No meio do
inverno americano, surge a notícia de uma exposição que deve fazer do verão de
Cleveland algo muito diferente daqui a alguns meses. De todas as grandes
cidades americanas no cinturão da ferrugem, a região do país que concentrou a
indústria siderúrgica ao longo de décadas, essa está entre as que menos se
recuperaram do colapso do mercado financeiro há dez anos.
E nada como a
arte contemporânea e o rebanho de artistas, críticos e curadores que vem no
rastro dela para melhorar os indicadores econômicos. A ideia parece ser detonar
também ali a mesma onda de gentrificação turbinada por galerias e museus que já
deu um banho de loja em boa parte das metrópoles americanas menos Cleveland,
onde a indústria do aço que antes reinava absoluta agora cruza os dedos para
voltar a lucrar diante da possibilidade da imposição de tarifas protecionistas
sobre a importação do material.
Nesse contexto
de crise perto do fim, a Front International, como batizaram essa Trienal de
Arte Contemporânea de Cleveland, faz sua estreia em julho com obras de cerca de
70 artistas espalhadas por 15 espaços da cidade, entre eles museus, parques,
bibliotecas e até um banco desativado e uma usina de energia.
Não há nada de
novo no front. Nos mesmos moldes de uma Documenta de Kassel, mas sem a bagagem
e o prestígio da mastodôntica mostra alemã, esse é mais um evento do mundo
artsy que toma de assalto uma cidade com intervenções estéticas. Também não há
nada de mal nisso.
Talvez a
diferença seja isso acontecer num lugar como Cleveland. No ano passado, o
ambiciosíssimo Pacific Standard Time espalhou uma série de exposições de peso
por Los Angeles. Ali, é fato, havia uma série de curadores e projetos
distintos, sem a visão de um só diretor artístico —a direção da Front é da
artista americana Michelle Grabner— e não havia um tema central a orientar os
trabalhos.
Num café da
manhã num restaurante do charmoso Gramercy Park, em Manhattan, Grabner deu mais
detalhes da mostra batizada com um singelo ‘Uma Cidade Americana’. Cleveland,
no olho do furacão das idas e vindas do cinturão da ferrugem, é o patinho feio
da vez, ou o ponto na periferia dos roteiros de arte do planeta, a ser
enquadrado agora como parte —temporária— do circuito, como já aconteceu com
bienais e trienais que foram e voltaram, brilharam e naufragaram —alguém se
lembra da Trienal de Luanda? Da Bienal do Fim do Mundo?
Mas, críticas
à parte, mais uma exposição é sempre bem-vinda se der a chance de surgirem
novas visões e novos questionamentos. Fernanda Brenner, a diretora artística do
Pivô, em São Paulo, responde por uma parte da seleção do Front —do Brasil, só
entraram Marlon de Azambuja, artista radicado em Madri, e a dupla Bárbara
Wagner e Benjamin de Burca, embora ela brasileira e ele holandês sejam
indicados no catálogo como artistas de Berlim, onde moram.
Texto:
Silas Marti | FSP
(JA, Mar18)
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