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domingo, 27 de fevereiro de 2022

Volpi no Masp - o pintor foi de operário a astro modernista


O artista proletário se tornou um mestre do movimento artístico, sem querer ser de vanguarda — e deixou um legado que vai muito além das bandeirinhas

 

Mistério no Mar - A cativante cena litorânea: figura enigmática que é meio sereia, meio Iemanjá 


Um século atrás, a elite paulistana assistia aturdida às ousadias da Semana de 22 — mas o jovem Alfredo Volpi (1896-1988) não estava nem aí para esse trem que seria conhecido como modernismo. Ele tinha, de fato, mais que fazer: italiano pobre, que viera ainda criança de Lucca, na Toscana, trabalhava na construção civil para garantir o sustento.

Àquela altura, Tarsila do Amaral estudava na Europa com luminares como Fernand Léger; Oswald e Mário de Andrade, bem como Cândido Portinari, frequentavam os salões endinheirados da Pauliceia.

Volpi, em contraste, estudara só até o ginásio. Mais um rosto em meio à massa de imigrantes da metrópole, foi encanador, marceneiro e, finalmente, pintor de paredes. É uma ironia pensar que um dos artistas plásticos mais reconhecíveis e valorizados hoje no país, com suas incontornáveis bandeirinhas, atuasse então como mero preparador das superfícies, nas quais outros pintores decorativos fariam seus trabalhos. Como ele foi de operário dos pincéis, a nome central da arte moderna brasileira, é uma pergunta respondida com louvor pela mostra Volpi Popular — que acaba de estrear no Masp, em São Paulo.


Marca Registrada - As inconfundíveis fachadas e adereços juninos: simplicidade

Volpi nunca se identificou com as vanguardas modernistas, e era avesso a divagações teóricas: homem prático, burilou sua pintura a partir da labuta diária como artesão. ‘Ele era um mestre autodidata e intuitivo. Em vez de se associar a movimentos, preferia trabalhar tranquilo em seu ateliê no bairro do Cambuci, fumando um cigarrinho de palha’, diz o curador-­chefe do Masp, Tomás Toledo.

Por trás da humildade inquebrantável, porém, havia um artista bem-informado sobre as questões da arte de seu tempo. Ainda que seu reconhecimento tenha sido tardio: até os anos 1950, alguns estudiosos esnobavam o caráter supostamente naïf (ou ingênuo) de sua obra. Um dos responsáveis por quebrar esse preconceito, o crítico Mário Pedrosa, notou que Volpi ‘passou, naturalmente, por todas as fases da pintura moderna, do impressionismo ao expressionismo, do fauvismo ao cubismo, até o abstracionismo’. 


Volpi: poucas palavras e muitos cigarrinhos de palha no ateliê


Absorção E Intimismo Em Volpi

A verdade é que Volpi foi muito além da soma desses ‘ismos’: assim como Tarsila e Portinari, ele alcançou a condição rara de artista não apenas inovador, mas popular.

A mostra do Masp, com cerca de 100 itens, investiga a ligação entre a vida do pintor, e um universo temático, que vai da arquitetura do casario simples, às festas e costumes sociais. Inspirações que não extraía das ruas agitadas de São Paulo, mas da mansidão do interior — são constantes em seus quadros cenas de Mogi das Cruzes, cidade paulista onde tinha uma chácara, e Itanhaém, no Litoral Sul do estado.

Volpi viveu alguns anos à beira-mar por recomendação médica: sua esposa, Judite, padecia de uma doença sobre a qual não se sabem detalhes.


Os anjos pintores

Sua união com Judite, aliás, aprofundou a conexão de Volpi com as raízes brasileiras. Entre filhos de sangue, e adotivos, o italiano criou dezenove crianças junto com a esposa negra.

Ele imortalizou Judite em uma tela na qual ela surge nua, de braços abertos. A admiração pelos afrodescendentes o levou a povoar muitas de suas obras com personagens de pele escura — o que configurava uma avançada piscadela para a diversidade no Brasil da primeira metade do século 20. Às vezes, Volpi não tinha pudor em afrontar o tradicionalismo católico: pintou um lindo anjinho, e até uma Madona com Menino Jesus, negros. 


