Exposição não tira espectador da zona de conforto,
aproximando-se mais de um playground
‘Arte pra
Sentir’ aposta na inclusão de pessoas com deficiência ao apresentar obras
especialmente sensoriais. De esculturas em crochê a uma máquina que solta
refrescos coloridos, a seleção é pensada para que o espectador motivado
interaja com os trabalhos não apenas com os olhos mas com outros sentidos
—tato, audição, paladar.
‘Dessa vez
ninguém precisa ficar com as mãos para trás’, orienta o segurança sorridente,
frisando que todos podem tocar na maquete criada por Pedro Varela. Além de
atender ao público com deficiência por meio da sinalização, de audioguias,
audiodescrição e informações em braile, a iniciativa tem apelo evidente para crianças
e jovens, mas não convence como imersão.
‘Iceberg’, escultura de Flávio Cerqueira, que integra exposição 'Arte pra Sentir', em cartaz até 30/9 na Caixa Cultural São Paulo |
O texto de
parede da curadora Isabel Portella recupera a noção de participação posta em
prática por Lygia Clark, Lygia Pape e Helio Oiticica.
Ainda que o
Opavivará seja um dos grandes herdeiros dessa tradição —vale lembrar os
chuveiros coletivos que instalaram na praia carioca (‘Chuva Verão’, 2014)—, a obra do coletivo aqui apresentada, como as
outras da mostra, fica longe da radicalidade de propósitos dos neoconcretistas.
Passado o
impacto ‘posso tocar/mexer’ —em voga há décadas nas bienais e outras exposições
no gênero— fica faltando ao conjunto a ideia de experiência em sentido mais
irreverente.
Obra da exposição ‘Arte pra Sentir’, em cartaz até 30 de setembro na Caixa Cultural- SP |
Para uma
sociedade obcecada pelas telas de seus celulares, qualquer iniciativa que
estimule o aspecto multissensorial é bem-vinda, como é bem-vinda a inclusão de
audiências pouco contempladas.
Mas a
exposição não tira o espectador da zona de conforto, preferindo trilhar um
caminho seguro (ouvir o barulho do mar numa instalação de Floriano Romano,
mexer em um tambor suspenso de Ernesto Neto, tocar as texturas ásperas ou
fofinhas de uma colagem), aproximando-se mais de um playground.
O caráter
lúdico fica reservado à superfície das obras, sem se estender para iluminação,
expografia ou conceito.
Passado o ‘sentir’
sensorial mais imediato, um outro, dentro e fora do universo da arte não é
assim tão trivial.
Na Sé, em
meio a casarões em ruínas, estacionamentos, moradores de rua e filas extensas
de repartições públicas e da própria Caixa Econômica, onde o centro cultural
está localizado, aprendemos a não prestar atenção em cheiros, texturas e
paisagens.
Arte é para
sentir; e, se em vez de nos distrair, ela puder nos ajudar a recuperar a
atenção para o mundo e, sobretudo, para as pessoas ao redor, teremos já um bom
começo.
Arte Pra Sentir
Quando Ter. a dom., das 9h às 19h. Até 30/9
Onde Caixa Cultural - Praça da Sé, 111
Preço Grátis
Fonte :
Gabriela Longman | FSP
(JA, Set18)
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