Escultura de Tunga |
A Pinacoteca
de São Paulo, museu da Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo, apresenta
de 10 de novembro de 2018 até 11 de fevereiro de 2019, a exposição Invenção de
Origem, no quarto andar da Pina Estação. Com curadoria do Núcleo de Pesquisa e
Crítica da Pinacoteca e sob coordenação geral de José Augusto Ribeiro, curador
do museu, a coletiva toma como ponto de partida o filme ‘The Origin of the
Night: Amazon Cosmos’, 1973-77, do artista alemão Lothar Baumgarten, inédita no
Brasil, e a apresenta ao lado de uma seleção de obras de quatro artistas
brasileiros – Antonio Dias, Carmela Gross, Solange Pessoa e Tunga. Em comum, os
trabalhos selecionados aludem a tempos e ações primordiais que teriam
contribuído para as narrativas sobre a origem da vida
Filmado em
16 mm entre 1973 e 1977, ‘The Origin of the Night: Amazon Cosmos’ [A origem da
noite: o cosmos amazônico] de Lothar Baumgarten, baseia-se em um mito Tupi,
registrado pelo antropólogo francês Claude Lévi-Strauss, sobre a origem da
noite – que, segundo a narrativa, ‘dormia’ submersa nas águas, quando ainda os
animais não existiam, e as coisas tinham o poder da fala. A partir de imagens
captadas no rio Reno, entre Düsseldorf e Colônia, o artista cria situações
ambíguas. ‘As imagens são paradoxais, mostram uma espécie de floresta virgem em
que, no entanto, espalham-se os lixos da civilização humana. Baumgarten recorre
ao cinema para remontar mitos de uma floresta tropical, de maneira que o
espectador fica sem saber se aquilo é o princípio ou o fim do mundo’, conta
Ribeiro.
A partir das
questões apresentadas no filme, a pesquisa curatorial centrou-se num recorte
bastante específico da produção brasileira, que compreende cerca de 40
trabalhos de cinco artistas, incluindo vídeo, pintura, escultura etc., produzidos
desde a década de 1970 até hoje. A seleção leva em conta experimentações de
linguagem e de material que se convertem, ao mesmo tempo, em imagens e objetos
com aspectos imemoriais, sugestivos de gestos fundantes; inserindo o observador
numa espécie de sistema de produção ou de comunicação de ideias ainda em
formação.
Na primeira
sala da exposição, onde se encontra também o filme de Lothar Baumgarten, o
visitante se depara com dois trabalhos de Carmela Gross: Facas e 300 larvas,
ambos de 1994. Para Invenção de origem, a curadoria reuniu 500 das cerca de
1000 peças (formas elementares de facas) que compõem o primeiro. A operação da
artista para o trabalho previa a mudança de um modelo de faca para outro a cada
vez que considerasse ter adquirido habilidade para aquela modelagem.
‘Carmela
Gross parece repor assim, em cada grupo de suas facas, o surgimento de uma
técnica, um grau zero, uma espécie de gesto primeiro’, na opinião de Ribeiro.
Já a montagem da obra lembra o resultado de uma escavação arqueológica ou uma
catalogação etnográfica. Ao lado dela, remetendo também à ideia de inventário
antropológico, está instalada parte da obra 300 larvas, (1994), grupo de
monotipias que Gross produziu em tamanhos e tipos de papel variados.
Da produção
de Antonio Dias, falecido em agosto deste ano, foram selecionadas obras de um
período específico, que se estende de 1977 a meados da década de 1990. Nesse
período, Dias viaja ao Nepal, onde, com artesões locais, aprende a manufatura
de papeis artesanais e desenvolve técnicas de tingimento das folhas com
elementos naturais (terra, cinzas, vegetais etc.). Essas pesquisas com
materiais se desdobram em seguida na pintura, com o uso de óxido de ferro,
folha de ouro e pigmentos cintilantes, que conferem à tela aspectos de minério
e metal. Nestes trabalhos são recorrentes as figuras de ossos, as remissões a
pinturas rupestres e, ao mesmo tempo, a imagens da cultura popular. ‘O conjunto
evidencia passagens cheias de tensão entre natureza e cultura. O título da
pintura Brazilian Painting, Bosnia´s Jungle, 1995, ou ‘pintura brasileira,
selva da Bósnia’, produz esse atrito com senso de humor’, conta Ribeiro.
Na mesma
sala, está um conjunto de peças de Tunga, produzidas entre os 1980 e meados de
2010. Algumas delas tidas como as mais conhecidas do artista (Tacape, Escalpo,
Tranças) e outras recentes, ainda pouco mostradas em espaços públicos. Entre os
trabalhos icônicos dessa produção, estão a pintura Sem título (Sedativa), de
1984, cuja imagem informe, que reporta ao vocabulário comum à obra do artista,
surge também reproduzida no relevo em metal Revê-la antinomia, de 1985.
‘As
operações que conformam essas duas obras evidenciam a importância que Tunga
atribui aos processos de realização do trabalho, à investigação sobre os limites
de uma linguagem artística, e ao mesmo tempo à capacidade alusiva e imaginativa
de seus resultados’, comenta o curador. Também integra o conjunto a peça
Lezart, de 1989, que participou da retrospectiva do artista no centro cultural
Jeu de Paume, em Paris, em 2001, além do inédito Projeto de obra pública, de
1992, que Tunga concebeu para o espaço urbano da cidade do Rio de Janeiro, em
1992, jamais realizado.
Por fim, na
última sala da exposição, a Pinacoteca apresenta um trabalho ainda em processo
da artista mineira Solange Pessoa. A instalação, concebida entre 2004 e 2018,
compõe-se de uma grande escultura, de cerca de 10 metros de comprimento, feita
de penas de aves e tecido, pendente do teto em forma cônica, lembrando o tronco
de uma árvore.
Ao seu redor,
uma série de relevos em argila e 36 pinturas sobre papel, com silhuetas de
bichos fantásticos e polimórficos, um pouco aves, um pouco répteis, ou
vegetais, como se essas formas estivessem em transmutação. ‘Parece um bestiário
que remonta à formação das espécies’, diz o curador da exposição. O que por sua
vez reintroduz o visitante mais uma vez ao universo do filme de Baumgarten, ‘a
ideia de um princípio de tudo que parece ter surgido já meio poluído, impuro’,
finaliza Ribeiro.
ARTISTAS PARTICIPANTES
Antonio Dias (Campina Grande, PB, 1944 – Rio de
Janeiro, RJ, 2018)
Carmela Gross (São Paulo, SP, 1946)
Lothar Baumgarten (Rheinsberg, Alemanha, 1944)
Solange Pessoa (Ferros, MG, 1961)
Tunga (Palmares, PE, 1952 – Rio de Janeiro, RJ, 2016)
SERVIÇO
Invenção de Origem
Pina Estação: Largo General Osório, 66, Luz, São
Paulo, SP
Curadoria de José Augusto Ribeiro
Abertura: 10 de novembro de 2018, sábado, às 11h
Visitação: de 10 de novembro de 2018 até 11 de
fevereiro de 2019
De quarta a segunda, das 10h às 17h30 – com
permanência até as 18h
Fonte: Pinacoteca, programação
(JA, Nov18)
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