Cores e Formas - Mais uma entre as muitas obras sem título do pintor: a beleza na diluição radical dos objetos


Volpi – Coleção Espaços da Arte Brasileira

Uma das virtudes da retrospectiva do Masp é expor esse Volpi, que vai além das bandeirinhas. Logo na entrada, o espectador é apresentado à sua vasta produção de imagens religiosas. Durante um período da vida, ele produziu gravuras de santos para sobreviver. Não considerava a atividade parte de sua obra.

Mas a linha que dividia o Volpi artesão, do Volpi artista, era tênue: ao mesmo tempo, fez estupendas pinturas do gênero. Ele se devotou também a outras formas de misticismo pop: uma tela em tons de verde e azul exibe uma graciosa figura feminina que é meio sereia, meio — possivelmente — Iemanjá. 


Ousadia - O quadro que mostra a Madona e o Menino Jesus negros: uma avançada piscadela para a diversidade


A dúvida sobre os tipos que povoam sua obra decorre de um dado peculiar: Volpi era um homem de poucas palavras, e não deu nome à muitos quadros, alimentando o mistério sobre seu universo.

Não se sabe ao certo, inclusive, como ele descobriu sua marca maior, as bandeirinhas. Reza uma teoria que, certo dia, teria se encantado ao ver Mogi das Cruzes toda decorada para as festas juninas. Outra vertente sustenta que elas teriam surgido de sua diluição obsessiva das formas arquitetônicas. Impossível elucidar se uma das versões procede — mas é fato que Volpi foi radicalizando o expediente com o tempo. ‘Mais que as paisagens, pessoas e objetos, ele se interessava pela simplificação das formas, e pela exploração das cores e texturas’, diz o curador Toledo.

Eis o feito de Volpi: em uma única e singela bandeirinha, ele sintetiza um imenso legado modernista.




Fonte: Marcelo Marthe | Veja Ed. 2778

 

(JA, Fev22)

 


sexta-feira, 13 de novembro de 2020

Tarsila reforça escalada no mercado de arte com esboços beirando o R$ 1 milhão

 Enquanto seus desenhos custam a partir de R$ 40 mil, tela de sua fase áurea foi posta à venda por R$ 38 milhões em feira

 

Autorretrato de Tarsila do Amaral de 1923, também conhecido como 'Manteau Rouge'
 

Havaianas, imãs de geladeira, cadernos e até filme para crianças. Tarsila do Amaral está em todas. Pop e a preços cada vez mais estratosféricos, desde que o MoMA de Nova York comprou sua tela ‘A Lua’ por uma cifra próxima dos US$ 20 milhões, no ano passado.

‘Idílio’, pintura com as cores fortes e os traços curvos característicos da modernista brasileira, foi posta à venda por US$ 7 milhões, ou cerca de R$ 38 milhões, na edição nova-iorquina da tradicional feira de arte Tefaf, realizada na semana passada.

 

‘A Negra’, 1923
 

Neste sábado (14), em um museu de Itu, no interior de São Paulo, será inaugurada uma exposição com 200 de seus desenhos, cada um podendo valer de R$ 40 mil a R$ 1 milhão, caso de um estudo de ‘A Negra’, obra de 1923, a primeira no processo de seu reconhecimento internacional.

A coleção reúne desenhos com estudos e anotações para suas futuras obras, feitos entre os anos 1910 e 1940. Inclui, portanto, seu período áureo, de 1923 a 1933, quando, além de ‘A Negra’, pintou ‘Abaporu’, ‘A Lua’, ambas de 1928, e ‘Operários’, de 1933. Foi recém-adquirida pelo artista plástico, empresário e colecionador Marcos Amaro, 36, que investiu mais de R$ 200 milhões, incluindo essa coleção, no museu Fama (Fábrica de Artes Marcos Amaro), em que acontecerá a exposição.

Os desenhos haviam sido vendidos por um marchand em 1970 ao empresário Oscar Fakhoury, que os manteve guardados, sem acesso ao público e a pesquisadores. Com a sua morte, sua viúva negociou a venda a Amaro, através da galeria Almeida & Dale, segundo o colecionador. ‘Eu já havia flertado com várias obras da Tarsila, mas as negociações não avançaram. Quando soube desses desenhos, fiquei apaixonado pela ideia de adquirir um conjunto tão representativo do percurso da artista’, diz Amaro.

Após a compra, o colecionador achou que seria preciso um complemento na trajetória da modernista. Por meio de um marchand, adquiriu mais dois desenhos da fase antropofágica de Tarsila —a mais conhecida do público, marcada por ‘Abaporu’—, e outro galerista o levou a um exemplar do período no qual a pintora esteve na União Soviética, quando se casou com o psiquiatra, crítico de arte e comunista Osório César e desenvolveu suas obras de viés político, cujo grande exemplar é ‘Operários’.

