segunda-feira, 9 de abril de 2018

Imagens Escritas

                                                                                      

Recentemente, Augusto vinha dirigindo pela estrada numa manhã ensolarada, quando viu alguns bois, andando por uma trilha no campo, em fila, descendo de uma elevação. Provavelmente estavam indo em busca de água, alimento, do frescor da sombra das árvores, ou da segurança do seu estábulo.

Algumas horas mais tarde, já na área urbana, estava na janela de um alto edifício de escritórios, aguardando para ser atendido. Olhou para baixo e viu o trânsito intenso na avenida de duas pistas existente em frente ao prédio -  automóveis, ônibus e motos, trafegando, nos dois sentidos; um atrás do outro, cada qual levando pessoas, seguindo para cumprir objetivos, a caminho dos seus destinos.                                                                            
Aquilo o impactou e o fez questionar qual seria a diferença entre primeiro e o segundo grupo – ambos, embora de natureza tão diferente, se moviam para cumprir o compromisso com a vida que escolheram, por opção ou compulsão. Cada grupo, no seu nível de percepção, estava fazendo o que considerava fosse o melhor a ser feito para manter a sua qualidade de vida, subsistência, razão de viver.

Uma comparação horrível, se considerar que estamos nivelando o comportamento de animais irracionais com o de seres humanos, com tudo o que isso representa.  Entretanto, pensando friamente, não há muita diferença em termos de motivação.  É claro que as pessoas têm mais alternativas do que os bois. Podem optar por seguir o caminho de todo o dia, mantendo-se no conforto e na segurança do habitual, do esperado; ou mudar, tentar seguir um caminho diferente, que poderá ser mais satisfatório - embora, eventualmente, possa implicar em mais  trabalho e riscos.  Por outro lado, os bois...

No finalmente, concluiu que não iria chegar a lugar nenhum desenvolvendo esse raciocínio.  Mas uma dúvida ainda persistia: Por que, inconscientemente, reuniu as duas cenas que visualizou em momentos, locais e com protagonistas tão diferentes?

Augusto administra alguns blogs, escreve com facilidade sobre diversos assuntos, mas  nunca foi além de crônicas e comentários. E, sobre isso,  tinha uma dúvida recorrente:   ‘Por que não tinha o impulso e a vontade de  escrever algo mais elaborado, com um enredo envolvendo muitos personagens, com idas e vindas, suspense, com um início, um meio e um fim – o fim provável ou, eventualmente, inesperado?’ 

Surpreendentemente, esse fato, e mais as duas visões que teve naquela manhã, que reuniu inconscientemente, trouxeram a luz, a resposta:

‘Os dois momentos tinham  um significado único, que sentiu, captou. Dai, não foi difícil inferir que, talvez, ele fosse um ‘pintor’. Um pintor que, ao invés de ‘imagens pintadas’, produzisse ‘imagens escritas’. Suas palavras teriam o poder de levar o leitor a pensar, a definir, o ‘quadro’ imaginado pelo autor, de acordo com própria experiência, sensibilidade’.

Essa resposta tranquilizou Augusto e, se certo ou errado –não sei, parou de se preocupar em escrever um romance, algo mais complexo. Decidiu que vai continuar compondo as suas ‘imagens escritas’, retratando aquilo que o sensibilize, que considere que mereça ser compartilhado com as outras pessoas, e, principalmente, enquanto isso lhe fizer se sentir bem comigo mesmo.  

Ou seja, neste momento, ele optou por continuar seguindo seu caminho de todo o dia, mantendo-se no conforto e na segurança do habitual, do esperado.  E você?





 (JA, Abr18)

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