Cícero Alves dos
Santos, o Véio, 70, mostra parte da sua coleção de objetos do sertão que caíram
em desuso
Véio é o
apelido de Cícero Alves dos Santos, 70, artista tema de exposição no Itaú
Cultural, em São Paulo. Nascido na cidade sergipana de Nossa Senhora da Glória,
o artista quando criança gostava de ouvir as histórias dos idosos, e daí foi
que surgiu seu apelido.
Obra do artista plástico Cícero Alves dos Santos; parte de seu acervo está no Itaú Cultural |
‘Gostava de
ouvir as histórias deles sobre lobisomem e coisas deste tipo’, relembra. Ainda
na infância, surgiu o interesse que permeia a carreira do artista: esculpir.
Ele costumava
fazer o trabalho em cera de abelha, mas naquela época o material era associado
a mulheres. Véio fazia tudo escondido e desfazia quando alguém chegava perto.
Para driblar
esse obstáculo de gênero passou a usar
madeira para esculpir personagens místicos. Parte delas está entre as
270 esculturas expostas em três andares.
Em entrevista,
o artista conta que seu trabalho é mal compreendido na sua cidade natal e que é
rotulado de ‘louco’ porque suas obras remetem a seres imaginários. ‘Não faço
meu trabalho para agradar ninguém, faço para mim, e, se eu gostar, já fico satisfeito’.
Imaginário
As obras
expostas no Itaú Cultural demonstram seres com cabeças muito maiores que o
corpo ou outros com formas alongadas. Isso surgiu de uma vontade de Véio de
instigar os espectadores.
‘Não me
interessa esculpir um cachorro ou um cavalo. Eu passei a fazer coisas da minha
inspiração para despertar a curiosidade dos outros, para que eles tentem
entender o que é aquilo que eu estou fazendo’, diz o artista.
Carlos Augusto
Calil, curador da exposição, define Véio como um artista moralista. ‘Ele tem princípios
bastante definidos com que julga as pessoas e a sociedade, como o materialismo
e a perda de valores espirituais’, explica.
As críticas
direcionadas ao sergipano também inspiram seus trabalhos, como uma escultura de
um homem com a cabeça desproporcionalmente maior ao corpo e sem olhos.
Segundo o
artista, essa obra mostra como uma pessoa pode ter inteligência e ‘ser formada
em tudo’, mas ao mesmo tempo, ‘não enxergar nada’.
O artista
conta que prefere as obras não pintadas, pois mostram a cor natural da madeira.
Mas, para agradar e chamar atenção das pessoas, costuma pintar a maioria delas.
Até as que
causam impactos pelo tamanho, cor e forma, como na seção ‘O Cão Meu Inferno’,
em que mostra os demônios, que segundo Véio, são as figuras que aparecem nos
seus pesadelos.
Museu
do Sertão
O artista
apresenta ainda parte do acervo de objetos reunidos ao longa da vida e que
contam a história do sertão.
Entre elas
estão peças que remetem ao trabalho, lazer e vida em sociedade que caíram em
desuso, a exemplo o carro de boi e a moenda. Alguns desses objetos estão
expostos no terceiro andar, chamado de ‘Museu do Sertão’.
O acervo
inteiro de Véio, com quase 17 mil esculturas, está localizado no sítio Soarte,
entre a cidade que ele nasceu, Nossa Senhora da Glória, com 36.613 habitantes,
e Feira Nova, com 5.616 pessoas.
Exposição: 'Véio – A Imaginação da Madeira'
Onde: Itaú Cultural- Av. Paulista, 149 - Bela Vista - Tel.: (11) 2168-1777
Quando: Até 13/05; ter. a sex., das 9h às 20h
Quanto: Grátis
Texto:
Isabella Menon | FSP
(JA, Mar18)
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