Exposição mais intimista mostra trabalhos que antecipam sua
investigação tridimensional
Um ano
depois de ocupar dois andares no museu Whitney, em Nova York, o carioca Hélio
Oiticica ganha uma exibição mais íntima na galeria Lelong & Co., com dois
quadros da série Metaesquemas expostos pela primeira vez nos Estados Unidos.
As quase 20
obras foram produzidas entre 1955 e 1959 e fazem parte da mostra ‘Spatial
Relief and Drawings’ (relevo espacial e desenhos, em tradução livre).
São
trabalhos do Grupo Frente e da série ‘Metaesquemas’, que antecipam as
investigações tridimensionais que marcariam a fase Relevo Espacial do artista.
No Grupo
Frente, no qual entrou aos 18 anos, ele conheceu as artistas plásticas Lygia
Clark e Lygia Pape.
As
experimentações com esculturas da primeira serviriam como inspiração para
algumas obras de Oiticica, que acabou mergulhando nesse campo mais que a
própria colega.
Segundo Mary
Sabbatino, vice-presidente e sócia da Galerie Lelong & Co., a proposta era
aproveitar a ampla exposição de Oiticica no museu Whitney e dar ao público a
chance de descobrir um novo olhar sobre o trabalho do artista brasileiro.
No Whitney,
a exposição ‘To Organize Delirium’ percorreu toda a carreira de Oiticica,
narrando a influência da ditadura e suas tentativas de atrair uma faixa mais
popular para sua obra, em contraposição a uma hostilidade cada vez maior da
classe que dominava o país.
Na galeria
nova-iorquina, o Brasil que serve de inspiração a Oiticica ainda é democrático,
e o artista leva na bagagem a influência do Grupo Frente.
‘A mostra
evidencia nossa compreensão da fase inicial da carreira de Oiticica, que levou,
mais tarde, a suas investigações do espaço tridimensional’, explica Sabbatino.
Após o grupo
se desfazer, Oiticica continuou a criar inovações em cores, linhas e formas em
seus Metaesquemas e Relevos Espaciais, complementa.
Alguns
desses experimentos estão na mostra. Há dois quadros da série ‘Sêco’, ambos de
1957, em que os objetos pintados com tinta guache preenchem os espaços de forma
a criar a sensação de profundidade e perspectiva.
Dois
exemplares de tamanho maior da série ‘Metaesquemas’ de 1958, inéditos nos EUA,
também estão na mostra. São composições de pinturas pretas sobre uma superfície
bege, com tamanhos e inclinações que conferem ao quadro movimento.
‘Temos
orgulho de trabalhar com o Projeto Hélio Oiticica no Brasil para preservar seu
legado, o que inclui exibir trabalhos que nunca foram mostrados nos Estados
Unidos’, diz Sabbatino.
Com os ‘Metaesquemas’,
Oiticica explora a geometria e o espaço e ensaia romper os limites impostos
pela moldura dos quadros.
Em outros
quadros da mostra, essa busca por linhas e cores que tentam extrapolar o espaço
fica igualmente evidente. O artista experimenta tons mais vibrantes e outros
mais frios, enquanto que, nas formas, dá mais ênfase a retas, em detrimento das
curvas --há exceções, como em três quadros sem título de 1955.
Movimento
também é o que Oiticica queria alcançar com a única obra de Relevo Espacial
exposta em Nova York. São pedaços de madeira pintados de amarelo que, a exemplo
do que buscava Lygia Pape, exigem a interação do público para ganhar sentido.
A mostra
termina no final dos anos 1950, antes de o artista explorar o neoconcretismo e
de desenvolver mais suas estruturas tridimensionais em núcleos ou ambientes
multissensoriais como em ‘Tropicália’ e ‘Penetrável’.
Mostra ‘Spatial Relief and Drawings’, obras de Hélio Oiticica
Galeria Lelong & Co. - NY
Em cartaz até 22 de dezembro.
Fonte: Danielle Brant |
FSP
(JA, Nov18)
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