Pôster da 42ª edição do festival de cinema que começa em 18 de
outubro, em São Paulo, foi criado pela artista americana Laurie Anderson
Artista Laurie Anderson, em 2013 |
A mostra
também recebe a instalação em realidade virtual ‘Chalkroom’, montada em um
anexo do CineSesc, na rua Augusta. A instalação já esteve na programação do
Festival de Veneza.
Cartaz da 42ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, assinado por Laurie Anderson |
Nela, o
visitante pode percorrer várias câmaras, guiado pela narração de Anderson
transmitida em um fone de ouvido, enquanto palavras, desenhos e histórias
flutuam como inscrições de uma lousa que cobre o ambiente.
O trabalho é
somente um dos exemplos do trabalho de vanguarda de Anderson.
Ela foi uma
das pioneiras da arte multimídia: começou a realizar performances e
instalações, incorporando a tecnologia aos seus trabalhos, em uma época em que
nenhuma dessas práticas fazia parte do mainstream artístico.
Também se
tornou uma improvável estrela pop na década de 1980, lançando álbuns musicais e
fazendo apresentações que a tornaram uma das primeiras artistas do contexto
nova-iorquino em que se fixou a alcançar um certo nível de sucesso
comercial.
https://youtu.be/Vkfpi2H8tOE
Em uma
reportagem de 1983 para a New York Times Magazine, o jornalista e crítico Don
Shewey escreveu que Anderson ‘personifica tanto o componente de arte visual da
performance quando seu aspecto multimídia’.
‘Ela é uma
fotógrafa e escultora talentosa e ainda toca violino e instrumentos de teclas
em suas performances, fala-cantando em uma voz marota e amigável, sempre traz
consigo uma tela gigante como pano de fundo, em que projeta os slides e filmes
que suprem a dimensão visual de suas composições’, escreveu Shewey.
Essas obras
visuais, produzidas por ela mesma, às vezes ilustram mas quase sempre
estabelecem simplesmente uma relação poética com as músicas.
Para o
performer americano Tim Miller, artista de uma geração mais jovem do que a de
Anderson – para a qual ela já era uma referência – disse em 1983 ao jornalista
que Laurie Anderson era importante por ser ‘popular, mas épica; do mundo do
espetáculo, mas vanguardista’.
Trajetória
Nascida em
1947 em um subúrbio de Chicago, em uma família abastada, de muitos irmãos,
Anderson estudou história da arte na tradicional Barnard College de Nova York,
no final da década de 1960. Explorou a escultura e a música antes de se voltar
para a performance.
Musicista
desde a infância, quando aprendeu a tocar violino, a artista inventou
instrumentos, como um violino que substituía o arco convencional por um pedaço
de fita de áudio, com o qual compôs canções e peças musicais.
Sua primeira
aparição como artista de performance consistiu em orquestrar uma sinfonia de
buzinas de carro em um drive-in com concha acústica. Em outro trabalho da
época, a artista tocava violino usando patins acoplados a blocos de gelo. A
performance terminava quando o gelo derretia. Uma entre dezenas de jovens
artistas de performance em atividade nos EUA da década de 1970, Anderson fez
parte do circuito de artistas que participavam de performances coletivas em um
espaço em Nova York chamado Kitchen.
A aparição
da artista em um evento chamado Nova Convention, um tributo ao escritor William
S. Burroughs em 1978, em Nova York, é considerado o ponto de virada de sua
carreira. Estavam presentes poetas, como Allen Ginsberg, compositores como John
Cage e Philip Glass, nomes do punk como Patti Smith e artistas de performance.
Com um
filtro eletrônico que tornava sua voz parecida com o coaxar de um sapo, ela
apresentou um monólogo que fazia parte de sua performance ‘United States’.
Inspirada
pelos punks com a possibilidade de experimentar com uma banda de rock, Anderson
se aproximou cada vez mais do mundo da intermídia, domínio que já vinha sendo
explorado por outros artistas interessados em explorar diferentes disciplinas.
Apesar de
não ter criado esse modelo, ela o levou para um público maior do que seus
antecessores.
As
performances, músicas e instalações de Anderson são frequentemente
autobiográficas e, segundo o perfil da artista no site Art History, estimulam
uma sensação de intimidade com o público, através da voz de Anderson. Seu tom
característico é meditativo e calmo.
Apesar
disso, seu trabalho frequentemente contém conteúdo político e envolvimento em
questões sociais. Possui, além disso, uma estética futurista, próxima da ficção
científica.
Influência
Tecnologia + Arte
Inovações
tecnológicas são peças-chave do trabalho de Anderson desde a fase inicial de
sua carreira, na década de 1970, quando experimentou com diferentes tecnologias
de áudio, projeções e iluminação cênica.
Esses
experimentos introduziram um novo vocabulário estético nas galerias e espaços
de performance americanos. Ela segue inovando com experimentações digitais mais
recentes, que envolvem realidade virtual e som binaural.
Performance
O trabalho de Anderson foi particularmente
significativo para o desenvolvimento da performance na arte do século 20.
Na década de
1980, a artista passou a introduzir elementos teatrais – como o cuidado com o
cenário, atuação extensamente ensaiada e repetição de apresentações – em um ‘medium’
até então predominantemente espontâneo e ‘faça você mesmo’.
Música Eletrônica
Fusão de
eletrônica e jogo de palavras, a música de Anderson se realiza plenamente
quando apresentada ao vivo.
Seu uso pioneiro
de sintetizadores, vocoders e samples em seus álbuns da década de 1980 exerceu
enorme influência sobre a música eletrônica, e são citados com frequência por
outros músicos, porque chegaram a tocar em emissoras comerciais de TV e rádio.
Fonte: Juliana Domingos de Lima |
Nexo Jornal
(JA, Out18)
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