Artista pediu a Lydia Vainer o mapa
astral da avenida Paulista para instalar 'Anchor the Sky' no Sesc
Na primeira quinzena de
fevereiro, o artista Artur Lescher passou por uma espécie de depressão
pós-parto. Depois de meses gestando a obra ‘Anchor the Sky’, que
ocupa agora o mezanino do Sesc Avenida Paulista com seus 21 metros de altura,
ele sentiu como se tivesse parido um filho, mas sequer conseguiu visitá-lo nos
primeiros dias de vida. ‘Me senti muito exposto, me deu um negócio e eu não
queria nem ver’, conta.
Lescher, que chegou a pensar
em cursar arquitetura antes de enveredar pelas artes plásticas, costuma criar
esculturas e instalações sempre em diálogo com o espaço onde estão inseridas.
Desde seus primeiros trabalhos, como o da Bienal de São Paulo em 1987 —onde
dois polígonos estavam separados pelos vidros do edifício, quase como
espelhos—, a relação entre obra e arquitetura aparece como fundamental.
Com ‘Anchor the Sky’, não
foi diferente. Instalada na fachada do edifício, ao ar livre, a obra dialoga
não só com o Sesc como com as estrelas Hamal e Shedir, para as quais está
apontada. Sua posição, a sete graus de touro, foi definida em conjunto com a
astróloga Lydia Vainer, que realizou, a pedido de Lescher, o mapa astral da
unidade da avenida Paulista.
‘Comecei a desenvolver peças
que guardam relações com as estrelas, constelações. É uma arquitetura quase
ancestral’, explica o artista. Ele percebeu que poderia explorar a relação das
obras com o espaço sideral quando viu ‘Para Walter’, a agulha de concreto que
criou como contraponto à horizontalidade de um conjunto arquitetônico, apontada
para o céu de Escobar, na Argentina, em 2015.
Em ‘Anchor the Sky’,
Lescher associa o caráter masculino e independente de Hamal, ao lado feminino e
amoroso de Shedir. ‘Se aponto para uma estrela, há conhecimento sobre ela e
essas informações podem ser ativadas’, explica. ‘Se é verdade, não me
interessa, pois acredito no ficcional’, completa o artista, que tem na
construção narrativa uma das potências do seu trabalho e consegue enxergar nos
materiais que utiliza até mesmo personalidade.
Para ‘Anchor the Sky’,
no entanto, ele retornou apenas uma semana após a obra ter sido instalada. ‘Tive
uma impressão boa, e vi que as pessoas já a adotaram’, diz Lescher, que agora
se dedica à próxima cria.
Fonte: Nina Rahe | FSP
(JA, Fev19)
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