Alfons
Hug, curador da mostra em cartaz no CCBB-SP, mostra produção
distante de estereótipos
da série 'Genesis' de Kudzanai Chiurai, zimbabuense |
A frase em
latim ‘Ex Africa semper aliquid novi’, do escritor romano Caio Plínio, dita há
2.000 anos, significa ‘da África sempre há novidades a reportar’.
A partir desta
ideia, o curador alemão Alfons Hug montou a exposição ‘Ex Africa’ que conta com
18 artistas de oito países africanos, e dois artistas brasileiros.
Segundo o
curador, a ideia da mostra —que passou pelo CCBB do Rio de Janeiro e o de Belo
Horizonte— é mostrar a produção artística africana sem estereótipos aos quais
estamos acostumados, como objetos de artesanato e referencias iconográficas.
‘A África
mudou. Os estereótipos são ultrapassados e, durante os últimos 20 anos, o
continente teve um aumento de infraestrutura nas artes. Ainda é pouco, mas hoje
há, por exemplo, um museu de arte contemporânea na Nigéria’, afirma o curador.
Hug —que foi
curador da Bienal em 2002 e assina a atual edição da Bienal do Mercosul— diz
ainda que, devido à ascendência e ao crescimento da arte afro-brasileira,
incluiu os brasileiros Arjan Martins e Dalton Paula na mostra.
A mostra
estará no CCBB até o dia 16 de julho. Ao entrar no prédio, a gigantesca obra ‘Out
of Bounds’, de Ibrahim Mahama, recebe o espectador.
Ao usar uma
costura de sacos de juta, que são fabricados na Ásia e importados para Gana, a
obra aborda assuntos como as migrações, a globalização e as trocas econômicas.
'Exchange for Life', Ndidi Dike |
Única artista
mulher da mostra, a nigeriana Ndidi Dike reúne utensílios originais utilizados
durante a escravidão, que remetem ao sofrimento humano e à cobiça, na obra
denominada ‘Exchange for Life’ (troca pela vida, em tradução livre).
Representando
o Zimbábue, Kudzanai Chiurai mistura referências e personagens na série ‘Genêsis’.
Nas fotos da
série, o colonizador e o colonizado aparecem em posições invertidas, e o artista
joga com a ideia de voltar ao passado para reescrevê-lo, propondo um novo
presente.
Já os
trabalhos dos brasileiros selecionados são fruto dos estudos que Arjan Martins
e Dalton Paula realizaram no Brazilian Quarter, bairro da Abuja, capital da Nigéria,
que foi construído por brasileiros que retornaram ao continente após a abolição
da escravatura.
‘Quis fazer um
link entre o Brasil e Egito’, diz Youssef Limoud
Pedaços de
materiais encontrados nas ruas de São Paulo compõem a porção principal de ‘Geometry
of Passing’, trabalho que o egípcio Youssef Limoud expõe em uma das salas do
CCBB.
Em entrevista, Limoud disse que seu trabalho se propõe como um diálogo com as ruínas
das cidades afetadas pelas guerras no Oriente Médio.
‘Pode ser
tanto como na Síria, onde as ruínas são literais, concretas e é possível ver
tudo sendo devastado, como no Egito, em que ruínas é um termo mais metafórico’,
diz o artista, que considera que seu país natal vive, hoje, ‘os tempos mais
escuros’.
Segundo ele, o
trabalho reflete sobre a sua frustração com a Primavera Árabe.
‘Naquele dia
[em 2011, quando Hosni Mubarak, foi deposto após manifestações populares],
voltamos todos para casa com sentimento de conquista. Hoje, vivemos tempos
ainda piores, pessoas desaparecem nas ruas depois de escreverem algo contra o
governo no Facebook’.
O artista, que
hoje vive na Suíça, conta que quis fazer uma ligação com o Brasil em sua obra,
já que, para ele, há muitas similaridades com o seu país natal.
‘Vocês também
têm uma desigualdade social muito alta. O Brasil não tem problemas como o
terrorismo, mas tem formas diferentes de violência, como o tráfico de drogas’,
diz o artista.
Ao chegar a
uma cidade nova, o artista costuma entrar em um ônibus sem saber o destino e
busca conhecer locais aleatoriamente.
É uma prática
que ele diz ter repetido, sem medo e apesar das advertências de perigo feitas
pelos locais, no Rio de Janeiro e em Belo Horizonte.
Limoud diz que
considera São Paulo uma ‘cidade fachada’. ‘É tudo bonito e parece uma cidade
cosmopolita, mas, se você pega um ônibus, você está dentro da favela em menos
de dez minutos. É por trás desta fachada que se encontra o meu trabalho’, diz.
Ex Africa
CCBB-SP, r. Álvares Penteado, 112, tel. (11)
3253-3227.
De qua. a seg. das 9h às 21h.
Grátis.
Até 16/7
Texto: Isabella Menon |
FSP
(JA, Mai18)
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