:
“O objetivo principal de um pintor é fazer uma superfície plana exibir um corpo como se modelado e separado deste plano. Essa coroação da pintura surge da luz e da sombra... Sombras me parecem ser de suma importância em perspectiva, porque sem elas corpos opacos e sólidos serão mal definidos" - v. Isaacson

Os estudos de Leonardo sobre a percepção humana da luz

Como era o caminho de Leonardo, sua curiosidade o levou a um estudo quase obsessivo de luz, perspectivas e ótica. Em retrospecto, talvez a sua contribuição mais importante para o estudo seja a da ‘perspectiva da acuidade’ , como os objetos parecem menos distintos quanto mais distantes estão. Em suas próprias palavras:
'Você deve diminuir a nitidez desses objetos em proporção a sua crescente distância do olho do espectador'... 'As partes que estão próximas em primeiro plano devem ser terminadas de uma maneira arrojada e determinada; mas aqueles à distância devem estar inacabados e confusos em seus contornos’.
Podemos ver algumas manifestações desses estudos no Salvador Mundi. A mão direita de Cristo, projetando-se em direção ao espectador, é vista de maneira clara e precisa. As características de Jesus mais distantes, seu rosto e cabeça são menos distintos. Para demonstrar isso, eles estão envoltos no ‘sfumato’ da marca registrada de Leonardo - linhas borradas. O efeito geral é dar a Cristo uma sensação tridimensional, o que faz com que o retrato pareça mais vivo e, ao mesmo tempo, mais assombroso.
O Salvador Mundi nos dá algumas dicas sobre a mente errante de Leonardo Da Vinci. Uma vez que um tópico tocasse na curiosidade de Leonardo, ele o perseguiria implacavelmente. Suas investigações muitas vezes foram em tal detalhe que teria sido uma luta para ver como isso estava diretamente relacionado ao seu trabalho. No entanto, suas expedições para entender os mistérios do mundo deram-lhe uma visão abrangente, e compreensão que viabilizou a arte que ele criou.
Enquanto Leonardo estava pintando a ‘Última Ceia’ na Santa Maria Delle Grazie, em Milão, há uma citação que ele deu ao seu patrono, que estava ficando frustrado pelo fato de Leonardo não progredir na peça que ele havia encomendado. Ele resume como Leonardo pensava sobre sua própria ‘ineficiência’ e a tendência de estar frequentemente distraído:
 ‘Os homens geniais mais elogiados,  às vezes realizam o máximo quando menos trabalham... pois suas mentes estão ocupadas com suas ideias, e com a perfeição de suas concepções, às quais depois dão forma’.
Se há alguma crítica que a posteridade colocou em Leonardo, é que ele não produziu o trabalho acabado suficiente. Sua produtividade certamente teria sido aumentada se ele sentasse em seu estúdio todos os dias, das 9 às 5, mas também é provável que o trabalho que ele produziu não fosse tão inexplicavelmente tocante e profundo. Sua própria vida certamente teria sido menos interessante.

Homem Vitruviano


Fonte: Dhinil Patel   |   Medium

(JA, Dez18)

quinta-feira, 23 de novembro de 2017

Retratos da História do Mundo

O caminho que uma peça de arte faz até virar estrela de museu às vezes é tortuoso. Algumas testemunharam revoluções. Outras, perseguição política. Tem uma que quase foi para o lixo. Veja o que a história particular de 6 delas revela sobre a humanidade.

A COLEÇÃO DE MALEVICH


PERÍODO - Século 20
ÉPOCA - Stalinismo / 2a Guerra
1.      BERLIM
Em 1927, o russo Kazimir Malevich vai a Berlim expor cerca de 70 obras. O regime de Stálin o chama de volta à União Soviética - era suspeito de oposição, como muitos artistas, professores e cientistas. Na pressa, os quadros ficam em Berlim.

2.      BANIDOS
A arte de Malevich é considerada subversiva em seu país, e o pintor não consegue retirar os quadros da Alemanha. Eles ficam abrigados com um amigo seu, que morre em 1958. A família desse amigo vende todas as obras de Malevich.

