sábado, 24 de novembro de 2018

Mostra no Instituto Tomie Ohtake celebra carreira de Karin Lambrecht

Viemos do Vento Trazer essas Luzinhas', pintura da artista Karin Lambrecht

Com Karin Lambrecht, o Instituto Tomie Ohtake dá prosseguimento ao projeto ‘Nossas Artistas’, uma sequência de mostras individuais dedicadas a mulheres que fizeram e fazem a história da arte brasileira. Iniciado em 2016, com ‘I love you baby’, de Leda Catunda, vencedora do Prêmio Bravo de melhor exposição individual do ano, agora o programa contempla a obra da pintora gaúcha.

A mostra divide em três diferentes núcleos temáticos pinturas, desenhos e cadernos da artista conhecida por integrar a Geração 80. Abstratos, os trabalhos lidam como as impressões causadas pelo reflexo e o rebatimento da luz e exploram questões relacionadas à espiritualidade, à vida e à morte.
Com curadoria de Paulo Miyada,  reúne obras de diferentes momentos da carreira de Lambrecht: desde alguns desenhos realizados do início dos anos 1990 até pinturas mais recentes, que constituem a maior parte da seleção. ‘Trata-se de uma oportunidade para gradualmente imergir no universo visual e reflexivo de uma artista singular na nossa arte, cuja obra oferece uma densa alternativa ao frenesi do consumo de imagens descartáveis que caracteriza os tempos vigentes’, comenta o curador.
As telas da artista sugerem particular interesse pelo transcendental, pelo espiritual e pelas religiões a partir de uma paleta obstinada em auscultar a natureza da linguagem dos mais diversos materiais. Além das tintas, outros substratos pictóricos ocupam a superfície de suas pinturas, como ouro, mel, lona, cera de abelha, terra, grafite, linho, pigmento e pastel.
Segundo Miyada, a simples ampliação de recursos para além da trivial ‘tinta a óleo sobre tela’ não seria digna de nota não fosse pela clareza e pelo escrúpulo com que cada matéria atua no campo pictórico. ‘Mesmo que não seja sempre óbvio qual o material utilizado pela artista, é sempre possível distinguir quais signos, texturas, cores e formas correspondem a recursos distintos, manipulados com uma gestualidade adequada a sua dureza, peso e maleabilidade. O princípio de acumulação dessas substâncias não é, portanto, o da mistura indiferenciada, mas sim o da articulação de órgãos em um organismo visual’.
A exposição constrói propositalmente um percurso. O primeiro núcleo de trabalhos é constituído por sete pinturas realizadas entre 1990 e 2013 dispostas sob visibilidade tênue, resultante praticamente dos rebatimentos da luz. Ao ultrapassar este ambiente, o visitante adentra uma clareira como uma ampla nave de fundo semicircular, onde a iluminação é projetada de tal forma que a resplandecência parece nascer das 17 pinturas suspensas, concebidas de 1990 a 2018. ‘No vértice entre o desejo de saber e a necessidade de crer, alguém imagina uma clareira de silêncio’, escreve Miyada.
Na sessão final da exposição, ao atravessar uma cortina de voil, o espectador depara-se com um ambiente claro e branco ocupado por cadernos, desenhos e pequenas pinturas da artista.  Um conjunto de temas, palavras e símbolos que refletem a escala íntima do contato com as obras.
‘As próprias pinturas, desenhos e cadernos de Karin Lambrecht almejam ser laço e passagem. Presenças imanentes, quer dizer, materialidades que se inserem na experiência possível e compartilhável. Evocações suprassensíveis, ou seja, chamados à contemplação de aspectos invisíveis da existência humana’, conclui o curador.
Karin Lambrecht  nasceu Porto Alegre em 1957. Vive e trabalha em Porto Alegre, graduou-se em desenho e gravura na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, mudando-se logo em seguida para a Alemanha, onde realizou parte significativa de sua formação como pintora. No retorno ao Brasil, participou das ações desenvolvidas no Espaço N.O., das artistas Ana Torrano e Vera Chaves Barcellos; integrou a importante exposição ‘Como vai você, Geração 80?’ no Parque Lage, 1984, e dedicou sua produção a realizar uma pintura que borra as fronteiras entre a colagem, o trabalho escultórico e a performance. De caráter sentimental e espiritual, sua produção lida com questões de espiritualidade, acerca da vida e da morte e aplica o texto de maneira simbólica.


Karin Lambrecht - Entre nós uma passagem
Instituto Tomie Ohtake - R. dos Coropés, 88, Pinheiros, região oeste, tel. (11) 2245-1900
De 23/11 até 10/2
Ter. a dom.: 11h às 20h
Livre
GRÁTIS




(JA, Nov18)

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