Em cartaz em Lisboa, mostra reúne obras que retratam o clima da
partida
A
transferência da família real portuguesa para o Brasil, fugindo do cerco das
tropas de Napoleão, deixou marcas em ambos os lados do Atlântico. Uma exposição
em Portugal explora os impactos que essa mudança teve para os dois países.
A partir de
uma pintura de Nicolau Delerive que representa o embarque dos nobres em Belém,
em 29 de novembro de 1807, a mostra 'A Partida da Família Real'
apresenta a jornada que transferiu pela primeira vez a capital de um Estado
europeu para fora dos limites continentais.
Embora a
estratégia de mudar a Corte para além-mar tivesse sido criada muito antes, sua
execução abalou profundamente Portugal.
Até aquele
momento, nenhum monarca europeu tinha nem sequer posto os pés em uma de suas
colônias. Mudar-se com a família e a Corte para uma delas, então, era
definitivamente algo fora do imaginário da época.
Antes de Partir
Em cartaz no
Museu dos Coches, no bairro de Belém —não muito distante de onde o embarque
aconteceu—, a exposição traz uma série de obras e documentos que retratam o
clima que antecedeu a partida da nobreza.
‘Foram cerca
de 15 mil pessoas em vários navios. Levaram a biblioteca, carruagens, coches,
cadeirinhas... Uma confusão’, explica Silvana Bessone, diretora do museu e
comissária da exposição.
‘Diz-se muito
que foi uma fuga, mas foi um ato planejado e estratégico’, comenta Bessone.
São mais de 80
obras provenientes de várias instituições portuguesas, como o Museu da Marinha,
Museu Nacional de Etnologia, os Palácios Nacionais de Queluz e da Ajuda, o
Museu de Lisboa e a Biblioteca Nacional de Portugal, entre outros.
Além de
quadros retratando a viagem, há documentos históricos raros, como as cartas que
sinalizaram o percurso e a direção que os barcos fizerem na travessia entre
Portugal e Brasil.
Um dos
destaques é uma réplica em miniatura da nau em que viajou dom João 6º: o
imponente Príncipe Real.
Choque
A exposição
destaca ainda como foi a estadia da família real no Rio de Janeiro, entre 1808
e 1821. O choque cultural e o desenvolvimento econômico e político da
ex-colônia, então promovida a Reino Unido, marca muitas das obras expostas.
Da
incorporação de figuras indígenas em itens improváveis, como um requintado
saleiro de prata, até correspondências que demonstravam a irritação da rainha
Carlota Joaquina com o clima tropical, tem-se uma boa representação do ritmo
acelerado das mudanças.
Além das
imagens retratando como eram as casas e a indumentária da época, é possível ver
a espada original usada por dom João 6, que traz o nome do rei gravado na
lâmina de metal
Memória sobre as minas da capitania de
Minas Gerais, em 1801, documento exposto na mostra portuguesa
A exposição
também retrata o retorno da família real a Portugal. Além de um quadro que
apresenta a população do Rio de Janeiro se despedindo do rei e da rainha, a
mostra apresenta a carta requisitando a volta da nobreza à metrópole.
A antecâmara
da exposição tem ainda fotografias do artista brasileiro Rafael d'Alò, que
fazem uma representação hiper-realista do ambiente tropical.
Para completar
a ambientação da época, a trilha sonora conta com músicas da soprano brasileira
Luisa Sawaya, que interpreta canções típicas do século 19.
A mostra ‘A
Partida da Família Real’ fica em cartaz até 3 de junho de 2018 e pode ser
visitada de terça a domingo
Texto:
Giuliana Miranda, Lisboa | FSP
(JA, Fev18)
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