Mostra sobre artistas
latino-americanas, já exibida em Los Angeles e em Nova York, chegou à
Pinacoteca de São Paulo
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Pinacoteca do Estado com faixas da Exposição ‘Mulheres Radicais’ |
Mais de 280 trabalhos de cerca de 120
artistas mulheres da América Latina estão expostos, de 18 de agosto a 19 de
novembro de 2018, na Pinacoteca de São Paulo.
Trata-se da última parada da exposição
‘Mulheres Radicais: arte latino-americana, 1960-1985’, que já esteve no Hammer
Museum, de Los Angeles, e no Brooklyn Museum, em Nova York, em 2017.
Tendo como tema principal o corpo
político, a exposição se divide nos subtemas da auto representação (auto retratos),
corpo e paisagem, mapeamento do corpo, erotismo, poder das palavras e corpo performático,
resistência à dominação, feminismos e lugares sociais.
Segundo a historiadora de arte
venezuelano-britânica Cecilia Fajardo-Hill, uma das curadoras que vieram a São
Paulo para a abertura da exposição, a temática do corpo é central devido à mudança
de perspectiva que as artistas trouxeram para a história da arte.
O corpo feminino, antes objeto da
representação – frequentemente nu, quase sempre por um homem – também produz
arte e conduz uma pesquisa sobre si mesmo. Essa pesquisa mudou radicalmente a
iconografia do corpo na arte.
Entre os anos 1960 a 1980, as nações
latino-americanas viveram ditaduras que, mais do que serem o pano de fundo da
produção dessas artistas, atravessam suas obras e suas vidas – muitas foram
presas ou exiladas. É também um período fértil na invenção de novas mídias,
vital para a construção da arte contemporânea e para a transformação das
representações simbólicas e figurativas do corpo feminino.
Além de Cecilia Fajardo-Hill, a
curadoria também conta com a pesquisadora ítalo-argentina Andrea Giunta e com a
colaboração de Valéria Piccoli, curadora-chefe da Pinacoteca.
Na edição brasileira da exposição,
cinco obras foram acrescentadas. São trabalhos de artistas que já haviam sido
levantados pelas curadoras, mas cujas obras não foi possível apresentar nos
Estados Unidos.
O Nexo lista abaixo as obras
exclusivas da exposição brasileira, acompanhadas de algumas imagens cedidas
pela Pinacoteca e comentadas pela curadora-chefe da Pinacoteca, Valéria
Piccoli, em entrevista.
❶
‘Sem título’, Maria do Carmo Secco (1967)
‘Em uma das primeiras conversas que eu
tive com a Andrea e a Cecilia no sentido de adaptar a exposição à Pinacoteca,
mostrei a elas coisas que estavam no acervo do museu e que poderiam integrar a
exposição. Imediatamente, quando essas obras chegaram, disseram que sempre
quiseram mostrar obras da Maria do Carmo Secco, mas não havia obras
disponíveis.
Essa é uma obra que faz parte da
coleção do museu. Com sua linguagem
bastante pop, Secco expressa a questão do desejo da mulher, que se encaixa
nesta seção [da exposição] dedicada ao erótico, no sentido da expressão clara
do desejo feminino’.
A
artista
Nasceu em 1933 em Ribeirão Preto, São
Paulo. Estudou pintura, desenho e história da arte na Escola Nacional de Belas
Artes e, a partir de 1963, frequentou oficinas de arte no Museu de Arte Moderna
do Rio de Janeiro.
Realizou sua primeira exposição
individual em 1964, na Galeria Vila Rica, no Rio de Janeiro. Participou de
importantes exposições coletivas do período, como a 8ª Bienal de São Paulo
(1965) e Opinião 66, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (1966).
Inspirada por histórias em quadrinhos
e pelo cinema, com uma narrativa dividida em quadros em que o corpo se
fragmenta, Secco se apropriou da maneira como a publicidade, o cinema e a
televisão representam o corpo feminino para criticar a condição da mulher.
Faleceu em 2013 no Rio de Janeiro.
❷ ‘Arqueologia
do Desejo – ventre’, Nelly Gutmacher, 1982
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Terracota e Óxidos |
‘A Nelly Gutmacher é uma artista ainda
atuante no Rio de Janeiro. No final dos anos 1970 e início dos anos 1980, faz
experimentações com cerâmica moldando partes do corpo. E é sempre um corpo que
não é perfeito, um corpo com cicatrizes, marcas. Até hoje ela trabalha com essa
técnica, experimentando com cerâmicas e ácidos para alterar o resultado final
da peça’.