 

Operários
 

Amaro, apesar de não falar sobre o valor que pagou por esses três desenhos e pela coleção, dá parâmetros: ‘No mercado, os desenhos menos representativos da Tarsila valem entre R$ 40 mil e R$ 50 mil. E um estudo de ‘A Negra’ [como o que faz parte da coleção] foi vendido por quase R$ 1 milhão. Apesar disso, eu não comprei com o interesse comercial, especulativo, quero que a coleção faça parte do acervo do Fama para ser vista pelo público e para basear estudos e pesquisas’, afirma o colecionador.

Para Amaro, Tarsila,1886-1973, ‘teve uma defasagem’ na valorização mercadológica, o que mudou desde que o MoMA adquiriu ‘A Lua’. ‘Um movimento como esse cria uma legitimidade da artista para o mercado, é um endosso para um resgate histórico’.

 

‘Tarsila Popular’, MASP, 2019
 

Ele menciona também a exposição ‘Tarsila Popular’, realizada pelo Masp no ano passado, que bateu o recorde histórico do museu, com mais de 402 mil visitantes fazendo filas e tirando selfies em frente às obras, destronando uma lista formada por Monet, Picasso e Salvador Dalí. ‘Isso a popularizou muito. Ela acaba virando um ícone pop, como Frida Kahlo,1907-1954. A vantagem da Frida em relação à Tarsila, em relação a essa popularização, é a proximidade do México com os Estados Unidos’, analisa.

Uma das maiores especialistas em Tarsila, com quem teve contato, a crítica de arte Aracy Amaral, 90, diz que esse movimento em relação à artista está diretamente relacionado ao crescimento do mercado da arte.

Na década de 1960, Aracy realizou pesquisa na casa de Tarsila, na rua Albuquerque Lins, em São Paulo, onde catalogou os 200 desenhos que agora chegam à exposição do Fama, da qual é curadora. Em 1969, organizou ‘Tarsila – 50 Anos de Pintura’, no Museu de Arte Moderna do Rio, mostra relevante na construção do reconhecimento da modernista. À época, lembra Aracy, Tarsila vendeu algumas de suas obras. ‘Era um dinheiro suficiente para cuidar da sua casa e viver bem. Mas não tinha a noção da valorização das suas obras’, lembra Aracy.

 

‘A Lua’
 

Se a evolução do mercado de arte ajudou Tarsila a se consolidar no país, o marco de sua valorização internacional foi a aquisição de ‘A Lua’ pelo MoMA, afirma Paulo Kuczynski, 72, que intermediou a venda. ‘Com isso, ela passou do patamar do modernismo brasileiro para o do modernismo internacional’, avalia o galerista, que diz saber de outras instituições interessadas em adicionar Tarsila a seus acervos.

É um sinal de que a escalada de preços não deve arrefecer nos próximos anos. Até porque, diz Kuczynski, a última grande venda sempre inaugura uma nova faixa de valores, mesmo que a obra em negociação não seja tão aclamada quanto ‘A Lua’.

À frente das negociações de ‘Idílio’ iniciadas na Tefaf, o galerista Thiago Gomide, 42, afirma que o quadro, de uma fase em que a artista retratou a vida interiorana brasileira, já atraiu o interesse de colecionadores dos EUA, da Inglaterra e da China.

 

'Idílio', 1929, pintura de Tarsila do Amaral exibida pela galeria Bergamin e Gomide na feira online Tefaf, Nova York, 2020 

Ele torce para que a pintura de traços arredondados, que mostra um casal de namorados em uma fazenda, seja adquirida por um museu internacional. Segundo Gomide, Tarsila foi muito beneficiada por uma tendência recente dessas instituições de revisar as suas coleções de modo a incluir mais trabalhos de mulheres, negros, latinos. ‘A venda para o MoMA criou um precedente muito importante, em que instituições passaram a se sentir confortáveis para pagar valores altos em um quadro como esse’, diz.

Esse fato, aliado à raridade de telas da fase mais valorizada de Tarsila —menos de 50—, deve continuar a projetá-la. ‘E a valorização ainda crescerá porque esse movimento de igualdade de gênero está só começando. A Tarsila acabou se tornando um ícone que todos conhecem, crianças, trabalhadores de todas as classes. Criou uma identidade brasileira, é a cara do Brasil, da mesma forma que a Frida é a do México’, diz Gomide.

