A revista alemã que exaltou as vanguardas do século 20
Edições da 'Jugend',
publicação que destacou o movimento art nouveau, estão disponíveis online
Revista tinha textos curtos e foco na parte visual |
‘Jugend’, que
significa ‘juventude’ em alemão, foi o nome de uma revista que circulou entre
1896 e 1940. Conhecida durante a maior parte de sua existência pela postura
libertária e esteticamente ousada, a Jugend é admirada hoje por estudantes de
design gráfico, arte e colecionadores em geral. O site da Universidade de
Heidelberg disponibilizou recentemente todos os números da revista em PDFs,
para consulta on-line gratuita, além das capas em uma página no Flickr.
Segundo um
crítico literário inglês, a revista era a mais ‘cerebral’ de seu tempo. ‘A
plataforma política e social da Jugend é uma de oposição - oposição a tudo’,
escreveu. Essa postura caía bem nos primeiros anos do século 20, repletos de
movimentos artísticos que propunham ruptura com as tradições estéticas
consagradas como cubismo, dadaísmo e futurismo.
Edição da revista Jugend, que durou até 1940 |
O principal
movimento coberto pela revista, entretanto, foi o art nouveau. O termo
significa ‘arte nova’, em francês, e se aplica a uma estética nas artes e na
arquitetura que acolheu avanços científicos e tecnológicos em seus materiais e
técnicas. Ilustrações e pinturas da art nouveau valorizam curvas e detalhes
elaborados. As linhas e os contornos são bem destacados e definidos. A estética
foi predominante entre o fim do século 19 e a década de 20.
A ligação da
Jugend com o estilo era tão forte que este passou a ser conhecido na Alemanha
como ‘jugendstil’ (estilo da Jugend, ou estilo da juventude, em tradução
livre). De acordo com um livro da universidade de Oxford sobre revistas
modernistas, ‘entre as qualidades mais importantes da Jugend - na verdade, um
aspecto essencial da art nouveau e da jugenstil - era seu escapismo brilhante’.
Publicação foi fundada por jornalista alemão em 1896 |
Criada pelo
jornalista George Hirth, a orientação editorial da Jugend para os colaboradores
de textos era de que fossem ‘curtos e agradáveis’. O visual era o foco maior.
Nos primeiros anos do século 20, a revista chegaria a vender 70 mil cópias por
semana. ‘Era um respiro em tempos confusos, uma expressão da alegria de viver
da juventude’, escreveram os autores.
O modo como a
Jugend usava a tipografia, com fontes desenhadas à mão e fusões de letras e
imagens, teve grande influência nas artes gráficas e na publicidade posteriores.
A
chegada dos nazistas
Quando os
nazistas ascenderam ao poder na Alemanha, em 1933, uma das políticas que
colocaram em prática foi a ‘Gleichschaltung’. Em tradução livre, significa ‘forçar
a entrar na mesma linha’. Descrevia uma conformidade em relação à ideologia
oficial à qual deveriam se pautar instituições políticas, econômicas e sociais.
Por meio desta política, associações da sociedade civil, sindicatos e veículos
de imprensa deveriam estar alinhados com o discurso do governo de Adolf Hitler.
A revista se
tornou um exemplo emblemático dessa situação. Durante décadas, a revista ficou
conhecida por seu design ousado e pautas que celebravam vanguardas artísticas,
inovação estética e um espírito livre e inquieto. Quando o partido de Hitler
chegou ao poder, a revista foi enquadrada e adotou uma linha editorial de
propaganda governamental.
Edição da revista no período nazista |
Texto: Camilo Rocha
| =Nexo
(JA, Mar18)
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