lustração de Hopper para a 'pulp' Adventure |
Edward Hopper, 1882-1967, é considerado um dos maiores pintores
americanos modernos. Entre seus estudos contemplativos da vida moderna, que
capturam, por meio de um estilo realista, cenas cotidianas ambientadas em
restaurantes, quartos de hotel, cinemas, estão pinturas célebres como ‘Early
Sunday Morning’ (‘Domingo de Manhã’), de
1930, e ‘Nighthawks’ (algo como ‘Aves da Noite’, em uma tradução livre), de
1942.
'Nighthawks', pintura de Hopper de 1942 |
Antes de se firmar como um importante artista do século 20 – o que
aconteceria somente a partir da década de 1930 –, porém, Hopper trabalhou como
ilustrador das chamadas ‘pulp magazines’, revistas populares e baratas que
veiculavam histórias de ficção de gêneros variados. Esse tipo de revista
circulou muito entre o início do século 20, até a década de 1950.
Durante os primeiros 25 anos de sua carreira, Hopper desenhou para a capa
e o miolo de publicações como Hotel Management, Everybody’s Magazine, Wells Fargo
Messenger e para as ‘pulp’ Everybody's Magazine, Adventure Magazine, e
Astounding Stories.
Ilustração de Hopper para edição de julho de 1919 da revista Everybody’s Magazine |
Esta era uma via comum para artistas visuais americanos do início dos
anos 1900, uma vez que, até a metade do século 20, quase não havia interesse em
comprar e colecionar obras de arte americanas.
Ilustração de Hopper para a edição de março de 1919 para a Adventure |
De acordo com um artigo publicado pelo site Literary Hub, enquanto muitas
dessas ilustrações encomendadas permitiram que ele aperfeiçoasse temas
frequentes de suas pinturas, como escritórios, ferrovias e hotéis, várias
outras ‘forçaram-no a confrontar temas estranhos e até incômodos’ para ele.
Esse confronto fica mais evidente, segundo o artigo, em seu trabalho para
a revista Adventure. Entre 1916 e 1919, Hopper ilustrou cinco números da
publicação de ‘pulp fiction’.
lustração de Hopper para edição de julho de 1918 da
Adventure
|
Ilustração de Hopper para texto de ficção publicado em edição de julho de 1918 da revista Adventure |
Nesses três anos, Hopper ilustrou, com desenhos divertidos e cômicos,
histórias de fantasia envolvendo exploradores e aventureiros. Uma produção que
nada tem a ver com os ‘retratos e paisagens lamuriosos’ do artista, atualmente
vendidos por dezenas de milhões de dólares.
Historiadores da arte ainda têm dificuldade em conciliar, segundo o
Literary Hub, o melhor de suas ilustrações comerciais com as cenas quietas que
lhe renderam um lugar entre os grandes artistas do século passado.
O desprezo pela ilustração
Hopper repudiava a ilustração independentemente do cliente que a
encomendava, de acordo com o autor do livro ‘Hopper Drawing’, Carter Foster.
Em uma entrevista concedida pelo artista ao crítico de arte Alexander
Eliot, publicada na revista Time em 1956, Hopper relatou que apenas chegava à
sede dessas publicações sem hora marcada, com um portfólio debaixo do braço. ‘Às
vezes eu dava algumas voltas no quarteirão antes de entrar’, disse na
entrevista, ‘querendo o trabalho pelo dinheiro e ao mesmo tempo torcendo para não
conseguir aquela porcaria’.
Texto: Juliana
Domingos de Lima | =Nexo
(JA, Mar18)
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