segunda-feira, 26 de novembro de 2018

Galeria em NY exibe experimentos da carreira inicial de Hélio Oiticica



Exposição mais intimista mostra trabalhos que antecipam sua investigação tridimensional



Um ano depois de ocupar dois andares no museu Whitney, em Nova York, o carioca Hélio Oiticica ganha uma exibição mais íntima na galeria Lelong & Co., com dois quadros da série Metaesquemas expostos pela primeira vez nos Estados Unidos.
As quase 20 obras foram produzidas entre 1955 e 1959 e fazem parte da mostra ‘Spatial Relief and Drawings’ (relevo espacial e desenhos, em tradução livre).
São trabalhos do Grupo Frente e da série ‘Metaesquemas’, que antecipam as investigações tridimensionais que marcariam a fase Relevo Espacial do artista.
No Grupo Frente, no qual entrou aos 18 anos, ele conheceu as artistas plásticas Lygia Clark e Lygia Pape.
As experimentações com esculturas da primeira serviriam como inspiração para algumas obras de Oiticica, que acabou mergulhando nesse campo mais que a própria colega.
Segundo Mary Sabbatino, vice-presidente e sócia da Galerie Lelong & Co., a proposta era aproveitar a ampla exposição de Oiticica no museu Whitney e dar ao público a chance de descobrir um novo olhar sobre o trabalho do artista brasileiro.
No Whitney, a exposição ‘To Organize Delirium’ percorreu toda a carreira de Oiticica, narrando a influência da ditadura e suas tentativas de atrair uma faixa mais popular para sua obra, em contraposição a uma hostilidade cada vez maior da classe que dominava o país.
Na galeria nova-iorquina, o Brasil que serve de inspiração a Oiticica ainda é democrático, e o artista leva na bagagem a influência do Grupo Frente.
‘A mostra evidencia nossa compreensão da fase inicial da carreira de Oiticica, que levou, mais tarde, a suas investigações do espaço tridimensional’, explica Sabbatino.


Após o grupo se desfazer, Oiticica continuou a criar inovações em cores, linhas e formas em seus Metaesquemas e Relevos Espaciais, complementa.
Alguns desses experimentos estão na mostra. Há dois quadros da série ‘Sêco’, ambos de 1957, em que os objetos pintados com tinta guache preenchem os espaços de forma a criar a sensação de profundidade e perspectiva.


Dois exemplares de tamanho maior da série ‘Metaesquemas’ de 1958, inéditos nos EUA, também estão na mostra. São composições de pinturas pretas sobre uma superfície bege, com tamanhos e inclinações que conferem ao quadro movimento.
‘Temos orgulho de trabalhar com o Projeto Hélio Oiticica no Brasil para preservar seu legado, o que inclui exibir trabalhos que nunca foram mostrados nos Estados Unidos’, diz Sabbatino.
Com os ‘Metaesquemas’, Oiticica explora a geometria e o espaço e ensaia romper os limites impostos pela moldura dos quadros.


Em outros quadros da mostra, essa busca por linhas e cores que tentam extrapolar o espaço fica igualmente evidente. O artista experimenta tons mais vibrantes e outros mais frios, enquanto que, nas formas, dá mais ênfase a retas, em detrimento das curvas --há exceções, como em três quadros sem título de 1955.


Movimento também é o que Oiticica queria alcançar com a única obra de Relevo Espacial exposta em Nova York. São pedaços de madeira pintados de amarelo que, a exemplo do que buscava Lygia Pape, exigem a interação do público para ganhar sentido.
A mostra termina no final dos anos 1950, antes de o artista explorar o neoconcretismo e de desenvolver mais suas estruturas tridimensionais em núcleos ou ambientes multissensoriais como em ‘Tropicália’ e ‘Penetrável’.

Mostra ‘Spatial Relief and Drawings’, obras de Hélio Oiticica
Galeria Lelong & Co. - NY
Em cartaz até 22 de dezembro.

Fonte:  Danielle Brant   |   FSP

(JA, Nov18)

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