‘Esses dez
minutos finais são os mais importantes para a exposição’, dizia o curador
Cristiano Raimondi antes da abertura de uma retrospectiva de Alfredo Volpi, 1896-1988,
na semana retrasada. Intitulada ‘La Poétique de la Couleur’ - a poética da cor,
a mostra foi idealizada e concluída em apenas 90 dias no Museu Nacional de
Mônaco.
A pressão
aumenta quando uma das convidadas é a princesa Caroline de Hanover, de Mônaco,
filha da atriz Grace Kelly, 1929-1982. A monarca, que costuma ler contos de
Clarice Lispector aos netos, foi uma das primeiras a apreciar a exposição.
Conhecido
entre os brasileiros pelas famosas pinturas que retratam bandeirinhas e
fachadas de casas do Cambuci, o bairro do centro paulistano onde o artista
passou quase toda a sua vida, Volpi ainda não é tão conhecido em terras
europeias como, por exemplo, Tarsila do Amaral, grande influência do pintor,
assim como o francês Matisse e o italiano Morandi.
Essa mostra,
no ano que se completam 30 anos da sua morte, marca o início de uma nova era para
Volpi: é a primeira vez que a carreira do artista é exposta em uma instituição
pública fora do Brasil.
Para Pedro
Mastrobuono, diretor do Instituto Volpi, que conviveu com o artista e lembra
dele ‘andando de chinelo de madeira fumando seu cigarrinho de palha’, a falta
de popularidade do artista Brasil afora ‘traduz muito sua personalidade, de um
homem simples que não gostava de bajulação, não era representado por galeristas
nem gostava de falar de si’.
Mas, somente
no último ano, obras de Volpi foram exibidas na galeria nova-iorquina Barbara
Goldstone e, além de Mônaco, uma mostra com fins comerciais foi aberta, na
sexta (16), na galeria S2 da Sotheby's, em Londres, organizada pela galerista
paulistana Luisa Strina.
RETROSPECTIVA
De origem humilde, Volpi iniciou o contato com
a arte como pintor decorativo de casarões. Foi dali que, em 1914, começou a
pintar em telas.
As obras dos
anos 1920 e 1930, época em que seus quadros ainda mostravam certo classicismo,
não estão na mostra monegasca. Segundo Cristiano Raimondi, essa foi uma escolha
sua para tornar a exposição mais didática e interessante aos locais.
Com mais de 80
trabalhos, de coleções particulares e financiada pela galeria Almeida e Dale, a
exposição mostra a carreira do colorista das décadas de 1940 a 1970.
Pinturas que
retratam paisagens rurais e urbanas estão na primeira parte da exposição. Nessa
época, as telas eram predominantemente feitas à base de tinta a óleo, que mais
tarde seria substituída pela têmpera.
Elas são
seguidos pelas criações do período ‘concreto’ de Volpi, feitas nos anos 1950
após a sua participação na primeira Bienal de São Paulo.
Analisando
algumas obras da exposição, como uma em que um padre é retratado, Mastrobuono
relembra que Volpi não gostava de classificações nem era adepto de algum
movimento artístico.
‘Se isso é uma
obra concreta, esse padre teria dificuldades de locomoção, além de um pé 42 e
outro 37’, brinca o diretor do instituto sobre a não simetria utilizada pelo
artista em seus trabalhos.
A exposição
segue com obras dos anos 1960 e 1970, reunindo pinturas das famosas
bandeirinhas intercaladas por mastros que trazem à sua obra cores e ritmo.
PAIXÃO
BRASILEIRA
Essa não é a
primeira vez que o curador Cristiano Raimondi leva um artista brasileiro a
Mônaco. Em 2015, as criações do fotógrafo Hercule-Florence foram expostas no
principado francês. A partir disso, ele teve o primeiro contato com o trabalho
de Volpi.
‘Na verdade,
eu não gosto de pinturas, sou apaixonado por fotografia’, contou Raimoni
durante um jantar em Mônaco. Mas, segundo ele, logo que viu as obras de Volpi
ficou fascinado pelas cores e formas com que ele trabalha.
Foi por meio
de Raimondi e após o contato com o franco-brasileiro Florence que a diretora do
museu, Marie-Claude Beaud, conheceu melhor a carreira de Volpi.
Segundo o
curador, outras instituições na Europa --cujos nomes ele preferiu não citar--
já demonstraram interesse em receber mostra, mas o martelo ainda não foi batido
com nenhuma delas.
A
retrospectiva ‘La Poétique de la Couleur’ fica em cartaz no Museu Nacional de
Mônaco até o dia 20 de maio, com ingressos a 6 euros.
(JA, Fev18)
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