quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

Exposição lusitana resgata fuga da família real para o Brasil

Em cartaz em Lisboa, mostra reúne obras que retratam o clima da partida

A transferência da família real portuguesa para o Brasil, fugindo do cerco das tropas de Napoleão, deixou marcas em ambos os lados do Atlântico. Uma exposição em Portugal explora os impactos que essa mudança teve para os dois países.

                 Visitantes da exposição ‘A Partida da Família Real’, no Museu dos Coches, em Lisboa

A partir de uma pintura de Nicolau Delerive que representa o embarque dos nobres em Belém, em 29 de novembro de 1807, a mostra 'A Partida da Família Real' apresenta a jornada que transferiu pela primeira vez a capital de um Estado europeu para fora dos limites continentais.
Embora a estratégia de mudar a Corte para além-mar tivesse sido criada muito antes, sua execução abalou profundamente Portugal.
Até aquele momento, nenhum monarca europeu tinha nem sequer posto os pés em uma de suas colônias. Mudar-se com a família e a Corte para uma delas, então, era definitivamente algo fora do imaginário da época.
Antes de Partir
Em cartaz no Museu dos Coches, no bairro de Belém —não muito distante de onde o embarque aconteceu—, a exposição traz uma série de obras e documentos que retratam o clima que antecedeu a partida da nobreza.
‘Foram cerca de 15 mil pessoas em vários navios. Levaram a biblioteca, carruagens, coches, cadeirinhas... Uma confusão’, explica Silvana Bessone, diretora do museu e comissária da exposição.
‘Diz-se muito que foi uma fuga, mas foi um ato planejado e estratégico’, comenta Bessone.
São mais de 80 obras provenientes de várias instituições portuguesas, como o Museu da Marinha, Museu Nacional de Etnologia, os Palácios Nacionais de Queluz e da Ajuda, o Museu de Lisboa e a Biblioteca Nacional de Portugal, entre outros.
Além de quadros retratando a viagem, há documentos históricos raros, como as cartas que sinalizaram o percurso e a direção que os barcos fizerem na travessia entre Portugal e Brasil.
Um dos destaques é uma réplica em miniatura da nau em que viajou dom João 6º: o imponente Príncipe Real.
Choque
A exposição destaca ainda como foi a estadia da família real no Rio de Janeiro, entre 1808 e 1821. O choque cultural e o desenvolvimento econômico e político da ex-colônia, então promovida a Reino Unido, marca muitas das obras expostas.
Da incorporação de figuras indígenas em itens improváveis, como um requintado saleiro de prata, até correspondências que demonstravam a irritação da rainha Carlota Joaquina com o clima tropical, tem-se uma boa representação do ritmo acelerado das mudanças.
Além das imagens retratando como eram as casas e a indumentária da época, é possível ver a espada original usada por dom João 6, que traz o nome do rei gravado na lâmina de metal
               Memória sobre as minas da capitania de Minas Gerais, em 1801, documento exposto na mostra portuguesa

A exposição também retrata o retorno da família real a Portugal. Além de um quadro que apresenta a população do Rio de Janeiro se despedindo do rei e da rainha, a mostra apresenta a carta requisitando a volta da nobreza à metrópole.
A antecâmara da exposição tem ainda fotografias do artista brasileiro Rafael d'Alò, que fazem uma representação hiper-realista do ambiente tropical.
Para completar a ambientação da época, a trilha sonora conta com músicas da soprano brasileira Luisa Sawaya, que interpreta canções típicas do século 19.
A mostra ‘A Partida da Família Real’ fica em cartaz até 3 de junho de 2018 e pode ser visitada de terça a domingo

Texto: Giuliana Miranda, Lisboa   |   FSP


(JA, Fev18)

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