Transformações cromáticas da carreira do modernista lituano dão
o tom a recém-inaugurada exposição no Sesc 24 de Maio
Bananal', óleo sobre tela de 1927 |
Pintor
lituano formado dentro do expressionismo alemão, Lasar Segall desembarcou no
Brasil em 1924 para se tornar um dos nomes mais importantes do primeiro
modernismo.
Sem
abandonar os princípios europeus que o formaram, desenvolveu uma trajetória em
que temas e tipos brasileiros convivem com questões de ordem universal, como
angústia, migrações e destruição, num percurso marcado pelo impacto das duas
guerras mundiais.
É um pouco
dessa conversa entre Brasil e Europa, local e universal, que o Sesc 24 de Maio
apresenta, com uma reunião de 87 pinturas e seis desenhos, além de fotos e
documentos. Quando o arquiteto Paulo Mendes da Rocha, autor do edifício do
Sesc, comemora 90 anos, seu filho Pedro assina uma expografia que divide a
mostra em quatro grandes blocos, pensados como quarteirões de uma cidade. A
herança moderna está em festa.
Voltando a
Segall: modernista da chamada fase heroica, ao lado de Anita e Tarsila, ele foi um dos responsáveis por transformar a
cena paulista, rompendo com o naturalismo e a tradição acadêmica.
Menino com Lagartixas, 1924, |
Mãe Negra Entre Casas, 1930 |
Dez anos
depois da última grande exposição do pintor (no Centro Cultural Fiesp, com
curadoria de Tadeu Chiarelli), a curadora Maria Alice Milliet desenvolveu uma
retrospectiva em que o uso da cor está no foco de atenção. São as
transformações cromáticas ao longo da trajetória de Segall e seu caráter
fortemente emocional que a levaram aos quatro núcleos que compõem a mostra.
‘Com a vinda
ao Brasil, Lasar Segall sofre o impacto do sol, da luz tropical que aquece sua
pintura’, explica Milliet. Para ela, os deslocamentos populacionais retratados
pelo artista nos anos 1940 conversam diretamente com a atualidade do centro em
sua diversidade e convivência de imigrantes coreanos, africanos, bolivianos e
paraguaios.
Aldeia Russa, realizado entre 1917-1918 |
‘A atualidade,
infelizmente, mora também nas cenas de populações sem rosto, vítimas de
perseguição, intolerância e de regimes totalitários’, completa a curadora.
Dois Nús, 1930 |
Preocupada
em criar uma narrativa acessível ao público de mais de 10 mil pessoas que
circulam por dia pelo Sesc, Milliet encomendou um vídeo, projetado em grandes
dimensões na parede, que detalha em alta resolução os esquemas cromáticos
utilizados pelo pintor.
Se a pintura
requer um tempo mais distendido de contemplação, o vídeo, para ela, é a mídia ‘de
hoje’ que garante uma empatia mais imediata.
Desenvolvida
em parceria com o Museu Lasar Segall, a mostra conta com boa parte do acervo da
instituição, mas também com pinturas de coleções particulares raramente
expostas ao público. Desde que Segall se tornou um dos nomes mais valorizados
do mercado de arte, seus colecionadores costumam guardar o tesouro a sete
chaves.
Ao longo da
exposição estão ainda pinturas pinçadas a dedo de outros modernistas
—Portinari, Anita, Tarsila—, que ajudam a mostrar os diálogos estabelecidos na
época.
Desenhos originais do caderno Visões de Guerra, realizado entre 1940-1943 |
Entre as
obras mais delicadas está a série de desenhos de cenários, com fantasias e
elementos decorativos que desenvolveu para os bailes de Carnaval da Sociedade
Pró-Arte Moderna, entidade que congregou boa parte dos modernistas a partir de
1932.
Vale prestar
atenção ainda na delicadeza dos troncos de árvores que Segall pintou já no
final da vida —florestas de cores suaves que o aproximam ainda que brevemente
da abstração. Encarar a realidade (da pobreza, da guerra, da injustiça) ou
escapar dela (pela festa, pelo sonho, pela natureza) é afinal um dos grandes
dilemas da arte, para não dizer da vida. Segall fez os dois.
LASAR SEGALL: ENSAIO SOBRE A COR
Quando Até 5/3/19.
Onde Sesc 24 de Maio ( r. 24 de Maio, 109).
Preço Grátis
Fonte: Gabriela Longman |
FSP
(JA, Out18)
a data da chegada ao brasil está errada, foi em 1913, quando fez a primeira exposição.
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