segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

Morto há 30 anos, Volpi ganha mostra no museu nacional de Mônaco


‘Esses dez minutos finais são os mais importantes para a exposição’, dizia o curador Cristiano Raimondi antes da abertura de uma retrospectiva de Alfredo Volpi, 1896-1988, na semana retrasada. Intitulada ‘La Poétique de la Couleur’ - a poética da cor, a mostra foi idealizada e concluída em apenas 90 dias no Museu Nacional de Mônaco.
A pressão aumenta quando uma das convidadas é a princesa Caroline de Hanover, de Mônaco, filha da atriz Grace Kelly, 1929-1982. A monarca, que costuma ler contos de Clarice Lispector aos netos, foi uma das primeiras a apreciar a exposição.
Conhecido entre os brasileiros pelas famosas pinturas que retratam bandeirinhas e fachadas de casas do Cambuci, o bairro do centro paulistano onde o artista passou quase toda a sua vida, Volpi ainda não é tão conhecido em terras europeias como, por exemplo, Tarsila do Amaral, grande influência do pintor, assim como o francês Matisse e o italiano Morandi.
Essa mostra, no ano que se completam 30 anos da sua morte, marca o início de uma nova era para Volpi: é a primeira vez que a carreira do artista é exposta em uma instituição pública fora do Brasil.
Para Pedro Mastrobuono, diretor do Instituto Volpi, que conviveu com o artista e lembra dele ‘andando de chinelo de madeira fumando seu cigarrinho de palha’, a falta de popularidade do artista Brasil afora ‘traduz muito sua personalidade, de um homem simples que não gostava de bajulação, não era representado por galeristas nem gostava de falar de si’.
Mas, somente no último ano, obras de Volpi foram exibidas na galeria nova-iorquina Barbara Goldstone e, além de Mônaco, uma mostra com fins comerciais foi aberta, na sexta (16), na galeria S2 da Sotheby's, em Londres, organizada pela galerista paulistana Luisa Strina.
RETROSPECTIVA
 De origem humilde, Volpi iniciou o contato com a arte como pintor decorativo de casarões. Foi dali que, em 1914, começou a pintar em telas.
As obras dos anos 1920 e 1930, época em que seus quadros ainda mostravam certo classicismo, não estão na mostra monegasca. Segundo Cristiano Raimondi, essa foi uma escolha sua para tornar a exposição mais didática e interessante aos locais.
Com mais de 80 trabalhos, de coleções particulares e financiada pela galeria Almeida e Dale, a exposição mostra a carreira do colorista das décadas de 1940 a 1970.
Pinturas que retratam paisagens rurais e urbanas estão na primeira parte da exposição. Nessa época, as telas eram predominantemente feitas à base de tinta a óleo, que mais tarde seria substituída pela têmpera.
Elas são seguidos pelas criações do período ‘concreto’ de Volpi, feitas nos anos 1950 após a sua participação na primeira Bienal de São Paulo.
Analisando algumas obras da exposição, como uma em que um padre é retratado, Mastrobuono relembra que Volpi não gostava de classificações nem era adepto de algum movimento artístico.
‘Se isso é uma obra concreta, esse padre teria dificuldades de locomoção, além de um pé 42 e outro 37’, brinca o diretor do instituto sobre a não simetria utilizada pelo artista em seus trabalhos.
A exposição segue com obras dos anos 1960 e 1970, reunindo pinturas das famosas bandeirinhas intercaladas por mastros que trazem à sua obra cores e ritmo.


PAIXÃO BRASILEIRA
Essa não é a primeira vez que o curador Cristiano Raimondi leva um artista brasileiro a Mônaco. Em 2015, as criações do fotógrafo Hercule-Florence foram expostas no principado francês. A partir disso, ele teve o primeiro contato com o trabalho de Volpi.
‘Na verdade, eu não gosto de pinturas, sou apaixonado por fotografia’, contou Raimoni durante um jantar em Mônaco. Mas, segundo ele, logo que viu as obras de Volpi ficou fascinado pelas cores e formas com que ele trabalha.
Foi por meio de Raimondi e após o contato com o franco-brasileiro Florence que a diretora do museu, Marie-Claude Beaud, conheceu melhor a carreira de Volpi.
Segundo o curador, outras instituições na Europa --cujos nomes ele preferiu não citar-- já demonstraram interesse em receber mostra, mas o martelo ainda não foi batido com nenhuma delas.
A retrospectiva ‘La Poétique de la Couleur’ fica em cartaz no Museu Nacional de Mônaco até o dia 20 de maio, com ingressos a 6 euros.


Texto: Isabella Menon, Mônaco   |   FSP



(JA, Fev18)

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