Exposição de designer japonês e festival de 'wearable' têm de
roupa fotossensível a joias 3D
Desde que o
termo ‘wearable technology’ [tecnologia vestível] entrou no dicionário da moda,
tenta-se unir ‘nerds’ e ‘fashionistas’ para que, juntos, consigam criar o traje
do futuro. Dos frutos dessa união, porém, só incontáveis versões de relógios
inteligentes caíram no gosto, e nos pulsos, da massa. O desafio é tornar belas,
ou ao menos ‘vestíveis’, as geringonças saídas dos centros de pesquisa.
A partir
desta terça (6), São Paulo apontará caminhos palpáveis para esse casamento com
uma exposição do estilista japonês Kunihiko Morinaga na Japan House, a primeira
de moda da instituição paulistana, e o festival de tecnologia vestível WeAr,
que começa em 12 de novembro, com atividades na multimarca Cartel 011, na zona
oeste.
Um dos
raríssimos estilistas especializados na área, Morinaga trouxe à cidade criações
que emitem luz ao serem tocadas, roupas fotossensíveis que ganham cor e formas
quando iluminadas, e vestidos da última coleção de sua grife, a Anrealage,
cujos paetês reagentes à luz foram destaques na última semana de moda de Paris,
no mês passado.
Diferentemente
da ideia de ‘gadget’, um acessório de vestuário conectado ao celular ou com
alguma utilidade prática para usá-lo, suas roupas utilizam a tecnologia têxtil
com propósito estético. E ele leva as aparências ao pé da letra.
Como se
reproduzisse a importância da cultura digital na confecção de roupas, sua
primeira instalação é um conjunto de roupas brancas que esconde cores e
estampas visíveis apenas sob a luz do flash. A olho nu a roupa é minimalista,
conserva a costura japonesa, mas na foto, berra em cores e formas de origami.
‘Meu propósito é questionar o que é real aos
nossos olhos. Tento transformar peças banais do cotidiano em algo irreal,
mostrando a matéria tátil e um outro lado que parece não existir’, diz
Morinaga, horas antes da inauguração de ‘A Light Un Light’ (um trocadilho para
algo como ‘Uma Luz, sem Luz).
O jogo de
sombras que o título da mostra sugere está explícito na série de vestidos
rendados cortados a laser que, colados a bases pretas, parecem saltar do corpo.
Morinaga cria o efeito de sombra estática, um truque óptico que só simula a
noção de tridimensionalidade nas peças.
Elas
reproduzem o processo criativo do designer, premiado por transferir para a
produção de moda um olhar de arte, que é de iniciar suas coleções a partir de
palavras.
‘Aqui [no
bloco de rendas] meu ponto de partida foi a sombra e como ela pode mudar a
forma da pessoa quando posicionada de uma forma específica’, explica. ‘Tento
provar que esse pensamento também é moda’.
A mesma
ideia se aplica a uma sala em que três vestidos estão no meio de um círculo no
qual uma luz corre ininterruptamente em volta delas. Dependendo do lugar onde o
espectador está, as formas e a cartela de cores assumem tonalidades diferentes.
Esse esforço
de colocar o têxtil em favor da criação escancara a face escondida da indústria
fashion tradicional, bem menos inovadora do que ela prova ser a cada temporada.
‘Quando comecei a desfilar em Paris muita gente criticou, disse que meu trabalho
não deveria estar ali [na passarela]’, conta Morinaga.
‘Mas, se
pensarmos no significado da moda, de representar uma época, é a indústria que
está atrasada em não tentar inserir as possibilidades da tecnologia real na criação
de roupas’.
Foi pelo
mesmo caminho de tornar acessível a tecnologia que a consultora Alexandra Farah
concebeu a quarta edição do WeAr, único festival de ‘wearable gadgets’ do país.
Se nas
primeiras edições ela se empenhou em trazer a São Paulo o tênis autoamarrável
do filme ‘De Volta Para o Futuro 2’, 1989, e uma jaqueta jeans da Levi’s que,
por meio de nanotecnologia, tem propriedades ‘touch screen’, nessa preferiu
botar os pés no chão e apoiar designers locais.
Em parceria
com a Amazon, Farah montou um estande na loja Cartel 011 na qual as pessoas
poderão provar joias feitas em impressora 3D pela empresa WeMe, bolsas que,
quando ligadas na tomada, cozinham alimentos, e uma outra que usa placas
fotovoltaicas para carregar o smartphone com energia solar.
‘Percebi que
não há inovação sem sustentabilidade, tanto econômica quanto ambiental. Sem
esses dois conceitos, caímos no campo das ideias de ‘clube de inventores’,
aqueles que produzem acessórios sem propósito’, explica Farah.
Propondo
alternativas para o varejo, ela também mostrará soluções como a da marca Genyz,
do estilista Caire Moreira, que desenvolveu um processo de customização no qual
o cliente é escaneado por meio de um tablet e tem suas medidas exatas calculadas.
A IBM também
lançará, no primeiro dia do evento, a primeira blockchain do Brasil. Trata-se
de uma espécie de ferramenta na nuvem que, a partir de uma tag ou código colado
à roupa, permite ao usuário acessar as etapas de produção daquela peça, desde
quem colheu o algodão até quem costurou a peça.
‘É uma boa
oportunidade para empresas serem mais transparentes em seus processos. A
tecnologia não pode servir apenas para solucionar a vida de quem compra, mas
também de quem faz’, afirma a diretora do evento.
Segundo ela,
a grande sacada na nova geração de ‘designers tecnológicos’ é aplicar a
inovação têxtil em favor dos recursos naturais do planeta, como, por exemplo, a
criação de um tecido feito a partir da teia da aranha, que pode substituir a
seda tradicional.
‘É um engano
achar que o mundo vai se desindustrializar para se tornar ecológico. Mas
devemos imaginar novos caminhos, porque desde antes dos tempos de Jesus Cristo
usamos os mesmos linho, algodão e seda’.
Onde ver
Anrealage - A Light Un Light
Japan House – Av. Paulista, 52, São Paulo
De ter. a sáb., das 10h às 22h. Dom e feriados, das
10h às 18h
Até 6/1/2019
Grátis
WeAr Brasil 2018
Cartel 011 – Rua Artur Azevedo, 517, São Paulo
Dia 12/11, à partir das 9h, e 13/11, às 17h
De R$ 260 a R$ 477
Fonte: Pedro Diniz
| FSP
(JA, Nov18)
Nenhum comentário:
Postar um comentário