Abertura: 7 agosto 2019
Visitação: 8 agosto a 29 setembro 2019
Curadoria: Diego Mauro, Luana
Fortes, Priscyla Gomes e Theo Monteiro
(Núcleo de Pesquisa e Curadoria do Instituto Tomie Ohtake)
O Instituto Tomie Ohtake
criou em 2013 o ‘Arte Atual’, uma plataforma para pesquisas
artísticas, de caráter experimental, na qual, por meio de uma questão sugerida
pelo seu Núcleo de Pesquisa e Curadoria, coordenado por Paulo Miyada, um grupo
de artistas convidado desenvolve um novo trabalho.
A oitava edição do programa
Arte Atual, ‘Jamais me olharás lá de onde te
vejo’, traz em seu título uma referência a uma frase do psicanalista
francês Jacques Lacan empregada no livro 11 de O Seminário denominado ‘Os Quatro Conceitos
Fundamentais da Psicanálise’.
‘Jamais me olharás lá de onde
te vejo’ apresenta trabalhos de Éder Oliveira, Regina Parra e Virginia de
Medeiros, a fim de empreender reflexões acerca tanto do retrato como gênero
pictórico quanto como forma de reconhecer e atribuir uma identidade ao
retratado.
O próprio ato de retratar
também permeia as questões da mostra, partindo de diferentes abordagens e
linguagens.
É possível, por intermédio
dos trabalhos, discutir parâmetros de como os artistas constroem os limites
entre o ‘eu’ e o ‘outro’, e delimitam relações de afinidade e de distinção.
Mais do que isso, os trabalhos presentes explicitam como os artistas convidados
se valem da figura humana como uma de suas ferramentas para abordar a violência
que imputamos ou a que são imputados nossos corpos, os limites e rastros do
tempo e a noção do corpo como um lugar de resistência.
A obra de Éder Oliveira resvala
sobretudo na pintura. Conhecido por coloridos retratos feitos em diferentes
escalas, cujo suporte pode variar da tela ao muro de cidades, o artista
paraense se apropria de imagens do caderno policial de jornais e recria imagens
majoritariamente masculinas.
Sua investigação pondera sobre o que se entende
como homem amazônico e traz à tona os altos índices de violência no norte do
Brasil. Se até pouco tempo atrás Oliveira pintava figuras solo, mesmo que
dispostas lado a lado em um contexto expositivo, agora o artista passa a pintar
pessoas em grupos.
Além disso, também é recente sua experiência de adicionar
texto às suas pinturas. Agora, seus trabalhos tendem a vir acompanhados de
citações literárias que servem comentários sobre a situação por ele
representada.
Já Regina Parra, traz no retrato um processo de desconstrução
mitológica sobre si.
Apesar de usar autorretratos fotográficos para escolher
quais imagens pintar, a artista não considera os resultados como autorretratos.
Com uma trajetória que já passou bastante pelo teatro, Parra afirma que
empresta seu corpo para experimentar posições, movimentos e enquadramentos.
Em ‘Jamais
me olharás lá de onde te vejo’, a artista exibe uma série de pinturas e de
neons, todos tendo como pano de fundo as peças ‘Dias Felizes’, 1961, e ‘Eu Não’,
1972,
do dramaturgo e escritor irlandês Samuel Beckett.
Virginia de
Medeiros, por sua vez, propõe uma
nova montagem para a série ‘Alma de Bronze’, 2016-2018, realizada a partir de
sua convivência com lideranças femininas da Frente de Luta por Moradia (FLM), do
Movimento Sem Teto do Centro (MSTC), iniciada com sua participação no ‘Programa
de Residência Artística Cambridge’ e posteriormente transmutada para a ‘Ocupação
9
de Julho’, onde exibiu uma primeira montagem do trabalho, que também foi
exposto no Centro Cultural São Paulo (CCSP).
Para o Instituto Tomie
Ohtake, o projeto ganha um formato mais aberto e experimental que pretende
servir como espaço para debates e conversas acerca dos acontecimentos mais
urgentes do MSTC, com uma programação a ser definida de acordo com as demandas
do movimento.
A nova montagem, de caráter
instalativo, traz retratos em vídeo de doze importantes líderes femininas da ‘Ocupação
9
de Julho’, ao som de uma percussão de Beth Belli, regente de tambores do ‘Ilú
Obá de Min’, que ressoa como um alerta e apenas cede o volume para as conversas
que lá acontecerão.
_________
Éder Oliveira (Timboteua,
PA, 1983) Vive e trabalha em Belém do Pará. Licenciado em Educação Artística -
Artes Plásticas pela Universidade Federal do Pará. Pintor por ofício, desde 2004 desenvolve
trabalhos relacionando retratos e identidade, tendo como objeto principal o
homem amazônico.
Entre bolsas e premiações,
destacam-se o Prêmio Pipa - Voto Popular Exposição, 2017, Lingener
Kunstpreis, 2016, (Alemanha), Rede Nacional Funarte Artes Visuais, 2015, Prêmio
Seiva Projetos Artísticos (Fundação Cultural do Pará, 2015), Bolsa
Funarte de Estímulo à Produção em Artes Visuais, 2014.
Possui trabalhos em acervo de
instituições como Centro de Arte Dos de Mayo - Madrid, Fundação Clóvis Salgado,
Fundação Marcos Amaro, Itaú Cultural, Kunsthalle Lingen - Alemanha, MAC Rio
Grande do Sul, Museu Casa das Onze Janelas, Museu de Arte de Belém e Museu de
Arte do Rio.
Regina Parra (São
Paulo, SP, 1984) vive e trabalha em São Paulo. Mestre em Teoria e
Crítica da Arte pela Faculdade Santa Marcelina (orientação de Lisette Lagnado)
e bacharel em Artes Plásticas pela Faap (orientação de Paulo Pasta).
Nos últimos anos, realizou
exposições individuais na Galeria Millan (SP), Pivô (SP), Centro Cultural São
Paulo (SP), Paço das Artes (SP), Fundação Joaquim Nabuco (PE) e Galeria Leme
(SP).
Virginia de Medeiros (Feira
de Santana, BA, 1973) vive e trabalha em São Paulo, SP. Mestre em Artes
Visuais pela Universidade Federal da Bahia. Em 2014 foi premiada no 18º Festival de
Arte Contemporânea Sesc-Videobrasil com a Bolsa na Residency Unlimited em Nova
York.
Seus trabalhos foram expostos
em numerosas ocasiões, entre elas, Behind the Sun-Prêmio Marcantônio Vilaça,
HOME, Manchester, Reino Unido; MAR Museu de Arte do Rio, Rio de Janeiro,
Brasil, 31ª Bienal de São Paulo, ‘São Paulo: Como procurar coisas que não existem’;
‘Rainbow in the Dark’ , ‘SALT Galata’, ‘Istambul’; ‘Salón de Belleza’ [Beauty
Salon], ‘Utopian Pulse – Flares in the Darkroom’, ‘Secessão de Viena,’ Viena,
Áustria; 27ª Bienal Internacional de São Paulo ‘Como Viver Junto’; ‘Itinerários,
Itinerâncias: 32º Panorama de Arte Brasileira’, MAM-SP; 2ª Trienal de
Luanda ‘Geografias Emocionais’, ‘Arte e Afectos’ – ‘Projeto 3 Pontes’,
Espaço Palladium, Luanda.
Fonte: Instituto Tomie Ohtake
(JA, Ago19)
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