A
artista
Nascida no Rio de Janeiro, em 1941.
Gutmacher iniciou sua trajetória artística no começo dos anos 1970 com a
produção de colagens.
As obras do período inicial de sua
carreira trazem imagens de corpos em fragmentos, em meio a cenas e paisagens de
inspiração surrealista.
Em suas obras tridimensionais,
usava o próprio corpo como molde.
Produziu em cerâmica uma série de partes do corpo feminino: ventre, colo,
seios, costas e braços, sobre os quais criou detalhes em relevo, como colares e
lingerie em renda.
Sua produção após os anos 2000
consiste, principalmente, em trabalhos bidimensionais, como desenhos,
fotografia e fotocolagens.
❸ ‘Yohn Lennon’ de María Eugenia Chellet (1968)
‘Na seção autorretrato, temos outro
acréscimo à exposição: a artista mexicana María Eugenia Chellet que se
representa aqui como John Lennon. E intitula o trabalho ‘Yohn Lennon’, que é
uma mistura entre ‘yo’ [eu, em espanhol] e John. Era uma artista que também já
fazia parte do levantamento das curadoras mas que, no final, não conseguiram o
trabalho a tempo de entrar na itinerância nos Estados Unidos’.
A
artista
María Eugenia Chellet nasceu na Cidade
do México em 1948. É uma artista multidisciplinar que trabalha com performance,
fotocolagem, videoarte, objetos e instalações.
Sua produção é centrada no
autorretrato e explora como as mulheres, ao longo da história da arte e na
cultura popular – desenhos animados, pin ups, fotonovelas e publicidade –,
foram celebradas, fetichizadas e estereotipadas. Permanece em atividade até
hoje.
❹
Registros (livro objeto) de performances
de Yolanda Freyre: ‘Pele de bicho, alma de flor’, 1974 e ‘Achei’, 1976
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Divulgação ‘Pele de Bicho, Alma de Flor, Livro Objeto de 1974 |
‘Nos anos 1970, a Yolanda Freyre fez
uma série de performances em que ela se transforma em elementos da natureza:
uma flor, um animal. Os registros de performance eram montados em álbuns em que
ela acrescenta poemas e escritos dela, são livros-objetos que ela guarda. O
público pode manipular os fac-símiles [dos álbuns]’.
A
artista
Yolanda Freyre nasceu em São Luís, no
Maranhão, em 1940. Em 1967 mudou-se para o Rio de Janeiro para iniciar
tratamento em psicanálise e iniciou sua formação artística.
Em meados da década de 1970, perdeu
seu irmão, vítima da repressão da ditadura militar brasileira.
Passou a abordar esse contexto de
violência em sua produção; realizou passeatas e intervenções, em espaços
públicos, e em seguida passou a realizar performances em sua casa para um
público restrito. Suas performances são marcadas por um aspecto ritual.
A partir do final dos anos 1990, sua
produção volta a se concentrar em temas ligados ao ambiente doméstico, memórias
pessoais, natureza e maternidade.
❺
Série Cotidiano, Wilma Martins (1972-1982)
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Reprodução ‘sem título’, Série Cotidiano, 1973, Nanquim e Ecoline sobre papel (50,5x30,5cm) |
‘As pinturas dela têm sempre essa
característica de serem muito sutis. [Na série Cotidiano] uma pintura branca
quase invisível de espaços cotidianos, da vida e esses espaços são
estranhamente invadidos por elementos da natureza que criam essa tensão no
espaço doméstico’
A
artista
Nascida em Belo Horizonte em 1934,
Wilma Martins iniciou sua formação artística entre 1953 e 1956, quando
frequentou, em sua cidade natal, a Escola Guignard, importante centro de
formação que foi responsável pela renovação do panorama artístico local.
Atuou como ilustradora e diagramadora
de jornais e revistas de Belo Horizonte e do Rio de Janeiro, onde se
estabeleceu a partir de 1966. Também ilustrou livros infantis e idealizou
figurinos para o Balé Klauss Vianna e para o Teatro Experimental, ainda na
década de 1960.
O desenho e a pintura são constantes
na trajetória de Martins. Em seu processo de trabalho, a artista transita
constantemente entre as duas técnicas.
Em sua série de trabalhos mais conhecida,
Cotidiano (1975-1984), essa correlação é notável.
Fonte: Juliana Domingos de Lima |
=Nexo
(JA, Ago18)
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