Mostras em Paris exibem projeções virtuais de obras de Da Vinci e Van Gogh
Van Gogh, ‘Noite Estrelada’ |
Agora que até a ‘Mona Lisa’,
obra-prima de Leonardo da Vinci, será exibida virtualmente no tradicionalíssimo
Museu do Louvre a partir do dia 24 de outubro, não restam mais dúvidas: as
exposições imersivas vieram para ficar.
Egon Schiele, 'Minha Irmã Gerta, 1909 |
A moda começou a se consolidar
no Atelier des Lumières em abril de 2018, com a exposição de Gustav Klimt e
Egon Schiele, que em nove meses levou 4 milhões de visitantes ao espaço
parisiense.
O Atelier continua provocando
filas com a mostra interativa de Van Gogh, que requer compra antecipada de
ingressos. Tudo bem, esse tipo de antecipação também é vital nas concorridas
exposições de museus convencionais, mas basta falar em experiência imersiva
para despertar o interesse de multidões, ávidas em interagir com as obras.
A experiência digital da ‘Mona
Lisa’ permitirá aos visitantes, por meios de óculos especiais, observar
minúcias do quadro mais famoso do mundo, com impressionantes proximidade e
resolução. Será como se os visitantes ultrapassassem o vidro protetor do museu
para verificar os detalhes da obra invisíveis a olho nu.
A exposição, ‘Mona Lisa: Além
do Vidro’, apresentará descobertas científicas sobre os métodos usados por Da
Vinci no quadro pintado entre 1503 e 1506 com a técnica sfumato, além de
informações adicionais sobre a nobre italiana Lisa del Giocondo, inspiradora do
trabalho.
Da Vinci talvez pudesse ver
com alguma naturalidade a exibição virtual de sua obra-prima, dada sua
intimidade com a inovação, que incluía até a dissecação de cadáveres para
aperfeiçoar seus quadros. Já Van Gogh, que não conheceu sucesso e
reconhecimento em vida, ficaria atônito se entrasse na exposição do Atelier des
Lumières, montada na antiga fundação de aço da família Plichon, na capital
francesa.
A sensação de ‘entrar’ em um
quadro de Van Gogh é arrebatadora. Um dos pontos altos das imagens projetadas
nas paredes de dez metros de altura do galpão é o tremular das águas do quadro ‘Noite
Estrelada’, que dá nome à exposição. A intensidade das pinceladas se torna mais
nítida pela ampliação da caótica e poética criação de Van Gogh.
As projeções, iniciadas pelo
ambiente na Holanda em que o pintor passou seus primeiros anos de vida, também
contemplam outros locais retratados em suas telas, como Arles, Paris e
Auvers-sur-Oise.
Tudo isso pode ser apreciado
por visitantes em movimento, sentados no chão nos carretéis de madeira
espalhados pelo espaço, nas escadas que levam a um segundo piso ou mesmo lá de
cima, com vista panorâmica. O público pode filmar e fotografar as imagens,
desde que o flash não seja acionado.
Trata-se de uma situação bem
diferente da vivenciada nas passivas exposições convencionais. Além de atraente
ao público, a experiência digital pode representar um fator de economia para os
museus. Sem a necessidade de ter no acervo as obras reais, eles deixariam de
arcar com os milionários custos dos seguros.
Durante 35 minutos, tempo de
visitação que cada pessoa pode repetir quantas vezes quiser —eu fiz três
passeios consecutivos—, as imagens, estáticas ou em movimento, são acompanhadas
por trilha sonora escolhida a dedo pelos realizadores: de Janis Joplin a Miles
Davis, passando por Vivaldi e Puccini.
Curiosamente, não há um único
francês entre os organizadores da mostra de Van Gogh. Todos são italianos. ‘Eu
quis conduzir os visitantes além da tradicional experiência de observar,
levando-os ao coração das obras, de maneira que eles se tornem um componente
integral da experiência imersiva’, explica Gianfranco Iannuzzi, coordenador dos
espaços imersivos.
E como Van Gogh sofreu fortes
influências da arte japonesa e sentiu-se no Japão ao chegar a Provence, a
mostra tem uma sequência, ‘Sonho Japonês, Imagens de um Mundo Flutuante’, cujo
auge é uma dança de lanternas japonesas flutuando pelo gigantesco espaço.
O Atelier des Lumières —que
guarda a sete chaves qual será sua próxima exposição, em 2020— já tem filiais
em Baux-de-Provence, na Coreia do Sul e abre outra no ano que vem na cidade de
Bordeaux.
Para a húngara Zuzana
Paternostro, radicada no Brasil, que por mais de 30 anos exerceu a curadoria de
pinturas estrangeiras no Museu Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro, ‘é
muito importante que a arte avance além dos muros dos castelos, para aproximar
ainda mais o público das obras, rompendo barreiras e fronteiras’.
Fonte: Celina Côrtes Ilustríssima, FSP
(JA, Ago19)
Nenhum comentário:
Postar um comentário