Cidade tem programação especial para os 500 anos da morte do artista
Leonardo da Vinci,
1452-1519, passou a maior parte da vida adulta em Milão, no norte da Itália.
Nascido na região de Florença e morto na França, chegou à capital lombarda em
1482 e ali ficou por quase 20 anos. Seu legado pode ser visto ainda hoje na
cidade —em manuscritos, maquetes e pinturas.
Neste ano, em que se
comemoram os 500 anos de sua morte, algumas dessas peças estão expostas ao
público em caráter excepcional, como parte de uma programação que segue até
janeiro de 2020.
Depois de dar os primeiros
passos como artista em Florença, Da Vinci mudou de cidade aos 30 anos em busca
de reconhecimento e dinheiro.
Sua ida para Milão foi
consequência da chegada da família Sforza ao poder, em 1450. Ricos, eles
queriam deixar a cidade mais bonita, diz Claudio Giorgione, curador do Museu
Nacional de Ciência e Tecnologia Leonardo da Vinci.
‘Em 1482, quando Leonardo
chegou, a cidade estava em transformação, com muitas obras: a cúpula do Duomo
[a catedral], um novo hospital, igrejas’, diz Giorgione.
Da Vinci queria um emprego na
corte de Ludovico ‘il Moro’ e se dedicou, nos primeiros anos, a estudar
engenharia militar para impressioná-lo. Ao mesmo tempo, começou a prestar
atenção no sistema hidráulico da cidade, e começou a pensar em melhorias.
O resultado desses estudos
pode ser conferido em três locais: na Pinacoteca Ambrosiana, na Conca
dell’Incoronata, e no Museu de Ciência e Tecnologia que leva seu nome.
A pinacoteca detém o ‘Codex
Atlanticus’, com mais de mil folhas manuscritas por Da Vinci. É o conjunto de
obras do artista mais completo do mundo —outros originais estão espalhados por
museus, bibliotecas e coleções.
A Conca é uma eclusa urbana construída em 1496 com a ajuda de Da Vinci. Até hoje está a céu aberto, a poucos minutos do bairro de Brera. Já o museu tem uma coleção de mais de cem miniaturas baseadas nos registros vincianos. Dessas, 52 estão expostas na mostra ‘Leonardo Parade’, em cartaz até 31 de outubro.
‘Os desenhos que ele deixou
das eclusas são os primeiros da história’, afirma Giorgione. ‘Seus registros
são uma enciclopédia do conhecimento técnico daquele tempo’.
Está também em Milão sua
obra-prima, ‘A Última Ceia’. Da Vinci
iniciou a pintura, encomendada por Ludovico ‘il Moro’, em meados dos anos 1490
e levou quatro anos para finalizá-la.
‘Ninguém entendia por que
Leonardo era tão lento. E ele era, de fato, lento. Mudava de ideia a toda hora
e por isso não usou a técnica do afresco, mas sim uma técnica seca que não
permitiu que a tinta penetrasse na parede’, diz Giorgione.
A pintura está desaparecendo e, por isso, o acesso à sala onde está, no museu Cenacolo, é hipercontrolado. Apenas 30 pessoas podem entrar por vez, e só por 15 minutos.
Para dar conta da procura
neste ano, a prefeitura de Milão lançou um ingresso que permite visitar cinco
museus ligados a Da Vinci, incluindo o Cenacolo, e abriu 90 vagas por dia
exclusivas para quem compra esse pacote.
Onde ver obras do italiano
Pinacoteca Ambrosiana
Abriga duas importantes obras
de Da Vinci: a pintura ‘O Retrato de um Músico’ e o ‘Codex Atlanticus’. Pintado
em 1485, o quadro é seu único painel que restou Milão.
Foi durante a
restauração, em 1905, que uma partitura foi identificada nas mãos do músico
retratado, levando à hipótese de que ele teria sido um amigo do artista.