Doutora em estética e história da arte pela USP, Regina Teixeira de Barros, 54, curadora da exposição dos desenhos no Fama e que já organizou mostras da artista na Pinacoteca e no Malba, na Argentina, onde está o ‘Abaporu’, também acredita que esse discurso de gênero ajude a fazer de Tarsila uma artista expoente. Características de sua obra, como as formas reduzidas e o colorido, têm apelo com o público, trazem uma facilidade de acesso. ‘É muito fácil gostar da Tarsila’, diz a historiadora.

Kuczynski concorda: ‘Ela é tão Brasil, tão caipira, suas cores, suas formas... É tudo muito sedutor. Tem a dimensão de sonho com a qual as crianças se identificam’.

 



É na identificação com o público infantil a aposta o filme de animação ‘Tarsilinha’, da PinGuim Content, criadora dos desenhos animados ‘Peixonauta’ e ‘O Show da Luna!’.




No longa-metragem, em fase de finalização, a garota Tarsilinha envolve-se em uma aventura em um mundo repleto de figuras, personagens e cenários das obras de Tarsila. Entraria em cartaz nos cinemas neste ano, o que foi adiado em razão da pandemia. A produtora lança nesta sexta-feira (13) um clipe do filme, com música de Zeca Baleiro, que canta no refrão: ‘Tarsilinha não tem medo, leva na mochila coragem sem fim’.

É um perfil ideal para protagonistas femininas dos novos tempos, inclusive as princesas da Disney. E que tem tudo a ver com a heroína da vida real que a inspirou. 



Fonte: Laura Mattos e Clara Balbi   |   FSP

 

(JA, 13-Nov20) 


 

sábado, 7 de dezembro de 2019

Para os pequenos fãs de arte! Exposição em cartaz no Farol Santander






Um passeio para apresentar, de maneira lúdica, as obras de uma de nossas maiores artistas! O “Farol Santander” recebe a partir do dia 26 de novembro a mostra Tarsila para Crianças. A exposição é totalmente imersiva e a garotada vai poder se sentir dentro dos quadros! A atração fica por lá até 2 de fevereiro de 2020 e os ingressos custam R$25 e a entrada é grátis para crianças até 2 anos e 11 meses.

A mostra é toda instagramável e utiliza de recursos cenográficos como almofadas e lustres, em um espaço de cerca de 490 metros quadrados. São sete estações temáticas, divididas entre os andares 19 e 20 do prédio.


Confira as estações



1.      Vila dos Sentidos – a exposição começa com um cenário bucólico que remete à infância de Tarsila na fazenda São Bernardo, onde cresceu brincando com seus mais de 40 gatos e fazendo bonecos de mato. Uma mini vila caipira será formada por quatro casinhas tridimensionais, rodeadas por cestos de frutas, com inspiração no quadro A Feira. Cada casinha apresentará uma característica marcante relacionada à infância da pintora, como o quarto com sua caixinha de música e bonecas de mato, a sala de estar com piano, foto de família e seus gatos de estimação, e até seu perfume e sabonete preferido.

2.      Toca da Cuca – Inspirado no quadro A Cuca, o público encontrará um espaço com uma projeção com os bichos divertidos inspirados nos seres imaginários presentes na obra de Tarsila do Amaral, que passarão em uma espécie de tapete imersivo, projetado dentro da Toca da Cuca cenográfica, com acesso pelo túnel da lagarta.

3.     Universo Tarsila – Tendo como referência a obra Cartão Postal, os visitantes poderão colorir diferentes elementos encontrados em sua obra e os animais imaginários que habitam o extraordinário e colorido universo de Tarsila, que ganham vida em uma parede interativa instalada no andar.



4.     Floresta Negra – Com uma cenografia e ambientação sonora do que seria a floresta onírica do quadro Floresta, o público poderá se aconchegar no ninho de almofadas que simulam os famosos ovos rosa arroxeados de sua pintura. No mesmo local, baseado na obra Urutu, será possível encontrar um ovo onde os visitantes despertam a curiosidade, observando através de buraquinhos as possíveis criaturas que habitam dentro do ovo. A floresta ainda esconde um guardião, o touro preto (O Touro), que protege com seu mugido quem pensar em fazer mal à natureza. Os visitantes poderão tirar fotos no instapoint do touro. Uma reprodução tátil do quadro Floresta foi criada especialmente para que deficientes visuais conheçam a obra de Tarsila do Amaral.

