sábado, 21 de abril de 2018

Frans Krajcberg revela o sofrimento das plantas em mostras em São Paulo



Artista morto em 2017 é tema de exposições na galeria de Paulo Kuczynski e no Museu Afro Brasil
Após a morte de Frans Krajcberg em novembro de 2017, o galerista Paulo Kuczynski decidiu abrir coleção do artista plástico ao público, com obras adquiridas ao longo de 14 anos.
Na galeria que leva o nome de Kuczynski, poderão ser vistas 25 obras do artista conhecido como o expoente da arte ecológica.
O título ‘A Natureza Como Atelier’ foi escolhido pelo próprio galerista, uma referência à Pierre Restany, que dizia que o ateliê de Krajcberg era a própria natureza.
‘A gente vive um drama da destruição do planeta, por isso o trabalho dele é tão atual e talvez seja cada vez mais’, diz Kuczynski.
Kuczynski adquiriu obras desde o início dos anos 1960 até o final dos anos 1980.
Enquanto de Piet Mondrian, 1872-1944, esgotou todas as suas possibilidades para chegar no quadro geométrico, Krajcberg quis rever o quadrado para voltar à arte.
No resultado desses trabalhos, há obras como a escultura de tronco de árvore ‘Flor de Chão’ e o quadro ‘Fleurs’ com formas que remetem a flores, mas são, na verdade, uma espécie de câncer da árvore que explode no tronco.

‘Parece uma flor, mas é o sofrimento da planta’, diz Kuczynski, que vê que esse aspecto transmite certa dualidade no trabalho do artista.
Para ele, a fama que o artista levou de ‘difícil e amargo e ranzinza’ é mais que justificável, já que Krajcberg —nascido em 1921 na Polônia— veio para o Brasil após perder a família em um campo de concentração na Segunda Guerra.
‘Ele não acreditava mais no ser humano, e viu na natureza um refúgio e único bem que sobrou diante do descalabro da guerra e descrença que ele passou a ter com tudo’, diz.
O uso de materiais da natureza é a marca do artista, mas para o galerista se difere muito do trabalho, por exemplo, de Marcel Duchamp, pai do ready-made, que ‘pega um objeto e o retira do contexto’.

Casa de Franz Krajcberg, em Nova Viçosa-BA
‘A natureza é, para Krajcberg, a provedora de um material que ele vai trabalhar’, define o galerista.
Além da galeria, o Museu Afro Brasil inaugura, no sábado (21), cinco mostras, entre elas duas individuais que homenageiam Mestre Didi (1917-2013) e outra, Krajcberg.
O artista que dizia que suas obras refletiam um pedido de socorro da natureza, será representado na mostra ‘Um Frans’, com esculturas e fotos.
Também serão abertas também as coletivas ‘Os Africanos – O Olhar Europeu da Fotografia Contemporânea’, ‘África Contemporânea’ e ‘África e a Presença dos Espíritos’”.

A Natureza como Atelier -Frans Krajcberg
Paulo Kuczynski Escritório de Arte, al. Lorena, 1.661. Seg. a sex. das 9h30 às 18h30 e sáb. das 10h às 14h, até 30/5, grátis
Um Frans
Museu Afro Brasil, av. Pedro Álvares Cabral, portão 10. Sáb. (21) às 11h, até 10/6. Ter. a dom.: 10h às 17h. R$ 6 de terç. a sex. e dom., sáb.: grátis


Texto: Isabella Menon   |   FSP

(JA, Abr18)

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