3.      EUA
Peggy Guggenheim, americana herdeira de uma fortuna, leva 6 obras. Ela havia começado sua coleção de arte durante a 2ª. Guerra. Com a Europa enfraquecida, artistas vendiam seu trabalho por uma ninharia. As obras compradas por Peggy ajudariam, nos anos seguintes, a tornar os EUA um polo das artes.
4.      DESAPARECIDOS
A maior parte da coleção se espalha pelo mundo. Mais tarde, 17 obras são encontradas e compradas pelo museu holandês Stedelijk. O restante segue ainda hoje com paradeiro desconhecido.


MONA LISA


PERÍODO - Século 16-hoje
ÉPOCA - Renascimento / Revolução Francesa
1.      FLORENÇA
Em 1507, após quatro anos de trabalho em seu estúdio em Florença, o pintor Leonardo da Vinci termina Mona Lisa, hoje considerada a pintura mais famosa do mundo. O quadro não tinha comprador, foi feito por Da Vinci por vontade própria. Por isso a obra ficou durante anos com o pintor.

2.       PARIS
Mona Lisa e Da Vinci seguem juntos até o pintor trocar Florença por Paris, em 1516. A mudança acontece a convite de Francisco 1º, rei francês que chamava artistas da Itália para morar na França e, assim, difundir o Renascimento no país. Quando vê Mona Lisa, Francisco 1º não tem dúvidas e a compra na hora.

3.       DA REALEZA
A obra fica em uma das moradas do rei, o Château Fontainebleau, até 1726 - quando Luís 15 assume o trono e a leva para o Palácio de Versalhes, onde a realeza fica longe das revoltas populares de Paris.

4.      DO POVO
Com a Revolução Francesa, a Mona Lisa é transferida para o Museu do Louvre, onde todo o povo pode apreciá-la. Pelos ideais revolucionários, obras de arte não deveriam ficar restritas aos nobres.

5.      DE NAPOLEÃO
O imperador acaba com a festa. Em 1800, depois de tomar o poder, ele tira a obra do Louvre e a leva para o Palácio de Tuileries, onde morava. Mais precisamente para uma parede de seu quarto, logo acima da cama.

6.      DO POVO DE NOVO
Fim do império napoleônico: Mona Lisa está de volta ao Museu do Louvre para que toda a população possa vê-la. A essa altura, a tela de Da Vinci já está famosa e é considerada uma obra-prima.

7.      ESCONDERIJO
Em 1870, Napoleão 3º inicia um conflito com a Prússia. Por medo de uma invasão em Paris, Mona Lisa e outras obras são guardadas em um complexo militar na cidade francesa de Brest.

8.      QUASE ITÁLIA
Enfim, paz. De volta ao Louvre. Até que a obra é roubada em 1911. Por dois anos Mona Lisa fica nas mãos de um ex-funcionário do museu. Italiano, ele tentava devolver à Itália as obras do Renascimento. Não deu. Hoje Mona Lisa segue sendo vista pelo povo: oito milhões de turistas por ano.

 O SONHO DA RAZÃO PRODUZ MONSTROS 


PERÍODO - Século 18-hoje
ÉPOCA - Auge do socialismo / Guerra Fria

1.      ESPANHA
Em 1799, o pintor espanhol Francisco de Goya faz 80 gravuras que satirizam os costumes da nobreza e do clero. Uma delas, chamada O Sonho da Razão Produz Monstros, se perde do conjunto e é dada como desaparecida.

2.      GAVETA
Quase dois séculos depois, Enrique Tierno, fundador do Partido Socialista Popular da Espanha, encontra a gravura em sua coleção. Ele acha que a obra tem um estilo parecido com o de Goya, mas não percebe que é um original.

3.      BELGRADO
Tierno dá a gravura ao colega de socialismo Josip Tito. Presidente da Iugoslávia, Tito trabalhava para distanciar o país da Guerra Fria, evitando alinhar-se à URSS. Manteve a gravura em sua casa oficial, em Belgrado, até morrer, em 1980.