5.     Jardim Afetivo – Os visitantes serão convidados a embarcar em uma viagem sensorial, com animações e sons, como por exemplo, os ruídos da estação de ferro, da caixinha de música, o coaxar do sapo, os grilos, que remetem diretamente a 4 quadros de Tarsila.

6.      As Cores de Tarsila – Neste ambiente estarão expostos reproduções de diversos quadros impressos e as principais cores da paleta de Tarsila (Cores Caipiras: azul puríssimo, rosa violáceo, amarelo vivo e verde cantante) para a pintura brasileira e internacional. Ao centro, duas redes coloridas penduradas do teto até quase o chão, representando pinceis. Os visitantes serão convidados a se posicionar nas redes-pinceis, e percebem que no chão há uma projeção que repercute o movimento de cada pincel e vai misturando as cores e dando origem a uma infinidade de pinturas digitais aleatórias.




7.      Papo com o Abaporu – A mais famosa obra de Tarsila,  Abaporu, divide espaço com as obras Sol Poente e A Lua, em uma sala repleta de cactos cenográficos e flores holográficas. O cenário do Sol Poente é pensado para boas fotografias, com diversos pufes espalhados em frente a uma série de círculos laranjas. Nessa sala também há o espaço Papo Com Abaporu, com dois totens touchscreen com perguntas que poderão ser respondidas pelo enigmático personagem via inteligência artificial, através da plataforma Watson.


A exposição é assinado pela YDreams Global, que foi responsável pela em exposição inspirada em Van Gogh, que ficou em cartaz no shopping Pátio Higienópolis. A curadoria é de Patrícia Engel Secco, Karina Israel e da sobrinha-neta da artista, Tarsilinha.


Tarsila para Crianças
Recomendado: Todas as idades
Quando: de 26/11 a 02/02 nas terças, quartas, quintas, sextas, sábados e domingos. Horários: das 9h às 20h
Preços: Adultos: R$ 25 Crianças: R$ 12,50  Meia: R$ 12,50
Onde: Farol Santander – Rua João Brícola, 24, Centro - São Paulo
Informações: (11) 3553-5627              Site: ter.li/farolsantander              


Fonte: São Paulo para Crianças



(JA, Dez19)




domingo, 1 de dezembro de 2019

Anita Malfatti





A Estudante, 1915-1916


Anita Catarina Malfatti (São Paulo, 2 de dezembro de 1889 — São Paulo, 6 de novembro de 1964) foi uma pintora, desenhista, gravadora, ilustradora e professora ítalo-brasileira. 

Filha do engenheiro italiano Samuele Malfatti e de mãe norte-americana Eleonora Elizabeth ‘Betty’ Krug, Anita Malfatti nasceu na cidade de São Paulo, em 2 de dezembro de 1889. Segunda filha do casal, nasceu com atrofia no braço e na mão direita.

Aos três anos de idade foi levada pelos pais à cidade de Lucca, na Itália, na esperança de corrigir o defeito congênito. Os resultados do tratamento médico não foram animadores e Anita teve que carregar essa deficiência pelo resto da vida.

Voltando ao Brasil, teve à sua disposição Miss Browne, que a ajudou no desenvolvimento do uso da escrita e no aprendizado do desenho com a mão esquerda. Essa Miss Browne deve ter sido a educadora norte-americana Márcia P. Browne que assessorou Caetano de Campos na reforma que empreendeu no ensino primário e normal em São Paulo, nos primórdios da República. Miss Browne organizou e foi a primeira diretora da Escola Modelo anexa à Escola Normal.

Iniciou seus estudos em 1897 no Externato São José de freiras católicas, hoje não mais existente, outrora localizado na Rua da Glória, onde foi alfabetizada. Logo depois passou a estudar em escolas protestantes: na Escola Americana, em 1903 e, pouco depois, no Mackenzie College onde, em 1906, recebe o diploma de normalista.

Surge a pintora

Nesse meio tempo morreu Samuele Malfatti, esteio moral e financeiro da família. Sem recursos para o sustento dos filhos, Betty passou a dar aulas particulares de idiomas, e também de desenho e pintura. Chegou a pedir orientações do pintor Carlo de Servi para ela com mais segurança ensinar suas discípulas. Anita acompanhava as aulas que tomavam a maior parte de seu tempo - foi portanto sua própria mãe quem lhe ensinou os rudimentos das artes plásticas.

