sexta-feira, 2 de agosto de 2019

Arte Atual | Jamais me olharás lá de onde te vejo






Abertura: 7 agosto 2019
Visitação: 8 agosto a 29 setembro 2019

Curadoria: Diego Mauro, Luana Fortes, Priscyla Gomes e Theo Monteiro  (Núcleo de Pesquisa e Curadoria do Instituto Tomie Ohtake)

O Instituto Tomie Ohtake criou em 2013 o ‘Arte Atual’, uma plataforma para pesquisas artísticas, de caráter experimental, na qual, por meio de uma questão sugerida pelo seu Núcleo de Pesquisa e Curadoria, coordenado por Paulo Miyada, um grupo de artistas convidado desenvolve um novo trabalho.

A oitava edição do programa Arte Atual, ‘Jamais me olharás lá de onde te vejo’, traz em seu título uma referência a uma frase do psicanalista francês Jacques Lacan empregada no livro 11 de O Seminário denominado ‘Os Quatro Conceitos Fundamentais da Psicanálise’.

‘Jamais me olharás lá de onde te vejo’ apresenta trabalhos de Éder Oliveira, Regina Parra e Virginia de Medeiros, a fim de empreender reflexões acerca tanto do retrato como gênero pictórico quanto como forma de reconhecer e atribuir uma identidade ao retratado.

O próprio ato de retratar também permeia as questões da mostra, partindo de diferentes abordagens e linguagens.

É possível, por intermédio dos trabalhos, discutir parâmetros de como os artistas constroem os limites entre o ‘eu’ e o ‘outro’, e delimitam relações de afinidade e de distinção. Mais do que isso, os trabalhos presentes explicitam como os artistas convidados se valem da figura humana como uma de suas ferramentas para abordar a violência que imputamos ou a que são imputados nossos corpos, os limites e rastros do tempo e a noção do corpo como um lugar de resistência.

A obra de Éder Oliveira resvala sobretudo na pintura. Conhecido por coloridos retratos feitos em diferentes escalas, cujo suporte pode variar da tela ao muro de cidades, o artista paraense se apropria de imagens do caderno policial de jornais e recria imagens majoritariamente masculinas. 

Sua investigação pondera sobre o que se entende como homem amazônico e traz à tona os altos índices de violência no norte do Brasil. Se até pouco tempo atrás Oliveira pintava figuras solo, mesmo que dispostas lado a lado em um contexto expositivo, agora o artista passa a pintar pessoas em grupos. 

Além disso, também é recente sua experiência de adicionar texto às suas pinturas. Agora, seus trabalhos tendem a vir acompanhados de citações literárias que servem comentários sobre a situação por ele representada.

Regina Parra, traz no retrato um processo de desconstrução mitológica sobre si.

Apesar de usar autorretratos fotográficos para escolher quais imagens pintar, a artista não considera os resultados como autorretratos. Com uma trajetória que já passou bastante pelo teatro, Parra afirma que empresta seu corpo para experimentar posições, movimentos e enquadramentos. 

Em ‘Jamais me olharás lá de onde te vejo’, a artista exibe uma série de pinturas e de neons, todos tendo como pano de fundo as peças ‘Dias Felizes’, 1961, e ‘Eu Não’, 1972, do dramaturgo e escritor irlandês Samuel Beckett.

Virginia de Medeiros, por sua vez, propõe uma nova montagem para a série ‘Alma de Bronze’, 2016-2018, realizada a partir de sua convivência com lideranças femininas da Frente de Luta por Moradia (FLM), do Movimento Sem Teto do Centro (MSTC), iniciada com sua participação no ‘Programa de Residência Artística Cambridge’ e posteriormente transmutada para a ‘Ocupação 9 de Julho’, onde exibiu uma primeira montagem do trabalho, que também foi exposto no Centro Cultural São Paulo (CCSP). 

Para o Instituto Tomie Ohtake, o projeto ganha um formato mais aberto e experimental que pretende servir como espaço para debates e conversas acerca dos acontecimentos mais urgentes do MSTC, com uma programação a ser definida de acordo com as demandas do movimento.

A nova montagem, de caráter instalativo, traz retratos em vídeo de doze importantes líderes femininas da ‘Ocupação 9 de Julho’, ao som de uma percussão de Beth Belli, regente de tambores do ‘Ilú Obá de Min’, que ressoa como um alerta e apenas cede o volume para as conversas que lá acontecerão.

_________


Éder Oliveira (Timboteua, PA, 1983) Vive e trabalha em Belém do Pará. Licenciado em Educação Artística - Artes Plásticas pela Universidade Federal do Pará. Pintor por ofício, desde 2004 desenvolve trabalhos relacionando retratos e identidade, tendo como objeto principal o homem amazônico.

Entre bolsas e premiações, destacam-se o Prêmio Pipa - Voto Popular Exposição, 2017, Lingener Kunstpreis, 2016, (Alemanha), Rede Nacional Funarte Artes Visuais, 2015, Prêmio Seiva Projetos Artísticos (Fundação Cultural do Pará, 2015), Bolsa Funarte de Estímulo à Produção em Artes Visuais, 2014.

Possui trabalhos em acervo de instituições como Centro de Arte Dos de Mayo - Madrid, Fundação Clóvis Salgado, Fundação Marcos Amaro, Itaú Cultural, Kunsthalle Lingen - Alemanha, MAC Rio Grande do Sul, Museu Casa das Onze Janelas, Museu de Arte de Belém e Museu de Arte do Rio.


Regina Parra (São Paulo, SP, 1984) vive e trabalha em São Paulo. Mestre em Teoria e Crítica da Arte pela Faculdade Santa Marcelina (orientação de Lisette Lagnado) e bacharel em Artes Plásticas pela Faap (orientação de Paulo Pasta).

Nos últimos anos, realizou exposições individuais na Galeria Millan (SP), Pivô (SP), Centro Cultural São Paulo (SP), Paço das Artes (SP), Fundação Joaquim Nabuco (PE) e Galeria Leme (SP).


Virginia de Medeiros (Feira de Santana, BA, 1973) vive e trabalha em São Paulo, SP. Mestre em Artes Visuais pela Universidade Federal da Bahia. Em 2014 foi premiada no 18º Festival de Arte Contemporânea Sesc-Videobrasil com a Bolsa na Residency Unlimited em Nova York.

Seus trabalhos foram expostos em numerosas ocasiões, entre elas, Behind the Sun-Prêmio Marcantônio Vilaça, HOME, Manchester, Reino Unido; MAR Museu de Arte do Rio, Rio de Janeiro, Brasil, 31ª Bienal de São Paulo, ‘São Paulo: Como procurar coisas que não existem’; ‘Rainbow in the Dark’ , ‘SALT Galata’, ‘Istambul’; ‘Salón de Belleza’ [Beauty Salon], ‘Utopian Pulse – Flares in the Darkroom’, ‘Secessão de Viena,’ Viena, Áustria; 27ª Bienal Internacional de São Paulo ‘Como Viver Junto’; ‘Itinerários, Itinerâncias: 32º Panorama de Arte Brasileira’, MAM-SP; 2ª Trienal de Luanda ‘Geografias Emocionais’, ‘Arte e Afectos’ – ‘Projeto 3 Pontes’, Espaço Palladium, Luanda.







Fonte: Instituto Tomie Ohtake


(JA, Ago19)





Nenhum comentário:

Postar um comentário