4.      COZINHA
Fim da Guerra Fria: a Iugoslávia se separa em várias repúblicas. Slobodan Milosevic, presidente da Sérvia e, depois, da Iugoslávia, ocupa a casa de Tito. Ele detesta a gravura e pede que a joguem no lixo. Um funcionário a deixa na parede da cozinha.

5.      RECONHECIMENTO
Após revoltas populares, Milosevic renuncia em 2000. A imprensa vê a gravura e especula se pode ser de Goya. A confirmação vem em 2002, e a obra é devolvida à Espanha.


GUERNICA



PERÍODO - Século 20
ÉPOCA - Franquismo / 2ª. Guerra / Nacionalismo basco
1.      ESPANHA
A cidade espanhola de Guernica é bombardeada pelos nazistas em 1937. Abalado pela notícia, Pablo Picasso - crítico do nazismo e defensor da democracia na Espanha - pinta Guernica, retratando o sofrimento das vítimas.

2.      EUA
2ª Guerra: Picasso teme que o ditador espanhol Franco - que apoia Hitler - destrua a tela. Ele cede a obra ao museu MoMA, de Nova York. Pede que ela seja devolvida quando houver democracia na Espanha.

3.       ESPERA
A democracia espanhola não vem e Guernica viaja por museus. Passa por São Paulo em 1953. O Brasil entrava no circuito artístico, com a recente criação da Bienal de arte.

4.      RETORNO
Com a morte de Franco, a Espanha tem eleições em 1977. Guernica volta ao país. Está em Madri, apesar de protestos para que vá para o País Basco, onde fica a cidade de Guernica.


MANTO TUPINAMBÁ
  

  
PERÍODO - Séculos 16 e 17
ÉPOCA - Grandes navegações

1.      BRASIL
O manto indígena foi produzido por índios brasileiros tupinambás por volta de 1500. Era usado pelo pajé, em eventos religiosos da tribo. Só há mais três mantos desse tipo no mundo.

2.      HOLANDA
Em 1637, holandeses ocupam o Nordeste brasileiro interessados em açúcar. O conde Maurício de Nassau é o responsável pela administração. Ele ganha o manto de um pajé e o leva para a Holanda.

3.      DINAMARCA
De volta à Europa em 1645, Nassau dá o manto à família real dinamarquesa. É um mimo a um reinado amigo: Holanda e Dinamarca trocavam figurinhas sobre negócios.

4.      TURNÊ
A família real da Dinamarca exibe o manto em viagens pela Europa. No século 17, era grande o interesse dos europeus por peças do Novo Mundo
.
5.       (NÃO) É COISA NOSSA
O manto só retorna ao Brasil em 2000, para uma exposição. Não há registro de pedido do governo brasileiro para que obras indígenas como essa voltem ao país, segundo o Ministério da Cultura.

RETRATO DE ADELE BLOCH-BAUER


PERÍODO - Século 20
ÉPOCA - Nazismo
1.      ÁUSTRIA
Em 1905, Gustav Klimt termina o retrato de Adele Bloch-Bauer. Adele era esposa de um empresário do setor açucareiro e vivia em Viena, então polo de riqueza e produção cultural.

2.      HERANÇA
Adele morre e o quadro fica com seu marido. Judeu, ele se vê obrigado a deixar a Áustria quando os nazistas ocupam o país. A obra fica com sobrinhos que moram no país.

3.      FUGA
A perseguição aos judeus continua. Maria Altmann, sobrinha do casal Bloch-Bauer, também resolve deixar a Áustria. Vai morar nos EUA.

4.      ROUBO
O retrato de Adele é confiscado pelo regime nazista, como outras 650 mil obras que pertenciam a judeus na época da 2ª Guerra Mundial.

5.      RESGATE
Em 1999, Maria consegue na Justiça a posse do retrato de sua tia. Nos últimos 50 anos, cerca de 25 mil obras roubadas pelos nazistas voltaram a seus donos judeus.

6.      VENDA
Sob protesto de judeus de todo o mundo, Maria vende a obra junto com outros trabalhos de Klimt.  Leva US$ 135 milhões pelo conjunto em um leilão.

(JA, Jul17)