Na Alemanha

Anita Malfatti, aos 22 anos, 1912

Anita pretendia estudar em Paris, mas sem a ajuda do pai parecia impossível, tendo em vista que sua avó vivia entrevada numa cama, e sua mãe passava o dia dando aulas de pintura e de idiomas.

Anita tinha umas amigas, as irmãs Shalders, que estavam prestes a viajar à Europa para estudar música. Assim surgiu a ideia de acompanhá-las à Alemanha e seu tio e padrinho, o engenheiro Jorge Krug, aceitou financiar a viagem.

Anita e as Shalders chegaram a Berlim em 1910, ano marcante na história da Arte Moderna alemã. Berlim era então o grande centro musical da Europa. Acompanhando suas amigas às aulas no centro musical, ali recebeu a sugestão para estudar no ateliê do artista pintor Fritz Burger.

Fritz Burger era um retratista que dominava a técnica pontilhista ou divisionista. Foi o primeiro mestre alemão de Anita. Nessa época ela ingressou na Academia de Belas Artes de Berlim.

Durante as férias de verão, Anita e as amigas foram às montanhas de Harz, em Treseburg, região frequentada por pintores. Continuando sua viagem, visitou a 4° Sonderbund, uma exposição que aconteceu em Colônia na Alemanha, na qual conheceu trabalhos de pintores modernos e famosos, incluindo-se Van Gogh.

Teve aulas também com Lovis Corinth, nome mais conhecido do que seu primeiro mestre. Alguns anos antes Corinth sofrera um acidente vascular cerebral (AVC) que, como sequela, tal como a aluna, lhe deixara alguma dificuldade motora na mão direita. Anita estava cada vez mais interessada pela pintura expressionista. Desejava aprender seu conceito e sua técnica.

Em 1913, inicia aulas com o professor Ernst Bischoff-Culm da mesma escola de Corinth. Com a instabilidade política e social causada por uma guerra que se mostrava iminente, Anita Malfatti resolve deixar Berlim e passando rapidamente por Paris, retorna ao Brasil.

Primeira exposição individual – 1914

Em 1914, Anita tinha 24 anos e, depois de quatro anos de estudo na Europa, voltava para o seio familiar. Anita ainda tinha o desejo de partir mais uma vez em viagem de estudos. Sem condições financeiras, tentou pleitear uma bolsa junto ao Pensionato Artístico do Estado de São Paulo. Por essa razão, montou no dia 23 de maio de 1914, uma exposição com obras de sua autoria, exposição essa que ficou aberta até meados de junho..

O senador José de Freitas Valle foi visitar a exposição. Dependia dele a concessão da bolsa. Mas o influente político não gostou das obras de Anita, chegando a criticá-las publicamente.

Entretanto, independentemente da opinião do senador, a bolsa não seria concedida. Notícias do iminente início da guerra na Europa fizeram com que o Pensionato as cancelasse. Foi aí que, mais uma vez, financiada pelo tio, o engenheiro e arquiteto Jorge Krug, Anita embarca para os Estados Unidos.

Nos Estados Unidos

No início de 1915, Anita Malfatti já se encontrava em Nova Iorque e matriculada na tradicional Art Student's League. Nessa escola, Anita ia de um professor a outro na tentativa de encontrar o caminho que sonhava para seus trabalhos.

Após três meses de estudos, desistiu de qualquer curso de pintura ou desenho nessa instituição, reservando-a apenas para os estudos de gravura. Anita ficou sabendo de um professor que deixava os alunos pintarem à vontade - ele lecionava na Independent School of Art e se chamava Homer Boss.


O Farol


Nas férias de verão, Homer Boss levou os alunos para pintar na costa do Maine, na ilha de Monhegan. Esse Estado litorâneo mais ao nordeste, fronteira com o Canadá, tornara-se há muito o refúgio dos artistas. Foi nessa ilha que Anita pintou, entre outras, a paisagem intitulada O farol. Passado o verão, Anita voltou à Independent School of Art. Em meados de 1916, preparava-se para voltar ao Brasil.

De volta ao Brasil e segunda exposição individual - 1917

Em 1917, Anita resolveu promover sua segunda exposição.

