terça-feira, 1 de maio de 2018

'Ex Africa' traz seleção de obras de artistas contemporâneos do continente


Alfons Hug, curador da mostra em cartaz no CCBB-SP, mostra produção distante de estereótipos


da série 'Genesis' de Kudzanai Chiurai, zimbabuense




A frase em latim ‘Ex Africa semper aliquid novi’, do escritor romano Caio Plínio, dita há 2.000 anos, significa ‘da África sempre há novidades a reportar’.

A partir desta ideia, o curador alemão Alfons Hug montou a exposição ‘Ex Africa’ que conta com 18 artistas de oito países africanos, e dois artistas brasileiros.

Segundo o curador, a ideia da mostra —que passou pelo CCBB do Rio de Janeiro e o de Belo Horizonte— é mostrar a produção artística africana sem estereótipos aos quais estamos acostumados, como objetos de artesanato e referencias iconográficas.

‘A África mudou. Os estereótipos são ultrapassados e, durante os últimos 20 anos, o continente teve um aumento de infraestrutura nas artes. Ainda é pouco, mas hoje há, por exemplo, um museu de arte contemporânea na Nigéria’, afirma o curador.

Hug —que foi curador da Bienal em 2002 e assina a atual edição da Bienal do Mercosul— diz ainda que, devido à ascendência e ao crescimento da arte afro-brasileira, incluiu os brasileiros Arjan Martins e Dalton Paula na mostra.

A mostra estará no CCBB até o dia 16 de julho. Ao entrar no prédio, a gigantesca obra ‘Out of Bounds’, de Ibrahim Mahama, recebe o espectador.

Ao usar uma costura de sacos de juta, que são fabricados na Ásia e importados para Gana, a obra aborda assuntos como as migrações, a globalização e as trocas econômicas.

'Exchange for Life', Ndidi Dike



Única artista mulher da mostra, a nigeriana Ndidi Dike reúne utensílios originais utilizados durante a escravidão, que remetem ao sofrimento humano e à cobiça, na obra denominada ‘Exchange for Life’ (troca pela vida, em tradução livre).

Representando o Zimbábue, Kudzanai Chiurai mistura referências e personagens na série ‘Genêsis’.

Nas fotos da série, o colonizador e o colonizado aparecem em posições invertidas, e o artista joga com a ideia de voltar ao passado para reescrevê-lo, propondo um novo presente.

Já os trabalhos dos brasileiros selecionados são fruto dos estudos que Arjan Martins e Dalton Paula realizaram no Brazilian Quarter, bairro da Abuja, capital da Nigéria, que foi construído por brasileiros que retornaram ao continente após a abolição da escravatura.

‘Quis fazer um link entre o Brasil e Egito’, diz Youssef Limoud

Pedaços de materiais encontrados nas ruas de São Paulo compõem a porção principal de ‘Geometry of Passing’, trabalho que o egípcio Youssef Limoud expõe em uma das salas do CCBB.

Em entrevista, Limoud disse que seu trabalho se propõe como um diálogo com as ruínas das cidades afetadas pelas guerras no Oriente Médio.

‘Pode ser tanto como na Síria, onde as ruínas são literais, concretas e é possível ver tudo sendo devastado, como no Egito, em que ruínas é um termo mais metafórico’, diz o artista, que considera que seu país natal vive, hoje, ‘os tempos mais escuros’.

Segundo ele, o trabalho reflete sobre a sua frustração com a Primavera Árabe.

‘Naquele dia [em 2011, quando Hosni Mubarak, foi deposto após manifestações populares], voltamos todos para casa com sentimento de conquista. Hoje, vivemos tempos ainda piores, pessoas desaparecem nas ruas depois de escreverem algo contra o governo no Facebook’.

O artista, que hoje vive na Suíça, conta que quis fazer uma ligação com o Brasil em sua obra, já que, para ele, há muitas similaridades com o seu país natal.

‘Vocês também têm uma desigualdade social muito alta. O Brasil não tem problemas como o terrorismo, mas tem formas diferentes de violência, como o tráfico de drogas’, diz o artista.

Ao chegar a uma cidade nova, o artista costuma entrar em um ônibus sem saber o destino e busca conhecer locais aleatoriamente.

É uma prática que ele diz ter repetido, sem medo e apesar das advertências de perigo feitas pelos locais, no Rio de Janeiro e em Belo Horizonte.

Limoud diz que considera São Paulo uma ‘cidade fachada’. ‘É tudo bonito e parece uma cidade cosmopolita, mas, se você pega um ônibus, você está dentro da favela em menos de dez minutos. É por trás desta fachada que se encontra o meu trabalho’, diz.





Ex Africa
CCBB-SP, r. Álvares Penteado, 112, tel. (11) 3253-3227.
De qua. a seg. das 9h às 21h.
Grátis.
Até 16/7



Texto: Isabella Menon   |   FSP



(JA, Mai18)

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