terça-feira, 20 de março de 2018

Artista expõe seres imaginários em madeira


Cícero Alves dos Santos, o Véio, 70, mostra parte da sua coleção de objetos do sertão que caíram em desuso   

Véio é o apelido de Cícero Alves dos Santos, 70, artista tema de exposição no Itaú Cultural, em São Paulo. Nascido na cidade sergipana de Nossa Senhora da Glória, o artista quando criança gostava de ouvir as histórias dos idosos, e daí foi que surgiu seu apelido.  
Obra do artista plástico Cícero Alves dos Santos; parte de seu acervo está no Itaú Cultural


‘Gostava de ouvir as histórias deles sobre lobisomem e coisas deste tipo’, relembra. Ainda na infância, surgiu o interesse que permeia a carreira do artista: esculpir.

Ele costumava fazer o trabalho em cera de abelha, mas naquela época o material era associado a mulheres. Véio fazia tudo escondido e desfazia quando alguém chegava perto.

Para driblar esse obstáculo de gênero passou a usar  madeira para esculpir personagens místicos. Parte delas está entre as 270 esculturas expostas em três andares.

Em entrevista, o artista conta que seu trabalho é mal compreendido na sua cidade natal e que é rotulado de ‘louco’ porque suas obras remetem a seres imaginários. ‘Não faço meu trabalho para agradar ninguém, faço para mim, e, se eu gostar, já fico satisfeito’.

Imaginário

As obras expostas no Itaú Cultural demonstram seres com cabeças muito maiores que o corpo ou outros com formas alongadas. Isso surgiu de uma vontade de Véio de instigar os espectadores.

‘Não me interessa esculpir um cachorro ou um cavalo. Eu passei a fazer coisas da minha inspiração para despertar a curiosidade dos outros, para que eles tentem entender o que é aquilo que eu estou fazendo’, diz o artista.

Carlos Augusto Calil, curador da exposição, define Véio como um artista moralista. ‘Ele tem princípios bastante definidos com que julga as pessoas e a sociedade, como o materialismo e a perda de valores espirituais’, explica.

As críticas direcionadas ao sergipano também inspiram seus trabalhos, como uma escultura de um homem com a cabeça desproporcionalmente maior ao corpo e sem olhos.

Segundo o artista, essa obra mostra como uma pessoa pode ter inteligência e ‘ser formada em tudo’, mas ao mesmo tempo, ‘não enxergar nada’.

O artista conta que prefere as obras não pintadas, pois mostram a cor natural da madeira. Mas, para agradar e chamar atenção das pessoas, costuma pintar a maioria delas.

Até as que causam impactos pelo tamanho, cor e forma, como na seção ‘O Cão Meu Inferno’, em que mostra os demônios, que segundo Véio, são as figuras que aparecem nos seus pesadelos.

Museu do Sertão  

O artista apresenta ainda parte do acervo de objetos reunidos ao longa da vida e que contam a história do sertão.

Entre elas estão peças que remetem ao trabalho, lazer e vida em sociedade que caíram em desuso, a exemplo o carro de boi e a moenda. Alguns desses objetos estão expostos no terceiro andar, chamado de ‘Museu do Sertão’.

O acervo inteiro de Véio, com quase 17 mil esculturas, está localizado no sítio Soarte, entre a cidade que ele nasceu, Nossa Senhora da Glória, com 36.613 habitantes, e Feira Nova, com 5.616 pessoas. 

Exposição: 'Véio – A Imaginação da Madeira' 
Onde: Itaú Cultural-  Av. Paulista, 149 - Bela Vista - Tel.: (11) 2168-1777
Quando: Até 13/05; ter. a sex., das 9h às 20h
Quanto: Grátis





Texto: Isabella Menon    |   FSP



(JA, Mar18)

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