Após a crítica de Lobato, publicada em O Estado de S. Paulo, edição da tarde, em 20 de dezembro de 1917, com o título de ‘A propósito da exposição Malfatti’, as telas vendidas foram devolvidas, algumas quase foram destruídas a bengaladas.

Nem as palavras mas afáveis, ou menos agressivas, despejadas ao final do artigo, nem os elogios ao seu talento, colocados no início, poderiam desfazer tamanho estrago sobre a personalidade tímida e irresoluta de Anita, que caiu em forte depressão, vivendo um período de desorientação total e de descrença, um sentimento que carregou pelo resto da vida.

Anita foi tomar aulas de natureza-morta com o mestre pintor acadêmico Pedro Alexandrino. 1856-1942,  no ano de 1919, e também com o alemão George Fischer Elpons, um pouco mais avançado do que o velho mestre das naturezas mortas. Foi nessa ocasião que conheceu Tarsila do Amaral que tinha aulas com os mesmos professores, dando início a uma longa e proveitosa amizade.

Apesar da mágoa, mais tarde, Anita ilustrou livros de Monteiro Lobato e, na década de 40, participou de um programa na Rádio Cultura chamado ‘Desafiando os Catedráticos’, juntamente com Menotti Del Picchia e Monteiro Lobato. Os ouvintes telefonavam fazendo perguntas para que o trio respondesse.

Depois do pai, o tio Jorge Krug, que a havia ajudado tanto, também faleceu, e Anita precisou buscar caminhos para vender suas obras. Pedro Alexandrino já era um pintor de renome e vendia com facilidade seus trabalhos.

A Semana de Arte Moderna de 1922


Mário de Andrade (sentado), Anita Malfatti (sentada, ao centro) e Zina Aita (à esquerda de Anita), em 1922

Após o período de recesso, a Semana de Arte Moderna, mais uma vez, movimentou a vida artística insípida de São Paulo. Anita participou dela com 22 trabalhos. Uma vez que o círculo modernista vinha ao encontro de suas aspirações artísticas, ela entraria também para o grupo dos cinco.

A Europa nos loucos anos 20

Anita embarcava mais uma vez, em viagem de estudos para Paris. Seriam cinco anos de estudos pela bolsa do Pensionato. Este seria o último e o seu mais longo período fora do Brasil. Em agosto de 1922, ela tinha 33 anos e embarcava no vapor Mosella rumo à França.

Mário de Andrade que não conseguiu chegar a tempo da partida de Anita e enviou-lhe um telegrama de desculpas. Apesar das muitas dúvidas que ainda tinha em relação a que caminho seguir na sua arte, não deixou de produzir.

Brasil, 1928

No final de setembro de 1928, Anita já se encontrava no Brasil. O ambiente artístico encontrado por Anita na volta era diferente do que deixara em 1923; o grupo inicial evoluíra, surgiam novos adeptos e novos movimentos. O número de artistas plásticos também crescera. Na chegada, Mário de Andrade noticiou imediatamente sua chegada, relembrando quem ela era.

Em 1929 abria em São Paulo sua quarta individual.


Anita Malfatti, ~  1930



Depois de fechar sua exposição, até 1932, Anita dedicou-se ao ensino escolar. Retomou suas aulas na Escola Normal Americana e foi trabalhar também na Escola Normal do Mackenzie College.

Em 1933, muda-se para a Rua Ceará, no bairro de Higienópolis, onde instala seu ateliê e dá aulas, inclusive para Oswald de Andrade Filho, onde permanece até 1952, com a venda da casa, em razão da morte de sua mãe.

Considerada por Pietro Maria Bardi como a maior pintora brasileira, ela jamais se recuperou do golpe sofrido. Como diria mais tarde Mário de Andrade: Ela fraquejou, sua mão, indecisa, se perdeu.

Já com idade madura, Anita mudou-se, com sua irmã Georgina, para uma chácara em Diadema-SP), onde morreu em 6 de novembro de 1964, alienada do mundo, cuidando do jardim e vivendo seus próprios devaneios.  Está sepultada no Cemitério dos Protestantes, na Rua Sergipe, número 117, bairro da Consolação, São Paulo.







