quinta-feira, 8 de agosto de 2019

Gyo Fukikawa






Na revista ‘New Yorker’, saiu interessante matéria sobre a americana Gyo Fukikawa, 1908-1998. Ilustradora e escritora de livros infantis que se expressava com traços de singular delicadeza e inspiração. Filha de imigrantes japoneses que trabalhavam na viticultura da Califórnia, Gyo desde cedo mostrou seu talento.

Na escola, teve dificuldade para se ambientar entre colegas brancos; mas um professor percebeu seu potencial e a estimulou a se candidatar para uma bolsa no CalArts, instituto de artes plásticas.

Chegou a interromper os estudos para passar um ano no Japão e contatar vários artistas do país; a influência da arte japonesa marcaria sua obra. De volta à Califórnia, terminou o curso e foi contratada pelos estúdios Disney, onde participou dos desenhos promocionais para o célebre filme ‘Fantasia’.




Em 1941, a Disney a transferiu para a sucursal de Nova York. Isso a livrou dos campos de concentração  - após o ataque de Pearl Harbor, confinaram a colônia japonesa residente na costa do Pacífico, atendendo a suspeitas de espionagem jamais confirmadas. A medida atingiu cerca de 120.000 pessoas (em sua maioria, cidadãos americanos), inclusive os pais e o irmão de Gyo. Ela passou a  se sentir culpada por não ter sofrido a mesma provação.

Em Nova York, não demorou a iniciar sua carreira autônoma como ilustradora de livros. Nos anos 50, quebrando uma prática tradicional, conseguiu que seu trabalho fosse remunerado não por uma quantia fixa, mas em direitos autorais correspondentes a um porcentual sobre as vendas.




Depois de vários sucessos, Gyo lançou em 1963 o primeiro livro infantil de sua autoria, ‘Babies’. Teve a ideia de apresentar uma variedade étnica de bebês – ‘bebezinhos negros, asiáticos, todos os tipos...’ O editor relutou, temendo que imagens de bebês negros prejudicassem as vendas no Sul dos Estados Unidos.

Ela insistiu, e o livro saiu como pretendia; foi um best-seller, com cerca de dois milhões de exemplares vendidos, traduções para vinte idiomas. Esse livro  entrou para a história como o primeiro livro infantil com personagens multiétnicos.

Diferenciadas, mas universais, as figuras de Gyo cativam os leitores. Com raras presenças de adultos, quem domina a cena são tipicamente crianças de rosto redondo, com pontinhos pretos representando os olhos. Nem sempre crianças exultantes de alegria − também aparecem emoções infantis, como solidão ou raiva. Contava um livreiro que a filha de um cliente se emocionou tanto com o choro de uma criancinha mostrada em ‘Babies’ que foi buscar seu cobertor e o colocou na página do livro a fim de consolá-la...

Acometida por glaucoma e mal de Parkinson, Gyo foi cessando de escrever. Estava no final da vida

Sinto-me lisonjeada − contou a um entrevistador − quando me perguntam como consigo captar tão bem o modo de pensar e sentir das crianças. Não tive filhos, e minha infância não foi maravilhosa, mas é que talvez eu própria ainda me conserve como criança. Acho que uma parte de mim nunca chegou a crescer.






Imagens publicadas na 'New Yorker', por cortesia da Sterling Publishing Co.
Fonte: Antônio Carlos Boa Nova  |  AMDG



(JA, Ago19)



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