Já ‘Codex Atlanticus’ tem
mais de mil folhas manuscritas e cerca de 1.750 desenhos feitos entre 1478 e
1519, ano de sua morte. São registros de arquitetura, técnicas militares e
hidráulicas, anatomia e astronomia que exigem do visitante uma observação
atenta. Até 12 de janeiro a Ambrosiana organiza mostras com algumas das folhas
mais importantes. O museu fica na praça Pio XI, 2. O ingresso custa € 15 (R$
63). Mais informações em ambrosiana.it
Museu Cenacolo
Está ali ‘A Última Ceia’. Na
reforma da igreja de Santa Marie delle Grazie, Ludovico ‘il Moro’ pede para Da
Vinci pintar uma parede do refeitório do convento. O artista escolheu ilustrar
o momento em que Jesus diz aos apóstolos que um deles o trairia.
As reações de todos, o estudo
da luz e o uso da perspectiva explicam o fascínio pela obra. Com 460 x 880 cm,
o trabalho, iniciado em 1494, demoraria quatro anos para ser concluído e foi
feito sem a técnica do afresco, que permite melhor fixação da tinta na parede.
Por essa razão, o acesso à sala é limitado a 30 pessoas por vez, que só podem
ficar ali durante 15 minutos. É preciso agendar a visita. Dica: comprar pelo
telefone (com atendimento em italiano ou inglês) é mais fácil do que pelo site
oficial. E cuidado com sites falsos ou que cobram bem mais pelo tíquete, que
custa € 12 (R$ 50).
O museu fica na praça Santa Maria delle Grazie, 2. Mais
informações pelo site cenacolovinciano.vivaticket.it ou pelo telefone (+39) 02
92800360
Sala delle Asse
Um dos espaços mais
importantes do castelo Sforzesco foi reaberto neste ano ao público como parte
da programação em torno de Leonardo da Vinci. A sala, pintada pelo artista após
a ‘A Última Ceia’, também a pedido de Ludovico ‘il Moro’, só foi descoberta no
fim do século 19.
Nela, paredes e teto
reproduzem um pergolado com amoreiras entrelaçadas, além de raízes, troncos,
galhos e paisagens distantes.
Chamada de ‘Leonardo Mai Visto’ (Leonardo nunca
visto), a exposição conta com uma instalação audiovisual que ajuda o visitante
a entender a pintura e o trabalho de restauração, que continuará após 12 de
janeiro de 2020. Os ingressos custam € 10 (R$ 42). A sala fica no Castello
Sforzesco. Informações em
milanocastello.it
Pela cidade
Dois pontos a céu aberto (e
de acesso gratuito) mostram a ligação entre Da Vinci e Milão. Perto do
movimentado bairro de Brera está a eclusa Conca dell’Incoronata, construída em
1496, com a participação de Da Vinci. A obra tem portas que estiveram submersas
(hoje o canal está seco) e eram manobradas à mão para permitir uma passagem
controlada dos barcos.
Embora sua conservação não
seja excelente, é uma chance de ver ao vivo um projeto que foi tão estudado
pelo artista e tão presente em seus manuscritos.
Entre os pontos turísticos
mais famosos de Milão —o Duomo, a galeria Vittorio Emanuele II e o teatro
Scala— está uma estátua em homenagem a Da Vinci, feita de mármore de Carrara
por Pietro Magni e inaugurada em 1872.
A prefeitura de Milão vende
até 12 de janeiro um ingresso especial que permite visitar cinco museus ligados
a Leonardo da Vinci. Por € 40 (R$ 169), é possível ver a Sala delle Asse, a
Pinacoteca Ambrosiana, o Museu de Ciência e Tecnologia, a Pinacoteca de Brera
(onde há muitas pinturas de discípulos), e o Cenacolo Vinciano.
A compra está
condicionada ao agendamento da visita à ‘A Última Ceia’. Tíquetes extras estão
reservados para quem adquire o cartão. Mais informações disponíveis no site
cenacolovinciano.vivaticket.it
Fonte: Michele
Oliveira | FSP
(JA, Ago19)
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