quinta-feira, 26 de abril de 2018

Poluição de São Paulo vira obra de arte na Somerset House, em Londres


Artista Michael Pinsky monta instalação que simula o ar de algumas metrópoles do mundo

A poluição de São Paulo virou parte de uma obra de arte no centro de Londres.

Para marcar o Dia Mundial da Terra, celebrado no último domingo, o artista Michael Pinsky montou na capital britânica a obra ‘Pollution Pods’ (cápsulas de poluição, numa tradução livre).

Trata-se de uma instalação que permite que as pessoas experimentem a sensação de respirar o ar poluído de algumas das maiores metrópoles do mundo.
Mulher veste máscara para se proteger da poluição em Pequim, na China


A obra é composta de cinco bolhas de plástico em tamanho gigante que são interligadas e distribuídas em forma de círculo.


Quatro delas reproduzem as características do ar, dos cheiros e da temperatura nas cidades de São Paulo, Londres, Nova Déli e Pequim. A outra bolha imita o ar puríssimo da ilha da Tautra, no norte da Noruega.

Erguida no pátio de Somerset House, uma mistura de galeria e centro cultural num prédio histórico às margens do rio Tâmisa, Pollution Pods convida os visitantes a entrar e atravessar as cinco bolhas, comparando a qualidade do ar que respiram em cada uma delas.

Pinsky quis, com a obra, promover um debate sobre o impacto das ações humanas no meio ambiente e os efeitos do aquecimento global.

Ele contou com a ajuda de cientistas para recriar as condições de cada uma das cidades, variando no interior de cada cápsula os níveis de ozônio, material particulado, dióxido de nitrogênio e monóxido de carbono, entre outros gases.

Computadores mostram os níveis dessas substâncias, realmente parecidos com os registrados em cada uma das metrópoles.

Mas, segundo o artista, sem perigo para a saúde, já que se fica pouco tempo em cada bolha.

A instalação ‘Pollution Pods’, do artista Michael Pinsky, em cartaz no centro cultural Somerset House, em Londres

Entra-se na instalação pela melhor parte: respirando-se o ar puro da ilha norueguesa. Ali, tudo é tão confortável que chega-se a sentir um cheiro suave do próprio plástico usado para a construção da bolha, a baixa temperatura e mais nada.


Na sequência, todos os visitantes passam pelas cápsulas que representam Londres (que conta com grande concentração de dióxido de nitrogênio por causa da grande frota de veículos a diesel), Nova Déli (muito quente e com muito material particulado) e Pequim (índices altos de quase tudo, o que incomoda bastante e é -como na vida real- a pior de todas as experiências).

A obra termina exatamente na bolha de São Paulo.

Lá, achei que me sentiria em casa. De cara, um erro na grafia do nome da cidade: ‘São Paolo’, dizia a placa...

Ignorei a bobagem e decidi então ficar lá alguns minutos. Fechei os olhos e tentei me imaginar no simpático bairro da Lapa, onde cresci. Só consegui ficar com um pouco de dor de cabeça.

Mas acabei agradecendo a Pinsky por não ter incluído no pacote o repugnante fedor do rio Tietê em dias quentes. Essa sim teria sido uma experiência insuportável para qualquer um naquele ambiente fechado.

A obra já foi apresentada uma vez na Noruega. Agora, veio a Londres -mas fica por aqui só até amanhã.

Espera-se que Pinsky ainda leve a instalação às outras três cidades que fazem parte da mostra.

Assim, o paulistano também poderá comparar o desastre ambiental que a humanidade vem causando em todos os continentes.

E morrer de inveja da Noruega.



Texto: Américo Martins, Jornalista escreve sobre a vida em Londres, onde mora pela terceira vez -num total de 15 anos   |   FSP



(JA, Abr18)

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