Mostras jogam luz sobre o trabalho de
artistas mulheres dos séculos 16 a 19, que não encontram espaço nos museus
Lavinia Fontana, 1552-1614 -^- 'Heilige Familie mit Elisabeth und dem Johannesknaben' |
Lavinia
Fontana teve tanto sucesso na pintura que seu marido largou o
trabalho para assumir a criação dos 11 filhos do casal.
Élisabeth Vigée Lebrun,1755-1842 -^- Self-Portrait, 1781 |
Elisabeth
Louise Vigée Le Brun foi a retratista oficial da corte de Luís 16, além da
artista favorita de Maria Antonieta.
Sofonisba Anguissola, 1532-1625 -^- Auto Retrato |
Sofonisba
Anguissola ganhou elogios de Michelangelo em pessoa.
Elas são apenas algumas das
pintoras atuantes entre os séculos 16 e 19 que o Masp apresenta em ‘Histórias
das Mulheres, Histórias Feministas’.
Dividida em duas mostras, a
primeira com trabalhos até 1900 e a segunda com obras a partir dos anos 2000, a
iniciativa é mais um capítulo na tentativa do museu de ampliar as vozes que
escreveram a história da arte —esforço que começou há três anos, com ‘Histórias
da Infância’.
Vale observar que as artistas
do século 20, aqui excluídas, guiam as exposições monográficas montadas no
resto do ano, como as de Tarsila do Amaral ou Lina Bo Bardi.
À frente de ‘Histórias das
Mulheres: Artistas até 1900’, junto a Julia Bryan-Wilson e Lilia Schwarcz,
Mariana Leme diz que os casos de Fontana
ou Anguissola são mais comuns do que
se imagina. Afinal, explica, a noção de que as mulheres não podiam ser artistas
profissionais, apenas amadoras, só foi quebrada no século 20.
Mas foi ela que ficou para
nós. Os museus de belas artes raras vezes exibem obras de mulheres nas paredes.
Os principais manuais de história da arte não citam seus nomes.
Artemisia Gentileschi, 1593-1653 -^- 'Allegory of Fame', 1630~1635 |
‘Parece um círculo vicioso.
Se você só vê isso’, diz Leme, apontando para duas pequeninas telas que
pertencem à coleção do Masp, ‘você tem a impressão de que as mulheres não
fizeram aquilo’, afirma, direcionando o olhar para uma pintura de dois metros
de altura da italiana Artemisia Gentileschi.
‘Isso é mentira, e as obras estão aqui para provar’.
Os trabalhos permitem
descobrir artistas pouco conhecidas, além de testemunhar as dificuldades que
elas enfrentaram ao longo dos séculos.
Adrienne Marie Louise Grandpierre Deverzy,1798-1869 -^- 'The Studio of Abel de Pujol' |
Dois quadros da francesa Adrienne Grandpierre-Deverzy são simbólicos nesse sentido. No primeiro, ela
retrata uma aula de arte para mulheres. Doze jovens se apinham no ateliê de
pintura. No segundo, um artista pinta uma mulher nua num estúdio vazio.
O desafio também atravessou a
organização da mostra, que garimpou os trabalhos em galerias e coleções
particulares —pouco mais da metade das pinturas expostas vêm de museus, aos
quais o público tem acesso. Leme acrescenta que mesmo as instituições
brasileiras não têm muito conhecimento das artistas mulheres que possuem nos
acervos.
Além das pinturas, ‘Histórias
das Mulheres’ exibe também têxteis de autoria feminina manufaturados na
Inglaterra, na Índia, nos Andes, no antigo Império Otomano e em outros lugares.
Um deles mostra as colchas costuradas por associações de mulheres americanas no
final do século 19 —as peças eram vendidas para financiar desde a Guerra de
Secessão a campanhas pelo sufrágio feminino.
Os ‘quilts’ servem como uma
espécie de transição para ‘Histórias Feministas: Artistas depois de 2000’, que
ocupa os andares subterrâneos do Masp. Outras obras feitas com tecido, de
bandanas a enormes painéis bordados, costumam ser mostradas ali.
A curadora Isabella Rjeille
diz que não quis mapear uma produção feminina contemporânea na mostra. Em vez disso, explica, os
artistas —a maioria, jovens latino-americanas, mas há um homem na seleção—
mostram como a vivência feminina pode ser associada a outras esferas de
ativismo.
Vestido de noiva da Daspu |
Dessa forma, o coletivo
Daspu, formado por prostitutas, costura um vestido de noiva a partir de lençóis
usados em bordéis. Virginia de Medeiros retrata as antigas vizinhas na ocupação do velho
edifício do INSS, no centro de São Paulo.
Outros trabalhos se debruçam
sobre as artistas mulheres que vieram antes delas. ‘As Páginas Brancas’, da
dupla sueca Eva Marie Lindahl e Ditte Ejlerskov
Viken, por exemplo, cria volumes para diversas artistas ignoradas
pela coleção de livros da editora Taschen. Seus miolos permanecem em branco.
Nenhuma das curadoras gosta
da ideia de uma história da arte feminina, no entanto. ‘Essa ideia de feminino
pressupõe que formamos blocos homogêneos’, afirma Leme.
Histórias das Mulheres, Histórias Feministas
MASP - Av. Paulista, 1578 - Bela Vista - Tel: 3149-5959
Abertura: sex. (23). Até 17/11 Qua. a dom., 10h Às 18h
| Ter.:Grátis
Fonte: Clara Balbi | FSP
(JA, Ago19)
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