Fonte:  WP,  Escritório de Arte, Dvs




(JA, Dez19)



sexta-feira, 9 de agosto de 2019

'Abaporu', Tarsila do Amaral






‘Esnobaram o Abaporu’, diz ex-dono do mais famoso quadro brasileiro. Raul Forbes revela detalhes da tumultuada venda da tela assinada por Tarsila do Amaral

O que vivenciei é uma amostra fiel de como parte dos brasileiros trata a arte nacional. Eu adquirira a obra-prima Abaporu, de Tarsila do Amaral, em 1984, do empresário Érico Stickel. Foi-me dada a chance de pagá-la em cinco parcelas, mas acertei de uma vez só: 250 000 dólares.

Depois de ganhar e perder muito dinheiro com ações, vivi um período de problemas financeiros e tive de vendê-la a um colecionador argentino, com dor no coração. O ano era 1995. Como integrava o conselho da Bolsa de Valores, que à época montava sua coleção de arte, ofereci algo que qualquer especialista em arte jamais recusaria.

Para minha surpresa, ninguém se apresentou. Fui em busca de outros compradores, de empresas a pessoas físicas, sem sucesso. A única saída foi vender o quadro em um leilão fora do Brasil, na Christie’s de Nova York. Uma vez marcada a data do evento, aconteceu o imprevisível. Precisei travar uma batalha judicial contra o governo do Estado de São Paulo, que, ao saber da venda da tela modernista, tomou uma medida inédita: tombou o Abaporu como patrimônio estadual.

Com essa medida arbitrária, o colecionador seria impedido de comercializar o quadro e até mesmo de emprestá-­lo a um museu sem autorização prévia.

Entrei com uma liminar e, finalmente, o Abaporu embarcou para os Estados Unidos, menos de 24 horas antes de o leilão começar, escoltado por polícia armada. Em Nova York, houve outra surpresa. A guerra judicial com o governo paulista afugentou os dois únicos interessados que até então tinham feito os cadastros. A diretora da Christie’s perguntou se eu queria desistir, diante do iminente risco de encalhe. Não topei, já não poderia desistir. Imagine voltar para o Brasil com o Abaporu debaixo do braço. Seria um retrocesso enorme para a arte brasileira.


Raul Forbes, ex-dono da mais famosa tela brasileira: 'Não sinto tristeza por ter vendido o Abaporu, pois a obra me ajudou em um momento de dificuldade financeira'


Na hora do leilão, uma surpresa: o argentino Eduardo Costantini deu o maior lance e arrematou a tela por 1,3 milhão de dólares. Levou também o Autorretrato com Macaco e Papagaio, da Frida Khalo, por outros 3,2 milhões de dólares. Costantini formava sua coleção de obras de arte latinas para compor o acervo do Malba, em Buenos Aires.

Se foi complexo tirar o Abaporu do Brasil, também foi difícil permitir seu ingresso na Argentina. O governo do país vizinho decidiu taxar em 10% o valor das obras adquiridas. Enquanto Costantini lutava na Justiça local para diminuir o imposto, os quadros de Tarsila e Frida ficaram exilados no Uruguai.

À época, eu possuía uma casa em Punta del Este, e tive a chance de rever meu antigo quadro, já um ano após o leilão. Costantini organizou uma exposição no Museo Nacional de Artes Visuales, de Montevidéu, com a presença do então presidente uruguaio, Julio María Sanguinetti. O quadro da Frida, que eu particularmente acho horrível, estava cercado por uma proteção de vidro, na expectativa de ser a grande atração da mostra.

Na abertura, no entanto, a realidade: apenas quatro gatos-pingados apreciavam a tela da mexicana, enquanto 150 pessoas admiravam o Abaporu. Na hora, Costantini teve a certeza de ter feito um excelente negócio. Aliás, ao perceber a bobagem de não ter ficado com o Abaporu, a Bolsa de Valores pediu que eu tentasse repatriá-lo. O orçamento era de 3 milhões de dólares. Ainda estiquei a corda para 4 milhões, mas o atual dono não quis nem saber.

Hoje, o quadro está avaliado em pelo menos 75 milhões de dólares. Acompanhei, agora, o extraordinário interesse pela obra da Tarsila no Masp, em São Paulo, com filas a perder de vista, e me senti orgulhoso.

Não sinto tristeza por ter vendido o Abaporu, pois a obra me ajudou em um momento de dificuldade financeira. Infelizmente, nos últimos dias, por uma questão de saúde, não tive a chance de apreciá-lo pessoalmente.




Fonte:  Raul Forbes |  João Batista Jr, Rev.Veja





(JA, Ago19)