A Estudante, 1915-1916 |
Anita Catarina Malfatti (São Paulo, 2 de dezembro de
1889 — São Paulo, 6 de novembro de 1964) foi uma pintora, desenhista,
gravadora, ilustradora e professora ítalo-brasileira.
Filha do engenheiro italiano Samuele Malfatti e de mãe
norte-americana Eleonora Elizabeth ‘Betty’ Krug, Anita Malfatti nasceu na
cidade de São Paulo, em 2 de dezembro de 1889. Segunda filha do casal, nasceu
com atrofia no braço e na mão direita.
Aos três anos de idade foi levada pelos pais à cidade
de Lucca, na Itália, na esperança de corrigir o defeito congênito. Os
resultados do tratamento médico não foram animadores e Anita teve que carregar
essa deficiência pelo resto da vida.
Voltando ao Brasil, teve à sua disposição Miss Browne,
que a ajudou no desenvolvimento do uso da escrita e no aprendizado do desenho
com a mão esquerda. Essa Miss Browne deve ter sido a educadora norte-americana
Márcia P. Browne que assessorou Caetano de Campos na reforma que empreendeu no
ensino primário e normal em São Paulo, nos primórdios da República. Miss Browne
organizou e foi a primeira diretora da Escola Modelo anexa à Escola Normal.
Iniciou seus estudos em 1897 no Externato São José de
freiras católicas, hoje não mais existente, outrora localizado na Rua da
Glória, onde foi alfabetizada. Logo depois passou a estudar em escolas
protestantes: na Escola Americana, em 1903 e, pouco depois, no Mackenzie
College onde, em 1906, recebe o diploma de normalista.
Surge a pintora
Nesse meio tempo morreu Samuele Malfatti, esteio moral
e financeiro da família. Sem recursos para o sustento dos filhos, Betty passou
a dar aulas particulares de idiomas, e também de desenho e pintura. Chegou a
pedir orientações do pintor Carlo de Servi para ela com mais segurança ensinar
suas discípulas. Anita acompanhava as aulas que tomavam a maior parte de seu
tempo - foi portanto sua própria mãe quem lhe ensinou os rudimentos das artes
plásticas.
Na Alemanha
Anita Malfatti, aos 22 anos, 1912 |
Anita pretendia estudar em Paris, mas sem a ajuda do
pai parecia impossível, tendo em vista que sua avó vivia entrevada numa cama, e
sua mãe passava o dia dando aulas de pintura e de idiomas.
Anita tinha umas amigas, as irmãs Shalders, que
estavam prestes a viajar à Europa para estudar música. Assim surgiu a ideia de
acompanhá-las à Alemanha e seu tio e padrinho, o engenheiro Jorge Krug, aceitou
financiar a viagem.
Anita e as Shalders chegaram a Berlim em 1910, ano
marcante na história da Arte Moderna alemã. Berlim era então o grande centro
musical da Europa. Acompanhando suas amigas às aulas no centro musical, ali
recebeu a sugestão para estudar no ateliê do artista pintor Fritz Burger.
Fritz Burger era um retratista que dominava a técnica
pontilhista ou divisionista. Foi o primeiro mestre alemão de Anita. Nessa época
ela ingressou na Academia de Belas Artes de Berlim.
Durante as férias de verão, Anita e as amigas foram às
montanhas de Harz, em Treseburg, região frequentada por pintores. Continuando
sua viagem, visitou a 4° Sonderbund, uma exposição que aconteceu em Colônia na
Alemanha, na qual conheceu trabalhos de pintores modernos e famosos,
incluindo-se Van Gogh.
Teve aulas também com Lovis Corinth, nome mais
conhecido do que seu primeiro mestre. Alguns anos antes Corinth sofrera um
acidente vascular cerebral (AVC) que, como sequela, tal como a aluna, lhe
deixara alguma dificuldade motora na mão direita. Anita estava cada vez mais
interessada pela pintura expressionista. Desejava aprender seu conceito e sua
técnica.
Em 1913, inicia aulas com o professor Ernst
Bischoff-Culm da mesma escola de Corinth. Com a instabilidade política e social
causada por uma guerra que se mostrava iminente, Anita Malfatti resolve deixar
Berlim e passando rapidamente por Paris, retorna ao Brasil.
Primeira exposição individual – 1914
Em 1914, Anita tinha 24 anos e, depois de quatro anos
de estudo na Europa, voltava para o seio familiar. Anita ainda tinha o desejo
de partir mais uma vez em viagem de estudos. Sem condições financeiras, tentou
pleitear uma bolsa junto ao Pensionato Artístico do Estado de São Paulo. Por
essa razão, montou no dia 23 de maio de 1914, uma exposição com obras de sua
autoria, exposição essa que ficou aberta até meados de junho..
O senador José de Freitas Valle foi visitar a
exposição. Dependia dele a concessão da bolsa. Mas o influente político não
gostou das obras de Anita, chegando a criticá-las publicamente.
Entretanto, independentemente da opinião do senador, a
bolsa não seria concedida. Notícias do iminente início da guerra na Europa
fizeram com que o Pensionato as cancelasse. Foi aí que, mais uma vez,
financiada pelo tio, o engenheiro e arquiteto Jorge Krug, Anita embarca para os
Estados Unidos.
Nos Estados Unidos
No início de 1915, Anita Malfatti já se encontrava em
Nova Iorque e matriculada na tradicional Art Student's League. Nessa escola, Anita ia de um professor a outro na
tentativa de encontrar o caminho que sonhava para seus trabalhos.
