Pátio do Instituto Moreira Salles recebe
peças de 19 metros de altura que pesam 140 toneladas
O escultor Richard Serra não
gosta de monumentos. Nem do ‘brutalismo extremo, quadrado, sem nuances’, de São
Paulo. Mas sua primeira obra na cidade parece negar todo esse discurso.
Na contramão da ideia de
leveza e transparência da torre envidraçada do Instituto Moreira Salles, as
duas lâminas de aço que ele fincou no pátio do centro cultural numa das pontas
da Paulista são lápides secas, duras, impenetráveis.
Escultura 'Echo' de Richard Serra |
E, ao menos nas dimensões,
monumentais —elas têm quase 20 metros de altura e juntas pesam mais de 140
toneladas. Tanto que tiveram de esperar dois anos para serem montadas, o tempo
que engenheiros levaram para estudar as correntes de vento da avenida até ter
certeza que as placas não tombariam sobre gente —uma peça do americano já desabou e matou um operário— nem sobre os
prédios.
Serra, um dos maiores nomes
da arte contemporânea, é da geração de autores que despontou na década de 1960
e então redefiniu a ideia de escultura, a maioria deles homens que fizeram de
suas obras um desafio à escala da paisagem. Deixaram marcas gigantescas no
horizonte, em rios, desertos, campos e praias, a chamada ‘land art’.
Caminhão transporta lâminas de aço da escultura 'Echo' |
Mas não são monumentos. ‘É
equivocado falar em monumentalidade em relação ao meu trabalho’, ele afirma. ‘Monumentos
elogiam uma pessoa, um lugar, um acontecimento. Uma escultura em grande escala
não significa monumentalidade’.
No caso de Serra, são obras
que não expressam mais que o impacto acachapante do próprio peso, a força da
matéria pura como espetáculo.
‘O peso é um valor para mim’, diz. ‘Não é mais
convincente do que a leveza, mas tenho mais a dizer sobre o equilíbrio do peso,
a concentração do peso, o posicionamento do peso, os efeitos psicológicos do
peso, a rotação do peso, a desorientação do peso’.
O artista plástico americano Richard Serra, 74 |
Toneladas à parte, Serra
reconhece nessa nova escultura o efeito contrário. ‘A verticalidade faz o
trabalho parecer mais leve que sua massa’, diz. ‘E a experiência da escultura
vista do chão é inquietante por causa da agitação que ocorre ao olhar para cima’.
Ele fala da vertigem causada
pelas placas, que se tornam blocos um tanto ameaçadores quando vistos contra o
céu da cidade. Do quinto andar do Instituto Moreira Salles, no entanto, são só
obstáculos meio carrancudos retalhando a vista da metrópole.
Muito antes de mover
carregamentos mastodônticos de metal para forjar essas peças que já encheram o
Grand Palais, em Paris, o Guggenheim de Bilbao, na Espanha, e praças públicas
mundo afora, Serra já tentava traduzir a ideia de movimento mesmo em suas obras
um tanto estáticas.
Os nomes de suas primeiras
esculturas, por exemplo, eram verbos. Rolar, cortar, arremessar, escorar foram
algumas das ações que embasaram as peças dos primórdios de seu trabalho. Num
filme da mesma década de 1960, ele mostra mãos tentando agarrar um pedaço de
chumbo em queda livre, tornando visível o atrito entre as ideias de peso e
leveza, imobilidade e movimento, que embasam toda escultura.
Mais tarde, já na fase mais
espetacular de sua obra, a preocupação com o movimento se desloca das peças
para o corpo do espectador, que adentra seus labirintos metálicos. ‘O movimento
corporal pela escultura é uma premissa básica do meu trabalho’, diz.
Serra nega, no entanto, uma
dimensão política desse caminhar. Mesmo já tendo criticado em cartazes os
abusos políticos do governo americano na Guerra do Iraque, e fazendo questão de
chamar o presidente Donald Trump de ‘mentiroso patológico’ e ‘ditador
narcisista’, ele diz que seria exagero pensar a forma como suas obras ditam os
passos do público como metáfora para um comentário político qualquer.
‘Isso seria hiperbólico’, diz
o homem que passou suas mais de oito décadas de vida pensando e construindo
coisas muito maiores do que ela.
RICHARD
SERRA
Quando Ter., qua. e sex. a dom.: 10h às 20h. Qui.: 10h às 22h. Abre sáb. (23)
Onde IMS - av. Paulista, 2.424, tel. (11) 2842-9120
Preço Grátis
Fonte: Silas Martí | FSP
(JA, Fev19)
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