Após três meses de estudos, desistiu de qualquer curso
de pintura ou desenho nessa instituição, reservando-a apenas para os estudos de
gravura. Anita ficou sabendo de um professor que deixava os alunos pintarem à
vontade - ele lecionava na Independent School of Art e se chamava Homer Boss.
O Farol |
Nas férias de verão, Homer Boss levou os alunos para
pintar na costa do Maine, na ilha de Monhegan. Esse Estado litorâneo mais ao
nordeste, fronteira com o Canadá, tornara-se há muito o refúgio dos artistas.
Foi nessa ilha que Anita pintou, entre outras, a paisagem intitulada O farol.
Passado o verão, Anita voltou à Independent School of Art. Em meados de 1916,
preparava-se para voltar ao Brasil.
De volta ao Brasil e segunda exposição
individual - 1917
Em 1917, Anita resolveu promover sua segunda
exposição.
Após a crítica de Lobato, publicada em O Estado de S. Paulo,
edição da tarde, em 20 de dezembro de 1917, com o título de ‘A propósito da
exposição Malfatti’, as telas vendidas foram devolvidas, algumas quase foram
destruídas a bengaladas.
Nem as palavras mas afáveis, ou menos agressivas,
despejadas ao final do artigo, nem os elogios ao seu talento, colocados no
início, poderiam desfazer tamanho estrago sobre a personalidade tímida e irresoluta
de Anita, que caiu em forte depressão, vivendo um período de desorientação
total e de descrença, um sentimento que carregou pelo resto da vida.
Anita foi tomar aulas de natureza-morta com o mestre pintor
acadêmico Pedro Alexandrino. 1856-1942, no ano de 1919, e também com o alemão George
Fischer Elpons, um pouco mais avançado do que o velho mestre das naturezas
mortas. Foi nessa ocasião que conheceu Tarsila do Amaral que tinha aulas com os
mesmos professores, dando início a uma longa e proveitosa amizade.
Apesar da mágoa, mais tarde, Anita ilustrou livros de
Monteiro Lobato e, na década de 40, participou de um programa na Rádio Cultura
chamado ‘Desafiando os Catedráticos’, juntamente com Menotti Del Picchia e
Monteiro Lobato. Os ouvintes telefonavam fazendo perguntas para que o trio
respondesse.
Depois do pai, o tio Jorge Krug, que a havia ajudado
tanto, também faleceu, e Anita precisou buscar caminhos para vender suas obras.
Pedro Alexandrino já era um pintor de renome e vendia com facilidade seus
trabalhos.
A Semana de Arte Moderna de 1922
Mário de Andrade (sentado), Anita Malfatti (sentada, ao centro) e Zina Aita (à esquerda de Anita), em 1922 |
Após o período de recesso, a Semana de Arte Moderna,
mais uma vez, movimentou a vida artística insípida de São Paulo. Anita
participou dela com 22 trabalhos. Uma vez que o círculo modernista vinha ao
encontro de suas aspirações artísticas, ela entraria também para o grupo dos
cinco.
A Europa nos loucos anos 20
Anita embarcava mais uma vez, em viagem de estudos
para Paris. Seriam cinco anos de estudos pela bolsa do Pensionato. Este seria o
último e o seu mais longo período fora do Brasil. Em agosto de 1922, ela tinha
33 anos e embarcava no vapor Mosella rumo à França.
Mário de Andrade que não conseguiu chegar a tempo da
partida de Anita e enviou-lhe um telegrama de desculpas. Apesar das muitas
dúvidas que ainda tinha em relação a que caminho seguir na sua arte, não deixou
de produzir.
Brasil, 1928
No final de setembro de 1928, Anita já se encontrava
no Brasil. O ambiente artístico encontrado por Anita na volta era diferente do
que deixara em 1923; o grupo inicial evoluíra, surgiam novos adeptos e novos
movimentos. O número de artistas plásticos também crescera. Na chegada, Mário
de Andrade noticiou imediatamente sua chegada, relembrando quem ela era.
Em 1929 abria em São Paulo sua quarta individual.
Anita Malfatti, ~ 1930 |
Depois de fechar sua exposição, até 1932, Anita
dedicou-se ao ensino escolar. Retomou suas aulas na Escola Normal Americana e
foi trabalhar também na Escola Normal do Mackenzie College.
Em 1933, muda-se para a Rua Ceará, no bairro de
Higienópolis, onde instala seu ateliê e dá aulas, inclusive para Oswald de
Andrade Filho, onde permanece até 1952, com a venda da casa, em razão da morte
de sua mãe.
Considerada por Pietro Maria Bardi como a maior
pintora brasileira, ela jamais se recuperou do golpe sofrido. Como diria mais
tarde Mário de Andrade: Ela fraquejou, sua mão, indecisa, se perdeu.
Já com idade madura, Anita mudou-se, com sua irmã
Georgina, para uma chácara em Diadema-SP), onde morreu em 6 de novembro de
1964, alienada do mundo, cuidando do jardim e vivendo seus próprios devaneios. Está sepultada no Cemitério dos Protestantes,
na Rua Sergipe, número 117, bairro da Consolação, São Paulo.
Fonte: WP, Escritório de Arte, Dvs
(JA, Dez19)
O desenho do "Farol" não é da Anita - É MEU ! Eu fiz uma releitura do quadro da Anita . Fico feliz por terem publicado como sendo dela, mas, sejamos honestos - o dela é o original e toda solução artística que usei foi baseada na magia do pincel da Anita. Agradeço se corrigirem . Murilo S. Romeiro ( a assinatura abaixo à direita tem as iniciais do meu nome)
ResponderExcluirObservando minha assinatura , agora notei que poderia ser um A. M. também - pura coincidência!
ResponderExcluirNa realidade é um M com um S e um R entre as linhas internas do M.